26 de agosto de 2012

How to Date a Celebrity by Ana D.

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Fanfic e Capa: Ana D.




Capítulo 1 -
Festa, bebidas, verdades
(Músicas para carregar: The All American Rejects - Move Along (clique aqui!), Forever the Sickest Kids - What do You Want From Me (clique aqui!) e Fall Out Boy - Of All The Gin Joints In The World (clique aqui!) - deixe todas carregando e dê play conforme as indicações durante a fanfic!)



- FESTA NA PISCINA -

Na casa do Kyle, às 17h!
Garotas, levem bíquinis. Garotos, levem bebidas!

O convite escrito à mão no meio da aula de História rodou a sala toda. Foi parar na minha mão quando faltavam cinco minutos para o fim da aula, e eu o li sem muita empolgação. Esse era um perfeito exemplo do que eu não costumava fazer numa sexta-feira. Eu não ia a festas organizadas pela massa burra do meu colégio, eu ficava em casa e alugava um filme, ou dormia enquanto todo mundo estava se arrumando para sair. Isso talvez pareça patético para a maioria das pessoas, e às vezes até pra mim, mas como eu ia conviver com aquele monte de gente bêbada, com o nível de idiotice ainda mais alto depois de tanto álcool? Acho que haviam perguntas que, sem respostas, soavam menos aterrorizantes.
- Nós vamos, né? - encarei Cherry desmotivada. Ela sempre me perguntava, sempre que tinha a chance, e eu sempre dizia não, e ela sempre me chamava de anti-social. Nunca tinha dito que ela estava errada.
Cherry tinha a mesma idade que eu, dezessete, só que era seis meses mais velha. Ela era baixinha, usava maquiagem carregada nos olhos, tinha uma pequena coleção de piercings, vivia de jeans gastas com blusas de bandas, ou saias e vestidos que a gente só costuma ver em filmes de terror ou de fantasia (que, por sinal, ela adorava). Seus cabelos eram vermelhos, muito vermelhos. Ela gostava mesmo do nome que tinha. Cherry, ao contrário do que acontece com a maioria das pessoas que tem nome estranho, gostava de ver a expressão confusa de todo mundo quando ela se apresentava. Seus pais, ambos tendo vivido sua juventude nos anos 80, eram dois roqueiros, cheios de tatuagem, que eram donos de uma gravadora pequena. Em sua maioria, bandas de rock assinavam contrato com eles, e podia ser um pequeno choque dar de cara com um homem alto demais, com barba demais, e com uma mulher alta demais, com cabelos coloridos demais. Eles eram gente boa.
- Nós não vamos. - eu disse, vendo-a rolar os olhos. O sinal tocou, o professor gritou algunas páginas do livro para estudar, e a turma toda levantou das carteiras. Eu passei minha mochila pequena e amarela pelas costas, juntei algumas folhas em meus braços e saí com Cherry e sua falta de material no meu encalço.
- Por favor, ! Só dessa vez, juro. - paramos em frente ao meu armário e, enquanto girava a combinação certa, Cherry bufou. Ela odiava quando eu não respondia suas súplicas, e eu me divirtia com a falta de paciência dela. Guardei o livro de História lá, e tirei o de Inglês. Enfiei as folhas soltas no meu fichário, Cherry bateu a porta do meu armário com força, fazendo algumas pessoas voltarem seus olhares para nós duas. Eu semicerrei meus olhos em sua direção, e ela abriu um sorriso forçado. - Estou pedindo por favor.
- Estou dizendo que não. - resmunguei de volta. - Por que não pede para o Josh...?
- Josh não vai querer ir! - Josh era um dos meus melhores amigos, e também namorado de Cherry. Os dois estavam juntos havia alguns meses, e eu assistira todo o processo de bons amigos até vamos nos agarrar no armário de vassouras. Eles combinavam, realmente, porque Josh tinha aqueles cabelos negros e ondulados, os olhos verdes e ouvia mais música do que se era aconselhável para o bem de seus ouvidos.
- Não vou querer ir aonde? - ele também era alto, e hoje usava jeans, blusa preta e uma blusa xadrez aberta por cima. Ele deixou a mochila preta e surrada cair no chão, enquanto chamava Cherry com a mão e a beijava, mais intimamente do que eu queria ver, se querem saber. Rolei os olhos, rindo, e aproveitei para meter o pé. Ainda pude ouvir Josh rir e resmungar Bom dia", com a voz fraca. Não era que eu sentisse ciúmes de algum deles, porque eu gostava demais dos dois juntos, mas tinha como deixar de ser estranho você, de repente, ficar de fora?
Balancei a cabeça, expulsando os pensamentos confusos, e me vi do lado de fora do colégio, na parte gramada, onde algumas pessoas corriam para matar aula, outras estavam estudando, outras terminando trabalho para não reprovarem em alguma matéria idiota, e o grupo de atletas do colégio conversava, numa rodinha, todos usando seus usuais uniformes vermelhos e brancos. Eu me joguei no gramado também, apoiando minhas costas no tronco de uma árvore, e puxei um livro da bolsa. Ainda tinha vinte minutos para a próxima aula, e eu sempre chegava uns cinco minutos atrasada, porque a professora parecia ir com a minha cara.
Mas, antes que eu pudesse ler a primeira linha do capítulo dois de Razão e Sensibilidade (eu estava num dos meus projetos pessoais: reler todos os clássicos da literatura que eu já tinha lido, para poder dizer com certeza se eles eram uma merda ou não), uma sombra se estendeu sobre mim, e eu fui obrigada a erguer os olhos.
Kyle Grants era um cara muito bonito. Era forte, os cabelos loiros e lisos tinham um corte perfeito, que não deixavam ele nem com cara de gay, nem com cara de macho forçado. Seus olhos eram verdes e ele tinha um sorriso que baixava a guarda de metade da escola (que não necessariamente era composta só do sexo oposto). Agora, esses eram os fatos. O que ele estava fazendo ali, na minha frente, exibindo aquele sorriso dele... Isso já era uma dúvida. Totalmente consciente dos olhares das pessoas a nossa volta, e do grupinho de onde ele tinha saído, eu abri meu melhor sorriso irônico.
- Algum problema, Kyle? - ele soltou uma risada divertida e, com um suspiro, se largou do meu lado. A dúvida tinha acabado se tornar medo completo. Mesmo garotas que nem eu, que são meio cheias de si, inteligentes, razoavelmente bonitas, que sabem que o cara do lado é um babaca... Bom, mesmo elas podem ficar meio balançadas com esse cara bonito demais do seu lado.
- Ainda não, . Mas pode ter algum. - fechei o livro sobre meu colo, e vi que ele demorou o olhar sobre a capa por um segundo, antes de voltar a me encarar nos olhos.
- Kyle, você não é o tipo de cara que sabe fazer suspense. Diga logo o que quer de mim. - ele passou a mão direita pelos cabelos, jogando-os para trás. Aproximou seu rosto um pouco mais do meu, e ficamos alguns segundos em silêncio.
- Só vim te perguntar... Você vai aparecer lá em casa hoje? - agora era a parte que eu fechava a boca, parava de babar e dizia "Não"; depois completava com alguma frase sobre como ele era idiota e ia embora. Não foi isso que eu fiz. Ao invés disso, sorri e abraçei minhas pernas, jogando o livro em cima da minha mochila, do meu outro lado.
- Nossa, eu ganho um convite pessoal, não um bilhete passado na sala de aula? - o sorriso de Kyle aumentou quando viu que eu não ia levantar e deixar ele lá.
- Convites especiais, para pessoas especiais.
- Como é que você consegue tantas garotas com cantadas tão ruins? - perguntei, rindo, e ele rolou os olhos.
- Você ainda está aqui, não é? - ponto pra ele. Suspirei.
- Estarei lá, Kyle. - disse, me dando por vencida. Ele mesmo pareceu surpreso com minha resposta. Eu não podia culpá-lo, eu também estava totalmente surpresa. Puxei minha mochila para o meu colo e enfiei meu livro lá. Quando estava pronta para ficar de pé, Kyle levantou e estendeu a mão para me ajudar. Aceitei, e sorri para ele quando nossos rostos ficaram próximos.
- Vou te esperar lá, não demore. - e me deu um beijo na bochecha. Tudo bem, vamos analisar essa última frase. E me deu um beijo na bochecha: a) caras como Kyle Grants não te dão beijo na bochecha, ou eles te agarram ou não te agarram; que merda isso queria dizer? b) Kyle Grants me deu um beijo na bochecha depois de dizer "Vou te esperar lá, não demore", o queele achava que ia fazer naquela festa? c) por que eu não consigo agir feito uma adolescente normal e ficar feliz por ele ter me beijado? d) ele com certeza vai aprontar alguma mais tarde, deve ser algum tipo de aposta ou qualquer merda dessa.
Meu lado extremamente pessimista fica com a opção d), meu lado "Vamos lá, garota! Que tal um pouco de auto estima?" fica com a opção c). Mas quem eu queria enganar dizendo que meu lado pessimista não tomava conta do meu outro lado? Argh.
Assisti Kyle se afastar de mim e, com toda a força de vontade que eu guardava para momentos tipo esse (com gente demais esperando minha reação), eu comecei a andar de volta para o prédio. Graças a Deus podia ir para a aula de Inglês, fingir que eu queria saber do que a professora falava.

(Dê play: The All American Rejects - Move Along)
Tirei as chaves do carro da minha mochila e, ao invés de abrir a porta, entrar e dirigir pra casa, eu me apoiei na porta fechada, cruzando os braços e encarando a porta por onde os outros alunos saíam. Quando você tem um carro, você tem que ser legal e dar carona pras suas amigas que moram perto.
Não demorou muito para eu identificar Cherry abraçada a Josh, os dois descendo as escadas aos tropeços e rindo escandalosamente. Como eu esperava, Alex e Brian vinham logo atrás os dois, fazendo aquele contraste absurdo de sempre.
Alex era um menina baixinha, mas não tanto quanto Cherry, de cabelos cacheados e castanho-escuros, que iam até sua cintura, mas de uma forma bonita e não preguiçosa. Ela era a pessoa mais otimista que eu conhecia, e a que mais sorria. Ela estava sempre contente e te dando motivos para gostar de acordar às cinco da manhã ou qualquer coisa do gênero. Eu a conhecia desde os dez anos de idade, basicamente a mesma idade que tinha quando conheci Brian, que era meu vizinho. Brian era um cara não muito alto, que andava sempre arrumado e que tinha um rosto bonito. Era o tipo de cara que você sabe que é bonzinho. Bastou eu apresentar um ao outro para perceber que devia ter feito isso muito mais cedo, eles formavam um casal tão feliz que você ficava pensando quando tinha ficado tão pra baixo.
- Oi, ! - Alex cantarolou, quando os quatro chegaram até meu carro. Eu sorri, acenei para eles. Alex e Brian quase sempre vestiam roupas de tons claros ou abertos, e Cherry e Josh viviam de preto ou tons mais escuros, ou só variavam na escala de cinza mesmo. Cherry e Josh se agarravam em qualquer lugar que desse, mas Alex e Brian tinham aquela ligação esquisita... Eles não precisavam nem ficar muito próximos um do outro para você sentir que está sobrando.
- Brian, vai com a gente hoje? - perguntei, e ele sorriu antes de balançar a cabeça.
- Não, preciso encontrar com meu pai. Sabe como é, aquelas coisas de almoço, "eu não te vejo mais"... Essas merdas. - Brian era meu melhor amigo, e eu assenti, rindo, quando ele explicou. Desde que seus pais tinham se separado, uns quatro meses atrás, o pai dele fazia questão de que almoçassem juntos ou qualquer coisa assim sempre que sobrava tempo. Brian não fazia tanta questão assim.
- Ok, boa sorte. - eu disse, e ele agradeceu. - Bom, podemos ir de uma vez, não é? - me virei para os outros, já abrindo a porta e jogando minha bolsa no banco do carona. Ainda estava decidindo se ia contar ou não para Cherry e Alex sobre toda a história de Kyle. Cherry rolou os olhos, quase rindo, e me poupando de ouvir outra reclamação sua sobre minha pressa. Alex fizera o mesmo.
- Tchau, ! - Josh berrou quando eu entrei no carro, e eu coloquei a mão para fora, acenando para ele, que riu. Josh morava do outro lado, e costumava pegar carona com uns caras de uma banda de metal que sempre saíam mais tarde. Me ocupei com o rádio enquanto esperava Alex e Cherry se despedirem dos namorados, e acabei largando em uma música do The All American Rejects. Cherry escorreu para o banco do carona, colocando minha bolsa em seu colo. Alex se ajeitou no banco de trás, ficando no meio para poder conversar com a gente. Me certifiquei de que podíamos ir, e saí com o carro. Não que eu não gostasse da escola, eu até que gostava. Mas a sensação de poder ir embora era tão boa. Sorri quando dobramos a rua e a escola ficou para trás, Cherry riu.
- Acho que você vai dar uma festa quando acabar o ano. E vai comparecer. - mostrei a língua para ela, e Alex começou a rir.
- Pra sua informação, eu vou comparecer a uma festa hoje. - pronto, lá estava, eu ia contar. As duas me encararam com os olhos arregalados.
- Como é? - Alex perguntou, a voz esganiçada. Cherry soltou uma risada descrente.
- Tá brincando! O que é que te convenceu de ir a uma festa na piscina na casa do Kyle?! - ela quis saber, e eu abri um meio sorriso enquanto parava o carro em um sinal vermelho. Dei de ombros.
- Vocês não querem saber. - Alex me deu um tapa na cabeça.
- Conta de uma vez! - suspirei.
- O próprio Kyle. Quer dizer, ele veio me chamar pra festa hoje, mais cedo. - as duas pareceram ainda mais surpresas, e eu soltei uma risada quando vi Alex levar as mãos a boca.
- O Kyle?! - a voz dela saiu abafada, através das mãos. Eu deixei meus ombros caírem, o sinal abriu e eu continuei a andar.
- É, ele mesmo. Tudo bem, eu sei que ele não vai, sei lá, ser a melhor pessoa do mundo comigo, nem nada. Qual é, eu não estou esperando rosas vermelhas quando chegar lá, porque bom, é o Kyle. O Kyle nunca prestou, desde a terceira série, quando ele acertava aviõezinhos de papel no cofrinho das garotas da sexta série, e com certeza não é agora que vai prestar. Comigo. Se é que ele vai prestar algum dia. Mas...
- Mas ele é bonito, gostoso e não tem muito cérebro! Pára de analisar tanto as coisas e agarra ele de uma vez, vai se divertir um pouco! - Cherry me cortou, falando alto e animada demais. Eu ri, concordando com um aceno.
- Cherry, não! Você não pode sair por aí se divertindo com caras, só por sair...
- Não sou eu, é a quem vai se divertir! - Alex rolou os olhos e cruzou os braços.
- Não estou falando de você, estou falando de uma forma geral. Se você vai se agarrar com um cara... Que por favor goste dele. - Cherry fez Pfff com a boca.
- Só porque você e Brian estão há dois passos de um anel de castidade, isso não quer dizer que...
- Opa! Chega, gente. - sabe aquelas diferenças todas entre elas? Podiam (e realmente podiam) gerar algumas pequenas discussões que precisavam ser controladas antes que tomassem proporções grandes demais para se controlar. As duas suspiram. Estacionei o carro em frente a casa de Alex, e me virei para poder olhar as duas. - Eu vou na festa, não vai acontecer nada demais e eu vou me divertir. Será que dá pra agradar as duas assim? - ambas assentiram, meio contrariadas. Eu soltei uma risada pequena, e disse "Ok".
- Certo. A gente se vê lá, então. Se Brian quiser ir. - Alex concluiu, e saiu do carro, acenando para a gente. Fiz a manobra e caí para o outro lado da pista, entrando na rua a direita para chegar na casa de Cherry.
- Por favor, dê uns amassos no cara. Se depender da Alex, vocês vão acabar fazendo um picnic. - resmunguei "Cherry!", sem conseguir conter a risada. Ela riu também, e depois disse: - Ah, mas é verdade. Por favor, uns amassos vão te fazer bem. - parei na casa dela, e Cherry saiu de lá com um sorriso no rosto quando eu respondi "Beleza, pode deixar comigo", antes de ela bater a porta do carro.

Meu despertador/relógio, posicionado estrategicamente no criado-mudo ao lado da minha cama, marcava quatro da tarde. Eu só tinha decidido me arrumar agora, depois de passar longas horas sentada à mesa de jantar, depois de um almoço rápido, tentando me convencer de que eu não podia dar pra trás e ficar em casa. Eu tinha dito a Cherry e Alex que iria, e agora eu meio que interpretava isso como uma promessa pessoal: eu tinha que ir, tentar agir menos como a pessoa chata que eu sei que sou, e me divertir como adolescentes idiotas fazem. Sabia que não ia fazer um progresso tão gigantesco... Mas pelo menos eu poderia dizer que tinha tentado.
Suspirei, observando meu reflexo no espelho de corpo inteiro na parte interna do meu guarda-roupa. Eu estava usando um bíquini roxo, shorts jeans e ia colocar uma blusa branca por cima. Tinha enfiado uma jeans, roupas debaixo e uma camiseta qualquer na bolsa. Tudo bem, eu sabia que provavelmente não era com isso que eu devia me preocupar... Ou pelo menos não era com o que garotas que iam a esse tipo de festa se preocupavam realmente... Roupas para voltar para a casa. Acho que a maioria delas não voltava, e nem ficava com roupas. Dei de ombros. Eu não ia sair de casa usando biquini e não colocar roupas extras na bolsa, por mais que isso fosse exatamente o que meu pai costumava fazer quando eu, ele e mamãe costumávamos ir ao clube. "Roupas extras". Deus, eu era tão careta.
Meu celular começou a berrar, vibrando em cima do criado-mudo e me assustando. Corri para atender.
- Alô?
- Posso passar aí lá pras cinco? - ri da animação com que Cherry me lançou a pergunta, mas assenti.
- Ok, cinco está bom. - respondi, e ele soltou um berro animado do outro lado.
- Escuta, com que roupa você vai? - rolei os olhos e comecei uma longa descrição do bíquini que eu usava, e das roupas extras enfiadas na minha bolsa. Cherry concordava, discordava e dizia o que ela achava que era melhor, enquanto eu rodava meu quarto, seguindo os conselhos dela quando queria, e mandando ela à merda quando não queria. Depois de concordar que o bíquino roxo estava ok, e trocar a camiseta extra branca por uma mais arrumadinha azul com rosa, eu desliguei o telefone e fui fazer a maquiagem. Liguei a tevê do meu quarto, e me sentei no chão, abrindo meu estojo de maquiagem no colo. EU não tive nem tempo de tirar a base de lá, e a campainha tocou. Rolei os olhos, esperando honestamente que não fosse Cherry, agindo desesperadamente (como ela meio que sempre fazia).
Desci as escadas o mais rápido que eu podia, e abri a porta para dar de cara com Alex. Ela estava com o rosto todo vermelho, e franzi a testa quando ela me encarou, seus lábios tremendo. Ela ia cair no choro.
- Alex! O que houve? - a puxei para dentro de casa com um braço, sentido os braços dela me apertarem forte, e fechei a porta de casa. Ela começou a chorar feito louca, deixando meu ombro todo molhado, e eu esperei ela conseguir se recompor o suficiente para falar alguma coisa. Enquanto esperava, pensando no que podia ter acontecido. Alex não tinha motivos para chorar, porque ela mesma não via motivos para não ficar feliz o tempo todo. Era sempre ela que vivia com um sorriso grande no rosto, dizendo para mim e para Cherry que devíamos reclamar menos e sorrir mais.
- Brian é tão babaca. - ela murmurou, a voz chorosa, embargada. Eu logo compreendi. Ela desfez o abraço, e então pude ver que estava arrumada para a festa: usava um vestido rosa- claro, que deixava as alças de seu bíquini branco aparecendo um pouco. Seus cabelos estavam amarrados para o alto, e qualquer maquiagem que estivera em rosto, saíra. Indiquei as escadas, e nós duas subimos para meu quarto, Alex fungando vez ou outra.
Ela se jogou na minha cama de casal grande e fofa. Eu não tinha muitas manias e vontades, mas uma cama grande e muito aconchegante era um luxo que eu gostava de fazer questão. Alex abraçou um dos meus travesseiros e abriu um meio sorriso quando eu me sentei no chão de novo, de frente para o espelho.
- Está mesmo animada com essa festa. - a olhei descrente, fazendo uma careta.
- Não exatamente. Mas Cherry arrancaria meu pescoço fora caso eu decidisse agora que não iria mais... Além do que, não pode ser tão ruim assim, pode?
- Claro, trocando saliva com Kyle Grants... Qualquer festa fica suportável. - mostrei o dedo do meio para ela, arrancando uma careta típica de ofendida que ela assumia. Era a mesma coisa com palavrões.
- O assunto principal aqui não é esse, querida. Posso saber por que raios a pessoa mais feliz que eu conheço deu as caras na minha porta chorando? Achei que Brian fosse tristemente inofensivo. - ela soltou uma risada pequena e irônica.
- Brian pode ser um idiota quando quer. E, acredite: se alguém sorri demais, esse alguém também tem mais tendência a cair no choro do que você, que reclama o tempo todo. - eu teria parado a conversa aí e entrado numa grande análise da frase que Alex havia dito. Mas eu queria mesmo saber qual tinha sido o problema. Ela percebeu isso quando continuei encarando-a. Ela enfim suspirou. -Ah, ok, que seja. A gente brigou porque ele não quer ir a festa, e eu disse que tinha que ir. Porque, bom, não é sempre que você aparece nas festas. Ele começou a dizer que festas na piscina são só festas que caras como Kyle organizam pra ver "mulheres semi-nuas" - é, essas foram as palavras que ele usou -, e eu perguntei se ele achava que eu era o tipo de garoto que se deixa levar por caras tipo Kyle Grants - sem ofensas, você sabe o que eu penso dele -, e ele ficou calado. Quer dizer, ele simplesmente ficou calado, ele não disse uma palavra! - ela socou o travesseiro, continuou me encarando exasperada, de olhos arregalados e respiração pesada. Eu absorvi a pequena explosão dela.
- Uau. Você falou mais agora do que desde que eu te conheço.
- Não vá fazer piadas agora, . - rolei os olhos.
- Ok, tá legal. Alex, o Brian é desse jeito. Ele é inseguro até dizer chega, ele tem medo de perder até um fio de cabelo quando sai de casa... Imagina ver a namorada, bonita demais, que ele com certeza não acha que merece, indo para uma festa "semi-nua"? - fiz aspas no ar e imitei o tom de voz de Brian. Consegui arrancar uma risada de Alex, e ela pareceu um pouco mais relaxada, ainda que a contragosto.
- É, você talvez tenha um ponto. Ainda assim, não justifica.
- Prometa que vai falar com ele e ajeitar essa situação. - disse a ele, apontando o dedo indicador em sua direção. Ela assentiu, sorrindo um pouco mais como eu conhecia.
- Tudo bem, eu vou. Vamos esquecer isso um pouco. - ela pegou o controle remoto e começou a mudar de canal, enquanto eu me virei de volta para o espelho e voltei a fazer minha maquiagem. Ou melhor, começar. Passei base, um pouco de corretivo, uma sombra leve, e estava no gloss quando Alex interrompeu seus comentários aleatórios para soltar um grito. Deixei o gloss cair e arregalei meus olhos, podendo jurar que tinha saltado uns dois metros do chão.
- Que merda é essa?!
- Olha! - ela apontou para a tevê, sorrindo daquele jeito exagerado, e eu segui sua indicação, para dar de cara com um garoto bonito, moreno, cabelos pretos e lisos, arrepiados fazendo meio que um moicano arrumadinho. Ele usava jeans, uma camiseta branca por baixo de um paletó, e sapatos pretos. Tinha um sorriso bonito, daqueles largos e até sinceros, sem parecerem exageradamente felizes como os de Alex, nem exageradamente forçados e sarcásticos como os de Cherry. Ele tinha uma beleza muita mais elegante do que Brian, menos ofensiva do que Josh... Não parecia um babaca como Kyle, e estava sentado no sofá verde-claro de alguma apresentadora de tevê, que perguntava a ele como tinha sido ganhar tantos músculos em tão pouco tempo. Enquanto eu assistia o bonitão (e muito gostoso), descrever sua dieta, perguntei a Alex:
- E esse, quem é? - ela bufou.
- ! Aquele que a gente foi ver no cinema um tempinho atrás. Taylor Lautner. - franzi a testa, esperando mais dicas. Alex ficou ainda mais impaciente, e eu desviei meu olhar para ela.
- O cara que faz o lobo no filme do vampiro. O gostoso bonitão...
- Ah! O que tira a camisa por qualquer motivo aparente? - perguntei, confirmando. Ela assentiu, rindo também. Aí eu lembrei que Alex tinha arrastado tanto eu, quanto Cherry para o cinema, para assistir Lua Nova. O filme era legal, e o lobo era lindo, mas vampiros brilhando no Sol não tinha exatamente chamado minha atenção. - Ele é mais bonito assim. - apontei para a tevê, o observei rir de mais alguma coisa, e aí me virei para o espelho outra vez, passando o gloss cor de boca. Alex suspirou.
- Ele é bonito de qualquer jeito, vá. Pena que um cara desses nunca dá as caras por aqui. - ignorei os devaneios dela. Afinal, era quatro e cinquenta, e eu ainda não estava pronta.

(Dê play: Forever The Sickest Kids - What Do You Want From Me)
Cherry, que eu quase nunca vi sendo pontual na vida, apareceu exatamente às cinco. Não perguntou nada sobre o rosto meio inchado de Alex, embora eu tivesse maquiado-a de forma que, se você não prestasse muita atenção, não parecia que ela tinha chorado. Fomos para a casa de Josh e de Brian, e este foi de cara amarrada o caminho todo, com Cherry sem entender e eu segurando o riso. Brian com ciúmes era uma cena, no mínimo, digna de algumas risadas.
A casa de Kyle ficava uma meia hora distante da minha, portanto, quando eu estacionei o carro na rua da casa dele, já eram quase seis horas da tarde, e a música da festa vazava para a rua toda. Cherry saiu animada do carro, já dançando e pulando em cima de Josh, que se assustou por um instante, antes de segurar os braços de Cherry e a carregar em suas costas. Alex andou para o lado de Brian, e o abraçou, enquanto ele virava o rosto e parecia sentido. Só levou alguns minutos até ele desviar o rosto para ela, de volta, e os dois trocarem beijos. Sorri para os dois casais, mas fiquei aliviada quando chegamos a casa de Kyle, e voei para dentro, largando-os sei lá onde.
A casa de Kyle era muito grande, toda branca, com umas três salas espaçosas, onde todos os móveis tinham sido afastados para dar lugar a um monte de gente sem camisa, com copos cheios de bebidas duvidosas nas mãos, e dançando ao som de alguma música que eu já tinha ouvido antes, mas não lembrava onde. Enfiei as mãos nos bolsos dos meus shorts, e abri espaço por entre as pessoas para tentar chegar a alguma lugar minimamente habitável. Tudo bem que eu tinha enfiado na cabeça que ia tentar ser menos chata, mas era barulho e gente demais.
- ! - entre minha tentativa de alcançar uma porta que parecia dar nos fundos da casa, e de desviar de um garoto do segundo ano com garrafas na mão, eu ouvi uma voz conhecida me chamar. Mas não era Cherry, nem Alex, nem Josh e muito menos Brian.
- Oi, Harry! - sorri para ele, retribuindo o sorriso que ele já tinha aberto pra mim. Harry era mais velho, já tinha uns vinte e cinco anos, e era o irmão mais velho de Kyle. Podia parecer estranho, mas Harry era um cara ótimo. Eu o tinha conhecido quando frequentava um clube de livros, há três anos. Harry era o único garoto no clube, que conseguia sentar à mesa cor de rosa de Susan White, beber o chá exageradamente açucarado que ela preparava, e discutir Jane Austen sem parecer gay. Depois que Susan encontrou seu Mr. Darcy, perdido nos arredores da faculdade dela, Brown, ela tinha decidido largar o clube, e eu, ele, e mais cinco garotas acabamos desistindo de continuar com o clube. Susan realmente ocupava uma das duas horas falando sobre suas impressões dos livros.
- O que você tá fazendo aqui? - ele perguntou, animado, depois de me cumprimentar com um abraço. Eu dei de ombros.
- Ia ser ótimo poder responder a essa pergunta. - disse, arrancando uma risada divertida dele. - Quer dizer, seu irmão me convidou. Mas ele fez o mesmo com o resto da escola.
- E o resto dos ex-alunos e do corpo docente também. - ele continuou, e foi a minha vez de rir. Vejam bem, eu não via Harry como um futuro namorado, nem nada. Ele era mesmo um amigo muito bom de se ter por perto, porque ele era divertido, inteligente, e tinha uma namorada linda demais. Quer dizer, a garota fazia Direito em Darthmouth, mesmo curso e faculdade que ele. Harry me abraçou de lado, passando seu braço pelos meus ombros e abrindo a porta que eu tinha tentando abrir antes. Ele jogou os cabelos loiros para trás com um movimento rápido da cabeça e eu peguei duas latas de Coca-Cola antes de sair pelos fundos.
A parte de trás da casa de Kyle dava para um jardim composto, em sua maioria, por casais menos desesperados do que aqueles que ocupavam os quartos do segundo andar. Harry e eu nos sentamos no gramado, e eu cruzei minhas pernas, jogando o peso do meu corpo para frente e abrindo minha latinha de refrigerante. Harry fez o mesmo, apoiando seus braços nos joelhos. Virou a cabeça de lado para poder me olhar. Eu ri.
- Que é?
- Meu irmão estava falando de você hoje à tarde. Ele realmente te convenceu, huh? - eu rolei os olhos, ignorando a expressão divertida dele.
- Não foi só ele. Quando se tem Cherry no seu pé... - suspirei. - Bom, não vai doer tanto assim vir, não é? Seu irmão já deve estar bêbado demais, eu não vim esperando encontrá-lo na porta me esperando.
- Ninguém nunca vem. É deprimente. Estou falando, ele vai acabar com uns vinte filhos espalhados pelo país e mulher nenhuma esperando em casa. - franzi a testa, ouvindo Harry usar seu tom de voz profético.
- Já começou a visitar o tribunal, foi?
- Nasci pra isso, .
- Cala a boca, Grants. - nós dois rimos, e uma garota gritando "Tira a mão!" ecoou nos nossos ouvidos, enquanto ela surgia do outro lado da casa, com metade de seu bíquini caindo. Arregalei os olhos, encarei Harry, e ele caiu na risada. Um garoto, amigo de Kyle, saiu logo atrás dela, subindo as bermudas e totalmente confuso.
- Ah, eu quase sinto falta da escola. - ele disse, risonho. Eu o encarei, duvidosa.
- Não sente, não. Isso aí, - apontei para o casal, que agora discutia, ao mesmo tempo em que pareciam prestes a se agarrar de novo. - mostra como pessoas da minha idade parecem fazer um pacto com o capeta e largam o cérebro no meio da rua. Ou, também pode mostrar como elas sofrem de bipolaridade. - acrescentei, vendo a garota sorrir e beijar o namorado. Harry assentiu.
- Ok, pode ser. Ou pode mostrar que você é uma pessoa um tanto quanto rabugenta.
- Ou isso. - concordei, tomando outro gole do refrigerante. Harry virou sua latinha e acabou com o líquido. Quando ele deitou na grama, apoiou o braço esquerdo atrás da cabeça, e soltou um suspiro cansado, eu ri e fiz o mesmo, deitando a cabeça na grama. - O que você tá fazendo aqui? - ele virou a cabeça para mim, franzindo a testa. Eu ri e rolei os olhos. - Não, seu idiota, não estou falando para você ir embora. Só achei que fosse demorar mais para você aparecer de novo.
- Ah, - Harry fez uma careta. - acredite se quiser, mas eu sinto falta de casa de vez em quando. - sorri, percebendo que esse era só mais um dos muitos momentos em que Harry fazia qualquer garota se derreter. Ele virou a cabeça para o outro lado, e perguntou:
- E aqueles ali? - ele apontou para outro casal, e eu os reconheci como sendo Brenda e Dustin Tigers. Eles eram primos. Contei isso a Harry e ele fez "Tá brincando? Cacete!". E aí respondi "Não, é sério!", e quando comecei a contar a história deles, percebi que não ia ver Kyle tão cedo. E nem ligava.

(Dê play: Fall Out Boy - Of All The Gin Joints In The World)
Às nove e meia da noite, Harry e eu já estávamos com nossas costas dormentes de tanto ficar deitados, e inúmeras latinha de refrigerante jogadas ao nosso redor. Eu tinha contado a ele praticamente todas as histórias horríveis que eu conhecia de todo mundo na escola, e ele me contava como funcionavam as festinhas de faculdade. Achei estranho o fato de ele não ter mencionado sua namorada em nenhuma de suas histórias, nem de longe, mas preferi não dar uma de intrometida, e fingi que não tinha percebido.
Foi quando a gente decidiu levantar, eu indo embora e ele indo me acompanhar até em casa, que a coisa toda desandou:
Cherry surgiu pela porta, com Josh atrás dela. Ela usava só o bíquini, sem nenhum sinal de suas outras roupas por perto, e Josh tinha fones de ouvido pendurados em seus ombros, mas a música era tão alta que, quando os dois pararam na minha frente, eu pude identificar Fall Out Boy.
- Eu te procurei por todo canto! - Cherry reclamou, e eu ri, sentindo o braço de Harry em meus ombros. Ela desviou seu olhar para ele, erguendo uma sobrancelha. - Não pegou o irmão errado? - perguntou. Eu rolei os olhos.
- Não, nem vi Kyle. Decidi ficar aqui...
- Você consegue fugir de uma festa até quando já está em uma. - ignorei o tom irritado dela, e só disse "Aham", enquanto andava para a esquerda, em direção à porta. - Ei, você já vai? - Harry vai me levar! - gritei de volta. Antes que Cherry pudesse responder, sons de vidro quebrando chegaram aos nossos ouvidos, tão altos que sobressaíram o som dos alto-falantes com música. "Oh, merda!" e "Putz, cara. Eu não vou limpar isso", vieram logo em seguida, acompanhados do som de alguém vomitando. Cherry ficou parada, com a boca aberta, mas não disse nada. Josh deu alguns passos em direção à porta que nos separava da casa, e ela foi aberta por um Kyle muito bêbado.
Eu não tinha notado até então o nível da festa: ao meu redor, só podia ver pessoas bêbadas ou se agarrando, e o cheiro era esquisito demais para dizer que não havia algum tipo de droga por lá. Quer dizer, é claro que tinha, sempre tinha. Do outro lado, as pessoas pulavam na piscina de qualquer jeito, várias e várias vezes, e muitas latas e garrafas de bebida estavam espalhadas pela borda da piscina e por cada canto do lugar. Eu me encolhi, cruzei os braços, Harry colocou suas mãos nos bolsos das jeans.
- Oh, vejam só, ela veio! - me assustei quando Kyle começou a andar em minha direção, depois de olhar para todas as pessoas, que tinham parado o que faziam para observá-lo. Ele tinha um sorriso débil no rosto, que estava todo molhado. Seu olhar era meio perdido, e ele cheirava muito mal. Ergui as sobrancelhas e levei meus dedos ao meu nariz quando ele chegou muito perto. - Qual o problema, ? - seu tom de voz era irônico, irritado... Mas não do tipo que se deve levar a sério, do tipo que se percebe quão deprimente é.
- Nenhum, Kyle. Só... Você precisa de um banho. - disse de uma vez, arrancando risadas dos outros que nos assistiam. Só então ele pareceu perceber as outras pessoas, porque as encarou uma a uma. Ele voltou a me olhar.
- Você acha que eu preciso de um banho? Você acha que eu não presto? - ele aumentou a voz, e sua expressão ficava cada vez mais agressiva, cada vez menos débil. Eu respirei fundo. Não tinha nascido para lidar com bêbados nervosos.
- Não foi isso que eu quis dizer, Kyle... É só que você não está bem, eu...
- Eu não estou bem? , você nunca esteve bem. Você é uma garota esquisita, que não bebe, não fuma e não consegue arranjar nem um cara que te aguente! - dei um passo para trás, movendo uma das minhas mãos para o meu cabelo, afastando uma mecha do rosto e evitando alguns olhares. Eu via mais pessoas se juntando a roda que se formara ao nosso redor, via Cherry e Josh talvez bêbados demais para fazer coisa, via Kyle... Kyle estava rindo. - O que foi? Eu disse demais? Você achou que só você visse isso? Acorda! - ele gritava e, de repente, sua voz começou a baixar, baixar, até eu não entender mais nada do que ele falava. Ele abaixou a cabeça, e suas mãos foram parar em sua barriga. Ele indicou que ia vomitar, e eu pulei para trás, o vômito caindo na grama e não nos meus pés. Enquanto alguns de seus amigos o ajudavam a levantar a cabeça, senti raiva e vontade de chutá-lo ali mesmo, já que ele estava tão perto do chão, mas nem eu ia me rebaixar a tanto.
- Sabe, você pode ter razão... - comecei, movendo todos os olhares de volta para mim. Ignorei-os. -Mas pelo menos eu ainda tenho um mínimo de dignidade. Eu não fico por aí comendo qualquer coisa que use saias e bebendo qualquer merda que tenha álcool, pra ficar nesse estado. Eu poderia escutar isso de qualquer um e talvez levar em consideração. Qualquer um! Menos você e esse bando de idiotas. Argh! - balancei a cabeça, chutei a grama. - Não sei porquê vim aqui. - murmurei, baixo, e girei nos calcanhares. Abri a porta com força, e Harry me chamou antes de me alcançar e ir embora comigo. Não quis ficar para ver o que mais Kyle tinha a dizer.



Capítulo 2 -
Caras bonitos e imprevisíveis
A situação toda era tão irônica que nem parecia real. Quer dizer, era absurdo.
Desliguei a tevê cinco minutos depois de tê-la ligado. Eu estava tão irritada com tudo e todo mundo. Soltei um longo suspiro e passei a mão livre pelos meus cabelos, jogando-os para trás. Eles estavam uma zona, porque eu ainda não tinha trocado de roupa e nem tomado banho desde que acordara. Eram duas e meia da tarde de um sábado e eu estava lá, jogada no chão do meu quarto, usando pijamas, as costas apoiadas na lateral da minha cama, o controle da tevê acabara de escorregar pela minha mão e cair direto no chão.
- , levanta daí. - ah, é, também tinha o outro fato de que Brian tinha resolvido aparecer no meu quarto. Ele fazia isso frequentemente (talvez menos desde que começara a namorar Alex), mas eu estava tão alterada que tinha soltada um grito quando dera de cara com ele na minha janela, lendo uma revista que Cherry esquecera na minha escrivaninha.
- Não queeero.. - resmunguei, arrancando uma risada dele. Brian rolou os olhos e saltou da janela para o meu lado, apoiando as costas também na lateral da cama, e me empurrando com o cotovelo direito. Abri um pequeno sorriso, empurrando ele de volta. - Sai pra lá, Wood.
- Eu sempre digo que ir à essas festas nunca traz nada de útil. - ele resmungou, cruzando os braços. Ergui uma sobrancelha, apoiei minha cabeça no colchão e a virei de lado, para poder encarar Brian. Ele perguntou "Que foi?" quando eu torci minha boca para o lado e assenti.
- Você ainda está brigado com Alex. - concluí, sem dar margem para ele negar. Eu conhecia Brian desde meus sete anos de idade, tinha certas coisas que eram óbvias demais na cara dele, pelo menos pra mim. Brian bufou. - Ela pode ser um inferno quando quer, sabia? Ela é tão teimosa, mas que merda. Sabe, o drama de Kyle pode deixar de ser, essencialmente, verdade. Vai ver eu e Alex não estamos tão longe de terminar. Por que, de verdade, eu nem sei mais o que esperar dela...
- Cara, vocês dois são uns dramáticos. - cortei o que ele dizia, aumentando minha voz e erguendo minha mão para lhe dar um tapa na cabeça. Ele fez uma careta quando eu o acertei forte o suficiente para sua cabeça ir pra frente e seus cabelos ficarem bagunçados. - Vê? Isso serve de exemplo. Eu nem te bati tão forte assim, vocês são uns trouxas.
- Ah, é? Fala a garota que entrou na TPM depois de discutir com Kyle Grants.
- Vá à merda, Brian. - ele riu quando eu lhe mostrei o dedo do meio, e segurou minha mão, abaixando-a. Eu lhe dei um soco no braço com a mão livre, e nós dois começamos a rir. - Kyle Grants é um cara malvado e sem coração; Alex é uma das minhas melhores amigas e sua, tipo, alma gêmea. Logo, eu tenho o direito de entrar em qualquer TPM que eu quiser, e você tem que ir falar com ela e resolver essa situação. Pra ontem! - estalei os dedos, e Brian jogou a cabeça pra trás, rindo alto.
- Acho que você falou mais do que eu tentei te arrancar durante cinco horas. Isso deve valer alguma coisa, então. - pisquei um olho, abrindo um sorriso grande. Era impossível ficar de mau humor quando Brian insistia em me tirar dele.
- Que bom que você percebeu, Wood. Por que não faz isso agora? - ele rolou os olhos, descrente.
- Não agora...
- Medroso. - ele abriu a boca para resmungar algo de volta, mas a fechou rapidamente, e uniu as sobrancelhas em uma expressão concentrada e pensativa. Franzi minha testa, e o assisti, duvidosa, enquanto ele se afastava para ficar de frente para mim. Ele afastou as mechas escuras que caíam em seu rosto com um movimento da cabeça, e me encarou com aqueles grandes olhos castanho-claros. Ele sorriu, e pude ver que ia sobrar pra mim nesse momento. Esse era o lado ruim de conhecer alguém tão bem.
- Eu vou falar com Alex hoje. - sorri, e estava a um segundo de comemorar, quando ele levou suas mãos até meus ombros e me manteve sentada, enquanto continuava: -...Mas você vai ter que fazer alguma coisa também. - terminou, me deixando confusa. Balancei a cabeça. - Como assim fazer alguma coisa também? Brian, você sabe que eu não me meto nessas brigas de vocês, porque eu não sou nada imparcial e...
- Não, sua tonta! - ele me deu um tapa na cabeça e sorriu, convencido, quando eu disse "Outch!". - Não quero dizer sobre nós. Você vai fazer alguma coisa para você. - ergui uma sobrancelha.
- Para mim? O que você quer dizer com isso? Sabe que não tenho vocação para esses dias em spa, nem fazer compras e fazer cabelo...
- Você vai arranjar um encontro pra você. - ele disse, aumentando a voz para sobressair a minha fala exagerada, e conseguiu me fazer calar a boca. Meus ombros caíram, e minha boca ficou aberta, esperando meu cérebro trabalhar para achar palavras que fizessem sentido juntas, mas nada veio. Brian riu. - Você sempre fica assim quando não tem como contestar. Anda, levante, se arrume, saia e volte com um encontro marcado. Juro que falo com Alex.
- Você não pode basear a sua necessidade de falar com Alex numa idéia idiota de que eu vou conseguir um encontro hoje. - consegui finalmente dizer de volta, e minha voz saiu um pouco mais irritada do que eu planejara. Mas fizera efeito em Brian, porque ele suspirou e rolou os olhos. - Você sabe que é verdade, você vai falar com ela de qualquer forma, quer eu arranje algum cara que queira sair comigo, quer não.
- Ah, por favor, . Olha, eu não... - ele abaixou o tom de voz, deixando-a soar mais compreensiva do que desafiadora, e seu aperto firme nos meus ombros afrouxou-se, suas mãos desceram para os meus braços, e ele abriu um sorriso sincero. - Eu não estou te obrigando a sair com ninguém, nem muito menos te desafiando... Quer dizer, pelo menos não de verdade. Só acho que pode ser bom. Sério, mesmo. Diga "Sim" para o primeiro cara que te convidar pra sair e que você tenha um mínimo interesse, nem que ele seja só bonitinho. Huh? - joguei minha cabeça para trás quando percebi que não ia me safar do olhar tranquilo demais de Brian, e muito menos de sua voz calma e dos muitos anos de amizade que tínhamos. Bufei, dei de ombros, e disse, contrariada:
- Argh, tá bom. Tá bom... Eu vou. - apontei para ele com o dedo indicador, antes que ele cantasse vitória: - Mas você vai falar com Alex hoje. Quero vocês dois resolvidos e juntos. - ele assentiu, rindo.
- Claro. E você, vá se arrumar. E vê se esquece o que o Kyle disse. Ele não vale nada sóbrio, imagine bêbado. - fiquei de pé, ajudei Brian a se levantar com apoio de uma mão.
- Fácil pra você falar. - respondi, arrancando uma risada dele. Brian me deu um beijo na testa e, quando estava na porta do meu quarto, eu sugeri: - Posso chamar Alex e Cherry para irem comigo, isso dá tempo pra você arrumar algo legal para Alex, você vai precisar de mais do que sua carinha bonitinha para convencê-la. - ele sorriu, e assentiu. Eu era uma amiga tão legal.

Hey, ! É a Alex. Você tá legal? Já te liguei umas cinco vezes... Quer fazer o favor de atender? Aquela festa não foi uma droga só pra você, se quer mesmo saber. Ok, isso soou meio irritado demais. Tá, só estou dizendo que não está sozinha para reclamar... Vê se me liga. Beijos!

! Escuta, vamos sair hoje à noite? Tem um show de uma banda que eu achei na internet umas semanas atrás... Não vou dizer onde pra você não me xingar, mas acho que você precisa de uma distração. Me liga!

, é o Harry. Só liguei para saber como você tá. Vou ficar mais uns dias por aqui, então me liga... A gente pode fazer alguma coisa. É, ok. Me ligue.


Terminei de ouvir meus três recados no celular enquanto trocava de bolsa. Joguei o celular na bolsa preta, e suspirei. Eu já estava arrumada, já tinha ligado para Alex e Cherry... Mas não queria exatamente sair. Claro que eu não devia ainda estar pensando no que Kyle dissera na noite passada, ou era pelo menos isso no que queriam que eu acreditasse. Tudo bem, ele podia ser um idiota, que falava demais e pensava de menos... Mas se até ele, que era tão patético, conseguia ver quão patética eu também era, o que isso dizia de mim? Balancei a cabeça, expulsando o pensamento que vinha em resposta a pergunta. Era melhor deixar isso quieto, antes que eu me enfiasse debaixo das cobertas de novo. Se eu fizesse isso, a probabilidade de Alex, Brian, Cherry e Harry apareceram na minha porta era muito grande.
Eu estava sozinha na casa grande demais que meus pais tinham comprado, porque os dois tinham resolvido viajar, sem dar nenhuma data de quando voltariam. Eles mandavam dinheiro e ligavam para dizer onde estavam. Uma semana atrás, era na Islândia. Passei a chave na porta, trancando a casa, e estava procurando as chaves do carro quando ouvi a vizinha da frente gritar meu nome.
- Oh, oi, Kelly! - acenei para ela. Kelly tinha quinze anos, era muito magrinha e tinha cabelos escuros escorridos que cobriam seu rosto. Ela estava usando um vestido curto, e sapatos altos. Estava maquiada, e me olhava mais esperançosa do que sempre. Ela tinha essa necessidade de crescer, como todo adolescente de quinze anos tem, e sempre queria sair comigo. Eu costumava conseguir desviar, já que sempre estava com Cherry, e Kelly tinha medo de Cherry. - Tudo bom? - perguntei, tentando puxar assunto, enquanto apoiava a bolsa no capô do carro e procurava as chaves do carro.
- Tudo bom! Claro, está tudo bem. Hã... , será que pode me fazer um favor? - achei as chaves embaixo do estojo de maquiagem, e as puxei.
- Posso tentar te ajudar. - respondi, rindo. Kelly soltou outra risada nervosa. Abri a porta do carro, joguei a bolsa no banco do carona, e me virei para ela. - Do que precisa?
- De uma carona pro shopping. - ela respondeu de volta, em menos de um segundo, e soou desesperada. Ergui uma sobrancelha. Isso cheirava a garotos.
- Ah, suas amigas estão te esperando lá?
- Não! - ela respondeu, como se eu tivesse acabado de dizer um absurdo. Então rolou os olhos, mexeu as mãos e jogou os cabelos para trás. - Quer dizer, estão! Eu vou encontrar com elas lá, mas vamos ao shopping por um outro motivo! Um ótimo motivo.
- Isso é algo que vai te colocar em confusão depois? - perguntei de uma vez, cruzando os braços. Ela negou com movimentos rápidos da cabeça.
- Não! Não mesmo. - suspirei, e acabei assentindo.
- Ah, tudo bem. Vamos logo, entra aí! - entrei no carro, e Kelly voou para o banco de trás. Ela sorriu quando eu a encarei pelo espelho retrovisor, e então dei partida no carro. - Então, o que tem de tão especial no shopping? - entrei na rua da casa de Cherry, e vi Kelly fazer uma careta antes de abrir um sorriso gigante e se empoleirar no banco, para contar.
- Você deve saber quem é. Bom, não era pra ninguém saber. Ninguém sabe, além de mim e de Jenn e Tyra. Mas tem alguém no shopping que a gente precisa, tipo, muuuito conhecer. - tão esclarecedor, uau. Soltei uma risada fraca.
- Ah, é? É alguém famoso ou algo assim? - paramos em frente a casa de Cherry. Buzinei e desliguei o carro. Cherry sempre demorava.
- É! Ai, caramba. Não consigo, vou falar... - a voz de Kelly variava em tons calmos e desesperados, e rápido demais, e eu estava quase me arrependendo de ter dado carona pra ela. - Ah, que seja! É o Taylor Lautner! Sabe, o Taylor Lautner! Por algum motivo ele está na cidade... - precisei de alguns segundos para lembrar quem era esse. E aí a lembrança de Alex soltando um grito no meu quarto ontem à tarde veio na minha cabeça, e eu lembrei do garoto que estava sendo entrevistado na tv. Sorri para Kelly.
- Calma, Kelly. Você vai conseguir sua foto, autógrafo e uma conversa se agir menos... Surtada. - os ombros dela caíram, e ela parou de se agitar, juntando os braços sobre as pernas e fazendo uma careta.
- É, não é? Ele não vai falar com uma maluca gritando...
- Acho que ele está acostumado com isso. - comentei, lembrando de Alex. Kelly riu. - Mas vai ser melhor se você não gritar, não é? - ela assentiu, abrindo um sorriso grande e nervoso. E aí ouvimos uma porta bater muito forte, e Cherry surgiu, correndo até o carro.
- Desculpe o atraso. - ela disse, cansada, quando destranquei o carro e ela sentou no banco do carona. Eu dei de ombros.
- Beleza, tô acostumada. - ela riu, e foi só aí que percebeu que tinha mais alguém no carro. Ela virou a cabeça para trás, e ergueu as sobrancelhas quando reconheceu Kelly, soltando aquele seu usual "Oh!" de surpresa fingida. Cherry tinha problemas com quem não gostava dela.
Arranquei com o carro e liguei o rádio antes que Cherry falasse mais alguma coisa.

Kelly tinha razão ao dizer que só ela e as amigas sabiam do tal Taylor, porque o shopping estava tão normal quanto qualquer outro sábado. Estacionei na primeira vaga que encontrei, desligando o rádio e destrancando o carro. Esperei Cherry, Alex e Kelly descerem para trancá-lo de volta, já que Alex e Cherry tinham achado uma boa idéia ir para shopping, já que a gente não tinha decidido para onde ia.
- E aí? - perguntei para Kelly, percebendo como ela tinha ficado muito mais nervosa, agora que estávamos alguns metros distantes da entrada principal do shopping. Ela mordeu o lábio inferior e uniu as sobrancelhas. Olhou para mim por um segundo, e então para as portas que correram para os lados quando nos aproximamos dela. Ela respirou aliviada quando o ar gelado nos encontrou, e suas amigas correram em sua direção. Cherry fez uma careta para as vozes esganiçadas das três, comemorando ou chorando, poderia ser os dois, e Alex riu. - Quando foi que dois anos passou a fazer tanta diferença? - perguntou Alex, cruzando os braços enquanto nos afastávamos das três. Acenei para Kelly uma última vez, disse para ela me ligar no celular caso precisasse de alguma coisa, e dei de ombros para Alex.
- Não sei, só sei que eu me senti idosa agora. - Cherry riu alto, jogando a cabeça para trás.
- Temos experiência, é muito mais legal.
- Claro, você é cheia de experiências, Cherry... - Alex desacreditou, rindo, e Cherry lhe deu um tapa no braço, sem conter a risada.
- Não me faça começar a contar...
- Oh, não! Meus ouvidos! Por favor, não... - fingi desespero, arrancando risadas das duas. Atravessamos a praça do shopping, e começamos a andar por um dos corredores, cercadas de vitrines de lojas de roupas. Ficamos em silêncio por uns dez minutos, até Alex bufar. Encarei Cherry por um momento, antes de abrir um pequeno sorriso.
- Então você vai estrear o desabafo de hoje. Por favor, comece. - Cherry disse, sorrindo para Alex. Ela rolou os olhos, mas esboçou um sorriso.
- Ok. Lá vai: acho que odeio Brian. - Cherry e eu falamos "Ah, meu Deus" ao mesmo tempo. Fato do qual teríamos rido, não fosse a situação.
- Você não odeia Brian.
- Está bem longe disso. - Alex olhou de mim para Cherry, com seus grandes olhos, sua expressão triste e irritada.
- Ele é tão besta! - resmungou, levando uma das mãos até os cabelos, jogando-os para trás e fazendo um quase nó com eles.
- O que aconteceu, de qualquer forma? - Cherry perguntou, sem desviar o olhar de um vestido preto e verde.
- É, dá pra explicar? Brian também não disse.
- Brian falou com você?! - Alex pareceu incrédula, então bastou um segundo para consertar: - Mas é claro que ele falou com você. Esqueço que ele sempre fala. - concordei com um aceno da cabeça, dando graças a Deus pelo voto que eu fizera quando eles começaram a namorar ("Não vou me meter em nenhuma futura briga, não me perguntem o que o outro falou, eu não vou dizer nem sob tortura"). Na época, eles tinham ficado ofendidos com minha teoria de que eles iam, eventualmente, brigar e ficar sem se falar. Na época.
- Ainda não ouvimos o que aconteceu. - Cherry reclamou. Alex rolou os olhos.
- O problema é que ele não confia em mim. Sei lá, ele fica achando que eu vou dar o fora nele a qualquer instante, por qualquer cara que apareça. Isso me irrita.
- E pensar que ela tinha dito que era fofo como ele não se levava a sério, lembra? - Cherry alfinetou, olhando para mim. Eu disse "Oh, é mesmo!" rindo, e Alex torceu o nariz.
- Vamos nos ater ao assunto principal? - pediu. Cherry e eu mexemos as sobrancelhas, e eu indiquei que ela podia continuar com um gesto da mão.
- Então, na festa... - ela me encarou antes de continuar, provavelmente esperando que eu tivesse desenvolvido alguma reação a lembrança da noite anterior. Continuou depois de, aparentemente, não enxergar nada preocupante na minha expressão: - Bom, eu estava sentada numa daquelas mesas do lado de fora, tomando um suco de uma fruta qualquer. Brian tinha ido ao banheiro. E aí aquele Eric, da sua turma de Biologia... - ela apontou para Cherry. Cherry disse "Ah, ele é lindo!", e então "Oh!" quando entendeu o que acontecera. - É, pois é. Ele veio falar comigo, e aí Brian chegou. Eu já tinha a situação na minha mão, sabe? Tinha explicado para Eric que não ia com ele pra lugar nenhum, ou seja lá o que ele estivesse tentando dizer... Enfim, o ponto é que eu tinha controlado tudo, e aí Brian esperou Eric ir embora, ficou encarando o garoto, pra depois vir me dizer que eu estava dando mole pro cara. Argh. Idiota. - Alex quase nunca ficava irritada. Quando ficava, normalmente era com Brian.
- Vocês vão ficar bem. - Cherry deu de ombros, ignorando o olhar aterrorizado de Alex.
- É, vocês não conseguem ficar brigados. - concordei, rindo dos olhos arregalados de Alex. Ela bufou outra vez.
- Odeio como vocês estão sempre certas. - disse. Paramos em frente a uma loja com blusas e vestidos lindos, e entramos sem pensar duas vezes.
- Acho que agora é a vez da ? - perguntou Cherry, animada. Passeávamos pelas roupas, vez ou outra tirando algumas blusas e vestidos, e empilhando outras peças nos braços para experimentar.
- Não tenho nada a declarar. - disse, rindo. Alex gritou "Ahá!", apontando para mim.
- Eu falei, você também vai falar.
- Ah, qual é, eu não preciso falar. Vocês assistiram a... - parei de falar quando vi Cherry rolar os olhos, impaciente.
- Não estamos nos referindo a Kyle, . Kyle que se dane. - ela fez um gesto exagero com a mão livre. Uma vendedora nos encarou com olhos arregalados, e eu franzi a testa.
- Ok, agora vocês me deixaram perdida. O que mais aconteceu além de Kyle? - Alex bateu as mãos e encarou o teto, murmurando "Ah, tá brincando..."
- O irmão do cara, ! Harry! - ela explicou, irritada. Arregalei os olhos na mesma hora, surpresa de verdade.
- Vocês estão brincando, né? Harry é meu amigo. Sempre foi.
- É, seu amigo terminou com a namorada e resolveu atacar de príncipe encantado salvando a donzela indefesa. Harry é seu amigo, mas também é homem, vá...
- Ele terminou com a namorada? - perguntei, sendo essa a única parte que me parecia menos perigosa de se ir, levando em conta todas as implicações das palavras de Cherry. Ela riu.
- É, Kyle contou para alguém que, bem, contou para todo mundo.
- Achei que eles fossem casar e virar um daqueles casais ricos, inteligentes, com filhos com egos inflados. - divaguei, puxando um vestido azul claro e cinza para experimentar.
- Não desvie do assunto e nos conte o que aconteceu, sim? - pediu Alex, como que conversando com uma criança teimosa. Eu soltei uma risada abafada.
- Cheguei na festa e encontrei Harry. Quer dizer, ele me encontrou. Nós fomos para a parte de trás da casa, e ficamos conversando até aquela hora m que Kyle chegou. Depois do show do Kyle, Harry me levou em casa. Mas eu não lembro dessa parte direito, mesmo, porque eu acho que meio que apaguei. Mas hoje tinha um recado dele no meu celular... Dizendo que ia ficar por aqui mais uns dias e para eu ligar, para a gente marcar alguma coisa. - despejei todos os fatos de uma vez, e ri quando Alex e Cherry se encararam. - Ok, entendam isso como quiserem. Eu vou comprar roupas. - apontei para as peças que estavam no meu braço, e voei para o provador aos risos.

Eu terminei minhas compras antes, e estava com duas grandes sacolas de papel com blusas, vestidos e saias dentro, apoiada no balcão da Starbucks, esperando meu Frappuccino de Chocolate ficar pronto para eu voltar para a loja. Alex e Cherry pareciam ter sido tomadas por alguma força que estava prendendo-as lá, e essa força era um cara alto e musculoso, de cabelos e olhos claros que dizia que elas tinham ficado lindas em qualquer roupa que colocassem, talvez louco para conseguir vender algo, ou só para vê-las mesmo.
Estava pensando no que "prometera" a Brian, sobre voltar para casa com um encontro marcado. Ele tinha esquecido a possibilidade de que, talvez, não tivesse alguém que quisesse sair comigo. Eu sabia como isso podia soar idiota, mas e se realmente não houvesse? Harry apareceu nos meus pensamentos, me levando de volta a conversa com Alex e Cherry, e como elas pareciam acreditar que tinha acontecido alguma coisa entre ele e eu na noite passada, enquanto isso nem tinha passado pela minha cabeça.
- Aqui está. - o cara do outro lado do balcão me estendeu meu frappuccino, e eu agradeci com um sorriso, levando o canudo à boca enquanto fazia o caminho de volta a loja. O shopping estava ficando mais cheio, e meu celular não tocara nenhuma vez, o que devia significar que Kelly tinha conseguido o que queria e estava ocupada demais para me ligar.
Quando eu resolvi não voltar para a loja, e fiz um movimento brusco, girando para a direita em direção a livraria, foi quando ele esbarrou em mim.
Eu lembro de ter soltado um grito, ter pensado que queria sair correndo, ao mesmo tempo em que sentia o líquido gelado do meu frappuccino se espalhar sobre minha blusa branca depois de sentir um outro corpo bater forte contra o meu. "Droga!" foi ouvido tanto da minha parte, quanto da outra pessoa que esbarrara em mim. Minhas sacolas caíram no chão e eu encarei meu copo metade vazio nas mãos, o líquido marrom espalhado na minha roupa e no chão.
- Merda! - resmunguei, levantando os olhos para a pessoa que me fizera virar o centro das atenções de quem passava por alguns instantes.
- Ah, caramba. Desculpe, eu... - a voz dele me chamou a atenção, porque não me era estranha, ao mesmo tempo em que não pertencia a ninguém que eu conhecesse. Ergui os olhos devagar, e franzi a testa quando identifiquei quem era.
Ele era bonito na tv e no cinema, mas era bem mais agora, ali na minha frente. Taylor tinha uma expressão preocupada no rosto, e parecia analisar como ia resolver essa situação, isso sem deixar de olhar para os lados, provavelmente se xingando muito internamente por ter quase conseguido passar o dia inteiro sem ninguém reconhecê-lo. Um acidente no meio do shopping não é a melhor maneira de continuar com isso.
- Tá tudo bem, relaxa. - eu disse, soando tão tranquila que surpreendeu até a mim. Normalmente, eu teria surtado, mas ele não me pareceu o tipo de pessoa que esbarrava nas outras de propósito. Ele me encarou pela primeira vez, abriu a boca e a fechou. Fez isso duas vezes, até balançar a cabeça como se convencesse a si mesmo de algo, e abriu um pequeno sorriso. - Desculpe. - soltou uma risada nervosa, levou uma das mãos a nuca e mexeu nos fios de cabelo lá. Ele era mais alto do que eu, usava jeans escuras, uma camiseta preta e um casaco da mesma cor por cima, e tênis all star.
- Tudo bem. - repeti, tentando soar mais convincente. - Sem problemas. Eu... - eu nunca tinha esbarrado em ninguém e perdido meu frappuccino todo, muito menos esbarrado em um cara lindo. Eu não tinha ficado nervosa e desconcertada pelo fato de ele ser famoso, porque eu quase nunca conseguia lembrar dele, nem ligar seu nome ao seu rosto, mas eu não podia dizer que ia esquecer daquele rosto tão cedo. Ele abriu um sorriso para mim, e então se abaixou para pegar minhas sacolas. - Ah, obrigada... - eu ia ter que estrear alguma das blusas que tinha comprado, então estendi a mão para ele.
- Eu acho que preciso ir. - consegui finalmente dizer, pegando as sacolas de sua mão.
- Pra onde? - arregalei os olhos e ergui as sobrancelhas depois da pergunta dele. Tudo bem que ele era quem era, mas... Ele balançou a cabeça depois, rindo. - Desculpe, me expressei mal.
- Bem mal. - disse de volta, minha simpatia por ele se esvaindo consideravelmente. Ele semicerrou os olhos.
- É só que... Bom, eu fiz essa besteira. Tem alguma forma...?
- Sério, tá tudo bem. Eu vou trocar de blusa - não que isso te interesse -, e podemos fingir que nada disso aconteceu. - esbocei um sorriso para ele e girei nos calcanhares, começando a andar o mais rápido que meus saltos altos me permitiam, em direção ao banheiro que, por algum milagre nessa confusão toda, era bastante perto.
Troquei minha blusa branca por uma preta, na tentativa de evitar mais qualquer desastre futuro, e parei para observar meu reflexo quando saí de uma das cabines, para o grande espelho na parede do banheiro. Apoiei minha bolsa na pia, e passei uma das mãos pelos meus cabelos. Imaginei como Kelly iria gritar se soubesse do que aconteceu. Ou Alex, e até mesmo Cherry. Lembrei de quando ele abriu um sorriso para mim, e de como parecia envergonhado e confuso. Deus, ele era tão bonito, e tão não - aparentemente - convencido. Oh-oh. Espera. Oh, e se eu tivesse acabado de estragar tudo? Brian. Brian tinha dito para eu agarrar minha primeira oportunidade, e eu tinha chutado o coitado feito uma bola e futebol. Mas, também, observando pelo outro lado... Ele provavelmente só ia querer me comprar uma camiseta barata e me deixar com frio o resto do meu passeio pelo shopping congelado.
Do que é que eu estava falando?
Saí do banheiro falando para eu mesma como eu era maluca, mas não tive muito tempo para chegar na parte em que listava os porquês da minha loucura.
- Hey. - ele estava lá, encostado na parede ao lado da porta do banheiro, de braços cruzados e me encarando. Ergui uma sobrancelha, confusa demais. Ele riu. - Sério, você não vai sair dessa sem me deixar, pelo menos, te pagar um frappuccino. - cruzei os braços, e não sabia dizer se estava feliz por ele demonstrar um mínimo de interesse, ou irritada pela insistência do cara.
- Ninguém nunca te disse "Não"? - perguntei, fazendo-o parecer surpreso.
- O que já me disseram ou não, não é importante. O que eu faço a respeito, é. - abri a boca, espantada, e consegui arrancar uma risada dele, embora eu não estivesse brincando.
- Cara, como você é convencido!
- Vamos, um frappuccino e você está livre.
- Tchau pra você, estranho. - cantarolei, acenando para ele e girando nos calcanhares para pegar o caminho oposto ao que faria antes. Ele se adiantou e me segurou pelo pulso.
- Ei, estranha. Por favor? - rolei os olhos, e deixei meus ombros caírem. Vamos parar aqui e analisar: a) eu podia continuar com minha idéia e dizer "Não" outra vez, e talvez fosse burrice da minha parte; b) eu podia dizer "Sim" e quebrar minha cara tentando conversar com alguém que talvez nem tivesse assunto, ou que só falasse dele mesmo; c) eu tinha feito uma merda de promessa para Brian. Merda de Brian, merda de melhor amigo.
- Estranha, não. . - acabei por dizer, arrancando um sorriso largo dele.
- Taylor Lautner. - ele estendeu a mão e eu o cumprimentei, rindo com a confiança dele. Taylor pareceu satisfeito com minha risada, e começamos a andar em direção a Starbucks. Seja lá no que fosse que eu estivesse me metendo, acho que tinha jogado todas as minhas chances de cair fora bem naquele momento.



Capítulo 3 -
Encontro

O que você está fazendo? Essa pergunta rodava minha cabeça o tempo todo. Na verdade, ela estava lá, pairando sobre mim, com sua reposta em um lugar completamente oposto. O que é que raios eu estava fazendo?
Estava sentada à uma das mesas da Starbucks, uma cadeira ao meu lado ocupada com minhas sacolas, a outra vazia, mas só por alguns minutos. Observei Taylor, de costas para mim, de frente para o balcão, esperando nossos frappuccinos ficarem prontos. Por que eu tinha deixado que ele fizesse isso? Deixar um estranho te pegar uma bebida pode ser uma furada. Ok, eu sabia que não era assim.
Enquanto esperava Taylor, tinha feito uma lista mental de cinco itens, para tentar entender porque eu estava tão nervosa:

5. Você está fazendo isso por Brian. Você prometeu que ia dizer sim para o primeiro cara, mesmo que ele fosse só bonitinho.

4. O item acima é mentira. Você podia muito bem ter dito "Não".

3. Você não tem um namorado, e nem nada do gênero, para se sentir culpada por ter dito "Sim".

2. Você tem problemas mentais.

1. Você está nervosa porque ele é bonito e tem um cérebro, o que faz com que você tenha que manter uma conversa. Você não é boa em manter conversas e muito menos em lidar com caras bonitos.

Vá lá, . Se vire. Dê seu jeito.

Meu celular tinha tocado umas cinco vezes. Eu verificara para ver de quem eram as ligações, mas nenhuma delas era de Cherry, Alex ou Kelly, que era a quem eu devia explicações no momento. Era só Harry ligando três vezes e Brian torrando minha paciência outras duas. Mandei mensagens para os dois, dizendo "Ligo de volta mais tarde" e recebera como resposta "Pode trazer Alex daqui a duas horas?" de Brian e nada de Harry.
- Aqui. - a voz de Taylor chegou com sua sombra sobre meu celular, e eu desviei o olhar do visor para olhá-lo, e então pegar meu frappuccino.
- Ah, obrigada. - respondi, tentando sorrir. Eu estava nervosa. Tipo, mesmo.
- Hã... . , certo? - confirmei com um aceno da cabeça, aliviada por ele ter começado algum assunto. Se essa parte ficasse a meu encargo, estávamos fadados ao fracasso, eu podia apostar. Ele se ajeitou na cadeira, mexeu a cabeça de novo, daquele jeito estranho e incerto que ele já tinha feito umas cinco vezes, e me encarou com um sorriso nervoso. - Posso te perguntar uma coisa? - eu uni minhas sobrancelhas, curiosa, e assenti.
- Pode, claro. - tomei um pouco do meu frappuccino, e Taylor fez o mesmo, devolvendo o copo a mesa, cruzando os braços sobre ela também e girando o pescoço para seu rosto ficar na minha direção. Observei seus olhos, nariz e boca por frações de segundo, e eu via que ele fizera o mesmo.
- Por que aceitou vir até aqui comigo? - a pergunta me pegou de surpresa. Eu ergui minhas sobrancelhas e apoiei minhas costas na cadeira, deixando minhas mãos caírem sobre meu colo. Desviei meu olhar de Taylor para as pessoas que andavam pelos corredores, entravam em lojas, paravam para conversar... Eu não tinha resposta para essa pergunta.
- Que tipo de pessoa faz perguntas tão complicadas pra quem acabou de conhecer? - perguntei, sem pensar no que estava dizendo. Quando fui ver, minha pequena amostra da minha personalidade amarga já estava lá, entre ele e eu. Mas Taylor riu, ao invés de fazer uma careta como todo mundo costumava fazer.
- Que tipo de pessoa faz perguntas tão longas? - ele perguntou de volta, e eu acabei rindo. Peguei meu copo de volta e tomei mais um pouco do frappuccino.
- Você é tão estranho. - comentei, de novo esquecendo meu filtro. Taylor não respondeu de imediato - ele me observou por mais alguns instantes, como se isso fosse responder a qualquer outra dúvida que ele pudesse ter. Se é que tinha.
- Você também não fica pra trás. - ele ainda sorria, e eu me vi totalmente incapaz de não sorrir de volta. Segurei o copo com minhas duas mãos, sentindo minhas bochechas queimarem ao Taylor fixar seu olhar no meu. Quem era esse cara pra aparecer e me deixar toda adolescente boba?
- Eu nunca disse que não era estranha. - ele ia responder, mas eu balancei a cabeça em negação e ri. - Na verdade, eu não tive tempo de dizer muita coisa. - nós dois rimos, e ele concordou.
- É verdade. Nossa, eu nem devia estar aqui, pra começar.
- Se te descobrem... Isso aqui vai virar um pandemônio! Imagine, você inventa de ir a um shopping num sábado à tarde! - ele riu com meu tom de voz exagerado.
- É o que adolescentes normais fazem. - respondeu, e eu rolei os olhos. - E, além do mais, você também não surtou quando me viu.
- Você não é um adolescente normal. E nem eu.
- Tem razão, eu sou estranho.
- E famoso. - sussurrei, arrancando risadas altas dele. Eu arregalei os olhos e olhei para os lados, me certificando de que não tinha ninguém prestando muita atenção na gente. - Taylor!
- Relaxa, . - ele tomou mais frappuccino e colocou uma perna dobrada sobre a outra, apoiando sua mão em seu tênis. Eu joguei meus cabelos para trás, e estava pronta para continuar a conversa, quando meu celular começou a tocar. Fechei minha boca e peguei o aparelho, para ler "Brian" no visor. Oh, Deus.
- Fala, Brian. - disse, quando atendi a ligação. Brian respirou aliviado do outro lado, e eu franzi a testa.
- Caramba, até que enfim! Você recebeu minhas mensagens? - rolei os olhos, rindo.
- Recebi. Eu vou levar Alex aí, não esquenta...
- Não! Quer dizer, é! É que eu preciso que traga ela aqui agora. Pode ser? - parei de rir, e movi meu olhar para Taylor. Ele bebia seu frappuccino e observava as pessoas andando, distraído, com um leve sorriso no rosto. Eu não conhecia ele nem há duas horas, e já não queria ter que ir embora e provavelmente não vê-lo mais. Ele voltou a me olhar, e aumentou o sorriso. - ? - ah, mas que merda.
- Oi. Ok, claro... Devo chegar aí em uma meia hora.
- Ok. Tá. Valeu, ! - e desligou. Encarei o visor com "Chamada Encerrada" e suspirei. Brian tonto, dramático e abusado.
- Namorado? - foi a pergunta de Taylor, e eu ri enquanto enfiava a droga do aparelho na bolsa.
- Não tenho namorado. Era só um amigo meu querendo que eu deixe a namorada na casa dele.
- Oh. - ele assentiu, sem parecer muito feliz. - Então você está indo embora?
- É, parece que eu não estava destinada a tomar um desses todo hoje. - balancei o copo pela metade nas minhas mãos, e Taylor riu. Ele então mordeu o lábio inferior e, acho eu, colocou sua melhor expressão de arrancar corações de adolescentes para ele.
- Acha que posso usar isso como um bom motivo para um segundo encontro? Quer dizer, eu tenho que, pelo menos, ser capaz de te fazer beber algo sem interrupções. - me surpreendi com quão fácil ele me pegou sorrindo, envergonhada, vermelha, confusa e, de repente, totalmente consciente de que cada movimento meu devia parecer muito desengonçado.
- Acho que essa é uma ótima idéia. - respondi, unindo o restinho de forças que eu tinha.
Ele sorriu, e eu pensei "Que se dane, aproveite as situações uma vez na vida!" e puxei uma caneta da minha bolsa. Estendi minha mão para ele, com a palma virada, e ele colocou a sua, da mesma forma, sobre ela. Sua mão era quente e grande, e bonita. Dava para dizer muito de um cara por suas mãos, e eu rapidamente anotei meu celular na palma da dele. Taylor tirou a caneta da minha mão antes que eu pudesse guardá-la, e começou a escrever seu número na minha mão. Eu me assustei e a puxei de volta. Expliquei quando ele ficou confuso.
- Bom, você não precisa me dar seu número se não quiser. Quer dizer, você tem isso tudo rolando com você, então talvez queira não sair dando seu celular pra todo...
- Já deu pra perceber que você não é todo mundo, . - ele me cortou, e eu sorri, contrariada. Estendi minha mão de novo e ele terminou de escrever seu número, rabiscando mais alguma coisa que eu senti, mas não consegui descobrir o que era. - Guarde com você. Mesmo. - ele apontou o dedo indicador para mim, antes de devolver a caneta. Eu a enfiei na bolsa e assenti.
- Certo. Mas vou esperar você ligar antes. Já que quem achou um motivo para um segundo encontro foi você. - ele sorriu, ficando em pé ao mesmo tempo em que eu ficava. Passei a bolsa pelo ombro, e me virei para pegar as outras bolsas na cadeira.
- Até mais, . - ele se inclinou em minha direção e me beijou na bochecha. Ah, caramba. Eu senti meu rosto esquentar outra vez, e sorri de lado quando ele me soltou. Não tive nem a capacidade de beijá-lo de volta, só de girar nos calcanhares e andar para qualquer outro lugar onde eu não ficasse tão insegura assim.

Caramba.
Andei pelos corredores o suficiente até quase me perder, e me joguei num dos bancos de madeira, deixando minhas sacolas de papel no chão, e minha bolsa no colo. Abri minha mão e encarei a palma, o telefone de Taylor escrito lá, e então estreitei minha vista para conseguir ler o que ele tinha escrito mais embaixo. Tinha um outro telefone, e então estava escrito:

Procure por Teddy Bear

Comecei a rir quando percebi que ele também tinha anotado o telefone do hotel, e com ele o nome sob qual tinha feito o check in. Tentando ser prática uma vez na vida, anotei rapidamente os telefones no celular, e os encarei na minha agenda por alguns instantes. É, eu não podia dizer que hoje não tinha sido um dia produtivo.
Eu não queria levantar, eu não queria encontrar Cherry e Alex, não queria entrar no carro e dirigir para casa. Era como se qualquer coisa próxima da minha realidade fosse fazer tudo virar um sonho esquisito e vívido demais. Eu acho que estava mais surpresa com o fato de ele ter sido tão legal comigo, tão... Sei lá, encantador? Insistente de um jeito agradável? Estava mais surpresa com isso do que com o fato de que ele era um cara famoso, com um monte de meninas gritando atrás dele e colecionando suas fotos nas paredes dos quartos. Definitivamente, essa não era uma situação nem próxima do comum para mim. E, ainda assim, eu não queria ter que levantar daquela mesa e ir embora.
Meu celular começou a tocar e vibrar na minha mão, e eu me assustei, voltando a onde eu estava. Oh, ok. Era Cherry.
- ? Hey! Onde você tá? - ao invés de responder, olhei para os lados e para frente, tentando me situar.
- Perto da livraria... - respondi, e continuei antes que Cherry sugerisse lanchar ou algo assim: - Escuta, temos que ir embora. Preciso deixar Alex na casa de Brian. Ela não sabe disso, então fique quieta. Encontro vocês no estacionamento, ok? - ouvi Cherry responder "Hã? Ah, ok. Que confuso. Estamos indo" e desliguei o aparelho.
Suspirei, fiquei em pé e me ajeitei outra vez, mas não tive nem chance de dar dois passos até meu celular começar a berrar de novo.
- Oi. - disse, distraída. A bem verdade era que eu estava andando em direção ao estacionamento prestando atenção em todo mundo à minha volta, querendo e não querendo encontrar Taylor.
- Hey, ! - era Harry. Sorri na mesma hora.
- Harry!
- Tá onde? - soltei uma risada, e ele riu do outro lado também. - Não venha dizer que não me interessa, só responda logo.
- Estou no shopping, não que isso te interesse. Por que?
- Vai demorar muito? Aluguei uma tonelada de filmes de terror, não vai me fazer ver tudo sozinho, vai?
- Não mente, Harry! Você deve ter alugado dois filmes e só vai ver um. - ele riu alto do outro lado.
- Ok, você está certa. De qualquer forma...
- Estou indo pra casa agora. Passa lá daqui a uns quarenta minutos, beleza? - já estava atravessando o estacionamento, procurando meu carro com os olhos, quando ele respondeu:
- Tá legal. Quarenta minutos. Vou levar pizza. - e com um "Tudo bem, tem refrigerante lá em casa", eu desliguei o telefone e dei alguns passos até meu carro. Não demorou muito para Cherry e Alex surgirem, cheias de sacolas nas mãos, rindo e falando alto.
- ...Super tinha razão quando disse que não ia!
- Eu sei! Ele era lindo, mas...
- Vocês duas têm namorados. - disse, assim que elas pararam ao lado da mala do carro, fazendo as duas rolarem os olhos.
- Onde você se meteu? - Alex soltou, quando eu abri a mala para elas colocarem suas bolsas lá. Ganhei tempo organizando as bolsas lá e fechando a mala para pensar em algo. Eu tinha que decidir se ia contar a elas, ou se não ia. Eu não tinha certeza. Eu não queria contar pra ninguém.
- Fui na Starbucks e na livraria. - dei de ombros.
- Ah, claro. Esqueci que você vai a shoppings pra ficar sozinha. - semicerrei meus olhos e mostrei a língua para Cherry. Eu tinha contado metade da história. Eu não tinha ido a livraria, mas elas sabiam como eu gostava de me enfiar na Starbucks para ler alguma coisa. Era melhor elas acreditarem nisso, do que eu ser obrigada a contar uma história que custaria a ser tida como verdadeira. É, eu ia deixar isso quieto por enquanto.
Senti meu celular vibrar outra vez, e o pensamento de jogá-lo longe passou pela minha cabeça, só por um instante, até eu lembrar que precisava dele para falar com Taylor. Olhei o nome de Kelly no visor, e cliquei para ler a mensagem:

, vou para a casa de Tyra. Não precisa me esperar! Valeu. Beijos!

- Kelly não vai voltar com a gente. Vamos? - indiquei o carro com a cabeça, e entrei no lado do motorista enquanto Alex e Cherry brigavam pelo lugar na frente.
Alex foi na frente e se ocupou em mudar de música até encontrar uma que gostasse.

Durante todo o caminho, fomos conversando sobre o vendedor bonito da loja, sobre porque Cherry era tão implicante, e se Alex devia ou não pintar os cabelos. Quando cheguei na rua em que devia virar para deixar Alex em casa, mordi o lábio inferior, encarei Cherry num aviso rápido, e aí caí na outra rua que dava na minha casa e, consequentemente, na casa de Brian. Eu já tinha ligado para o celular dele, fingindo que estava falando com minha mãe, e ele devia estar esperando na porta.
- Ei, onde a gente tá indo?! - Alex soltou, confusa, encarando a janela. Eu parei o carro em frente a casa de Brian, e a assisti deixar os ombros caírem e fechar os olhos. - Brian é um imbecil. E vocês ainda ajudam!
- Alex, você tem que encarar o coitado. - Cherry disse, num tom de voz extremamente calmo. Eu concordei com um aceno da cabeça.
- Por favor, vá lá e escute o que ele tem a dizer. - Brian abriu a porta de casa muito devagar, todo incerto. Ele estava arrumado, e tinha um buquê de rosas nas mãos. Sorri.
- Ele é tão clichê. - Cherry comentou, baixo, e Alex a encarou, parecendo ofendida. Ela tinha os olhos cheios d'água.
- Desculpe se ele não apareceu com algemas ou um chicote, Cherry. - Cherry abriu a boca, espantada, e eu também, mas caí na risada. Alex pulou do carro e correu em direção a Brian. - Cara, o quê flores não fazem! Chicote! - repeti, rindo de verdade, e esperei Cherry pular para o banco da frente. Ela acertou sua bolsa na minha cabeça quando se ajeitou ao meu lado, e eu arranquei com o carro gritando "Estou dirigindo, não me bata!", o que ajudou até eu soltar "Mas qualquer coisa eu arranjo umas algemas".

Saí do banho usando shorts jeans, camiseta e tênis. Deixei meus cabelos soltos, e desci as escadas, em direção a cozinha. O relógio na parede indicava que já passava das cinco da tarde, então Harry não ia demorar muito. Me ocupei em passar o refrigerante para o congelador e verificar se tinha pacotes de biscoito e pipoca, e aí meu celular tocou.
A partir daquele momento, eu soube que ia ficar assim, nervosa e ansiosa, todas as vezes que meu celular desse o menor sinal.
Ele estava no balcão que separava a cozinha da sala de jantar, e eu andei lentamente até lá, pegando o aparelho e sentindo um arrepio percorrer minha espinha quando li "Taylor" no visor. Tudo bem, talvez eu não devesse ter colocado o nome dele na minha agenda. Mas existiam mais Taylors por aí.
Era uma mensagem, e eu não tive como não sorrir quando a abri:

Consegui chegar ao hotel sem ninguém me descobrir. Vamos sair amanhã à noite?

Amanhã à noite era domingo, e eu costumava ignorar domingo como um dia em que eu fizesse algo. Normalmente, eu assistia filmes antigos, me entupia de comida e dormia cedo. Mas por que não quebrar minha rotina ridícula?

Não vá achando que não tem adolescentes histéricas aqui. Amanhã à noite parece ótimo.

Achei estranhamente bom quando enviei a mensagem e me vi aceitando sair com um cara que eu não conhecia nem a um dia inteiro. Não era bem o que eu costumava fazer, mas Taylor também não era bem o tipo de cara que aparecia sempre. Também tinha o fato de que ele não devia ficar muito tempo por aqui, mas preferi afastar esse pensamento. Para minha sorte, ele ligou no minuto seguinte. Atendi.
- Oi. - disse, apenas. E ele riu do outro lado.
- Onde podemos ir amanhã? Eu não conheço nada.
- Hm, depende. - comecei, sorrindo, e me sentei no balcão, tomando impulso para subir. Apoiei minha mão livre na superfície gelada, e deixei meus pés balançando no ar. Encarando meus tênis sujos, continuei: - Tem um cinema legalzinho, mas você deve estar cheio de filmes; - ele riu, divertido. - Tem um boliche, tem um restaurante legalzinho perto dele. A gente pode...
- Boliche? - ele perguntou, animado. Fechei minha boca e desisti de continuar com a lista de lugares possíveis. Ele já tinha escolhido, pelo visto.
- É, boliche. Eu não sou muito boa, mas é divertido. - ouvi barulhos de coisas caindo, algo como cabides, e aí ele resmungou "Bosta!" antes de dizer:
- Odeio esses guardas-roupa de hotel. Enfim, você vai aprender como se joga boliche amanhã. Te busco às sete?
- É melhor eu te buscar, você vai se perder. - respondi, imaginando quanto tempo Taylor levaria para encontrar minha casa. Eu também tinha o costume de achar que todo mundo dirigia pior do que eu. Ele pareceu incerto porque demorou um pouco para responder. - Taylor, eu não vou ficar te perseguindo no hotel, nem colocar o endereço na internet. - resmunguei, e ele riu.
- Não, não estou preocupado com isso! Se você está me enrolando, é uma ótima atriz. - riu da própria piada, e continuou: - É que eu só queria ser cavalheiro o suficiente e te buscar. Mas tudo bem, pode passar aqui. Anota aí. - pulei do balcão com um "Peraí!" e peguei um pedaço de papel e caneta para anotar o endereço. Ele o ditou e o escrevi rapidamente.
- Ok. Então até amanhã. - disse, sorrindo.
- É, até amanhã. - ele suspirou, e eu assisti Harry abrir a porta da minha casa com uma sacola cheia de doces e alguns DVDs pendurada no braço, e equilibrando duas caixas de pizza grandes nas duas mãos. Ele sorriu para mim, animado, e eu sorri de volta. - Hm, você precisa desligar agora? - percebi que Taylor pretendia ficar falando por muito mais tempo. Eu não podia dizer que a idéia não era muito tentadora, mas eu tinha Harry ali, me esperando com um monte de comida e filmes ruins. E eu também tinha um monte de perguntas para fazer. Torci a boca e respondi:
- Na verdade, preciso. Estou com uns amigos aqui...
- ...Ah, ok. Não, tudo bem. A gente se vê amanhã então. - ele sempre fazia essa voz de coitado? Caramba, eu acho que estava derretendo.
- Ok, amanhã então. - respondi, tentando soar mais animada para ver se ele se animava junto. Disse "Beijos" e ele desligou. Encarei o visor por uns instantes, mas nem tive tempo de pensar na conversa que acabava de ter, porque Harry colocou as mãos sobre o balcão onde eu me apoiara para anotar o endereço do hotel de Taylor, me chamando a atenção.
- Olá! - ele disse, daquele jeito animado dele. Ergui uma sobrancelha, rindo dele, enquanto dobrava o papel e o enfiava no bolso dos shorts. Harry foi educado o suficiente para não perguntar com quem eu estava falando, e nem sobre o que era o papel.
- Oi, Harry. - respondi, sorrindo. - O que vamos assistir?
Fomos para a sala de estar, e ele parou no congelador antes, tirando o refrigerante de lá e levando-o para a sala, com mais dois copos. Eu me larguei no sofá e comecei a abrir os pacotes de doce e a caixa de pizza. Era pizza de calabresa, e peguei o primeiro pedaço com a mão enquanto Harry tirava os DVDs da sacola. Encarei os dois possíveis filmes.
- Atividade Paranormal? - questionei, quando ele me estendeu o DVD que queria assistir. Ele assentiu, animado.
- Dizem que assusta MUITO. Tipo, muito mesmo.
- Mas também dizem que é uma boa merda. - completei. Ele fez uma careta que me fez rir.
- Temos que assistir para tirar conclusões. - resmungou. Eu rolei os olhos.
- Oh, Deus. Liga logo esse DVD, Harry. - ele murmurou "Claro, com essa educação toda..." e ligou a TV e o aparelho de DVD, colocando o CD lá. Peguei o controle na mesinha, e Harry se jogou ao meu lado.
Foi só então que eu fui reparar em como Harry estava bem arrumado: jeans lisas e escuras, uma camiseta nova (dava pra perceber como estava bem passada, e nada gasta), tênis de cores verde e branco limpinhos, e seus cabelos loiros jogados, caindo só um pouquinho sobre seus olhos verdes. Ele era bastante parecido com Kyle, mas não passava a mesma impressão de babaca que o irmão. Eu adorava Harry. Sorri sem jeito para ele, quando ele me pegou observando seu rosto. Eu teria ficado vermelha, mas ele apenas passou o braço pelos meus ombros, me puxando em sua direção. Eu fiquei confusa, na verdade. Senti seu cheiro, que sempre fora muito bom, doce... Mas a conversa mais cedo com Cherry e Alex automaticamente surgira na minha cabeça.
- Hã... E como vai... - eu comecei a perguntar. Ia falar da namorada dele. Ou ex, sei lá. Mas aí ele apertou meu braço de leve com a mão que estava lá, e riu.
- Você sempre fala em filmes. Fica quieta, vai perder a graça, você não vai se assustar e vai me dizer que o filme não presta. - acabei rindo também, e rolei os olhos.
- Sabe que isso não é verdade. - disse, mas continuei antes que ele voltasse a reclamar: - Mas tudo bem, vamos ver o filme.

Eu tinha me ocupado os dois filmes inteiros com: não deixar Harry ultrapassar a linha que nos separava de amigos que se pegam. Continuávamos no amigos que não se pegam, mas que são amigos o suficiente para ver filmes juntos e abraçados. Embora eu duvidasse bastante de que podíamos ver filmes abraçados, porque Harry parecia achar que isso era o primeiro avanço em direção ao outro lado da linha.
Não pude deixar de pensar em como eu teria agido se ele tivesse feito isso um dia atrás. Porque eu não podia deixar de pensar que não podia fazer isso, simplesmente porque tinha marcado um encontro com Taylor. Pensei no que Cherry e Alex teriam dito: Cherry teria me chamado de idiota e dito para eu agarrar Harry, porque Taylor não era meu namorado, nem nada; Alex teria concordado comigo e ainda teria dito para eu não deixar nem Harry me abraçar. Suspirei, me afundando no sofá quando o segundo filme alcançava seu clímax, e Harry parecia cair mais sobre mim. Estava ficando escuro, não tinha nenhuma luz acesa porque todas as vezes que tínhamos levantado, tinha sido apenas para pegar mais refrigerante, chocolate, ketchup ou pipoca.
- Nossa, que merda. - Harry disse, quando alguma coisa aconteceu com a personagem principal e os créditos começaram a subir. Eu não tinha prestado atenção, e apenas ri como resposta.
- Você não sabe escolher filmes. - impliquei, e o assisti rir e rolar os olhos. De repente, muito mais de repente do que eu imaginara que fosse acontecer, ele tinha me feito virar de frente para ele, ou ele tinha virado de frente pra mim. Eu nem sabia mais. Sua mão em meu ombro tinha ido parar nas minhas costas, e eu estava um pouco mais que ele, porque estava apoiando meu peso nas pernas. Ele mordeu o lábio inferior, e jogou os cabelos para trás com um movimento rápido e habitual para ele. Eu sabia que estava lá, com minha cara de assustada, sem reação.
- Você é muito bonita. - ele soltou, inclinando-se em minha direção. Ah, meu Deus. O que era isso agora?!
- Harry... - franzi a testa, e balancei a cabeça em negação. A expressão dele ficou estranha. - Harry, o que você está fazendo? - perguntei, apontando para nós dois. Balancei a cabeça outra vez, e me afastei.
- ! Ei, espera aí. - eu estava de pé, pisando no chão gelado com minhas meias, e de braços cruzados esperando sua explicação. Ele se sentou direito no sofá, e apoiou os braços nas pernas, antes de abaixar a cabeça, passar as mãos nos cabelos e suspirar. - Foi mal.
- Oh, isso foi esclarecedor. - resmunguei, realmente irritada. Tudo bem que ele estava indo muito mais a frente do que devia, mas não achei que fosse chegar a tal ponto. Girei no calcanhares e andei a passos irritados até a cozinha, ouvindo os passos dele atrás de mim. Apoiei as costas na pia, e cruzei os braços, ficando de frente para ele.
- Scarlett me deu um fora. - ele finalmente me contou, e eu não me preocupei em fingir surpresa. Eu tinha ficado irritada demais pra isso. Ele também não parecia esperar que eu ficasse. - Sabe, isso não é motivo pra você...
- É, eu sei. Desculpe. Mesmo. É só que você é tão próxima, e...
- Podia muito bem ter tentado agarrar seu irmão também, se formos por essa visão. - ele deixou os ombros caírem e me encarou, desanimado.
- Será que dá pra baixar a guarda? - eu suspirei, relaxando minha expressão e fechando os olhos. É, ele tinha um pouco de razão.
- Certo. Desculpe. - ele abriu um sorriso pequeno. - Agora, quer me contar o que aconteceu? - ele negou com a cabeça.
- Não exatamente. - soltou uma risada abafada, e eu ri também. Estendi meus braços para ele, e Harry me abraçou forte. Era bem fácil, naquele momento, perceber como ele nunca ia ser mais do que um amigo. Ele era meu amigo demais para ser mais do que isso. Ele pareceu entender ou sentir o mesmo, porque me abraçou mais forte, e me levantou no colo e começou a me carregar para a sala, enquanto eu gritava e ria. Ele me jogou no sofá de novo, rindo também, e se jogou na outra ponta, distante de mim e ainda muito perto, daquele jeito que ele e eu sempre ficávamos. Ergui uma sobrancelha e ele riu alto, jogando a cabeça para trás.
Liguei a TV a cabo e começamos a discutir a programação, enquanto ele começava a contar sua história com Scarlett aos poucos.


Capítulo 4 -
À Meia-Noite

(Músicas para deixar carregando: "Slide" do Goo Goo Dolls", clique aqui e "If You Came Back", do Tommy Holmes, clique aqui. Deixe carregar e dê play conforme as indicações durante a fanfic!)

- Então você não vai nos contar?
- Não. - balancei a cabeça em negação, minha voz saindo tão calma e contente que nem parecia que eu estava "brigando" com Alex e Cherry. Cherry bufou e bateu com as mãos nas pernas, impacientes. Eu tirei outro cabide do meu guarda-roupa, analisando as jeans que estavam lá e jogando-as na cama. Alex as pegou e colocou na pilha de jeans, que estava ao lado da pilha de vestidos, da pilha de camisetas, da de saias...
As pilhas de roupa ocupavam todo o espaço da minha cama, exceto pelo quadradinho que Alex salvara para se sentar, enquanto Cherry estava jogada na minha poltrona com o controle da tv no colo, assistindo a um programa de fofocas e comendo um resto de chocolate que sobrara de ontem à noite.
- Tudo bem, ela sabe que nós vamos descobrir. - Cherry resmungou, quebrando um quadrado da barra de chocolate com força. Eu rolei os olhos, divertida. Alex fez uma careta para mim.
- É verdade. Não tem muita gente pra você poder esconder, . - eu apenas assenti.
- Claro, gente. Vocês vão descobrir eventualmente.
- Eventualmente! Eventualmente! Será que dá pra me contar quando foi que nós viramos amigas de "eventualmente"? A gente já devia saber da existência desse cara há meses!
- Vocês sabem. - soltei, fazendo as duas arregalarem os olhos. - E eu também. Mas se vamos falar da existência dele na minha vida social, aí posso dizer que nem eu sabia.
Alex tinha me ligado às dez da manhã de hoje para perguntar o que o carro de Harry estivera fazendo estacionado na minha porta até às duas da manhã. Eu tentara responder com "E o que você fazia na casa de Brian até as duas da manhã?", mas quando Alex enfiara Cherry na conversa, eu meio que perdera qualquer carta na manga. As duas passaram quarenta minutos tentando arrancar alguma coisa de mim pelo telefone e pela internet, até que eu me estressei porque a) elas não desligavam; b) a hora estava correndo, e eu precisava começar a me arrumar para sair com Taylor; c) eu ficara até às duas da manhã ouvindo Harry falar sobre seus problemas com Scarlett, algo muito longe de todo o encanto que elas estavam esperando; d) elas não acreditavam nisso.
Elas só pararam quando eu soltei "Eu não tenho nada com Harry. Eu tenho um encontro hoje, e não é com ele!", mas pararam apenas para correr para minha casa. E lá estávamos nós - Alex e Cherry tentando obter qualquer informação que pudesse fazê-las descobrir com quem eu ia sair; eu tentando achar algo que me fizesse parecer bonita sem ficar forçado. Já eram cinco horas da tarde, e eu ainda precisava arrumar meu cabelo, minha bolsa...
- Sabe, se você estiver saindo com algum nerd, ou careca, ou burro... Bom, pode contar pra gente mesmo assim. - Cherry comentou, e eu não tive como não rir.
- Cherry, ele não é da nossa escola. - respondi sua pergunta disfarçada, e ela apenas disse "Oh, ok", assustada. Alex me jogou um vestido verde-escuro. Balancei a cabeça. - Arrumado demais. - disse, e ela bufou.
- Ia ajudar se dissesse pra onde vocês vão.
- E aí vocês iam arrastar Brian e Josh pra onde fosse. - cortei, fazendo as duas rirem. Alex deu de ombros.
- É, a gente ia mesmo. Certo. Ok. Nada de vestidos. Saias em última opção... Ficamos com jeans.
- A boa e velha jeans. - comentei, pegando uma jeans mais arrumada, menos surrada e mais escura. Acabei combinando ela com uma blusa cinza com detalhes em preto e sandálias de alto também pretas, depois de mudar de idéia umas cinco vezes e tentar absorver todas as opiniões de Alex e Cherry. Todo mundo pareceu satisfeito com a escolha, e aí eu fui tomar banho enquanto as duas ficavam vendo TV.
Eu me sentia tão idiota por estar fazendo algo tão grande de um encontro só. Quer dizer, se fosse só comigo... Eu preferia quando ninguém além de mim e de Taylor sabia do que estava acontecendo. Tudo bem, Cherry e Alex não sabiam exatamente da situação, mas mesmo assim... Era como se, com mais gente sabendo, a coisa toda fosse desandar. Saí do banho e esfreguei um círculo no espelho, abafado pelo calor da água quente. Consegui ver meu rosto, colo e ombros. Meus cabelos estavam bagunçados, meio molhados.
Minha expressão estava séria, mas eu estava até animada. Eu estava cheia de medo, na verdade.
Ouvi meu celular gritar com o alarme de 18h que eu colocara, e corri para colocar a roupa e não me atrasar.

Eram seis e quarenta quando eu consegui sair de casa, depois de ouvir Alex e Cherry me recomendarem uma infinidade de coisas que eu deveria fazer, e outras que não. Eu ouvi tudo sem memorizar nada, e agora as falas das duas parecia um sonho distante, porque eu me sentia meio fora de tudo. Liguei o rádio, e deixei na minha lista de músicas mais calmas para ver se ajudava em alguma coisa.
O caminho até o hotel de Taylor não era muito demorado, então logo eu estava entrando na rua onde o prédio alto e iluminado se destacava dos outros prédios mais baixos. Eu estacionei em frente, e peguei o celular.

Estou aqui embaixo.

Enviei, e aí desliguei o carro e suspirei, deixando minhas costas caírem cansadas contra o banco. Tirei as mãos do volante e voltei meu olhar para a porta do hotel. Depois de alguns minutos, lá estava Taylor andando em minha direção; liguei o carro e abri a janela do carona, de modo que ele pudesse me ver. Taylor sorriu, e correu para meu carro.
Ele usava jeans e camiseta, jaqueta e tênis - nada diferente de ontem, nada surpreendente, mas ele continuava lindo. Ah, meu Deus. Sorri para ele quando entrou e bateu a porta. - Hey! - ele abriu um sorriso gigante para mim, e eu esperei ele contar o cinto. Mas ele não colocou. Chegou a puxá-lo, mas desistiu no meio do caminho. Me encarou e disse: - Por favor, me deixa dirigir. Isso... - ele apontou para mim e para ele, e eu acabei rindo.
- Tão machista. - fiz que ia ligar o carro, e ele resmungou "Ei!". - Ah, você tá falando sério? Taylor!
- Estou! - ele abriu sua porta, saiu do carro e deu a volta até parar na minha janela. Eu rolei os olhos e me vi obrigada a sair também.
- Você é um besta. - resmunguei, passando as chaves do carro para ele. Ele as pegou e sorriu, satisfeito.
- Acho que não disse isso ainda, mas você está especialmente bonita hoje. - eu senti minhas bochechas queimarem e meu coração acelerar, e achei que fosse desmaiar quando ele se aproximou de mim para poder entrar no carro. Mas consegui soltar uma risada pouco convincente e ir para o banco do carona.
Taylor começou a mexer no meu carro, ajustando o banco, os espelhos...
- Você está bagunçando meu carro todo! - reclamei, divertida com as caretas que ele fazia, e levemente irritada. Ele me encarou com uma sobrancelha erguida.
- Você quem é toda errada. Olha como fica grudada no volante!
- Eu não fico! - cruzei os braços e virei para frente, me ocupando com o cinto, enquanto ele fazia o mesmo. Depois de ir pra frente e pra trás com o banco, ele finalmente parou e ligou o carro. - Podemos ir, princesa?
- Claro. - ele disse, apenas, parecendo satisfeito. E nenhum de nós dois conseguiu não rir quando ele finalmente saiu com o carro, e teve que parar no final da rua, sem saber se ia pra esquerda ou pra direita.

(Dê play: "Slide" - Goo Goo Dolls)
Ninguém ia muito ao boliche, porque boliche era coisa de vovôs e vovós por ali. Então eu cumprimentei a Sra. Terry e o marido dela, que estavam usando camisetas com o nome de um time de boliche e se juntavam a mais um grupo da terceira idade que usava camisetas iguais. Havia também crianças acompanhadas dos pais, e famílias jogando. Eu fui com Taylor até o balcão e a moça de uns vinte e poucos anos e muitas espinhas na cara sorriu para nós dois.
- Boa noite. - ela disse, animada. Eu cumprimentei de volta e consegui uma pista para nós dois, por uma hora. Taylor escolheu seus sapatos, e esperou para pegá-los, enquanto eu ia para a pista. Do meu lado esquerdo, tinha uma garotinha de uns nove anos com uma bola leve nas mãos, seu pai ajudando-a e explicando como ela deveria jogar; do meu lado direito, uma menina de uns doze anos discutia com quem parecia ser seu irmão, um pouco mais novo, e ele tinha uma bola na mão e batatas-fritas na outra. É, ok, não tinha ninguém que pudesse notar Taylor e fazer um estardalhaço. Eu estava muito preocupada com isso, mas ele parecia incrivelmente calmo. Era só eu que achava que qualquer pessoa na rua fosse reconhecê-lo? Aparentemente, sim.
Eu não sei como ele conseguia ser tão tranquilo. Eu mesma não entendia como estava tão calma. Imaginava que fosse ficar nervosa, com as mãos tremendo e cheia de incerteza o encontro todo, mas lá estava eu agindo feito uma garota equilibrada. Conseguindo manter conversar com Taylor e absorver as eventuais cantadas dele sem perder a noção das coisas. Eu gostava de como a situação ia, gostava de como podia dizer que ele não sabia dirigir enquanto gritava para ele pegar a saída antes que a perdesse, gostava de não parecer que eu só o conhecia a um dia.
- Aqui. - ele me entregou meu par de sapatos, e nós dois nos sentamos nas cadeiras da nossa mesa. Eu tirei meus sapatos e coloquei os do boliche, depois corri para jogar primeiro, e Taylor riu de mim quando eu peguei a primeira bola e a segurei com minhas duas mãos, já pronta para jogar.
- Do que você está rindo? - perguntei, assistindo-o se aproximar de mim e parar bem na minha frente. Ele me olhou de cima a baixo com um sorriso no rosto.
- Eu sabia que você era baixinha. - disse, apontando para meus sapatos de salto alto no chão, perto da mesa. Eu ri e rolei os olhos.
- Não devia ter deixado você descobrir isso assim tão cedo. - respondi, e ele sorriu de lado. Eu realmente tive que erguer mais minha cabeça para poder olhá-lo. Ele não era tão alto, mas eu era mesmo baixa.
- Gosto de você assim. - disse, e eu o empurrei antes que tivesse a chance de me ver vermelha. Ele riu, mas se afastou para que eu pudesse jogar. Joguei a bola daquele jeito que eu assistia em torneios de boliche na TV e, como eu já imaginava, só acertei uns três ou quatro pinos. Taylor riu atrás de mim.
- Não vá me zoar. Não se zoa garotas num encontro. - ele semicerrou os olhos.
- Já é nosso segundo encontro, eu devia poder começar a te zoar. - sorri, mostrei a língua e passei por ele. Parei na nossa mesa e me sentei, esperando ele jogar. Taylor me observou por uns instantes antes de virar para frente e pegar a bola para jogar. O observei enquanto encarava a pista pela qual a bola correria, e se abaixava para jogá-la.
Ele tinha um charme diferente, era bonito demais, mas não era o tipo de Kyle, bonito e que você sabia que não prestava; e nem bonito tipo Harry, Brian ou Josh, bonito e amigo demais para eu conseguir ver como qualquer outra coisa além de amigo. Ele era bonito do tipo que eu poderia muito bem gostar, ele era charmoso, divertido e interessante, do tipo que eu poderia me ver envolvida com. Soltou um "Yeah!" quando conseguiu um strike, erguendo os braços, e eu rolei os olhos, divertida, quando ele veio se achar, andando em minha direção.
- Vamos, vou te ensinar a jogar. - ele disse, quando eu tinha ficado de pé e ajeitado minha blusa, puxando-a para baixo. Uni minhas sobrancelhas.
- Vai? - ele assentiu, divertido. Estendeu as mãos abertas para mim, e eu senti um arrepio quando coloquei as minhas sobre elas. Ele observou nossas mãos por um segundo antes de começar a andar para trás, me carregando com ele. Eu comecei a rir, e aí ele soltou uma das mãos e fomos andando com as outras entrelaçadas até a pista. Não foi forçado, não foi confuso, foi simplesmente bom.
- É melhor começar com essa, aquela outra é muito pesada. - eu assenti, aceitando uma bola verde que ele colocara em minhas mãos. Segurei-a pelos furos onde devia colocar meus dedos, e com minha outra mão. Taylor passou o braço direito pelas minhas costas, deixando sua mão no meu braço; a outra mão estava sobre a minha, também segurando a bola. Eu ergui meus olhos para encontrar os seus e ele os moveu de nossas mãos para mim. Abriu um sorriso discreto, e eu senti seu perfume enquanto buscava ar pra respirar. De repente, estava completamente consciente de seu abraço, de sua proximidade.
Ajeitei a bola nas minhas mãos, porque estava começando a soltá-la, e seu peso estava incomodando. Isso pareceu nos levar de volta para o salão e o monte de pessoas ao nosso redor. Ouvi o barulho de pinos caindo, as bolas rolando sobre as pistas, copos, pessoas falando, passos... Soltei uma risada baixa e envergonhada, e Taylor fez o mesmo.
- Então, como tenho que fazer mesmo? - perguntei, minha voz saindo alta e nervosa, e Taylor ergueu as sobrancelhas, lembrando do que é que estávamos fazendo ali, afinal de contas.
- É, então... - ele apontou para a pista. - Você precisa jogar a bola, não arremessar. - começou, e eu semicerrei meus olhos. Taylor arregalou os seus. - O quê? É verdade, você não sabe jogar. - ri de seu tom de voz, e me dei por vencida. Ele continuou a atirar dicas de como jogar, e eu finalmente me posicionei para jogar a bola. Me abaixei um pouco e fiz o movimento de jogá-la mais direcionada, deixando minha perna esquerda abaixar um pouco quando joguei.
Me assustei quando apenas um pino ficou bambeando no chão. Ele bambeou, e bambeou, até que caiu para trás, como todos os outros.
- Aaaaah! - gritei, animada, esquecendo de todo mundo por um instante. Virei para trás com os braços erguidos e um sorriso no rosto, e Taylor sorriu de volta, de braços abertos. Aceitei seu abraço, e ele me girou no ar, rindo tanto quanto eu. - Eu consegui!
- Você conseguiu! - ele repetiu, me colocando no chão, mas me mantendo muito perto dele. Afrouxei o aperto dos meus braços em seu pescoço, mas também não os tirei de lá. Taylor manteve o sorriso no rosto, e suas mãos se abriram em minhas costas, subindo e me levando para mais perto...
Ele encostou nossos lábios, e eu senti todas aquelas besteiras que eu achei sempre tão clichê: eu tinha borboletas no estômago, eu tinha arrepios percorrendo minha espinha e sentia como se fosse capaz de cair, se ele me soltasse. Era tão estranho ficar tão frágil, e tão bom ao mesmo tempo. Meus olhos estavam fechados, mas era quase como se eu soubesse todos os movimentos de Taylor, já que ele estava tão próximo de mim. Deixei meus dedos correrem por seus cabelos, e aí nossos toques ficarem menos intensos, até que nos afastamos só o suficiente para poder abrir os olhos.
Eu sorri, sentindo as mãos de Taylor irem para minha cintura e dando um passo para trás, tirando meus dedos de seus cabelos. Ele também sorria, e me abraçou de lado, deixando-me apoiar minha cabeça em seu peito, enquanto voltávamos para a nossa mesa. Ele beijou o topo da minha cabeça e girou nos calcanhares, voltando para jogar. Segurou a bola que tinha me dito que era mais pesada com uma mão só, e apontou para mim com a outra, dizendo "Vou fazer um strike pra você" e me fazendo rir.

Peguei mais duas batatas-fritas e as coloquei a boca, assistindo Taylor andar até nossa mesa com dois copos grandes de Coca-Cola nas mãos. Quarenta minutos de nossa uma hora tinha se passado e, depois de Taylor obviamente me ganhar por vários pontos, decidimos usar os vinte minutos restantes lanchando.
- Eu não devia comer nada disso. - ele comentou, quando sentou-se ao meu lado e me empurrou um dos copos de refrigerante. Eu ergui uma das minhas sobrancelhas.
- Sério? Eu acho que desistia da vida de atriz logo aí. - brinquei, e ele riu. Pareceu pensar, e então deu de ombros. Pegou algumas batatas e as colocou na boca.
- Acredite, tem coisas mais chatas do que não poder comer muita porcaria. - me ajeitei para poder olhá-lo diretamente. Taylor apoiou os dois braços sobre a mesa, e eu coloquei os meus sobre minhas pernas. Abri um pequeno sorriso.
- Espero que... - parei de falar quando percebi alguém atrás de Taylor. Era a menininha que estava perto da nossa pista: ela tinha um sorriso envergonhado e ansioso no rosto, seus olhos grandes e escuros brilhavam, e ela segurava as pontas do vestido branco de bolinhas roxas com as mãos, girando-o compulsivamente. Eu abri um sorriso para ela, mesmo que ela não estivesse olhando para mim, e Taylor moveu sua atenção para ela. Assisti seu rosto ficar completamente vermelho, aparecendo demais em sua pele muito branca, embora ela já usasse um mínimo de maquiagem - que deveria ser o que seus pais a deixavam usar.
- Olá! - Taylor disse, naquela voz que a gente sempre usa ao falar com crianças um pouquinho mais velhas, um misto de carinho e animação excessiva. A menina escondeu o rosto nas mãos, seus cabelos castanho-claros e cacheados balançaram com o movimento.
- Jenn, querida, vá lá... - a mãe da menina apareceu por trás dela, incentivando-a a andar até Taylor por colocando sua mão nas costas da menina. Jenn tirou o rosto das mãos para olhar para o alto e encontrar o rosto de sua mãe. A mãe riu, e passou a mão pelos cabelos da filha carinhosamente. então girou seu olhar para Taylor e eu. - Me desculpe por interromper. É só que ela o viu e disse que queria uma foto. - Taylor sorriu. - Mas se for incômodo... - e aí olhou para mim. Eu uni as sobrancelhas, confusa por uma fração de segundo, e aí entendendo que ela deveria achar que eu talvez não fosse gostar. Sorri para ela o mais rápido que pude, então levantei da minha cadeira e chamei Jenn com as mãos.
- Hey, Jenn... Sente aqui no meu lugar para tirar a foto. - a menina parecia ter ganho o dia, e correu para minha cadeira, pulando nela e aí pulando em Taylor. Ele riu, divertido, e abraçou a garota de modo paternal.
- Tudo bom, Jenn? - ele perguntou, abaixando a cabeça para poder olhá-la. A garota assentiu, e assisti sua mãe tirar uma máquina da bolsa. Eu me afastei, assistindo a cena de longe, e posso dizer com muita certeza de que fiquei encantada com a felicidade da garota, com o sorriso enorme de Taylor... Ele era tão simpático, tinha um sorriso tão bonito. A mãe da garota agradeceu, e aí puxou um papel qualquer da bolsa com uma caneta, pedindo que ele autografasse. Ele o fez, rindo com alguma coisa que a mulher lhe falara, e mantendo um mínimo de conversa com Jenn. Ela dissera algo sobre preferir Jacob a Edward, e que Taylor era mais bonito ao vivo do que na tv.
- Obrigada. - a mãe da menina disse para mim, quando estavam de saída, colocando uma mão sobre meu braço. Eu disse "De nada", com um sorriso, e acenei para a menina, que acabara de ganhar um beijo de Taylor na bochecha e estava com um sorriso gigante estampado no rosto.
Taylor me olhou de volta na mesma hora que as duas foram embora, e eu voltei para minha cadeira. Ele me puxou para perto dele, e encostou os lábios nos meus cabelos, perto da minha testa. Ele ainda sorria, e eu procurei seu olhar, me permitindo ficar um pouco perdida em seu abraço.
- O que há com você? - ele perguntou, o tom de voz baixo, divertido e curioso. Eu franzi minha testa.
- Comigo? Eu fiz alguma coisa errada? - perguntei, me afastando um pouco, mas sentindo as mãos dele me prenderem perto. Ele riu.
- Você foi fantástica. Tão... Tão tranquila. - eu tentei não pensar em como minhas bochechas deviam estar ficando vermelhas, porque meu rosto queimava. Desviei meu olhar para qualquer ponto que não fosse Taylor.
- É seu trabalho, eu não fiz nada demais...
- Tudo bem, muito cedo para você perceber como foi fantástica. Vou te dar um tempo. - semicerrei meus olhos para ele, em resposta a seu tom irônico, mas não fiz nenhum protesto.
Taylor me roubou outro beijo, só encostando nossos lábios, e isso me pareceu muito mais apropriado.

Taylor me entregou um algodão-doce rosa, e pagou o homem que os vendia. Eu sorri, puxando um pedaço para comer, e Taylor passou o braço ao redor da minha cintura quando voltamos a andar pelas ruas vazias. Tínhamos saído do boliche, e eu o levara para passear pela cidade, até que tínhamos acabado no parque. Estava vazio, porque já passava das onze da noite, e tinha ficado mais frio, o vento balançado as árvores ao nosso redor.
- Achei que ninguém mais comesse algodão doce. - ele comentou, se esticando para pegar um pedaço também. Eu esperei ele pegar, e dei de ombros. Me aconcheguei mais em seu abraço, tanto por ser bom, quanto por me esquentar.
- Eu gosto. - senti um outro pedaço se desfazer na minha boca. Taylor soltou "Ah, mas é claro que você gosta", e eu franzi a testa. Virei o rosto para poder vê-lo.
- Posso saber a ênfase no você? - ele pareceu divertido, pressionou mais sua mão contra minha cintura, e respondeu:
- Porque você é diferente. - disse, e eu abri a boca para reclamar, mas ele continou antes que eu tivesse a chance: - Não estou dizendo que é de um jeito ruim. É de um jeito engraçado. Sei lá, um jeito seu.
- Sabe, se isso é sobre você... Eu sabia quem você era, eu só não estava a fim de gritar...
- Não é isso. Embora seja bom que tenha sido assim. - ele me levou para mais perto dele, e eu deixei minha expressão séria dar lugar a uma sorridente. Taylor me beijou na bochecha e me envolveu com o outro braço. Eu tinha percebido que ele tinha surtos de parar no meio de qualquer lugar para me abraçar, coisa que ele tinha feito umas quatro vezes desde a primeira, do boliche. Mas ele ainda não tinha me beijado de verdade, e eu não sabia o que pensar sobre isso.
- Posso gritar seu nome e pedir seu autógrafo, se quiser. - sugeri, falando bem mais baixo, já que não tinha necessidade de falar mais alto. Ele estava bem ali. Ele aumentou o sorriso, mas balançou a cabeça.
- Não quero que faça isso. Continue fingindo que eu não...
- Que você não tem um abdômen sensacional debaixo dessa roupa e que não se transforma em lobo por aí? Tá brincando, né? - ele se assustou com meu tom de voz, e eu tive uma crise de risos de seus olhos arregalados e boca aberta. - Ah, o que é? Eu te pesquisei no Google. - admiti, lembrando das fotos que tinham surgido quando eu digitara seu nome na pesquisa. Ele balançou a cabeça, rindo.
- Você não fez isso... - disse, e eu me ajeitei para pegar mais um pedaço do algodão doce, rindo. Coloquei o doce entre nós, com cuidado para não bater nem na minha cara, nem na dele.
- Claro que fiz! Precisava me informar. - Taylor se esticou e mordeu um pedaço do algodão doce, ficando com o rosto todo sujo de rosa. Ele fechou os olhos e eu ri. - Tonto.
- Isso é meio injusto. - ele disse, enquanto eu começava a tirar algodão de suas bochechas com uma mão, depois de hesitar algumas vezes; mantive o algodão doce, já pela metade, longe de nós dois. Já estávamos tão colados um no outro que um toque a mais não causava tanto efeito assim, a situação toda já era boa demais.
- Injusto? - perguntei, e ele assentiu, depois de abrir um sorriso quando eu tirei um pedacinho de algodão da ponta de seu nariz.
- Eu não tenho nenhuma fonte de informações sobre você. - ele abriu os olhos para observar minha reação. Eu terminei de limpar seu rosto e torci a boca para o lado, pensando em uma resposta apropriada.
- Bom, eu não tenho o que te apresentar de informações. Eu sou basicamente o que você acha que eu sou. - ele balançou a cabeça em negação.
- Não é. - e aí deu de ombros. - Ninguém nunca é. - senti o clima pesar um pouco. Eu tinha lá meus problemas para falar de mim, então fiquei até aliviada quando estendi meu braço por trás de Taylor, para verificar a hora.
- Taylor, já está tarde. Eu preciso...
- ...Voltar pra casa. - ele suspirou. - É, ok, você precisa ir para a escola. - eu concordei, sentindo-o afrouxar o abraço até quase me soltar. Continuamos andando meio tortos e abraçados, e já tínhamos terminado o algodão doce quando chegamos ao meu carro.

(Dê play: "If You Came Back To Me" - Tommy Holmes)
- Você meio que precisa rever seus conceitos musicais. - ele resmungou, enquanto eu passava de música compulsivamente. Gostava de todas as músicas que deixava no meu carro, mas de vez em quando nada servia. Mostrei a língua para ele, que dirigia. Ele parecia não conseguir deixar de lado aquele excesso de cavalheirismo, que para mim estava mais para machismo.
- Minhas músicas são boas. - ele riu, irônico.
- Tão boas que nem mesmo você consegue escutar. Pego a segunda à direita, certo? - ergui os olhos do rádio e observei a rua em que estávamos e assenti.
- É, isso mesmo. Eu consigo escutar minhas músicas sem problemas, só estou procurando por uma que me agrade mais do que as outras agora. - desisti e larguei o rádio em uma música qualquer. Taylor abriu um sorriso divertido ainda maior.
- Claro, continue inventando desculpas para...
- Cala a boca, Lautner.
- Olha, você aprendeu meu sobrenome, Dóring!
- E você decorou o meu! - nós dois caímos na risada, mas não pude deixar de perceber que ele tinha lembrado do meu sobrenome, mesmo que eu só tivesse dito a ele uma única vez. O carro começou a diminuir a velocidade, e eu finalmente desviei o olhar de Taylor para ver onde estávamos. Era na porta do hotel dele.
- Pode assumir a direção outra vez. - ele brincou, e eu soltei uma risada fraca.
- Vou ter que arrumar tudo de novo. - disse, me referindo ao banco e aos espelhos. Ele rolou os olhos.
Taylor destrancou o carro, e eu fiz menção de abrir a minha porta. Mas então ouvi o som do carro fechando outra vez. Franzi a testa e olhei para Taylor. Ele não estava sorrindo, sua expressão era séria e talvez concentrada. Me mantive parada, esperando seu próximo movimento, que me parecia bem óbvio, e mesmo assim fui pega de surpresa quando ele me puxou em sua direção no segundo seguinte. Me beijou. E eu só pude levar uma das mãos mãos até ele, sentindo-o intensificar o beijo até que nossas bocas estivessem abertas. Ele tinha finalmente me beijado mesmo.
Vamos lá:
Eu não saía por aí beijando muitos caras. Eu nem tinha muita experiência com isso, sinceramente.
Mas eu sabia que aquele beijo tinha sido diferente. Pode dizer o que quiser, sobre isso soar tão mais clichê do que qualquer outra coisa... Mas era verdade. Eu nem conseguia imaginar como nunca tinha experimentando um beijo daqueles antes. Precisei buscar ar quando ele me segurou mais forte, uma de suas mãos em minha cintura... Diminuímos o ritmo do beijo, e ele mordeu de leve meu lábio inferior. Sorri quando ele se afastou só por um instante.
- Você vai se atrasar tanto amanhã. - ele sussurrou. Dei de ombros, abrindo meus olhos para vê-lo sorrir também, e encarei meu relógio de pulso: era meia-noite.
- Tudo bem, acho que posso lidar com isso. - ele riu, e me beijou outra vez. - Feliz três dias que nos conhecemos. - comentei, rindo da minha própria fala. Taylor sorriu.
- Pelo menos esperamos o terceiro dia para...
- ...Um amasso no carro. É, esperamos bastante. - nós dois rimos, e ele segurou meu rosto com uma de suas mãos, me roubando um outro beijo. Com um último olhar, ele destrancou o carro e desceu. Eu abri minha porta, descendo do carro também, e ele andou até onde eu estava.
Ele parou na minha frente, exatamente do jeito que eu imaginava que ele fosse fazer, e me deu um beijo na testa antes de olhar para os lados. A rua era muito aberta, ele talvez não quisesse se arriscar a tanto. Eu cruzei meus braços, encostei-me ao carro, e acenei para ele, assistindo-o entrar no hotel.
Com um suspiro, um sorriso besta no rosto e minha cabeça nas nuvens, entrei do lado do motorista e liguei o carro, começando a ajeitar o banco para mim outra vez. Eu tinha a impressão de aquele sorriso não ia sair do meu rosto tão cedo.




Capítulo 5 -
Uma Apropriada Visita à Starbucks

1. Música para deixar carregando: "5:19" do Matt Wertz", clique aqui. Deixe carregar e dê play conforme as indicações durante a fanfic!

2. Respondendo a pedidos, escolhi alguns atores que são parecidos com minha idéia dos personagens, para vocês verem se quiserem:
Josh (Jackson Rathbone) - foto
Brian (Elijah Wood) - foto
Kyle (Garrett Hedlund) - foto
Harry (Chad Michael Murray) - foto
Cherry - Luddie
Alex - Pâm


Segunda-feira, 6h15.

Achei que não fosse possível acordar numa segunda-feira de manhã bem humorada. Menos possível ainda se você adicionar a esse fato, o outro fato de que eu tinha ido dormir às duas e meia.
Tinha chegado em casa lá pra meia-noite e vinte, não mais tarde que isso. Mas assim que passara pelo meu telefone, vi a luz vermelha piscando, indicando as mensagens de voz de quem quer tivesse ligado enquanto eu estava fora. Suspirei, apertando o botão para que as mensagens tocassem, e fui para a cozinha enquanto as ouvia.

Primeira mensagem:

Filha? Você não está em casa ou já está dormindo? Bom, você não responder a essa pergunta agora. Só estamos ligando pra avisar que não vamos voltar para casa essa semana, e que tem dinheiro na sua conta para compras, roupas... O que você precisar. Qualquer problema é só ligar. Beijos, te amo.

Deixei meus ombros caírem e segurei o copo d'água entre as mãos, absorvendo aos poucos o recado de minha mãe e meu pai. Eu não escutava a voz da minha mãe havia alguns dias, talvez até semanas - daí o impacto. Eu sempre alimentava a esperança de que eles fossem parar em casa algum dia, mas toda semana eles ligavam para dizer que não. Era frustrante ficar sempre esperando por algo que não ia acontecer tão cedo, se é que ia. Balancei a cabeça, expulsando meus problemas familiares (ou pelo menos afastando-os da minha mente), e bebi um gole d'água.

Segunda mensagem:

, é o Taylor. Hã... Desculpa estar ligando pra sua casa, mas só queria saber se chegou bem. Viu? Eu devia ter ido te buscar, aí teria te deixado em casa e não ia precisar me preocupar com isso. Ok, certo. Me ligue quando chegar. Beijos.

Taylor era tão fofo. Oh, Deus. Lá estava eu sorrindo e suspirando feito uma idiota de novo. Era tão absurdo que, se eu tivesse visto alguém nessa mesma situação alguns dias atrás, eu ia estar rolando os olhos e bufando. Sabia que não devia estar tão envolvida em algo tão repentino e tão incomum que parecia estar me rodeando; parecia uma situação tão diferente, tão fora do que me era comum (e realmente era), que eu sentia como se tudo fosse desaparecer a qualquer momento, a qualquer ato brusco meu... Eu também sabia que Taylor iria embora, eventualmente. E eu ia ficar só com a lembrança do que acontecera, mas se nem ele tinha tocado nesse assunto, não ia ser eu quem ia apressar as coisas e estragar nossos próximos dias. Deixei o copo na pia e voltei para a sala, buscando minha bolsa no sofá e me jogando lá enquanto puxava o celular.

Terceira mensagem:

São onze e meia e você não está em casa?! , quem é esse cara que está te levando pro caminho de pessoas normais? Oh, tudo bem, nada de te pressionar sobre isso. Você tem o direito de sair com quem quiser e só me contar se quiser também. Eu não preciso saber de todos os detalhes, e nem sou tão fofoqueira assim. Certo? Hã... Ah, espera. Que merda eu estou dizendo?! Não, Alex, não vou desligar! Que absurdo. Tudo bem, eu acabei de falar tudo isso por causa da Alex. A verdade é que eu quero saber tudo - tudo mesmo! - sobre o encontro hoje. Por favor, ligue de volta quando chegar. Assim que chegar, não importa a hora, ok? Eu e Alex queremos saber. Ah, qual é, Alex! Eu sei que você também quer saber. Certo até mais.

Estava tendo um ataque de risos com a mensagem tosca e confusa de Cherry. Tinha até desistido de desligar para Taylor, e estava tentando parar de rir para conseguir discar seu celular.
Cherry e Alex eram estranhamente super diferentes, intrometidas, fofoqueiras, e as pessoas com quem eu mais contava. Eu queria muito contar tudo para elas, queria mesmo, mas não tinha certeza de que devia por duas razões: a) Taylor tinha todo aquele drama de superstar ou sei lá o quê, eu tinha medo de fazer alguma coisa que pudesse afetá-lo de alguma forma, eu ainda não o conhecia o suficiente para tratar dessa parte (e nem de qualquer outra parte, se for pra analisar direito); b) porque eu achava que, falar da situação toda como realmente era, ia estragar tudo.

Vi que meus recados tinham acabado, e aí puxei meu celular outra vez e disquei o de Taylor, ainda divertida com o último recado de Cherry. Mas senti meu coração acelerar e mordi o lábio inferior enquanto chamava, e estava quase desistindo quando ele atendeu, no quinto toque.
- Te acordei? - perguntei de uma vez, e ele soltou uma risada abafada do outro lado.
- Não, na verdade, não. Eu estava ouvindo música, demorei a ver o celular. Então, chegou bem? - murmurei "Uhum", enquanto me inclinava para tirar meus sapatos e os arremessava para longe dos meus pés. - Só tive uns probleminhas com uns moleques do meu colégio que gostam de assaltar os carros na rua da esquina, mas fora isso...
- Quê?! - comecei a rir quando ouvi o tom assustado de Taylor, e ele resmungou "Ah, muito engraçado!" quando percebeu que estava brincando.
- Ah, qual é, Taylor... Desculpa. Parei. É só que não precisa se preocupar tanto, eu sou uma mocinha.
- Você é...
- Não diga que acha que eu vou me perder assim que começo a andar sozinha. - avisei, rindo. - Eu sou mais responsável do que você imagina. - ele riu do outro lado.
- Tudo bem, desculpa também. Não duvido mais de você.
- Muito bom. - nós dois rimos. Eu me deitei no sofá e suspirei quando meu corpo todo se ajeitou às almofadas fofas. Ouvi o som de lençóis ou cobertores, e Taylor suspirou do outro lado. Eu pude vê-lo sorrindo na minha cabeça.
- Já vai dormir?
- Não, estou jogada no sofá da sala juntando forças para subir as escadas. - respondi, ele disse "Oh, mas é claro!". - E você, o que está fazendo?
- Eu? Já disse, estou ouvindo música. Ao contrário de você, estou pronto pra dormir.
- É claro que está, eu deixei a Cinderela em casa na hora. - ele riu da minha piada, mas respondeu:
- Pelo amor de Deus, da próxima vez eu vou te buscar.
- Desde que não apareça com um motorista, estamos combinados. - respondi de volta, enquanto meu coração acelerava por ele ter sugerido mais um encontro.
- Você é tão esquisita. - arregalei meus olhos, abri minha boca, e soltei "Ei!".
- Está me atacando por quê? Não te chamei de esquisito ainda. - ele riu.
- Não é isso. É que eu imaginei que "da próxima vez" fosse ter mais efeito. - sorri, e esperei alguns segundos antes de responder.
- Só porque eu não verbalizei, não quer dizer que eu não senti o efeito, Lautner. - usei meu melhor tom de voz sarcástico e baixo, ele demorou do outro lado da linha.
- Caramba, . Você... - ele riu outra vez, parecendo confuso. - Tudo bem, espere só até eu fazer isso com você.
- Eu não fiz nada.
- Cala essa boca.
- Vou desligar.
- Não, espera! - ri e, ouvindo-o rir também, me deitei de lado no sofá, abraçando uma almofada. - O que vamos fazer amanhã? - passar outro dia com Taylor me fez ter arrepios e abrir um sorriso ainda maior. - Posso te ligar quando voltar da escola e ver o que dá pra fazer a partir daí. - ele pareceu satisfeito com a idéia.
- Ok, tudo bem pra mim. - eu catei o controle da tevê e a liguei, comecei a zapear os canais sem realmente vê-los, até uma figura num deles ser muito familiar.
- Taylor, você tá na tevê! - pude ouvi-lo bufar, mas ele respondeu em um tom de voz brincalhão:
- Estou bonito?
- Pra caramba. - soltei, e fechei os olhos e comprimi os lábios depois de ter dito. Ele riu.
- Tudo bem. Você é linda. Pronto. Estamos quites. - senti meu rosto queimar e sorri inevitavelmente.
- Ok, estamos. Estão mostrando uma cena sua no filme, e você está sem camisa. Na chuva. Caramba, eu realmente assisti esse filme? Não lembro disso! - minha pequena discussão interna pareceu hilária para ele, e fiquei me dividindo em ouvi-lo falar sobre seu personagem na tevê (era reprise de algum desses programas de auditório) e ouvi-lo rir.
- Desliga essa droga, . - ele disse, ainda rindo. - Estou me ouvindo falar, isso é estranho.
- Oh, okay. - não desliguei, só coloquei no mudo. Taylor começou a falar e contar uma história sobre alguém no hotel que tinha pedido uma foto ou algo assim. Eu me concentrei em ouvi-lo ao mesmo tempo em que o via falar na tevê, e ele ficou comigo até eu cair no sono.

Enchi um copo de laranja e o bebi o mais rápido que pude, correndo para escovar os dentes e pegar minha mochila antes de sair de casa. Eu tinha me arrumado um pouco hoje, e estranhei a mim mesma quando peguei meu reflexo no espelho sorrindo para mim. Saí de casa correndo, e entrei no carro. Quando estava na esquina da minha rua, para entrar na de Cherry, pude ver Kelly sair de casa, usando um robe cor-de-rosa, e pegar o jornal na porta de casa. Era uma sensação engraçada saber como sua reação seria exagerada se ela soubesse sobre eu e Taylor.

Cherry estava de braços cruzados, do lado de fora de casa, usando sua usual combinação pesada de roupas e com os cabelos enrolados em um coque mal feito. Ela tinha um fone de ouvido pendurado em seu ombro, e digitava alguma coisa no celular. Buzinei, chamando sua atenção. Ela me olhou e ergueu os braços em comemoração. Rolei os olhos e destranquei o carro, esperando-a entrar. Abri a boca para dizer "Bom dia", quando ela estendeu a mão, a palma virada para mim, disse "Peraí" e enfiou a mão na minha buzina. Arregalei os olhos com o barulho, qualquer resto de sono indo embora, e ela riu.
- Alex fica horas fazendo maquiagem. - explicou, e eu franzi a testa, lançando um olhar para a porta - agora eu notara - ainda aberta da casa de Cherry.
- Ela dormiu aqui? - perguntei, desligando o carro e me apoiando nas costas do banco. Cherry assentiu.
- Dormiu. E você não ligou! Ouviu o recado que a gente deixou?
- Você quer dizer o recado que você e seu conflito interno de idéias sobre minha vida amorosa deixaram? - ela rolou os olhos, mas riu.
- Esse mesmo.
- Ouvi, mas dormi antes de consegui retornar. Estava com muito... - Alex apareceu na porta, fechando-a atrás de si e correndo para o carro. Eu esperei ela se ajeitar no banco de trás, e aí liguei o carro outra vez. Ela sorriu para mim pelo retrovisor, e se sento no meio do banco, apoiando seus braços nos bancos da frente e ficando entre eu e Cherry.
- Perdi alguma coisa? - ela perguntou, virando-se para Cherry. Esta balançou a cabeça.
- Não, ela ainda não começou a falar. - respondeu, e eu rolei os olhos e peguei a rua para fazer o retorno.
- Eu não vou falar nada. - Cherry bufou e Alex fez uma careta.
- Desde quando você esconde as coisas da gente? - eu a encarei pelo retrovisor com meus olhos semicerrados.
- Não faça tanto drama, Alex.
- Não precisa nos contar tudo, pelo menos, sei lá... O que vocês fizeram? - suspirei, analisando a pergunta de Cherry. Não parecia tão ruim respondê-la da forma mais imparcial que eu pudesse.
- Fomos ao boliche e ao parque. - respondi, dizendo tudo enquanto dirigia pela rua principal. Parei em um sinal vermelho, e olhei para uma Cherry e uma Alex sorridentes.
- Aaw, isso é tão fofo. - Alex disse, e eu não consegui não sorrir. Dei de ombros, meio envergonhada.
- E vocês vão sair de novo? - Cherry questionou. Eu só assenti.
- Acho que só vamos conseguir arrancar isso dela. - Alex comentou, enquanto Cherry ligava o rádio.
- Tudo bem, então é hora da gente falar. - ela disse. Alex murmurou "Oh, Deus", e eu franzi a testa, lançando um olhar confuso e rápido a elas.
- O que aconteceu, hein? - perguntei. Cherry soltou uma risada irônica.
- Você não vai nem acreditar. - ela se ajeitou no banco, ficando de frente pra mim. Alex estendeu as mãos, impedindo-a de começar a falar.
- Vale lembrar, antes que você comece a escutar, que eu disse pra gente não ir.
- Fomos ao shopping ontem à noite... - Cherry começou, fingindo que Alex não tinha interrompido-a. - Jantar com Brian e Josh.
- Sabe, Brian estava todo fofo...
- ...Grudento.
Enquanto eu pegava a rua que nos levaria a escola, Alex e Cherry começaram a contar sobre Brian e Josh, e que tinha algo a ver com o vendedor bonitão do shopping, de sábado. Eu me distraí com a história delas, rindo quando Cherry começou a contar como Josh tinha tentando bater no cara e que Brian ficara quarenta minutos sem falar com Alex ou Cherry, e à altura em que Alex tinha um ataque de risos de Cherry imitando Brian, eu já estava estacionando o carro na escola.

Segunda-feira, 11h15.

Eu não tinha nada contra Literatura, eu até gostava das aulas e ia bem nas provas, mas a folha de fichário com minha letra e de Brian, por cima do livro que a professora lia e explicava, meio que ia contra isso.

Tá tudo bem com Alex?

Ah, cacete, ela já contou pra você do que aconteceu ontem? B

Então quer dizer que você curte bater em caras maiores e mais fortes do que você? Não sabia que tinha esse negócio meio suicida.

Brian rolou os olhos quando leu o papel e me encarou de lado. Ele mostrou a língua, e eu segurei uma risada.

Você é uma babaca. E quem foi pra cima dele foi Josh. Mas o cara era grande demais até pra ele.

Mas, esquecendo isso, tá tudo bem com você? B


Franzi a testa ao ler a pergunta de Brian. Por que não estaria?

Está. Por quê?

Você está contente demais. Contente demais pra você, contente demais pra qualquer pessoa numa segunda-feira. E alguém me contou que você andou saindo ontem. B

Alex e Cherry são umas fofoqueiras.


Brian abriu um sorriso grande e satisfeito quando eu lhe passei o papel.

Você ia contar pra mim, eventualmente. B

Verdade. Isso não as faz menos fofoqueiras.


Ele concordou com um aceno da cabeça, ao ler o que eu tinha escrito. Comecei um jogo da velha no verso do papel, e ganhei dele na primeira vez que jogamos. a professora lá na frente falava praticamente sozinha, porque quase metade da turma dormia, enquanto a outra se dividia em tarefas que não incluíam prestar atenção na aula, como terminar um trabalho para o próximo tempo, escutar música, passar mensagens de texto pelo celular e, como a gente, conversar por papel ou jogar jogos estúpidos para passar o tempo.

Temos a próxima aula de Educação Física, você vai me contar o que aconteceu.

Brian escreveu num pedaço que sobrara da folha de papel, quando faltava alguns minutos para a aula acabar. Eu rolei os olhos, mas me dei por vencida.

- Como assim, não vão?! - o professor de Educação Física era um cara gordo e quase careca, não fosse por uma coleção de cinco fios castanhos de cada lado de sua cabeça, que ele cuidava como se fossem seus filhos. Na verdade, eu lembrava de uma história que correra a escola quando algum aluno pareceu esbarrar nele. A história era medonha demais.
- Não vamos. Não somos obrigados, e o time está cheio. - Brian apontou para a partida de vôlei que iria começar. Meninas de um lado (usando poucas roupas demais, sorrindo demais e fazendo gestos pela rede para os caras) e meninos do outro (todo mundo com cara de machão e lançando sorrisos para as meninas). O professor nos encarou por um instante, nem irritado e nem tranquilo. Ele nos dispensou com um gesto cansado da mão.

- Ah, que seja. Podem ir. - Brian e eu começamos a nos afastar do ginásio. - Mas na semana que vem... Nada de escapar da aula...!
- Ele sempre diz isso. - entramos no corredor das salas de aula e dos armários.
- Sempre. Cara, ele não tem memória?
- Quem não tem memória? - me assustei quando Josh surgiu, aparentemente saindo de alguma sala, e se apoiou no meu ombro, me fazendo parar de andar. Olhei para ele, que hoje estava parecendo saído de um filme do Tim Burton, mais do que nos outros dias. - Ah, tem um show hoje. - ele explicou, quando eu franzi a testa, observando-o.
- O professor de Educação Física. - Brian respondeu a primeira pergunta, parando na frente de Josh. Ele tirou o cotovelo do meu ombro, e me abraçou de lado.
- Estão fugindo da aula de novo? Ele nunca percebe que vocês já mataram a aula anterior a essa?
- Nope. E sempre ficamos com nota pra passar. Não dá pra entender.
- Ele sorteia as notas, ou já tem uma tabela.
- Quem liga? - dei de ombros, arrancando risadas dos dois. Cutuquei Josh com o cotovelo, acertando-o na barriga. - Não tem aula agora? - ele balançou a cabeça, fazendo seus cabelos escuros e muito lisos irem de um lado para o outro e se assentarem de um jeito legal.
- Não. Quer dizer, tenho. Mas estou suspenso da aula de Inglês até semana que vem.
- Engraçado, escuto essa frase de você toda semana, só muda a matéria. - Brian disse, e Josh começou a rir.
- Se importam se eu ficar com vocês?
- Não, nenhum problema. - eu disse, e Brian concordou. Nós três atravessamos o corredor, e indo em direção à parte aberta da escola, onde a gente podia encontrar alguns bancos para se sentar e conversar. A essa hora, não havia muita gente do lado de fora, só quem estava fugindo de aulas, terminando algum trabalho, e aqueles que matavam aula na cara de pau.
Eu me sentei na grama, cruzando minhas pernas. Josh e Brian se juntaram a mim, sentando-se um do lado do outro, deixando-nos em um círculo. Brian apoiou os braços nos joelhos dobrados, e Josh deixou as pernas esticadas e as mãos apoiadas atrás do corpo, parecendo tomar um sol que não estava lá no Céu.
- , você pode começar a falar quando quiser. - Brian disse, me fazendo franzir a testa e encará-lo, confusa. Ele rolou os olhos, e Josh tirou sua atenção do nada, para olhar para ele. - está saindo com um cara. - Josh arregalou os olhos.
- Ah, é mesmo! Cherry falou algo sobre isso ontem. E aí, quem é?
- Nem vem. - resmunguei, num tom mais ameaçador do que eu planejara. Josh ergueu as mãos em defesa. Eu deixei meus ombros caírem, cansada. - Ah, é meio complicado.
- Ele gosta de você e você gosta dele?
- Como eu vou saber? Só o conheço há três dias, só saí com ele duas vezes. Se bem que a primeira vez não pode ser bem "saí com ele", está mais para "dei um encontrão nele" e por assim em diante. - Brian e Josh me encararam, ambos confusos.
- Que tal começar do começo, , querida? - Brian pediu, falando de forma mais delicada. Josh riu.
- Não precisa nos dizer quem é, se é assim tão importante. Só... Só conte. - ele fez gestos com a mão, indicando que eu deveria começar. Suspirei.
- Tudo bem. certo. Eu falo. Mas se Cherry e Alex descobrirem que eu contei pra vocês e não disse nada pra elas...
- Cherry e Alex não estão aqui, estão? - Josh perguntou, divertido. Eu abri a boca, espantada.
- Cafajeste! Elas são minhas amigas! - ele riu quando eu me inclinei para lhe dar um soco no braço, e Brian se meteu no meio, rindo.
- Ei, ei, calma. - disse, estendendo as mãos na minha direção e na de Josh. Josh me jogou um beijo, eu lhe mostrei o dedo do meio, mas já estava quase rindo. - Não vamos contar nada a elas porque você é nossa amiga. Ainda temos um código de amizade aqui. Ele é reforçado quando a amizade é ainda mais antiga. - sorriu debilmente para mim, e eu concordei com um aceno.
- Hm. Ok. É bom não contarem mesmo. E é bom não estar escondendo nada delas, porque... - deixei a frase no ar, na tentativa de causar efeito, mas as risadas dos dois me fizeram crer que não adiantara muito. Eu tinha ficado, na verdade, feliz por eles ainda me considerarem tanto assim. Nós éramos mesmo amigos há muito tempo, e eu me vi contente de certa forma, pela sensação de conversar abertamente com os dois.

- ...E aí ele ficou comigo no telefone até eu cair no sono. - concluí, com um sorriso meio besta no rosto. Josh sorriu, divertido. Brian parecia surpreso.
- Como é que esse cara conseguiu? - ele questionou, olhando de mim para Josh. Josh riu.
- Nem todo mundo é tão ruim com garotas como você, cara. - Brian rolou os olhos, mas riu também. Eu suspirei.
- Gente... Dá pra ser? - pedi, cruzando os braços. Os dois me encararam de volta. Eu estava confusa, eu não sabia se eles estavam querendo dizer que Taylor era tão bom que conseguia encontros com garotas que mal conhecia, ou que eu era muito tonta de ter aceitado sair com ele.
- Qual o problema? - Josh perguntou. Eu forcei mais meus braços contra minha barriga, incomodada. Eu me sentia tão idiota me preocupando com essas coisas. Mordi meu lábio inferior, antes de respirar fundo e perguntar:
- Vocês acham que ele gosta de mim ou eu estou perdendo meu tempo aqui? - claro que Josh e Brian abriram sorrisos divertidos.
- Quem diria que a gente ia ouvir isso dela, algum dia? - ele perguntou, encarando Brian. Ele balançou a cabeça e disse "Pois é". Eu bufei, e ergui minhas mãos como se fossem garras, fingindo avançar em direção aos dois. Eles riram alto.
- Tudo bem, tudo bem! - Brian se deu por vencido, erguendo suas mãos em desistência. - Eu acho que ele gosta de você. Ou pelo menos está começado a gostar, do mesmo jeito que você também está.
- É, nenhum cara faz tanto contato e é tão cauteloso quanto a beijar uma garota, se não gosta dela. Ele gosta de você. E se me permite dizer, você está meio muito caída por ele. - Josh riu de sua própria piada, e eu senti meu rosto todo queimar. Um sorriso inevitável tomou conta do meu rosto, e eu de repente me senti muito exposta.
Então ele gostava de mim. Ou pelo menos essa era a concepção de dois caras. Eram concepções aceitáveis, valia dizer.
- Você vai vê-lo hoje? - Brian perguntou, e eu assenti.
- Vou. Vou ligar pra ele quando chegar em casa. Ainda não sei o que a gente vai fazer.
- , ele é daqui? - Josh perguntou, de repente, o tom de voz mais preocupado do que curioso. Eu senti meu estômago despencar, porque esse era o fato que eu mais tentava afastar da minha cabeça. Levei a mão à boca, descendo-a até meu queixo.
- Não. - balancei a cabeça. - E ele não deve ficar muito tempo. Vai ser uma droga quando ele for. - Josh levantou de onde estava para se jogar ao meu lado. Ele me abraçou e eu apoiei minha cabeça em seu ombro, rindo quando ele soltou "Aaaaw". Brian sorriu de onde estava, cruzando seus braços.
- Nós vamos estar por perto, sabe que pode vir quando precisar.
- É, eu sei. - disse, baixo.
- , se ele não vai ficar muito tempo, o que ainda está fazendo aqui? - Brian perguntou, abrindo as mãos e indicando a escola com elas. Franzi minha testa e ergui minha cabeça, olhando de Brian para Josh.
- É verdade. Vá ficar com ele, você não tá perdendo nada mesmo. - comprimi meus lábios, duvidosa. Tudo bem, eu não era dessas que nunca tinha matado aula na vida.
- Vocês acham que eu devia mesmo? - perguntei. Brian assentiu.
- Ele vai gostar de você aparecer antes. - Josh ficou de pé, e estendeu as mãos para me ajudar a levantar também. Sorrindo, aceitei e me coloquei de pé, ajeitando minhas jeans.
- Eu deixo Alex e Cherry em casa. - ele anunciou, e eu assenti, agradecida.
- Elas vão querer me matar.
- Você olha pra cara delas todos os dias, elas não vão te matar. - ri de Brian, e então enfiei as mãos nos bolsos. Eu estava meio perdida. Estava com um sorriso nervoso no rosto, meus olhos passeavam de Josh para Brian, eu sabia que devia ir para meu carro, mas a idéia de ver Taylor de novo... Parecia o nervosismo de primeiro encontro que eu não tivera tempo de ter.
Josh e Brian me encaravam, esperando que eu agisse.
- Minha roupa tá legal? - perguntei, mordendo o lábio inferior. Os dois assentiram, erguendo os polegares.
- Está ótima, se você quer minha opinião. - era uma terceira voz, e me irritava saber que eu tinha certeza de quem era. Olhei para minha direita, e encontrei um Kyle bonito como sempre, usando suas roupas do time de futebol da escola. Cruzei os braços, e fechei a cara.
- Eu não quero sua opinião, Grants. - ele riu, debochado.
- Parece justo. De qualquer forma, você não vale aturar tanto mau humor. - ele esticou um livro para mim antes que eu tivesse a chance de retrucar e dizer qualquer coisa ruim para ele. Era um livro antigo meu, que eu já nem lembrava mais. - Harry pediu pra te entregar, e pra dizer "Obrigado". Seja lá o que você e esse livro tenham feito por ele, além de fazê-lo parecer gay. - rolei os olhos para Kyle.
- Você é tão babaca. - peguei o livro. - Diga a seu irmão que não tem de quê, e que ligo mais tarde. - ele deu de ombros.
- Tanto faz. - cumprimentou Josh e Brian com um aceno da cabeça, depois olhou para mim outra vez. - Aparece lá em casa quando for menos amarga.
- Fale comigo outra vez quando for menos idiota. - ele saiu com um sorriso irritantemente convencido. Eu rolei os olhos. - Deus, como ele é imbecil. - Josh riu da minha cara, e Brian fez um gesto, indicando o estacionamento. Eu acenei para eles e comecei a andar em direção a meu carro.

Segunda-feira, 12h45.

Eu tinha considerado algumas coisas. Algumas muitas coisas. Todas envolvendo minha ida repentina ao hotel de Taylor.

10. Eu podia ir para casa e de lá ligar para ele, perguntar se ele estava ocupado.

9. Eu podia ir para casa e esperar passar algumas horas para ligar para ele.

8. Eu podia só ligar mais tarde, ele podia estar dormindo ou trabalhando.

7. Eu estava procurando saídas para não ir direto para o hotel, porque eu estava morrendo de vergonha e de medo.

6. Talvez vergonha não fosse a palavra certa. Eu estava, sei lá, meio incerta quanto a aparecer assim. Será que eu podia fazer isso depois de dois encontros?

5. Quando ele ia embora? Essa dúvida continuava me rodeando, não importasse o quanto eu tentasse desviá-la.

4. Eu sabia que, no fim das contas, ia estacionar exatamente onde acabara estacionando, em frente ao hotel dele.

3. Não era bom o quanto eu estava gostando da idéia de vê-lo em alguns minutos. Não a longo prazo.

2. Mas a curto prazo, era a melhor sensação que eu sentira nos últimos meses.

1. Eu ia ficar com o curto prazo.

Eu já havia entrado no hotel algumas vezes, quando parentes distantes vinham para visitar (e ver se eu estava mesmo sobrevivendo com todo o negócio de morar sozinha). Era todo branco, com alguns detalhes em amarelo e outras coisas douradas. Tinha um lustre bonito e grande pendendo no centro, dividindo a recepção, à esquerda, e uma sala comprida e larga à direita, onde uma tevê grande estava ligada em um programa de viagens, e algumas pessoas estavam sentadas nos sofás brancos e fofos, lendo revistas ou falando ao celular.
Eu virei para a recepção, e me apoiei no balcão, enquanto a secretária do outro lado falava com alguém ao telefone, sua voz simpática e tranquila.
- Sim? - ela perguntou, me olhando rapidamente, antes de voltar sua atenção para a tela do computador. Eu respirei fundo, enfiei minhas nos bolsos de trás das minhas jeans e mandei:
- Eu vim ver alguém... Hã... Procure por Teddy Bear. - senti minhas bochechas ficarem completamente vermelhas depois de falar exatamente a mesma frase que ele escrevera na palma da minha mão. A secretária me encarou confusa por um instante, mas digitou o nome mesmo assim, e pareceu ainda mais confusa quando ele realmente constava em seus dados.
- Certo. Deixe-me fazer uma ligação. - assenti, e ela puxou um telefone, discando números rapidamente. Não entendi exatamente o que dizia, mas pegava palavras como "permissão", "garota", "certeza" e "atrapalhar". Ela então desligou, e voltou a me encarar com um sorriso.
- ? - eu assenti, abrindo um meio sorriso. Ela puxou o telefone outra vez, discou mais números, e em alguns minutos desligou outra vez. Agora ela parecia menos preocupada, e ficou de pé. Andou até um quadro cheio de chaves com o número de cada quarto, e tirou uma para mim. - Pode subir.
Peguei a chave, e precisei de alguns segundos para processar tudo. Ele tinha dito para eu subir?
A secretária me observou até eu entrar no elevador.
Isso era tão estranho, e ao mesmo tempo não parecia nada diferente do que eu queria ou esperava. O que também não diminuía meu nervosismo.
Em uma dessas ironias da vida, o elevador chegou muito mais rápido do que eu pudera perceber, e o som tão comum da campainha soando quando a porta abriu me fez sentir o estômago girar. A sensação não passou enquanto eu caminhava até a porta de seu quarto. Era o 403. Toquei a campainha e esperei.

Ouvi som de passos, de coisas caindo, uma voz distante reclamando de algo, e aí a porta abriu.
- ! - minhas dúvidas de ir ou não pareceram besteira quando ele abriu um sorriso e me observou. Sorri de volta.
- Estou te atrapalhando? - perguntei, indicando seu quarto com a mão. Ele balançou a cabeça em resposta.
- Nem pensar. Estava mesmo imaginando quando você ia ligar. - Taylor usava jeans claras, uma camiseta branca e estava descalço. Seus cabelos estavam bagunçados, e ele parecia meio sonolento.
- Cara, eu te acordei? - perguntei, insistente. Ele riu, divertido.
- Não. Eu estou há duas horas pensando em levantar. Estava vendo tevê. - eu ergui uma sobrancelha, e ele rolou os olhos quando percebeu que não tinha me convencido. Ele estendeu uma mão para mim. - Pode me dizer um "Oi" mais apropriado do que me chamar de preguiçoso nas entrelinhas? - semicerrei meus olhos, rindo, mas deixei que ele me puxasse em sua direção e colocasse seus braços ao redor da minha cintura.
Senti a mesma sensação da noite anterior, o frio na espinha, o estômago revirado... Mas tinha uma sensação nova, aquela mais relaxada. Não era que beijar Taylor tivesse se tornado algo normal, mas era um pouco menos tão novo que ontem, e isso me deixava mais confortável. Deixei ele se inclinar mais sobre mim, ao mesmo tempo em que suas mãos em minhas costas me levavam para mais perto dele, e eu ficava completamente presa a ele. Então apertei mais meus braços ao redor de seu pescoço e o fiz inclinar-se para trás, me deixando tomar conta da situação. Taylor era forte, e eu era pequena e fraca, então ele parecia estar totalmente a fim de que eu fizesse isso, porque não fez objeção alguma.
- Oi. - disse, afastando nossas bocas. Ele abriu os olhos lentamente, e sorriu debilmente para mim.
- Melhor do que eu pedi. - disse, arrancando risadas minhas. Me afastei dele para puxar minha blusa para baixo, e o assisti andar até sua cama.
O quarto era grande, para um quarto de hotel: tinha uma cama no lado direito, que ficava de frente para uma tevê em cima de uma estante baixa; do lado esquerdo, havia um armário embutido relativamente espaçoso. As paredes eram brancas e os móveis todos de madeira escura.
Me sentei na ponta da cama de Taylor, e ele encostou a cabeça na parede, sentado na outra ponta. Ele sorriu para mim.
- Estou matando aula, sabe. É melhor você falar algo ao invés de ficar olhando pra minha cara.
- Matando aula? - ele arregalou os olhos, rindo. - Você? Uau, não imaginava que fosse dessas. - abri um sorriso propositalmente falso.
- Não vá tirando conclusões precipitadas sobre mim. - ele perguntou "Era pra me assustar?", enquanto ia para meu lado. Ele me abraçou, passando um braço pela minha cintura, e beijou minha bochecha. Segurei seu rosto com uma das minhas mãos, só tempo suficiente para beijá-lo nos lábios de leve, e ele pareceu muito contente quando pegou o controle da tevê e a ligou.
- Friends! - eu comemorei, e ele riu. O episódio já estava na metade, e eu já tinha visto algumas muitas vezes, mas não deixava de ser engraçado. Eu tirei meus tênis e os deixei no pé da cama, e ele observou meus pés enfiados em meias brancas e curtas. Soltou uma risada divertida e se ajeitou em meu colo depois que meus pés estavam sobre a cama.
Senti calafrios me percorrem quando a cabeça dele encontrou meu colo, e deixei minhas mãos irem até seus cabelos. Ele sorriu, e procurou minha outra mão para entrelaçar com a sua, soltando um suspiro. Não um suspiro cansado, mas aquele suspiro de quem está confortável e vai dormir.
- Acordou cedo hoje? - adivinhei, e ele assentiu, desviando o olhar de mim para nossas mãos entrelaçadas. - Pode dormir se quiser, ainda temos algumas muitas horas pela frente. - ele riu, e segundos depois fechou os olhos.
- Como a gente consegue fazer isso? - ele perguntou, e eu franzi a testa.
- Fazer o quê?
- Eu só te conheço há três dias. E você está aqui, no meu quarto - mesmo que de hotel - me deixando dormir no seu colo. - sorri de lado. O tom de voz dele era tranquilo, então o que ele dissera não parecia ter sido dito de uma forma ruim, que não o agradasse. Tinha soado como o oposto.
- Já me perguntei isso antes. - respondi, e observei o corpo dele atravessando a cama, uma mão entrelaçada com a minha, deixando-a sobre seu peito, a outra sobre sua barriga. Passei meus dedos por entre os cabelos dele. - Mas eu gosto que seja assim, de certa forma. - ele não abriu os olhos, mas concordou com um aceno da cabeça e um sorriso. Eu o observei por uns instantes, e então sua respiração ficou regular e sua expressão relaxada. Deixando-o dormir, voltei minha atenção para a tevê.

Segunda-feira, 15h30.

Como assim você matou aula pra sair com esse cara que a gente não conhece?!

Quase joguei meu celular do outro lado do quarto quando ele começou a berrar, o aviso de nova mensagem piscando feito louco no visor. Eu o tirei do bolso de trás, o mais rápido e silenciosamente que eu podia, sem acordar Taylor, e li a mensagem de Cherry.

Assim. Saindo. Mais tarde te ligo.

Respondi a mensagem, um pouco divertida com a cara de ofendida que ela faria quando lesse a mensagem, e voltei a assistir o filme. Friends já tinha acabado, e eu tinha mudado para um canal que exibia "O Diário de Uma Paixão". Talvez esse não fosse o melhor filme para assistir, porque eu sempre chorava, e Taylor não precisava ver isso, obviamente. Acho que eu ia assustá-lo.
Ele estava dormindo há uma hora, pelo menos, e eu estaria mentindo demais se dissesse que ele não ficava extremamente fofo. Claro que, se qualquer pessoa que realmente me conhecesse me ouvisse falando assim, perguntaria qual era meu problema. Eu também queria saber.

- Eu gosto desse filme. - sua voz rouca ecoou pelo quarto, sobrepondo a fala de um dos personagens do filme. Eu o encarei com as sobrancelhas erguidas, surpresa tanto por ele ter acordado enquanto eu estava concentrada no filme (ou nos pensamentos, tanto faz), quanto pelo que ele tinha dito. Ele moveu o olhar da tevê para mim, sorrindo. Eu tirei minha mão de seus cabelos.
- Você? Gosta? Ou só está tirando com a minha cara? - ele suspirou, jogou o pescoço para os lados, esticando-o. Seus olhos estavam pequenos, seu rosto meio inchado.
- Tô falando sério. - disse, baixo. Ele ficou sentado, e eu soltei nossas mãos. Taylor balançou a cabeça, bagunçou os cabelos com as mãos e, quando eu achei que fosse levantar e começar a se arrumar para sair, ele fez "Aaaah" como uma criança que não quer ir para a escola, e se jogou no meu colo de novo.
- Ei! - soltei, rindo, e ele uniu as sobrancelhas, pendendo sua cabeça para o lado. Ele levou uma das mãos até meus cabelos, e colocou uma mecha atrás da minha orelha.
- Precisamos mesmo sair? - perguntou, e meu estômago despencou, meu sorriso desmanchou. Hm, ok, então delicadeza não fazia parte do manual dele de como dar fora em garotas que aparecem em seu quarto de hotel? Senti meus ombros caírem, e por um instante eu estava de volta a de sempre. Sabe, rabugenta.
- Não exatamente. A gente não combinou nada. - disse, tentando não demonstrar nada pelo meu tom de voz, embora eu soubesse que ele tinha notado; o afastei até ele mesmo levantar do meu colo, e cruzei os braços. Taylor virou-se para poder me encarar, visivelmente confuso.
Decidi que não ia falar nada, então me preparei para descer da cama, quando ele levantou primeiro. Deu a volta na cama, e sentou-se do meu lado.
- Acho que você não entendeu. - começou, passando um braço por cima de mim, deixando sua mão no colchão, de modo que ele podia se inclinar sobre mim e eu não tinha como sair dali sem tocá-lo. - Estou sugerindo que, ao invés de sair, a gente fique aqui. A gente. Não só eu. - eu fechei os olhos e sorri, meio envergonhada. Ok, bastante.
- Certo.
- Eu sou o ator, eu devia ser o dramático.
- Ei, eu posso fazer cenas de vez em quando. - ele riu, e acabou com a distância me abraçando outra vez. Me beijou, não fervorosamente, só o suficiente para eu sorrir ainda mais e me afastar para o lado, dando espaço para ele deitar na cama de novo.
Eu apoiei a cabeça em seu peito, e o abracei. Ele passou seus braços pelas minhas costas e cintura, e beijou o topo da minha cabeça antes de voltar a encarar a tevê.
- Você não devia estar gravando alguma cena de lobo ou qualquer coisa do gênero? - não consegui conter minha pergunta. Entre Allie, - a garota do filme -, perguntar algo a sua mãe, e ela responder, eu já tinha soltado a merda da minha língua. Taylor riu.
- Não por enquanto. Acho que ainda tenho um mês. Um pouco mais, um pouco menos. - um mês. Certo. Isso não exatamente explicava tanta coisa assim.
- E você, não devia estar estudando pra alguma prova ou coisa assim? - dessa vez, eu ri. Eu não estudava muito, só nas vésperas das provas, quando a consciência batia e eu virava a noite decorando o que quer que fosse que eu precisasse decorar.
- Não por enquanto - disse, repetindo sua resposta. - Ainda tenho algumas semanas até as provas começarem. Aí minha vida vira um inferno por uma semana, e depois eu finjo que não existo por outra. Aí eu fico de férias. - ele riu de mim, e eu movi meu olhar para o alto, procurando o seu.
- Essa é a hora que eu digo quando eu vou embora e tudo fica estranho? - ele perguntou, abaixando a cabeça para poder me olhar. Eu soltei uma risada abafada, mas não sorri.
- Você vai embora, tipo, amanhã ou algo assim? - ele balançou a cabeça, também sem sorrir, mas nem irritado. - Acho que podemos deixar isso para um pouco mais tarde, então.

Taylor só concordou, e eu não pude saber se ele também achava melhor, ou se ele só tinha dito que sim para não brigar comigo, ou se ele - como eu - estava bastante perdido sobre o que dizer. Se ele falasse quando iria embora, eu ficaria contando os dias numa contagem regressiva irritante na minha cabeça; se ele não falasse, eu iria eventualmente ficar tentando adivinhar quando isso seria, e provavelmente me arrependeria quando ele viesse me contar que iria no dia seguinte. Desviei o olhar antes que eu o fizesse me contar, e agora Allie dirigia seu carro. Não faltava muito para ela voltar para Noah.
- Então, você é dessas que chora quando assiste esse filme? - ele perguntou, a voz mais relaxada. Eu sorri, e concordei com um aceno da cabeça.
- Você talvez queira mudar de canal. - brinquei, ele soltou uma risada pequena, e ao não me responder com outra piadinha, eu franzi a testa e ergui a cabeça outra vez.
Ele tinha a expressão meio concentrada, meio distante. Parecia perdido em seus pensamentos e, antes que eu tivesse a chance de fazer alguma pergunta, ele me encarou.
- Quais outros filmes te fazem chorar?
- Hã?! - ele soltou um suspiro cansado quando eu não contive minha expressão perdida, fechando os olhos por um instante também.
- Eu não sei falar. - ele olhou para o alto. - Deus, alguém devia me proibir de falar. - eu me afastei dele, sentando na cama de pernas cruzadas, os braços por cima delas, e ele me acompanhou com os olhos. - Eu quis dizer que... Foi uma forma besta, eu sei, mas eu quero saber mais sobre você. - ah, caramba... Senti meus ombros caírem e minha respiração ficar mais lenta, a voz dele tão tranquila agora. - Quero saber quando é seu aniversário, qual seu filme preferido, sua comida preferida, quantos anos você tinha quando tirou a primeira nota vermelha... - um sorriso pequeno começou a se abri no meu rosto aos poucos, em alguns segundos eu tinha um sorriso enorme, e uma vontade muito grande de abraçar Taylor.
Como ele fazia isso? Como eu gostava tanto dele assim, tão de repente? Como não se apaixonar por um cara que, na verdade, quer mesmo te conhecer?
Normalmente, eu hesitava em contar qualquer coisa da minha vida para alguém que não fosse um dos meus amigos. Mas quem era eu pra respeitar qualquer das minhas manias anteriores agora? Eu não era a mesma coisa de sexta-feira. Definitivamente, não era. Era só segunda-feira, eu estava prestes a contar um monte de coisas para um cara que eu também não sabia nada sobre e, se quer mesmo saber, não foi assim que pareceu quando eu abri a boca finalmente.
- Meu nome todo é . - comecei, devagar, sorrindo. Taylor abriu um sorriso quase aliviado de volta. - Eu adoro chocolate. Tipo, mesmo. Você não tem como errar comigo se tiver chocolate. Tirei um D em Matemática na oitava série, e a coisa toda desmoronou daí. Nunca mais consegui uma nota razoável em qualquer coisa envolvendo cálculo. Meus pais ainda são casados, mas eles quase se separaram uma vez, por motivos que eu até hoje não sei, e desde então eles viajam pelo mundo na tentativa infundada deles de tentar "salvar o casamento". Isso significa que eu moro sozinha há alguns anos.
"Eu tenho duas melhores amigas, Cherry e Alex. Acho que você iria gostar delas, elas te acham gostoso. Mas elas não sabem que você é você. Só que eu estou saindo com um cara que elas não sabem quem é, o que tem deixado elas meio nervosas. E tenho três melhores amigos, Josh, Brian e Harry. Josh e Brian quem me fizeram matar aula e vir te ver aliás, agradeça a eles. Eu tenho dezessete anos, faço 18 em um mês, vinte e cinco de outubro. Meu filme preferido deve ser algum de romance, eu mudo de idéia toda hora. Livro, também... Qualquer coisa que Nicholas Sparks tenha escrito, eu leio.
Ah, eu gosto de dormir ouvindo música, de dirigir, de ir à Starbucks - mas essa você já sabe -, e de, de vez em quando, pegar a estrada e ir até alguma cidade próxima pra ficar na praia."
Quando terminei de falar, esperei a reação dele. Agora, tudo que eu dissera parecera meio bobo, um monte de coisas que não o interessava. Mas lá estava ele sorrindo, parecendo divertido. Ele me observou por uns instantes antes de falar:
- Chocolate, huh? - rolei os olhos e acertei um tapa em seu braço. Ele caiu na risada e me abraçou antes que eu batesse nele de novo, me beijando na bochecha.
- Sua vez agora. - disse, olhando-o com o canto do olho. Ele franziu a testa.
- Já não descobriu tudo na droga do Google? - perguntou, divertido. Eu fiz uma careta.
- Claro que não. Descobri o básico, onde você nasceu e que é campeão de umas lutas marciais que eu não sei pronunciar o nome, e que eu achei muito legal. E que você era o Sharkboy. - ele caiu na risada outra vez, me fazendo rir junto.
- Eu era bonitinho.
- Você tinha dente de tubarão, cara.
- Eu era bonitinho!
- Você ficou bonito. Mas você tinha dente de tubarão. - como eu imaginava, o sorriso dele ficou um pouco maior e mais convencido depois de eu dizer que ele era bonito. Mas eu não fiquei vermelha. Ironicamente ou não, chamá-lo de bonito me pareceu só natural e de acordo com a situação, não algo que me deixaria completamente envergonhada.
- Ok. Eu gosto de ver American Idol, eu costumo ir dormir tarde. Minha idéia de um fim de semana perfeito, ao contrário do que se possa pensar, não é cair na night. - ele me fez rir com o tom de voz sarcástico. - Eu gosto de ficar quieto, de ficar tranquilo. Um fim de semana, digamos, com uma garota que eu nunca vi na vida e que me parece perfeitamente sã, parece ótimo. - ri outra vez, e mostrei a língua. - Eu gosto de pizza, hambúrguer, eu aprendi a gostar de malhar, e realmente gosto de assistir O Diário de Uma Paixão. Eu faço aniversário dia 11 de fevereiro, o que normalmente significa que meus presentes sempre foram corações vermelhos e bombons quando as pessoas deixavam pra comprar na última hora. Bendito dia dos Namorados.
- Sabe, eu só pareço perfeitamente sã. - brinquei, e ele ergueu as sobrancelhas, rindo. - E você vai chorar quando esse filme acabar? - sussurrei a pergunta, assistindo-o cair na risada.
- Eu não vou chorar. Não depois de ver isso pela quinta vez. - fiz um "Aaaah" entendendo a situação, e ele passou os braços pela minha cintura enquanto eu ria. Quando senti seu peito encostar no meu, e seu rosto ficar próximo demais, eu parei de rir.
- Isso não vale. - resmunguei, mas deixei ele me beijar quando fechou os olhos e avançou em minha direção. Eu levei minhas mãos até seus cabelos, enfiando meus dedos por entre eles e abrindo minha boca, dando espaço para o beijo continuar. Senti a língua dele tocar a minha, ao mesmo tempo em que eu sentia o frio se espalhar pelo meu corpo de um jeito bom. E aí lembrei que estávamos sobre uma cama, e que nossas respirações podiam estar ficando pesadas e espaçadas demais, e que eu estava a um passo de, literalmente, ficar por cima dele.
Me afastei.
- Starbucks, que tal? - convidei, assistindo-o soltar uma risada abafada. Ele entendeu, e concordou com um aceno da cabeça. Eu me joguei na cama, caindo sobre os travesseiros, enquanto ele ficava de pé e abria os armários, procurando uma roupa para sair.

Estávamos ouvindo as músicas dele, já que Taylor tinha feito questão de pegar seu iPod antes de deixar o quarto. Ele também estava dirigindo, mas agora já sabia o caminho para o shopping.
- Quer parar em uma música? - ele reclamou, sem realmente estar irritado. Eu fiz uma careta para ele, afundando no banco e colocando meus pés sobre o porta-luvas. Ele ia responder, e eu estava pronta para começar a listar razões para não parar em uma música, quando resolvi olhar pra frente e ver que o caminho que ele estava fazendo era para ir para qualquer lugar, menos para o shopping.
- Taylor! - falei, assustada por um instante. - Esse é o caminho errado. Assim você vai... - assisti o que eu achava ser o último retorno passar voado por nós. Deixei meus ombros caírem. Taylor riu.
- Assim nós vamos para Monterey. É, eu sei disso. Estamos indo pra lá. - arregalei os olhos, quase divertida e também assustada.
Eu morava na cidade de Fresno, que era uma cidade não tão grande e meio longe das coisas legais da Califórnia, como a praia. Era preciso pegar a estrada para poder ir para a costa. Monterey era perto e bonito, embora eu não tivesse ido lá muitas vezes.
- Você é doido! - disse. - Podia ter me falado antes, eu não ia ter gritado feito uma doida.
- Achei que você já tinha sacado quando paramos no posto. - Ah, é. Ele tinha parado para abastecer um tanque quase cheio, e eu tinha aproveitado para ir no banheiro. O filho da mãe devia ter pedido informações lá enquanto eu não estava por perto. - Vamos para um lugar com Starbucks e praia.
- Não achava que você fosse desses espontâneos. - ele riu, e concordou com um aceno da cabeça.
- Eu sei que não pareço. Mas posso ser, está vendo?
- É, estou. Você me raptou! - ele moveu o olhar da direção para mim por um segundo, me encarando com uma expressão tediosa.
(Dê play: "5:19" - Matt Wertz)
- ... Fala sério. - mudei de música outra vez, e Matt Wertz preencheu o carro, sem que eu precisasse falar nada. Eu gostava daquela música.
Abri a janela do meu lado, deixando o vento bagunçar meus cabelos, e comecei a me mexer conforme a música. Taylor abriu um sorriso no rosto, pareceu analisar a situação por um instante, e começou a cantar. - I'd be lying through my teeth if I toold you, that I'm ooook... (Eu estaria mentindo se dissesse para você que estou bem...) - eu soltei uma risada, e resolvi continuar:
- ...July came I thought I had it all together, until you saaaid, I need some space. Truth be told... (Julho chegou e eu pensei que tinha tudo certo, até que você disse, "Eu preciso de espaço". Verdade seja dita...)
- ...It's so hard to waaaait. (É tão difícil esperar) - nós dois rimos, e eu tive uma estranha sensação de, por alguns segundos, não ver nada de errado em nada. Ele sorriu para mim, e eu sorri de volta, a música rolando embora soasse mais baixa para mim.
Foi ali, entre ouvir Taylor desafinar, errar a letra e rir, que eu percebi que, embora tivesse causado um impacto tão repentino quando apareceu, as repercussões não seriam repentinas, nem curtas. Ele tinha aparecido de repente, para mudar muita coisa. E, até agora, eu gostava dessas mudanças. Eu não ia voltar a ser a Ana de antes quando ele fosse, nem nunca mais.
Podia ser repentino demais, podia ser totalmente errado. Eu podia acabar machucada, eu podia dar de cara com o chão um monte de vezes. Mas sabia que a maior besteira que eu poderia fazer era fugir daquilo, como eu sempre fugia de tudo. E Taylor não parecia o tipo de cara que me deixaria fugir do que quer que estivesse acontecendo entre a gente. Ele era diferente de mim de um jeito bom, e diferente podia ser exatamente do que eu precisava.
Talvez, ele fosse exatamente o que eu precisava.


Capítulo 6 -
Duas Semanas

(Música para deixar carregando: "Circles", da Colbie Caillat", clique aqui. Deixe carregar e dê play conforme as indicações durante a fanfic!)

Última vez que eu entrei no meu carro com um cara e acabei em uma cidade quatro horas distante da minha: Nunca.
Última vez que eu me deixei ser carregada para outra cidade sem nenhum aviso prévio além daquele cinco minutos antes: Nunca.
Última vez que eu realmente me diverti numa viagem de carro: Três anos atrás.

Tudo bem, três anos atrás eu tinha viajado com Brian, Alex, Cherry, Josh e Harry para Monterey. Passamos um fim de semana lá, indo à praia de dia, saindo à noite e jogando Banco Imobiliário de domingo para segunda, quando choveu e escureceu rápido demais para a gente pegar a estrada de volta. Tinha sido um fim de semana divertido, com Harry sendo o único que tinha autorização para dirigir com suas latinhas de cerveja substituídas por Coca-Cola, o que quase gerou um mau humor muito grande nele, não fosse eu e Alex dividindo a abstinência, salvo a exceção de que a gente realmente não bebia.
E agora lá estava eu de volta a Monterey, dessa vez com Taylor procurando um lugar para estacionar na rua, concentrado demais para me notar observando-o. Tínhamos acabado de passar quatro horas rindo, cantando, conversando e implicando um com o outro, e nem tinha parecido como quatro horas. Era fácil conversar com Taylor. Quando eu percebi, já tinha contado muito mais para ele em bem menos tempo do que eu levava para contar as coisas para Brian ou Cherry.
Sei que, talvez, não devesse contar a ele como as coisas eram complicadas na minha família, e por isso eu passava tanto tempo sozinha, morando num casa grande demais pra mim, com cômodos que viviam fechados porque eu simplesmente não tinha motivos para abrí-los e o som da tevê era, na verdade, a única coisa que me parecia agradável de vez em quando. Mas ele não pareceu se assustar quando eu falei, e me lançou um olhar rápido, mas acolhedor. Eu sabia que se não estivesse dirigindo, teria me abraçado.
Ter dito tudo aquilo pareceu abrir as portas que ele esperava para começar a falar também, e eu ouvi as histórias de como sua família tinha viajado e se mudado para que ele pudesse ter sua carreira de ator, e como ele de vez em quando achara tudo desnecessário, mas que estava agradecido por como tinha sido; o escutei dizer como sentia falta da família quando não estavam perto, e como é possível não gostar tanto assim de viagens de vez em quando. Ele era um cara normal, por trás de todo aquele negócio de lobo, abdomêns definidos e status de celebridade.
- Então, pra onde primeiro? - ele perguntou, quando estacionou o carro e nós dois saltamos dele. Ele se juntou a mim, na calçada da rua, e entrelaçou nossas mãos. Eu uni minhas sobrancelhas, encarando-o. - Você tem certeza de que não vão ver a gente aqui? Sabe, quem vai ter que se explicar pra um bando de jornalistas é você, eu...
- Eles podem descobrir seu nome e sua vida inteira em menos de vinte minutos, confie em mim. - ele me cortou, usando um tom de voz falsamente aterrorizante. Eu assenti, fazendo uma careta pra ele. Taylor riu e rolou os olhos. - Relaxa, Ana. Vamos, escolha. - eu movi meu olhar para nossas mãos entrelaçadas e suspirei, dando de ombros.
- Starbucks e aí passear na praia? - sugeri. Ele sorriu, concordando.
- Boa escolha. - nós dois andamos até a Starbucks, uns dez minutos de onde Taylor estacionou o carro, e durante o caminho eu confessei que tinha medo de palhaços, quando passamos por um McDonald's. - Isso explica porque você bebe tanto frappuccino. - ele disse, risonho.
- Você é um idiota. Estou confessando algo profundamente sério. - coloquei a mão esquerda abaixo do pescoço, mas não aguentei muito tempo sem rir. Taylor riu junto, e então abriu a porta para mim, me deixando entrar na Starbucks primeiro.
Havia umas sete ou oito mesas, as paredes marrom e verde com logo circular aparecendo às vezes... Era um típica Starbucks. Andamos até o balcão, e a garota do outro lado nos atendeu com um sorriso, depois de entregar o troco para um cara que levava um cappuccino nas mãos.
- O que você vai querer? - Taylor perguntou, enquanto olhava para o alto da parede de frente para nós, onde as bebidas e seus preços estavam listados. Eu também olhei.
- Um Double Chocolaty Chip. Grande. - ele sorriu quando eu disse, e a garota começou a digitar alguma coisa no computador a sua frente.
- Realmente, não tem como errar com chocolate, quando se trata de você. - olhou para a garota. - E um Cinnamon Dolce. - ela sorriu outra vez e digitou mais alguma coisa. Colocou nossos nomes nas partes de cima dos copos, disse o valor, e Taylor puxou a carteira do bolso da jeans, e eu corri para puxar a minha da bolsa. Ele me encarou com uma expressão cansada.
- Nem vem. Eu vou pagar. - anunciei, abrindo a minha carteira e tirando uma nota de vinte de lá. Entreguei a mulher antes que ele pudesse protestar. - Você colocou gasolina no carro. Automaticamente, me deu a vez.
- Como automaticamente? Que regra é essa?
- Minha área, minha cidade. - ele arregalou os olhos e ergueu as sobrancelhas, mas riu.
- Essa não é sua área, você mora bem longe daqui. - a garota me entregou o troco, e parecia divertida com nossa discussão.
- Oh, certo. Deixe-me mudar isso: meu carro, minhas regras.
- Sabia que eu devia ter alugado um carro. - Taylor disse, fingindo impaciência. Eu soltei uma risada enquanto andávamos para a ponta direita do balcão, onde um garoto que parecia ter nossa idade preparava nossas bebidas. Eu estava para falar "Talvez devesse ter comprado um mapa junto", quando a porta abriu de novo, e umas quatro garotas entraram juntas. Os olhares delas foram direto em Taylor, e em alguns segundos eu via qualquer coisa, menos ele.
Como eu devia reagir? Tudo bem, talvez fosse exagero meu. Eu o via. Só que o via rodeado de quatro garotas sorrindo demais e tentando tocá-lo a qualquer chance que tivessem. Uma câmera digital surgiu, e os flashes me fizeram dar um ou dois passos para trás, enquanto ele mantinha um sorriso no rosto e conversava com elas. As quatro puxaram fotos dele da bolsa entre risadas e uma pediu uma caneta a garota do balcão. Ela olhou para mim por um instante, e aí entregou uma caneta a Taylor.
- Aqui. - o garoto me entregou as bebidas. Agradeci e, com um sorriso, andei até uma das mesas. Puxei uma cadeira e me sentei lá, bebendo um pouco do meu frappuccino. Mantive os olhos em Taylor por mais uns segundos, enquanto eu tentava compreender porque eu estava ficando um tanto quanto irritada. Eu sabia que não devia ficar irritada. Porque, vamos convir, ele não era nada meu. Não tão meu. Estávamos saindo e ele parecia interessado em mim - ele tinha um bando de garotas correndo atrás dele também. E ele não estava fazendo nada mais do que o trabalho, embora nenhuma delas fosse feia para ele dizer que não gostava de ouvir delas o quanto ele é bonito e tudo mais que elas diziam e eu bloqueava antes que pudesse entender.
Algumas poucas pessoas que estavam sentadas às mesas lançaram olhares para a recente movimentação: uma mulher mais velha ergueu os olhos de seu notebook para olhá-lo de volta alguns segundos depois; um homem que parecia estressado olhou com o canto dos olhos, e pareceu cogitar a idéia de ir embora; uma mulher com duas crianças olhou apenas tempo suficiente para não perder nenhum dos filhos de vista. Desviei o olhar para a janela na minha frente, e observei o movimento de pessoas e carros até ele se sentar na minha frente e mover minha atenção. Eu não conseguia decifrar sua expressão, podia estar divertido ou irritado, puto ou nada estressado. Empurrei seu frappuccino em sua direção, e ele colocou os dois braços sobre a mesa, me obrigando a olhá-lo de volta.
- Eu iria preferir se, de vez em quando, você falasse. Ao invés de ficar nesse silêncio irritante. - olhei para o balcão: as quatro garotas ainda estavam lá, sorridentes e animadas, conversando entre risadas altas. Elas perderam algum tempo escolhendo o que iam comer e beber, e lançavam eventuais olhares para Taylor. Não podia saber se elas me olhavam, se elas tinham alguma idéia do que eu estava fazendo na mesma mesa que ele. Certo.
- Acho que essa é a primeira que eu não falo, então você meio que não pode reclamar disso. - soltei, num tom de voz que saiu mais descontraído do que eu imaginara. Ele pareceu um pouco mais aliviado e sorriu. - Estou dizendo, não parece tão pouco. - ele continuou quando eu uni as sobrancelhas. - Tão pouco tempo com você. Não parece assim. - bebi mais um pouco do meu frappuccino. Taylor olhou para as garotas que agora esperavam suas bebidas e comida. Elas o viram e acenaram para ele, ele sorriu e acenou de volta. Mas não deu tempo de eu falar qualquer coisa que pudesse indicar que eu não estava irritada, nem nada. Ele voltou a me olhar e, com um sorriso, disse: - Nosso passeio pela praia ainda está de pé, certo?

(Dê play: "Circles" - Colbie Caillat)

(Praia)
Tirei meus tênis e enfiei meus pés na areia fofa, depois de dobrar minhas jeans quase na altura do meu joelho. Prendi meus cabelos em um coque mal-feito, mas prático, e então Taylor me entregou o frappuccino de volta. Ele já tinha acabado com o dele. Ele tinha tirado seus tênis, e pareceu divertido enquanto me observava.
- Que foi? - perguntei, quando aceitei o copo e bebi um pouco mais, entregando meus tênis para ele carregar com os dele. Ele balançou a cabeça, rindo. Pegou meus tênis. A brisa fazia seus cabelos balançarem e irem para trás, assim como sua camiseta que batia e ficava colada a seu corpo.
- Você se preocupa demais pra um passeio na praia. - disse, entrelaçando nossas mãos quando começamos a andar. Eu ergui minhas sobrancelhas.
- Ah, é?
- Uhum. Prender cabelo, dobrar as jeans...
- Quem vai voltar com as jeans molhadas vai ser você. - disse. - E, além do mais, você não tem cabelo grande. Não sabe como...
- Ei! Eu já usei uma peruca! - ele disse, na defensiva. Semicerrei meus olhos, esperando que ele explicasse porque raios tinha usado uma peruca. Ele rolou os olhos quando percebeu que eu não tinha entendido. - Estou começando a acreditar que você assistiu Twilight com algum cara, pra não ter prestado atenção em nada.
- Oh, sim! Peruca! - lembrei, rindo. - Ah, não dá pra lembrar direito. Eu assisti por assistir. Desculpe. - ele deu de ombros.
- Sem problemas.
- Mas tudo bem, você ficou bonitinho de cabelo grande. Também. - agora estávamos andando em uma linha direta, em direção ao mar. A areia ficava um pouco mais dura conforme andávamos, e o número de pessoas ao nosso redor diminuía. No mar, alguns caras surfavam, e uma ou duas meninas também - uma delas parecia estar aprendendo, já que ficava mais fora da prancha do que em cima dela.
- Então você prefere meu cabelo grande? - ele perguntou, eu apertei sua mão e o encarei sem deixar transparecer nada na minha expressão. Ou assim eu esperava.
- Eu disse que você ficou bonitinho de cabelo grande. Nada mau. Mas nada tão bom. Você fica muito melhor assim. - ele abriu um sorriso grande, e eu rolei os olhos, rindo. - Mas chega. Você escuta elogios o suficiente para querer ouvir os meus. - ele riu e soltou nossas mãos para me abraçar e nos fazer parar de andar.
- Com você é diferente. Saber que você me acha bonito é diferente, porque eu estou interessado nisso.
- "Nisso" sendo eu? Minha opinião? Nós dois? - ele mexeu as sobrancelhas, como que pensando em uma boa resposta.
- Todas acima. - ele me beijou, e continuamos a andar abraçados. Agora estávamos onde as ondas se esticavam para cobrir nossos pés, depois de quebrarem um pouco mais a frente. Começamos a andar numa reta perpendicular a antes, paralelos ao mar. A praia de Monterey era cheia de pedras grandes e escorregadias pela ação do mar, o que tornava impossível andar em certos pontos. Tínhamos um bom trecho para caminhar até não ter mais nada para ver. - Então, me fale de seus amigos.
- Meus amigos? - perguntei, um pouco surpresa pelo interesse repentino. Ele deu de ombros.
- É. Já percebi que você não gosta muito de falar dos seus pais, e pode vir falar quando quiser... Mas você pareceu feliz ao falar dos seus amigos. - concordei com um aceno da cabeça, sorrindo inevitavelmente com a facilidade que ele tinha para me entender.
- Acho que você gostaria de conhecê-los. Tem Cherry. Ela é completamente doida. Tem um cabelo todo vermelho, seus pais são donos de uma gravadora de bandas de rock, então você pode imaginar como ela é. Ela está quase tendo um treco por não saber quem é você, mas só não está insistindo mais em te conhecer por causa de Alex. Alex é exatamente o oposto dela, não gosta de xingar palavrões e usa roupas sempre meio clássicas, sabe? Ela tem essa mania de sempre ver as coisas boas das pessoas, só pensa mal delas em último caso. - Taylor me ouvia, atento. Tinha um sorriso no rosto e, dependendo do que eu contava, ele sorria um pouco mais.
- E tem Brian, que é meu vizinho desde quase quando eu entendo por gente. A mãe dele sempre me fazia ir almoçar na casa dele, ou passar a maior parte do tempo que desse lá. Acho que, na época, só ela percebia como me fazia mal ficar em casa sozinha por muito tempo. Mas depois de uns meses pra cá ela parou com isso, talvez eu já esteja grandinha. Então Brian é esse tipo de cara extremamente legal, sabe? Bonzinho demais. Ele namora Alex, como você poderia imaginar, e eles são um casal dos anos 50 preso no século vinte e um. O namorado da Cherry, Josh, também é um dos meus melhores amigos, e ele é bem a versão masculina dela, com todas aquelas roupas pretas e cabelos esquisitos e a banda de rock dele. Até hoje eu não entendo o que eles tentam cantar, então Josh parou de me chamar pros shows. E tem Harry, ele está na faculdade e agora já não o vejo com mais tanta frequência, mas ele é quase meu irmão. Me ajudou bastante uns anos atrás, quando tinha mais noção das coisas do que eu, e é o único cara que eu conheço que lê Jane Austen.
- Você parece estar segura, então. - ele concluiu, sorrindo. Uma onda mais forte cobriu nossos pés, e eu o observei antes de perguntar:
- Como assim?
- Queria saber sobre você. Quer dizer, tinha me preocupado. Mas você está cercada de gente que gosta de você, então está tudo bem. - eu apenas assenti, maravilhada por alguns instantes por ele ser tão incrível. Então o empurrei de leve e falei:
- Sua vez agora. - ele disse "Oh" e pareceu pensar por alguns segundos.
- Bom, eu tenho passado bastante tempo com Kristen. Sabe, por causa da divulgação do filme e tudo mais. Ela é ótima, bem menos estranha do que parece na tevê. Ela gosta de bandas de rock que eu acho ruins e sempre analisa demais as coisas. E aí tem Rob, com quem eu passo um certo tempo também. Ele é um cara legal, com um senso de humor bem... Bom, britânico, eu acho. E ele e Kristen têm alguma coisa que eu ainda não consegui entender. Mas, vamos lá, eu também não me esforço pra perceber quão vela eu estou sendo. - sorri enquanto o ouvia falar, despreocupadamente.
- E aí tem meus amigos de antes disso tudo: John, que eu conheço há uns quinze anos. Ele é alto demais, joga basquete e provavelmente vai conseguir uma bolsa para alguma faculdade grande; ele gosta de hip hop e está sempre falando gírias que eu demoro a entender, de vez em quando. Nick, que curte andar de skate, e é uma menina apesar de parecer um menino. O nome dela é Nicole, mas ela não te responde se você chamar por Nicole. Sempre achei que ela fosse acabar namorando Mike, um amigo nosso que acabou viajando para a Inglaterra. E Kyra e Eric. Eles são irmãos gêmeos, bem parecidos quanto a personalidade, até. Kyra gosta de números, e é viciada em coisas de horóscopo. A primeira coisa que ela pergunta pra você é qual é o seu signo, e aí ela começa a descrever um monte de coisas que nenhum de nós dá muita atenção; Eric diz que ela vai virar cigana e que ela vai acabar morando o porão da casa dele. Eric é engraçado, o único cara que eu conheço que pensa em casa e ter uma família aos dezoito anos.
Estava começando a escurecer, o céu claro estava se tornando escuro.
- Você parece bem também. - disse, sorrindo. Ele provavelmente não tinha percebido, mas sua voz tinha ficado mais amena quando ele começara a falar de seus amigos, do que lhe era próximo. Nós dois giramos e começamos a voltar, depois de andar um bom pedaço. Segurei sua mão e ele olhou dela, para mim.
- Acha mesmo?
- Acho. - respondi, de volta, na mesma hora. - Você tem me surpreendido.
- Achou que eu fosse uma pilha de merda debaixo de outra pilha de merda, não é? - abri a boca, espantada, mas comecei a rir.
- Não assim. Mas posso ter achado que você não era assim tão... Bom, agradável. - terminei de beber meu frappuccino, e ele se aproximou para me roubar outro beijo. Eu o encarei por um instante, e o beijei outra vez. Não nos separamos logo depois, eu me demorei um pouco olhando-o nos olhos, e ele fez o mesmo. Sorri, de lado, e ele veio me beijar outra vez, arrancando risadas minhas.

Me sentei na cama de casal desconhecida coberta por um edredom branco com detalhes rosas. Atrás dela, havia uma parede totalmente branca. De ambos lados esquerdo e direito, um criado-mudo com um abajur. De frente para mim, ficava uma tevê antiga de talvez vinte polegadas, sobre um frigobar todo branco. Havia um armário de duas portas ao lado direito, perto da porta que dava no banheiro.
Estava num hotel barato e escondido, em alguma ruazinha de Monterey, esperando Taylor terminar de tomar banho. Eu sei quão estranho isso pode soar. Mas eu ainda estava vestida e ele só tinha tirado a roupa lá dentro, no banheiro, com a porta trancada e sem que eu visse, obviamente.
Pela janela, do lado esquerdo, eu podia ver o céu muito escuro (o relógio do meu celular indicava que já passava das nove da noite), e algumas pessoas andavam pelas ruas falando ao celular, sozinhas, acompanhadas. Os carros eram rápidos, podia ouvir algumas buzinas de vez em quando, e via o mar muito ao longe. Apoiei minhas duas mãos no colchão, pensando em que ponto Taylor tinha me convencido de pagar uma noite num hotel e ir embora amanhã cedo. Não sei. Não sei mesmo. Ele tinha certa razão, porque eu não gostava de pegar a estrada de noite, e só chegaríamos a Fresno lá pela uma ou duas da madrugada. Mas, ainda assim, havia tudo aquilo de estar num quarto de hotel com só uma cama de casal, e só eu e ele.
Ele parecia tão tranquilo quanto a esse fato que não sabia dizer se estava ignorando-o, ou se estava tão certo de que não ia acontecer nada, que nem precisava se importar. Eu ouvi o barulho do chuveiro cessar, e fiquei nervosa de repente. Não demorou muito para ele sair do banheiro, usando apenas suas jeans. Seus cabelos estavam molhados e, caramba, ele realmente malhava. O observei pelos instantes em que passava uma toalha pequena e branca nos cabelos, e o encarei quando terminou de secá-los. Ele sorriu.
- Minha vez. - disse, ficando de pé e passando por ele rapidamente. Ele tinha um sorriso divertido no rosto quando tranquei a porta.
Acabei vestindo minhas jeans de volta, mas coloquei apenas uma camiseta justa que usava por baixo da outra antes de sair. Foi entre juntar minhas roupas dobradas e colocar a mão na maçaneta da porta, que pude ouví-lo ao celular.
- Não, pode falar... Em dois dias? Por que....? - longa pausa. Alguém do outro lado da linha explicava alguma coisa, e ele só concordava com Uhums. - Certo, eu sei. Eu sei. Tudo bem. Até mais. - puxei minha mão de volta, afastando-a da maçaneta e deixando meus ombros caírem. Isso provavelmente significava que, agora sim, ele tinha data certa e próxima para ir embora. Dessa vez, eu não tentei analisar como me sentia. Eu já sabia: não gostava, não me sentia bem, não queria que ele fosse. Mas de que adiantaria agora? Eu sabia que isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde. Mordi meu lábio inferior e tentei parecer como se não tivesse ouvido. Sabia que isso não ia dar certo também.
Taylor me observou quando saí do banheiro. Fui direto para o armário, abrindo-o e colocando minhas roupas dobradas lá, ao lado da minha bolsa. Quando o fechei, pousei minhas mãos nas portas fechadas, e fechei os olhos quando senti as mãos deles na minha cintura. Senti sua respiração na minha nunca, e ele beijou o topo da minha cabeça.
- Ana... - me virei, ficando de frente para ele. Suas mãos só se afastaram para que eu pudesse me movimentar, e logo estavam me envolvendo outra vez. Ergui minha cabeça e a encostei no armário, encarando-o com dificuldade. Cruzei meus braços e os forcei contra minha barriga, como eu sempre fazia quando sentia como se pudesse quebrar a qualquer momento. Acho que a última vez que eu me sentira assim fora quando Kyle dissera todas aquelas coisas, e antes disso quando meus pais foram embora.
- Dois dias, então? - perguntei, minha voz baixa. Não precisava falar mais alto, e não queria falar mais alto. Ele assentiu, comprimindo os lábios, sem desviar os olhos dos meus.
- Mas eu volto em duas semanas. É que... Bom, eu tenho uma reunião importante, e não achei que vir pra cá fosse resultar em você, então não planejava ficar tempo demais. - eu soltei uma risada pequena e triste. - Tinha esquecido dessa reunião, mas se você estiver disposta a me esperar... - eu o encarei como se estivesse me perguntando se eu gostava de chocolate. Ele abriu um sorriso pequeno.
Quatorze dias inteirinhos. Quando eu tinha ficado tão sensível?! Eram duas semanas, pelo amor de Deus! Por que eu estava chorando?!
Senti as lágrimas rolarem, e me senti incrivelmente idiota quando Taylor levou suas mãos até meu rosto, usando seus polegares para limpar as lágrimas.
- Ei, ei. Eu vou voltar mais rápido do que você vai perceber. - a voz dele era baixa, um sussurro. Eu sentia o ar quente sair de sua boca no meu ouvido. Se eu não estivesse tão perto dele, talvez não ouvisse. - Desculpa, eu não... - abaixei a cabeça, balançando-a devagar.
- Shh... É bom saber que eu não vou sentir saudade sozinho. - ergui minha cabeça, e procurei seu olhar. Ele tinha os olhos meio vermelhos, mas não ia chorar.
- Juro, antes de você aparecer, eu não era tão frouxa assim. - ele riu, e eu funguei e ri ao mesmo tempo. Estava uma bagunça. Ele me apertou mais contra seu corpo, me beijando no topo da cabeça.
- Vou te ligar todas as noites e torrar sua paciência sempre que der. Eu não achava que podia gostar de alguém assim tão rápido.
- O mesmo aqui. - me coloquei nas pontas dos pés, e alcancei sua boca sem que ele precisasse se abaixar. O beijei, e suspirei no espaço de tempo entre me afastar e beijá-lo outra vez. Ele não deixou que eu me afastasse rápido, dessa vez. Deixou uma mão em meu pescoço, puxando-o em sua direção, e a outra mão foi para minhas costas. Eu o abracei e abri minha boca, depois de ele abrir a sua. Eu não tinha beijado-o tantas vezes, mas sentia como algo tão natural.
Ele me tirou de lá, me guiando com passos tortos até a cama, e eu deixei que ele me deitasse, sentindo seu peso sobre mim um pouco depois. Suas mãos passeavam por debaixo da minha blusa e a erguiam devagar. Eu hesistei um pouco antes de colocar minhas mãos espalmadas peito nu. Só quando seus beijos moveram-se para meu pescoço, e eu percebi que estava quase ultrapassando a tênue linha que separava minhas ações pensadas das impensadas e naturais, foi que eu usei minhas mãos para empurrá-lo. Não tirá-lo de cima de mim, porque eu obviamente não conseguiria, mas numa indicação de que não ia passar dali.
Ele me encarou. Pensei se ele estava irritado, frustrado... Ele era um cara, provavelmente estava. É claro que estava. Mas não demonstrou, só soltou uma risada culpada quando eu sorri de lado para ele, tão culpada quanto.
- Vou comprar alguma coisa pra gente lanchar. - anunciei, sentindo Taylor rolar para o outro lado da cama.
- Precisa tanto sair daqui? Podemos pedir alguma coisa, eles têm... - balancei a cabeça.
- Tudo aqui é muito caro. Vou trazer comida boa e barata. - ele rolou os olhos, mas riu. - Eu já volto. - disse, pegando o casaco dele que ele jogara no criado-mudo, minha carteira, celular e a chave do quarto.
Ele atravessou a cama e me roubou um beijo antes de eu abrir a porta e sair.
Tinha decidido ir andando, embora pudesse poupar uma meia-hora se tivesse com o carro. Eu não queria ser tão rápida assim porque, mesmo que o pensamento óbvio devesse ser o de passar o máximo de tempo possível com ele, ainda precisava de um tempo sozinha para filtrar tudo. Agora, exatamente agora, caminhando por entre pessoas que eu não conhecia, numa rua com lojas numa disposição que não me era familiar, horas distantes das pessoas que eu conhecia, eu queria muito ter contado tudo para Cherry ou Alex. Queria muito poder ligar para uma das duas e dizer apenas "Ele vai embora em dois dias", e que elas compreendessem, sem que eu precisasse explicar tudo, desde sábado. Caramba, sábado. Como eu estava precisando direcionar tanto tempo para pensar em algo tão de repente? Era tão estranho, tão inesperado, e já era tão importante.
Eu poderia ligar para Brian ou Josh, eles sabiam um pouco mais, mas mesmo assim fariam mais perguntas do que me parecia saudável responder, e complicariam mais as coisas... Harry não sabia de nada. Ninguém sabia de nada.
Acabei entrando no McDonald's e comprando dois Big Macs para viagem, com Coca-Cola e batatas-fritas grandes. Depois, entrei numa loja de doces e comprei mais chocolate do que qualquer pessoa recomendaria. Hoje eu não ligava.
Quando estava voltando, meu celular começou a tocar. Atendi.
- Ana! - era Alex. Sorri.
- Oi, Alex.
- Você está em casa? Estou saindo da casa de Brian, pensei em...
- Não, não estou. - respondi, meio rindo, meio com medo do que ela diria.
- Oh. - falou.
- Mas relaxa, amanhã de manhã eu passo pra buscar você e a Cherry.
- Ah, sim! Brian disse que vai aceitar uma carona amanhã de manhã também. - eu concordei.
- Beleza. Fala pra ele ir pra minha casa no mesmo horário de sempre.
- Ok. Hm, Ana?
- Sim?
- Você tá legal? - suspirei. Eu estava tão confusa que Alex tinha percebido pelo telefone ou era só ela, que percebia tudo, mesmo? Para o meu bem, eu preferia acreditar na segunda opção.
- Não muito. - respondi, depois de alguns segundos em silêncio. - Mas não é nada demais. Vou ficar legal.
- Tudo bem. Até amanhã.
- Até. - desliguei e suspirei. Mais alguns cinco minutos e eu estava no hotel.
Taylor estava com a tevê ligada, mas não assistia o filme que passava, porque tinha um revista na altura dos olhos. Era uma revista sobre... Nada, basicamente. Falava sobre gente famosa, tinha fotos e pequenas notas embaixo delas. Eu coloquei a comida comprada no centro da cama, entre nós dois, e ele fechou a revista, a jogou para trás, e aceitou o pacote que eu lhe passei, com hambúrguer, fritas, refrigerante e alguns chocolates.
- Alguma coisa sobre você? - perguntei, indicando a revista com a cabeça. Ele pegou suas fritas e comeu algumas. Olhou na direção da revista e assentiu.
- Tinha uma foto minha lá. - deu de ombros. - Continua sendo estranho. - eu me estiquei para pegar a revista, mas precisei andar sobre a cama para alcançá-la, o que fez Taylor rir por um tempo. Estendi a revista sobre a cama, à nossa frente, e comecei a folheá-la enquanto tomava um gole da minha Coca-Cola. Passei por um monte de fotos de gente que eu conhecia, e de algumas outras que eu não fazia idéia de quem era. Parei quando identifiquei Taylor: era uma foto dele prestes a abrir a porta de seu carro, tinha as chaves nas mãos e usava uma camiseta preta larga e calças da mesma cor, largas também. Estava saindo da academia. Ele parecia cansado, e eu deixei minha cabeça pender para o lado enquanto observava a foto. O Taylor ao meu lado comeu mais batatas, e eu senti seu olhar em mim.
- Você não estava tendo um bom dia. - concluí. Ele pareceu surpreso quando finalmente disse.
- Não podia só estar com sono? - perguntou. Eu balancei a cabeça.
- Não. Você estava tendo um dia ruim. - insisti. - Normalmente, você não fecha o rosto tanto assim. - apontei para suas sobrancelhas nas fotos, e para sua boca. Parecia que ele estava se esforçando para não se estressar com alguém. Totalmente ao contrário da foto, o Taylor que me encarava tinha um sorriso grande, e soltou uma risada quando eu terminei de falar.
- Você é boa. - disse, arrancando uma risada minha. Senti minhas bochechas esquentarem e, logo, era o meu rosto todo. Devia estar bastante vermelha, então me ocupei em arrumar o sanduíche nas minhas mãos. Ele obviamente notou, e eu comecei a falar qualquer coisa sobre ter enfrentado meus medos de palhaço quando havia um Ronald McDonald na loja, numa festa de crianças, quando eu entrara para comprar nossos lanches. Isso engrenou numa discussão inútil sobre circos e, quando fui perceber, já estava quase dormindo com a cabeça apoiada no peito dele, suas mãos nos meus cabelos e a tevê ligada na reprise de algum episódio de One Tree Hill.

No dia seguinte, Taylor dirigiu durante toda a viagem, até chegarmos à Fresno. Eu assumi a direção, depois de ele me acordar com um beijo na testa pela segunda vez no dia, e aí o deixei no hotel e corri para casa, para pelo menos tomar um banho e trocar de roupa. Não tive tempo de tomar café da manhã, e cheguei cinco minutos atrasada na casa de Cherry. Alex aparentemente não contara a ele sobre eu não estar em casa ontem à noite, porque ela apenas me desejou Bom dia e começou a mexer na rádio, como de costume.
Depois da escola, eu corri para deixar as duas em casa e encontrar Taylor. A partir de então, dois dias voaram como eu nunca achei que pudessem voar, e eu me ocupei em levá-lo para conhecer os lugares da cidade, tomar sorvete, visitar o Fresno Art Museum, jogar conversa fora e conhecê-lo um pouco mais. Aprendi sobre como funcionava um set, como ele estudava suas falas, como avaliava os roteiros que recebia, e eu contei como era não saber o que fazer da vida quando se devia estar decidindo isso há um mês, e como eu sempre fazia compras no mesmo mercadinho não muito longe de casa, e contei até sobre Kyle.
Descobri que Taylor gostava de videogame, e isso resultou no último dia dele comigo jogando durante uma tarde toda, em meio a duas caixas de pizza e muito refrigerante. Ele me beijou um monte de vezes, e eu o beijei outras tantas. Mas aí, quando tudo parecia natural, normal, num fluxo certo, ele disse que precisava ir. E antes que eu pudesse perceber e absorver, estava dirigindo até o Aeroporto Internacional Fresno Yosemite, o aeroporto da cidade, às dez da manhã de um dia ensolarado.
Estacionei o carro, e coloquei os óculos escuros quando saí. Taylor fez o mesmo, e andamos até a mala do carro. Eu abri e ele tirou sua bagagem (duas malas) de lá. Quando fechei, ele atravessou o espaço que nos separava e eu percebi que acabava ali.
- É melhor você não entrar comigo. Aeroportos tem muitos fotógrafos. - eu apenas assenti, agradecida pelos óculos retardarem o tempo que ele levaria para me ver quase chorando.
- Certo. Ok. Hã... - engoli em seco, mas tive aquela sensação amarga de que o choro não estava longe. - Me ligue quando chegar. - apoiei minhas mãos em seu peito. Ele apoiou as malas no chão e me abraçou, tão subitamente que me assustou, mas percebi que era do eu precisava quando seus braços se fecharam ao meu redor.
- Vou ligar. - disse, abrindo um sorriso triste, e se afastando um pouco. Então pareceu se lembrar de algo e disse "Oh, peraí!". Eu o observei enquanto abri uma das malas e pegava um CD de dentro dela. Ele me entregou, e explicou: - Para você e seu carro. - sorriu. - Assim nenhum dos dois esquece de mim.
- Sabe, devia ser ao contrário. É mais fácil que você esqueça de mim. - ele balançou a cabeça. Sorriu. Me beijou e disse:
- Não, não é. - eu suspirei, cansada da sensação incômoda que ele ir embora causava e que, eu sabia, não ia passar tão cedo; o abracei outra vez, e o beijei mais uma, antes de finalmente assistí-lo ir embora, depois de me lançar uma última olhada enquanto entrava no aeroporto. Fiquei ali, parada, assistindo-o sumir por entre as pessoas e receber alguns olhares curiosos e mais demorados de algumas outras.
Com o CD nas mãos, entrei no carro e passei alguns muitos minutos observando a letra dele na superfície do CD.

Para você. Suas viagens vão ser mais agradáveis.

Sorri com as frases e, quando tirei o CD da caixa, percebi que havia um papel retangular, de uma textura mais plástica. Tirei de lá, para virá-lo e encontrar uma foto minha e de Taylor. Eu tinha tirado a foto, era no jardim do museu, e eu e ele sorríamos para a câmera. Um dia atrás.

Coloquei o CD no rádio e esperei a primeira música começar. Deixei a foto no banco do carona, e arranquei com o carro. Comecei a dirigir sem exatamente ter rumo.



Capítulo 7 -
Taylor. Taylor Lautner

Eu tinha me esforçado para não me desanimar tanto. Sei que não fazia sentido. Ou fazia. Assim que arrancara com o carro do aeroporto, tinha passado a primeira meia hora me obrigando a lembrar que eu só o conhecia há uma semana. Mas, no fim das contas, isso fazia tanta diferença? Importava mesmo se eu o conhecia há uma semana, um mês, um ano...? Eu sabia que gostava dele, gostava o suficiente para me importar com sua presença. Talvez isso fosse o suficiente, talvez isso fosse o que realmente importava. Que eu sentia sua falta algumas horas depois de ele ir embora, e que eu não sabia se tinha gostado ou não quando ele me ligara, um tempo depois, para dizer que tinha chegado em Los Angeles.
Meu celular tinha começado a tocar quando eu estava estacionando o carro para ir à livraria. Olhei para o nome dele piscando no visor por alguns instantes.
- Oi. - disse, depois de atender. Ele soltou uma risada do outro lado.
- Oi. Já cheguei aqui. Desci do avião tem uns minutos. - eu assenti de onde estava, comprimindo meus lábios.
- Bom. Muito bom. Então, hã... A gente se fala à noite?
- Isso. Tenho umas coisas pra fazer agora e à noite te ligo.
- Beleza. - concordei, abrindo a porta do carro e pegando minha bolsa.
- O que você tá fazendo? - ele parecia pegar suas malas, pelo barulho.
- Saindo do carro. - disse. - Vou à livraria. - ele riu.
- Certo. Eu te deixei longe dela por muito tempo. - não tinha sido muito tempo, mas deixemos isso para lá. Eu ri também.
- Também acho.
- OK, eu preciso ir agora. Até mais tarde. Beijos. - eu mandei beijos de volta e desligamos.
Fora bom ouvir sua voz, mas não tinha sido tão saudável assim ter que desligar e não saber quando ia ouví-lo outra vez. Balancei a cabeça, tentando voltar ao meu estado razoavelmente tranquilo, antes dele ligar. Comecei a andar em direção à livraria, mesmo que eu já estivesse começando a achar minha idéia meio idiota. Ou bastante.

Não havia quase ninguém na livraria, só dois atendentes e umas quatro pessoas passeando pela seção de lançamentos e a de economia. Não precisei ir muito longe, quando cheguei àquela parte em que os livros Mais Vendidos ficavam, os quatro que eu pretendia comprar já estavam lá, numa exibição orgulhosa da loja. Um cara veio me atender.
Ele tinha cabelos escuros e lisos que caíam sobre seus olhos castanhos, sem fazer parecer que ele não enxergava nada, mas de um jeito bonitinho. Usava uma camiseta branca com estampas coloridas por baixo do avental da livraria, e seus pés estavam enfiados em all star mais sujos que os de Cherry ou Josh.
- Bom dia. - ele disse. - E aí, posso ajudar? - eu assenti, pegando os quatro livros de uma vez.
- Vou levar esses. - ele riu.
- Eu devia ter imaginado. - pareceu um tanto quanto desapontado, e começou a andar em direção ao balcão. Eu o segui, enquanto procurava meu cartão na bolsa.
- Eles são ruins? - perguntei, me fazendo de desentendida, quando o cara colocou os quatro livros sobre o tampo de vidro e deu a volta para começar a anotar alguma coisa em papéis. Ele parou para me encarar e dar de ombros.
- Acho que você vai ter que ler pra descobrir. - que ignorante. Credo. Ele então soltou uma risada pelo nariz e balançou a cabeça. Parou de escrever outra vez e, apoiando as duas mãos no balcão, me encarou. - Certo, desculpe.
- Tudo bem, todo mundo tem dias ruins. - falei. Eu estava num deles, por exemplo. Mas mesmo assim não estava dando patada nos outros. Ele pareceu desistir de continuar a falar quando me ouviu, e eu estendi o cartão de crédito. Ele passou na máquina e, enquanto aquela coisa lerda processava, olhou para mim outra vez.
- Então, ... - ele tinha olhado meu nome no cartão. Olhei para o crachá que ele usava. Jared. - Você está tendo um dia ruim?
- Ah, qual é, Jared... - minha voz era irônica e baixa. Sorri. - Você não quer fazer meu dia pior, quer? - o recibo pulou da máquina, e aceitei quando ele me entregou o segundo. Peguei os livros. - Obrigada.
- Ei, pode passar aqui quando não estiver em um dia ruim. - ele falou mais alto, quando eu estava quase na porta. Não me dei ao trabalho de respondê-lo.

O CD de Taylor se repetia no carro, e eu adorava cada música. Agora New Radicals tinha começado a tocar.
Parei o carro em um sinal fechado, passando pela milésima vez em frente ao shopping. Eu estava começando a achar aquela cidade pequena demais para minha pequena primeira crise. Merda. Olhei o horário no meu celular e, quando o sinal abriu e eu andei com o carro, percebi que era mais ou menos o horário em que saímos da escola. Respirei fundo, percebendo que eu estava precisando de Cherry e Alex.
Quer dizer, pensava, enquanto pegava um caminho mais curto para a escola, eu tinha aturado todas as crises de Cherry quanto à Josh, e todas as crises de Alex quanto à Brian. E até as crises de Brian e Josh. Eu tinha crédito o suficiente para fazê-los me aturarem.
E eu também não queria virar uma daquelas garotas esquisitas que dependem de um cara para viver. Eu nunca tinha sido assim, não ia passar a ser de uma semana para outra.
Não sabia quanto tempo teria que perder convencendo as duas de que Taylor era mesmo Taylor Lautner. Mas então olhei para a foto do banco do carona, e percebi que aquilo ia poupar uma meia hora de conversa. Mais dez minutos e muitas ruas e sinais milagrosamente abertos, eu entrei com o carro no estacionamento. Fiquei lá mais uns cinco minutos esperando o sinal tocar. Nesse meio tempo, peguei a foto e a coloquei bem em frente aos meus olhos, observando como dava para ver uma ponta da mão dele em minha cintura, me abraçando. O Sol batia um pouco abaixo dos nossos rostos, e o sorriso dele era grande e bonito como eu sabia ser. Meus cabelos estavam um pouco bagunçados pelo vento, e os dele meio amassados. Ele usava uma camiseta cinza-clara com uma estampa nas cores azul, branco e vermelho, fazendo alguma referência à bandeira do país, e eu usava uma blusa tomara que caia, rosa e branca.
Quando o sinal tocou, guardei a foto na minha bolsa e desliguei o rádio, saltando do carro e me apoiando nele, de frente para a saída.
Demorou só alguns minutos para ver Alex e Cherry com Brian e Josh. Os quatro conversando sobre alguma coisa que fazia Cherry rir, Josh fazer uma careta e Alex e Brian parecerem irritados. Mas todos sorriram igualmente quando me viram, e eu acenei para eles. Abri um meio sorriso, porque não dava para abrir um sorrisão ainda.
- Achei que fosse precisar arrombar sua casa hoje. - resmungou Brian, e me abraçou. Ele me lançou um daqueles olhares de "É bom você me contar tudo direitinho" e eu fingi que não vi, aceitando o abraço de Alex, e depois Cherry e por fim, Josh. Enfiei as mãos nos bolsos de trás das jeans, e novamente estava agradecida pelos meus óculos escuros esconderem minha cara de idiota. Eu sabia que estava inchada e parecendo uma maluca com aqueles olhos meio vermelhos.
- Então? - perguntou Josh. Eu desisti de começar qualquer pequena conversa, sobre como tinha sido a aula e o que eu tinha perdido. Tinha percebido também que não ia haver intervalos, eu ia contar para todos os quatro a história toda de uma vez. De um ponto de vista, era até mais fácil. Mas, de outro, eram quatro pessoas me julgando de uma vez.
Pensei em Harry, mas ele era um caso à parte. Imaginava o que ele ia achar, e estremeci a idéia de ele surtar comigo na frente de todo mundo. Eu preferia falar com ele sozinha.
- Querem ir lá pra casa? - perguntei, abrindo um sorriso pequeno. Todos eles concordaram, talvez percebendo que eu só ia falar disso lá. Todos entraram no carro, depois de Josh falar com os caras que ele costumava pegar carona que não ia com eles hoje, e dirigi para casa deixando Alex tomar conta da conversa por divagando sobre a prova que a professora de Literatura marcara.

Josh pedira pizza. Eu deixara todo mundo se acomodar na sala, avisando que quem fizesse sujeira ia limpar, e fui para a cozinha buscar copos e guardanapos. Me senti esquisita quando abri o lixo para jogar fora a proteção de alumínio do vidro de ketchup que eu tinha aberto, e notei um monte de embalagem das besteiras que eu e Taylor tínhamos comido quando ele passara a tarde jogando videgame comigo. Percebi que todas as lembranças pequenas iam aparecer e me dar pequenas pontadas de tristeza misturada com uma certa nostalgia, sempre que aparecessem. Acho que ia ter que aprender a conviver com elas.
Voltei para a sala com copos de plástico e os coloquei sobre a mesa. Fui na cozinha e voltei com ketchup, mostarda e guardanapos. Brian tinha ligado o rádio da tv a cabo e agora tocava uma música que eu já tinha ouvido antes, mas não sabia de quem era. Ele abaixou o volume quando me sentei no chão. Estava sentada de frente para todos eles.
- Então, vai funcionar como? A gente faz perguntas ou você vai contar tudo de uma vez? - jogou Cherry. Alex arregalou os olhos e abriu a boca, acertando um tapa no braço da outra.
- Cherry! Não se pergunta as coisas assim. Não deu pra ver que ela não...
- Ele foi embora hoje de manhã. Eu o deixei no aeroporto. - respondi de uma vez, pegando o primeiro pedaço de pizza da caixa que Josh acabara de abrir. Alex continuou surpresa, mas moveu seus olhos para mim. Na verdade, todos eles o fizeram. - Eu vou começar do começo. - disse, encarando Cherry. Ela abriu um sorriso agradecido. - percebi, quando comecei a falar, que era minha chance de rever tudo com calma e realmente pensar no que tinha acontecido, fora do furacão em que estava desde sábado.
"Eu o conheci no shopping. Quando fui com vocês lá, no sábado. Sabe, quando cansei de fazer compras e fui até a Starbucks" pulei a parte em que Cherry e Alex tinham ficado na loja por causa do vendedor bonitão. As duas pareceram agradecidas. "Tinha acabado de comprar meu frappuccino. Estava pronta para, sei lá, andar um pouco ou ir para a livraria. Mas aí..." me peguei rindo sozinha, encarando a pizza nas minhas mãos enquanto minha mente voava para aquele dia. "Ele esbarrou em mim. Derrubou todo o frappuccino na minha blusa. E então eu disse que tudo bem, com muita vontade de sair dali pra todo mundo parar de olhar pra gente, e fui direito para o banheiro colocar qualquer uma das blusas que tinha acabado de comprar. Quando eu saí, de roupa trocada, ele estava do lado de fora do banheiro. E me convenceu a ir até a Starbucks de novo. Ele me comprou outro frappuccino e a gente conversou" Alex e Cherry tinham expressões interessadas nos rostos, como assistindo a um filme. Josh e Brian apenas ouviam, sem nenhuma expressão que eu pudesse decifrar. "Então Brian me ligou e pediu que eu levasse Alex para a casa dele. Taylor anotou o telefone do hotel em que estava e seu celular na minha mão, e eu dei meu celular para ele. Mais tarde, ele me ligou e a gente combinou de sair no dia seguinte" percebi que tinha deixado escapar o nome dele, mas isso não pareceu assustar nenhum deles. Claro, Taylor não era a única pessoa no mundo com esse nome. "Fomos ao boliche, e ele me beijou. E fomos ao parque, e ele me comprou um algodão-doce e me beijou de novo... E eu cheguei em casa para ouvir uma mensagem dele, perguntando se eu tinha chegado bem. Liguei de volta e acabei dormindo enquanto conversava com ele" Alex soltou "Aaaw" e Brian até abriu um sorriso. Eu percebia como minha voz ficava mais difícil de sair, mais baixa e mais contente também. "No dia seguinte, acabei no quarto de hotel dele. Conversamos por horas, e então pegamos o carro e ele me levou para Monterey. Andamos na praia, fomos à Starbucks, acabamos dormindo no quarto de hotel de um dia para o outro... Nada demais aconteceu, mas..." agora, eu já não exatamente via as quatro pessoas me observando atentamente enquanto eu falava sem parar. Não era como se eu estivesse contando algo para elas, mas como se eu estivesse concluindo as coisas para mim. "Foi diferente. Foi bom. Eu não tenho esse tipo de conexão com ninguém. Ou não tinha. Eu só conheço o cara há quase uma semana e as coisas parecem se encaixar com ele de um jeito tão..." suspirei e balancei a cabeça. Voltei meu olhar para eles. "Sei como deve parecer estranho. Mas, em Monterey, ele me disse que só ia ficar por mais dois dias. Passamos os dois dias juntos, e hoje quando eu tive que deixá-lo lá... Ugh"
- Ah, ... - Alex murmurou, chorosa. Ela correu para o meu lado e me abraçou de lado.
- Não, tudo bem... - murmurei, abrindo um sorriso quando ela me fez encostar a cabeça em seu ombro. Alex era tão preocupada com todo mundo. Respirei fundo e passei as mãos pelo meu rosto, descendo-as para meu pescoço. - Tem... Tem mais uma coisa. Talvez isso seja um pouco complicado. Josh, pode pegar minha bolsa ali na mesa?
Josh ficou de pé e andou até a mesa. Pegou minha bolsa e me entregou, sorrindo quando eu o olhei.
- OK. Hm. Isso vai parecer, hã... - desisti de tentar falar e me encolhi em silêncio. Suspirei.
Abri a bolsa e tirei a foto de lá.
- Taylor! - Alex pareceu se lembrar do nome dele. - Taylor Lautner. - ela se afastou de mim com os olhos arregalados, e a foto na mão. Brian franziu a testa, Josh pareceu se esforçar para entender o efeito que o nome causara, e Cherry soltara um grito agudo.
- É quem eu tô pensando que é?!
- E ela escondeu o menino da gente!
- Quem é esse garoto, pelo amor de Deus?! - a foto chegou em Josh, e ele a encarou por alguns segundos até prender a respiração audivelmente e me encarar de volta, meio incrédulo, eu acho.
Deixei meus ombros caírem e abri um pequeno sorriso.
- Disse que era complicado. - me defendi, pegando mais um pedaço de pizza.
- Como você conseguiu fazer isso? Quer dizer, você não deve nem ter reconhecido dele. Do jeito que é...
- Ei! - ri de Cherry, mas protestei. - Claro que eu o reconheci. Tudo bem, posso ter demorado pra reconhecer... Mas lembrei quem era. - Josh riu e, comendo outro pedaço de sua pizza, perguntou:
- E desde quando você sai com caras assim, do nada? - o tom de voz dele era divertido, e eu me assustei quando ri de sua pergunta. Mas percebi que era assim que funcionava com eles. Iam, de alguma forma que eu não ia perceber, me fazer rir e discutir as coisas com um sorriso agradável no rosto. Tinham feito isso quando meus pais foram embora e passamos horas discutindo o que fazer com uma casa grnade demais pra uma pessoa só.
- Não sei. Tem alguma coisa nele que...
- É. Tem mesmo. Músculos!
- Alex! - eu, Cherry e Brian falamos ao mesmo tempo, e Alex ergueu as mãos na defensiva. Josh tinha uma crise de risos.
- Também tem isso. - concordei.
- Você viu? - ela perguntou de volta, parecendo uma adolescente de doze anos falando dos Backstreet Boys. - Quer dizer, viu ao vivo? Tipo, encostou neles?
- Meu Deus! - Brian escondeu o rosto nas mãos. Cherry e Josh riam. Eu ergui as sobrancelhas, pensando na resposta.
- Aham. - disse, de uma vez. - Para as três perguntas.
- Caraca! - Josh me entregou a foto de volta. Eu a coloquei na bolsa.
- A gente vai mesmo discutir os músculos do cara? - resmungou Brian. Eu dei de ombros.
- Não tenho nada pra discutir. - rindo, ganhei um tapa de Alex na cabeça e o um soco de Josh no braço.
Passamos uma tarde inteira rindo da situação, e eu acabei me saindo melhor do que achava. De vez em quando, sentia meu estômago despencar e tudo que eu podia pensar era que queria Taylor comigo, mas Brian, Alex, Cherry ou Josh puxavam algum assuntou ou piada antes que eu pudesse pensar demais nele.

Juntei as caixas de pizza e as dobrei, enfiando-as no lixo. Já passava das nove da noite, e só Cherry e Alex ainda não tinham ido embora. Josh tinha ido encontrar com os pais de Cherry, falar quaquer coisa sobre alguma banda que devia ter ido à gravadora, e Brian tinha ido para a casa depois de Alex insistir que já iria até lá também. Quando eu ergui minha cabeça e olhei para a pia, procurando mais alguma coisa para jogar fora, dei de cara com Cherry amassando um pacote vazio de guardanapos. Ela o jogou fora e Alex, disse, da porta da cozinha:
- Pronto, tudo arrumado. Será que pode conversar com a gente agora?
- Já contei tudo pra vocês. - dei de ombros. Abri a geladeira, tirei uma latinha de Coca-Cola de lá e me sentei no chão, me apoiando na geladeira fechada. Cherry se sentou de um lado meu, Alex de outro. Abri a latinha e tomei um gole.
- Mas não dá pra falar sério com Brian e Josh. Quer dizer, como você tá?
- Eu tô bem. Mesmo. - disse, insistindo quando nenhuma das duas acreditou muito em mim. - Não tão bem, mas não vou ficar deprimida, nem nada. Ele volta em duas semanas.
- Ele parece legal. - incentivou Cherry. Sorri para ela, concordando.
- Ele é. - arranquei o anel da latinha e o girei entre meus dedos. - Bem mais do que eu achava que fosse ser também.
- Por que demorou tanto para contar? - ela perguntou, e eu balancei a cabeça, observando o anel entre meus dedos. Suspirei.
- Eu não sei. Eu fiquei com medo de falar sobre isso e estragar tudo, sabe? Era uma situação tão irreal. Conhecê-lo daquele jeito, começar a gostar dele, contar um monte de coisas que eu não costumava nem conseguir pensar sobre... Eu me arrependi de não ter dito nada no dia em que ele me disse que ia embora. Queria ligar pra alguém e só dizer o que tinha acontecido, mas nenhum de vocês ia entender qual era o grande problema, porque nem sabiam como tinha começado. Mas, por outro lado, foi estranhamente bom só ter ficado entre nós dois. Eu ficava sempre esperando que a gente fosse acabar tendo que fugir de fotógrafos, mas ele só ria de mim e dizia pra relaxar. Ele parecia saber o que estava fazendo, era sempre divertido ficar com ele. - Cherry e Alex abriram sorrisos, parecendo entender o que eu queria dizer. - Ele não está tão longe, são só umas quatro horas daqui para lá... Mas eu não ia saber como agir se fosse até lá. Com todo esse negócio dele, eu prefiro esperar que ele dê as coordenadas.
- Parece que vocês se gostam bastante, pra uma semana. - Alex comentou.
- Vou te dizer, não parece só uma semana. - ela e Cherry riram, e eu bebi mais da minha Coca-Cola. Então meu celular começou a tocar na sala. Eu fiz menção de me levantar para atender, mas Alex foi mais rápida e voltei com o aparelho tocando e uma expressão muito animada no rosto.
- É ele! - ela gritou, e eu comecei a rir quando ela me entregou o celular.
- Alô? - atendi, animada.
- Hey! - Taylor respondeu do outro lado, e eu quase derreti. - Tudo bom com você?
- Coloca no viva voooz! - Alex interrompeu minha resposta, recebendo um tapa de Cherry. - Ai!
- Tem mais alguém aí? - Taylor perguntou, e eu soltei uma risada divertida.
- Alex e Cherry. Eu contei a elas sobre você, e Alex quer que eu coloque no viva voz para te ouvirem. - imaginei se ele ia reclamar de eu ter contado para mais alguém, mas ele não pareceu ligar. Ele riu e disse "Então coloque", e aí apertei o botão, afastando o celular do meu ouvido e segurando-o entre nós três. - Pronto, pode dizer olá.
- Oi, meninas. - ele falou, e Alex disse "Meu Deus, é ele mesmo!" ao que Cherry respondeu "Claro que é, idiota!" e Taylor riu do outro lado.
- Aliás, obrigada pela foto. Ajudou a fazê-las acreditar. - disse, arrancando risadas dele.
- Que bom que você achou uma utilidade para ela. Porque, claro, só guardar com você ia ser muito inútil. - eu rolei os olhos, rindo também.
- Guarde o drama pra sua atuação, Lautner.
- Achei que você tivesse roubado meu drama pra você.
- Cala a boca.
- Gostou do CD? - soltei outra risada com a mudança repentina de assunto, e pude vê-lo sorrindo do outro lado. Assenti.
- Gostei. Mesmo. Ele já deve ter tocado umas duas vezes hoje. Você estava certo, minhas viagens ficaram um pouco mais agradáveis.
- O que prova que eu estava certo desde o princípio, suas músicas não serviam para dirigir.
- Desculpe, Sr. Trilha Sonora. - nós dois rimos. E então eu percebi que Cherry e Alex tinham parado de falar e gesticular. Elas estavam apenas assistindo minha conversa com Taylor, e bebendo minha Coca-Cola, que eu nem tinha percebido que pegaram. - Então, como foi seu dia hoje?
- Vamos ver... Tive uma reunião sobre uns filmes que eu pretendo fazer. Sabe, ler roteiros e tudo mais. Depois almocei, passei a tarde lendo mais roteiros e agora à noite fui à um jantar para conhecer o diretor do filme novo.
- Uau. Quanto glamour. - ele riu alto, e imaginei que ele tivesse jogado a cabeça para trás e fechado os olhos. Sorri.
- Nem tanto, estou cansado. E você?
- Bom, eu não estou cansada, se foi isso que você perguntou. Mas, se você quer saber, hoje eu fui à livraria, como você bem sabe, comprei alguns livros, depois fui na escola e busquei meus amigos. Eles vieram pra cá, a gente comeu pizza enquanto eu fazia todo mundo acreditar que você era você, e agora estou contando isso para você. Que tal? - ele riu da minha voz divertida.
- Parece ótimo. Pelo menos você pôde comer pizza com as mãos.
- É, essa sensação vale mais do que qualquer jantar chique. Mas pelo menos você pode se vestir bem. Aposto que estava bem vestido. Eu nem troquei de roupa ainda.
- Você pode olhar minhas fotos na internet. Tinha alguns fotógrafos do lado de fora do restaurante...
- Vou colocar no Google. - ele riu.
- E você está muito bonita, se quer saber. Eu lembro da roupa que usava pela manhã, e estava linda. - Cherry e Alex se manifestaram com "Aaaws" e eu senti meu rosto todo esquentar.
- Taylor! - reclamei, levando uma mão ao rosto.
- Ah, o que é?! É verdade!
- Estou desligaaando! - ele riu bastante, e então aproximei o telefone de mim.
- Tudo bem, você tem que dormir. Já bagunçei demais seu horário de aula.
- Isso é verdade...
- Amanhã eu te ligo, ok?
- Certo. Até amanhã. Boa noite.
- Beijos. - respondi, e desliguei.
Alex e Cherry abriram largos sorrisos quando eu finalmente as encarei, depois de assistir meu celular anunciar a chamada como encerrada. Rolei os olhos.
- O quê? - resmunguei, mas logo estava rindo. As duas deram de ombros.
- Nada, nada... - mostrei a língua para as duas, me sentindo envergonhada, e fiquei de pé.
- Eu vou pra casa de Brian. - Alex anunciou, ficando de pé também. Cherry aproveitou e disse que ia para casa.

Levei as duas até a porta e elas foram embora, me deixando sozinha outra vez. Primeiro, me deixei ficar alguns minutos em silêncio. O dia tinha sido cheio, em termos de contar coisas para amigos e manter relações. A conversa com Taylor voltou para minha mente e eu sorri, lembrando. Acabei tomando banho e me deitando para dormir mais cedo do que eu imaginava. Então lembrei dos livros.
Fiquei de pé outra vez, me desvencilhando dos cobertores, e andei até minha mesa, onde eu largara os livros na sacola. Tirei o primeiro deles e analisei a capa. Eram duas mãos segurando uma maçã, "Crepúsculo". Nunca tinha exatamente me interessado, mas... Vamos lá. Eu já tinha tudo mudado mesmo.


Capítulo 8 -
Amigos antigos, amigos novos...

(Também pediram uma foto de quem seria o Jared, e sugeriram o Jared Padalecki... Eu curti e cliquem aqui para ver o Jared!)
Uma semana tinha se passado, desde que Taylor tinha ido embora. Do lado de fora da janela do meu quarto, podia ver o Sol alto, atravessando o vidro e me esquentando. Ventava, e eu ouvia o som das folhas das árvores se mexendo, misturado à música baixa que tocava no meu computador. Ele estava com a tela desligada, só funcionado como rádio no momento, já que eu tinha dois livros abertos no lugar onde ficava o teclado, e um caderno aberto no meu colo, mais rabiscado de desenhos aleatórios do que com conteúdo de prova. Eu não tinha prova amanhã, e nem depois de amanhã e, na verdade, não realmente precisava estudar, mas o tédio estava me deixando louca a tal ponto.
Ao contrário de mim, Cherry tinha algo para fazer, como se agarrar com Josh em algum lugar. Também ao contrário de mim, Alex estava ocupada realmente estudando, e Brian estava com seu pai. Eram três da tarde. Bufei, assistindo uma mecha do meu cabelo levantar e cair na minha cara novamente, com minha respiração irritada. Eu queria ligar para Harry, mas o celular dele estava desligado, e minha vontade de ter que falar com Kyle era mínima, caso ele atendesse o telefone de casa. Isso logo excluía a possibilidade de eu ir até a casa deles.
Encarei um dos livros de novo. Comecei a ler o primeiro parágrafo - percebi na terceira linha que já tinha lido esse -, pulei para o segundo... Ah, caramba. Com um suspiro desistente, eu tirei o caderno do meu colo e o joguei sobre a mesa, ouvindo um lápis rolar com o baque e cair no chão. Peguei a extensão do fixo, do lado da minha cama, e disquei o número que eu já tinha decorada da casa de Harry.
- Fala. - ah, graças a Deus.
- Harry! - respondi, animada. Harry riu.
- , querida, quanto tempo!
- Tá ocupado?
- Depende do que você entende como ocupado. Estava obrigando Kyle a arrumar a bagunça que ele deixou na sala ontem e agora estou ocupadíssimo, veja só, jogando Pacman.
- Pacman! Por que você nem me chamou? - fingi decepção, e ele riu. Ouvi um barulho de porta fechando, e logo depois ele suspirou, aparentemente deitando em algum lugar. Ele devia estar no quarto.
- Porque você tem estado meio desanimada esses dias. Achei que fosse me mandar à merda.
- Desanimada não é igual a estressada. Mas, verdade, eu talvez não tivesse ido uns dias atrás. Mas hoje eu estou no ápice do meu tédio. Pode, por favor, me convidar? - ri, abracei uma almofada e encostei minha cabeça nela, esperando a piadinha dele.
- Ah, e agora você recorre ao grande Grants aqui?
- Grande Grants?
- É. Kyle é o pequeno. - não contive a risada.
- Certo, Grande Grants. Agora estou recorrendo à você. Pelo amor...
- Tá bom. Me encontre na sorveteria em quinze minutos, beleza?
- Por isso que eu te amo. Tá bom, te vejo lá!
- Também te amo, pirralha. Beijos.
Saltei da cama pensando em como Harry parecia feliz. Talvez ele tivesse finalmente falado com Scarlett. Na última semana que passara, ele não falara muito dela e, francamente, eu também não dera muito espaço. Depois que contara sobre Taylor, ele perdeu alguns dias verificando a história comigo, e eu acabei falando mais sobre isso com ele do que com os outros. Depois, como ele mesmo dissera, eu entrei numa espécie de desânimo misturada a mau humor que durou uns dias e fez com que nem eu me suportasse mais. Acabar sem ninguém numa tarde ensolarada e tediosa pareceu ser o que eu precisava para largar de ser tão irritante.
Abri meu armário e acabei escolhendo um vestido que tinha as costas abertas e fechava no pescoço, com um laço que passava em um x no meu colo. Ele era estampado, e combinou com a sandália creme e a bolsa de mesma cor que eu escolhi. Dei um jeito no cabelo e fiz uma maquiagem rápida. Caí no carro faltando vinte minutos para encontrar Harry, e cheguei na sorveteria exatamente quinze minutos desde que ele estabelecera o tempo. Eu me orgulhava de vez em quando da minha pontualidade.

Entrei na sorveteria e escolhi uma mesa próxima à janela. Tom, um garoto da minha turma de Biologia, veio me atender e me entregou o menu plastificado. Aí ele me observou direito e colocou a caneta nas mãos, quase encostando no bloquinho. Ele sorriu.
- Chocolate, certo? Sundae de chocolate, com cobertura de chocolate e nozes? - eu ri, assentindo.
- Eu realmente passo tanto tempo aqui? - ele deu de ombros, rindo.
- Harry está vindo? - assenti. - Então um sundae de creme com cobertura de caramelo.
- Ou você é muito bom, ou eu e ele não temos vida além do sorvete.
- Vai ver são os dois. - Tom concluiu, aos risos, e foi para o balcão entregar o pedido. Ele tinha um monte de sardas e o cabelo era vermelho natural; era muito magro e não tão alto. De vez em quando o via andando de skate pelo centro da cidade. Ele tinha uma namorada, acho que nome dela era Georgia, ela era de uma série abaixo da nossa. Ele era um cara legal.
Dez minutos depois, Tom voltou com os sundaes e Harry estava entrando na sorveteria. Ao contrário do que as pessoas costumavam fazer, ele não precisou parar para procurar nossa mesa - foi direto para a que eu estava, próxima à janela.
Tudo bem, aqui estava um fato: eu e Harry fugíamos para aquela sorveteria há uns muitos anos. Nunca chamávamos ninguém e, com o tempo, acabou realmente sendo só eu e ele. Quando ele começou a faculdade, eu continuei a ir sozinha, e passava algumas horas lendo ou estudando na mesma mesa de sempre.
- Pontualidade é uma virtude. Realmente. - impliquei, quando Harry se sentou na minha frente. Ele fez uma careta, virou-se para Tom com um sorriso e disse "Valeu, cara". Tom riu de nós dois e, depois de eu agradecer também, ele foi atender outra mesa.
Harry usava uma camiseta azul-clara, bermudas xadrez e tênis brancos. Mas havia uma diferença incrível em seu rosto. Arregalei os olhos quando os movi do meu sundae para ele.
- Harry! O que você fez com seu cabelo?! - ele riu, passou a mão esquerda pelos fios claros e baixos, como que confirmando a mudança. Deu de ombros.
- Achei que uma mudança iria bem. - explicou. Então abriu um sorriso travesso e completou: - Scarlett também achou.
- Ah! Você falou com ela? - acho que dei um pulo na minha cadeira, tão animada. Algumas pessoas me lançaram olhares, e eu levei as duas mãos a boca. Harry riu alto. Mostrei a língua para ele e me ajeitei na cadeira, me certificando de que tinham parado de me olhar, e cruzei as pernas. - Então, me conte.
- Tá bom. Eu fui até a casa dela. Em Nova York. - ele começou a contar, animado. - Ela mora sozinha, mas ela me deu uma cópia da chave do apartamento, então eu entrei. E já que ela ia demorar, eu resolvi preparar um jantar pra gente. Fiz macarronada, porque era o mais prático, e eu não queria queimar a casa dela comigo no fogão. Mas até que consegui fazer uma comida razoável, e ela ficou meio puta quando me viu, mas consegui convencê-la a me ouvir. que eu tinha agido errado discutindo com ela, como tinha feito. E que eu estava lá pra consertar as coisas, e que eu gostava muito dela. E, bom... - ele respirou fundo, e abriu um sorriso maior. - Aí eu disse a palavra com A.
- Com A?! - arregalei os olhos, mas dessa vez controlei meu tom de voz. - Você a ama! Ah, que lindo, Grants!
- Mas ela não respondeu de volta.
- Oh. - me encolhi e peguei meu sundae, enfiando outra colherada na boca. Ele ainda sorria, então eu estava esperando o desfecho feliz da história. Ele riu.
- Fingi que não tinha me afetado. Eu dizer que a amava e ela me largar na sala e bater a porta do quarto. Mas um pouco depois ela saiu de lá, e eu já tinha servido o jantar e estava esperando ela aparecer. Ela me chamou de teimoso, mas consegui arrancar umas risadas dela. E duas horas depois estávamos devidamente acomodados no sofá, fazendo coisas para maiores de dezoito anos. E, bom, desnecessário dizer que aí ela disse que me amava um monte de vezes. - semicerrei meus olhos e balancei a cabeça, quase rindo.
- Como você consegue fazer tudo parecer pornografia no final das contas?
- Porque virou pornografia. - ele insistiu. Eu rolei os olhos.
- Não necessariamente. Não foi só pornografia. Se fosse só pornografia, você teria chegado lá pra entregar a pizza e ela ia ter montado em você antes de bater a porta.
- Não esquece do diálogo furado. - ele continuou, rindo. Eu ri de volta. Nós éramos duas pessoas esquisitas.
- Mas o que você tá fazendo aqui? Não devia estar com ela, lá? - ele balançou a cabeça.
- Não, ela vai vir passar uns dias aqui. Queria conhecer minha cidade, minha família... - sorri.
- Ah, vou conhecer Scarlett! E ela vai ter que conhecer seu irmão e essa cidade tediosa. Oh, coitada dela.
- Não tão tediosa assim. - ele abaixou a voz, sorrindo de lado. - Tem casos de atores famosos que vem pra cá pegar garotas locais. - peguei o porta-guardanapos e ameacei tacar nele. Harry colocou as mãos sobre a cabeça para se defender, rindo.
- Deixe Taylor fora disso...
- Como ele está, aliás? - torci minha boca, enquanto pensava numa resposta. Lembrei da última conversa que tivera com ele, ao telefone, na noite anterior. Passamos uma hora discutindo séries de tevê, sua importância e personagens. Contei isso a Harry e ele pareceu pensar também. - É, vocês parecem bem.
- Estamos bem. Sei lá. É estranho, eu... - suspirei. Harry comeu seu sundae e me encarou, uma sobrancelha erguida. - Eu não lembro mais direito como é... Sabe, abraçá-lo ou coisas do gênero. Perdi esses detalhes. De vez em quando preciso olhar nossa foto para lembrar exatamente do sorriso dele. Eu não tenho uma imagem clara na minha cabeça, e de vez em quando eu acho que...
- Ei, ei! - Harry levantou as mãos, estendendo-as para mim. - Calma. Você só esteve com o cara por uns dias. Ainda não lembra dele direito. Daqui a um tempo, vai lembrar.
- Vou, né? Ok. Eu tenho surtado.
- Você sempre surta. - terminei meu sundae e apoiei meus braços sobre a mesa. - Além do mais, você pode sempre alugar os filmes dele, ou comprar revistas... A cara dele está em todo lugar.
- Não, não está.
- Sim, está. Sério, você devia ter ido em Nova York. - Harry falou a última frase com um tom mais agudo, fazendo gestos exagerados e parecendo gay. Eu tive um ataque histérico de risos, e ele acabou pedindo a conta antes que eu pudesse me recuperar.

- Vamos mesmo fazer isso?
- Já estamos fazendo.
Ouvia Alex e Cherry discutindo, enquanto eu abria o primeiro DVD e tirava o disco de lá. Observei o nome do filme escrito embaixo de uma foto da tal Bella, com o tal Edwad. Twilight. Coloquei o disco para rodar, e Harry surgiu na sala com dois baldes de pipoca.
- Pior sou eu que vim com vocês. - virei para trás rapidamente, só para me divertir com as expressões das minhas amigas ao verem Harry, com seu novo corte de cabelo mordeninho. As duas estavam era quase derretendo.
Era sábado à tarde. Eu passara a manhã arrumando a casa, já que ela estaria logo de pernas pro ano caso eu adiasse mais um dia. Além de também esperar meus amigos com vida social acordarem para eu me ocupar com eles. Então eu tivera a idéia esquisita e estranhamente agradável de assistir a Twilight e New Moon. Minha certeza de que queria ver Taylor atuando agora, que eu o conhecia, não era muito grande, mas eu não tinha mais nada para fazer, e não falava com ele havia dois dias.
Por alguma razão, ele não tinha me ligado, só mandado mensagens do tipo "Desculpe por não ligar. Boa noite" que mais pareciam mensagens automáticas.
Deixei minha mente viajar e comecei a pensar que ele viajava de cidade em cidade arranjando garotas desocupadas para enrolar quando voltava para Los Angeles, mas aí era viajar demais até pra mim. E eu estava lavando roupa. Eu costumava viaja com todo aquele cheiro de sabão em pó da lavanderia, e tudo aquilo de separar roupas por cores para não manchar. Eu tinha um monte de blusas brancas rosadas por causa disso.
- Valeu, Harry. - eu respondi, rindo, e aceitando um dos potes. Me joguei na ponta de um sofá, Harry, se juntou a mim e eu apoiei meus pés em seu colo. Alex e Cherry ficaram com o outro pote, e se sentaram no tapete, embaixo de nós. Apertei play.
- Ele não aparece muito nesse filme, não é? - perguntei, arrancando risadas de Alex.
- Não... E ele usa peruca o tempo todo. Jacob não é um personagem muito interessante no primeiro livro. - pensei no que Alex acabara de falar. Eu tinha terminado de ler Twilight ontem à noite, às quatro da manhã, com o Sol aparecendo pela minha janela, e nem sinal do meu sono. O livro era interessante, mas eu realmente tinha lido achando que fosse ter muito mais Jacob escrito lá do que realmente tinha. Aí lembrei vagamente de Alex me falar que o primeiro tinha vampiros e o segundo lobos, ou qualquer coisa assim.
Começamos a assistir, e eu instantaneamente sorri e lembrei de Taylor falando sobre usar peruca, quando ele apareceu no filme com um cabelo comprido demais, e bem diferente do Taylor que eu conhecia agora. Era mais magro e tinha feições mais infantis também. Continuava fofo, de qualquer forma. Me deixei afundar no sofá, e cruzei os braços, me encolhendo, enquanto seu rosto, sua voz, seu jeito... Era como lembrar de tudo de uma vez só, e era bom. Eu realmente sentia falta dele, tinha acabado de perceber.
Suspirei, ignorando os olhares que recebi quando ele saiu de cena. Agora Bella estava na escola, e eu me ocupei em lembrar do livro e ver o que eles tinham feito no filme. Acabei me divertindo com as trívias de Alex, e os constantes "Cala a boca" de Cherry. Harry levantou algumas vezes para falar ao celular, e voltava sorrindo e comentando algo que Scarlett dissera.
Na altura em que Twilight acabava, a campainha de casa tocou, e Brian e Josh apareceram perguntando porque eu tinha raptado suas namoradas, enquanto eu explicava que elas tinham vontade própria e estavam lá porque queriam. Assim que os dois chegaram, Harry levantou do sofá e eles foram jogar videgame na tevê do meu quarto. Volta e meia podíamos ouví-los reclamarem ou comemorarem, e eles estavam sempre descendo para pegar mais refrigerante ou pipoca.
- Ok, agora é a hora que você vai se orgulhar de ter escolhido o Taylor pra agarrar. Não o Kyle. - anunciou Alex, quando terminamos de fazer mais pipoca e enchemos nossos copos de Coca-Cola. Eu ergui uma sobrancelha, duvidosa.
- Sabe, não fui eu quem o agarrei. - Cherry riu.
- Claro que não foi. Você não agarra caras. Eles podem até agarrar, se você estiver a fim. - mostrei o dedo do meio para ela, mas ri. Alex colocou o DVD de New Moon para rodar, e nós três nos acomodamos no sofá para assistir.
Tudo bem, o que eu podia dizer?
Taylor era gostoso. Muito gostoso. Eu lembrava da noite no hotel em Monterey, e sorria sozinha, poupando a duas de saberem que ele tinha dormido abraçado comigo, sem camisa. Na verdade, eu mesma tentava não pensar muito nisso, para não ser coberta por calafrios e vontade de voltar algumas dias atrás. Eu também não tinha chegado muito longe em New Moon ainda, então as coisas pararam de parecer ações conhecidas na altura em que Edward ia embora. Eu me permitia rir das piadas e me assustar com as ações dos personagens.
Perguntava de vez em quando o que ia acontecer, e duvidava do que Alex me contava. Concordava com Cherry quando ela dizia que Bella era idiota e discordava quando ela dizia que preferia os vampiros. Estava me divertindo, até.
- Tá brincando que ele vai pular atrás dela! - fiz escândalo, asistindo a cena com Cherry gritando "Tô dizendo, ele é babaca! Deixava ela morrer e fazia um filme só deles!"
- Ia virar Brokeback Mountain. - concluiu Alex. Eu comecei a rir da piada, depois de ver Taylor/Jacob sem camisa, molhado, por cima dela. Cherry rolou os olhos.
- Só estou pedindo um pouco menos de Bella. Só isso. - ergueu as mãos.
- Não faria mal. - concordei. enchi minha mão com mais pipoca, e me estiquei para pegar minha Coca-Cola.
- Sabe outra coisa que não faria mal? - o tom de voz de Cherry me fez tirar os olhos da tevê por um instante, observando minha amiga abrir um sorriso pouco característico dela, porque não era convencido, era mais simpático do que ela jamais seria. Ergui uma sobrancelha.
- O que você quer, Cherry? - ela olhou para Alex, que parou de assistir Taylor/Jacob conversar com Kristen/Bella. Demorou alguns segundos para compreender onde Cherry queria chegar, e soltou "Oh, sim! Hm, não acho que..." eu ergui as mãos e e os ombros. - Ajuda se vocês falarem de uma vez.
- Queremos conhecer Taylor. - disseram. E eu deixei minhas mãos caírem em minhas pernas, meus ombros despencarem. Uni minha sobrancelhas.
- Ah, tá vendo? Ela não quer. - assumiu Alex, mas eu me apressei em balançar a cabeça em negação.
- Não, na verdade parece bom.
- A gente não quer conhecê-lo só porque ele... Bom, você sabe. É que parece que ele vai acabar virando parte do grupo, mesmo que não sempre, então... - sorri, assentindo.
- Entendi aonde vocês querem chegar. Por mim tudo bem, quero que vocês o conheçam também. Acho que vão gostar dele. - as duas sorriram e me abraçam. Caímos na risada.
- Nossa e um cara bonito, gostoso e famoso. Sempre soube que ela sabia o que estava fazendo. - Cherry disse, e eu arremessei uma almofada na cara dela.

Troquei minhas jeans por uma saia, e minha blusa velha e larga por uma de alça, mais justa. Calcei sandálias, peguei uma jaqueta preta, bolsa e desci as escadas de casa. Estava vazia e organizada, bem o contrário do que eu esperava encontrar. Estava esperando pipocas espalhadas pelo chão, embalagens de doces e copos largados pelos cantos. Mas todos meus amigos tinham se preocupado em manter a casa limpa, e eu joguei minha bolsa sobre a mesa com um pequeno sorriso no rosto. Tirei meu celular de lá, e disse para mim mesma que só queria saber a hora, mas eu realmente estava era esperando qualquer sinal de Taylor. Eram oito e meia da noite, e ele mandara uma mensagem às seis e meia com um foto dele segurando uma xícara de café em uma mão, e um monte de papéis já meio amassados na outra. Eu tinha respondido com uma foto minha sorrindo exageradamente, na sala com um pote de pipocas nas mãos. Tirei a foto bem na hora em que Alex e Cherry tinham subido para ver Brian e Josh, e ele respondera na mesma hora com um smiley sorridente.

Tudo bem se eu disse que estou com saudades?

Ele mandara a mensagem enquanto eu jogava qualquer distração no celular. Me assustei, precisando parar o jogo e apertar botões rápido demais. Abri a mensagem outra vez e reli.

Eu também. Muitas saudades.

Suspirei quando enviei a mensagem, e depois de alguns segundos joguei o celular na bolsa e saí. Eu ia me atrasar se continuasse ali. Quando eu tinha virado tão dependendo do celular mesmo?

Estacionei meu carro em frente à casa de Cherry, já desligando-o e cruzando minhas pernas pelos calcanhares, pronta para esperar um bom tempo. Alex tinha ido se arrumar lá também, então era capaz de demorar uma meia hora. Harry tinha passado, de carro, na casa de Brian mais cedo, já com Josh, e eu saí de casa só pra Harry me dizer que eles estavam indo na frente porque iam comer muita mais que a gente e nos esperar significava perder tempo. Era bem verdade o fato de que a gente parava bem antes deles, e nunca tinha paciência para esperá-los.
Não saímos juntos desde que Harry tinha começado a faculdade, e ele parecia ter se dado tão bem com todo mundo mais cedo. Tinha caído muito bem que isso tivesse acontecido enquanto Taylor estava longe e eu precisava de distrações para lidar com essa coisa nova de sentir saudades de alguém que me interessava dessa forma. Um interesse amoroso, por mais tosco que isso pudesse soar.
Meu celular começou a tocar. Eu abaixei o som do carro e puxei o aparelho da minha bolsa.
- Oi! - disse, distraída, porque não tinha tido tempo de olhar o nome no visor. Atendi de uma vez.
- Oi, tá ocupada? - a voz dele me pegou desprevinida, e eu fiquei sem saber o que fazer ou falar por um instante.
- Oh, oi! Caramba, não olhei quem estava ligando. Não, estou parada esperando Cherry e Alex. - mais ou menos acostumada a conversar com ele pelo celular para contar como estavam as coisas, me afundei no banco.
- Ah, você vai sair?
- Estou no carro esperando por elas. Isso pode demorar. - ele riu do outro lado, e eu lembrei de alguma cena dos filmes que eu assistira hoje, vendo-o rir. - Está tudo bem com você?
- Está. - ele respondeu, indiferente. - Nada muito novo. E você?
- Tudo bem. - respondi, dando de ombros.
- Oh, peraí! Na verdade, eu tenho uma novidade. - ele começou, animado, e nós dois rimos. Eu me ajeitei no carro, apoiando meu braço direito no volante.
- Sério? O quê... - não tive tempo de terminar minha pergunta, porque vi Cherry e Alex saindo de casa com sorrisos nos rostos, arrumadas e apressadas. As duas voaram para dentro do carro.
- Eu vou... ?
- Peraí, gente. - pedi para elas pararem de falar e rir, e voltei minha atenção para Taylor. Merda. - Oi. Escuta... Preciso desligar, as meninas chegaram.
- Ah, tudo bem. Me ligue quando chegar e a gente conversa. - sua voz ficou mais baixa e menos animada. Mordi o lábio inferior.
- Tudo bem. Beijos. - ele desligou, e eu arranquei com o carro, tentando me concentrar no que Alex contava e não no silêncio de Taylor. Fiz o retorno e, em pouco tempo, o barulho no meu carro era alto e ininterrupto, e em alguns minutos estávamos na pizzaria. Os meninos estavam em uma mesa grande, e comiam entre risadas e conversas aleatórias.
Volta e meia olhava para meu celular, mas Taylor não tinha mandado mais nenhuma mensagem, nem ligado outra vez. Certo, ele pedira para eu ligar, então eu não devia... Cogitei levantar e ir ao banheiro para ligar para ele, mas teria que falar rápido e não ia adiantar de muita coisa.

Era mais de dez horas quando saímos da pizzaria, e eu logo me vi sozinha. Harry fora embora para ligar para Scarlett, Brian e Alex foram aproveitar o que restava de seu sábado à noite à sós, e eu expulsei Cherry e Josh, aos risos, falando para eles que fizessem o mesmo.
Eu não sabia exatamente como me sentia. Estava bem, não estava prestes à chorar, nem nada do tipo. Mas ao mesmo tempo, não era como se eu me sentisse muito bem. Queria que Taylor estivesse comigo, porque eu sentia sua falta e, sobretudo, sentia falta de como sua presença me deixava feliz. No entanto, ficar sozinha não era uma grande novidade - eu praticava essa ação até muito bem, antes de ele aparecer.
Acho que eu me sentia normal, de certa forma. Era normal andar pelas ruas conhecidas e observar pessoas andando, vivendo suas vidas... Ver rostos conhecidos... Era, então, estranho voltar a essa normalidade depois de experimentar alguns dias de uma vida que eu não sabia ser tão melhor. Talvez não fosse bem assim, talvez alguns dias não pudessem dizer tanto, mas eu sentia que podiam e isso era mais importante. Me sentei num daqueles bancos de madeira, suspirando quando minhas costas encontraram apoio, e busquei o celular na bolsa, depois de cruzar as pernas. Tirei o aparelho de lá e abri a agenda, parando quando o nome de Taylor apareceu, se destacando dos outros. Apertei o botão verde e ouvi chamar, chamar, chamar... Senti meu coração acelerar, senti frio na barriga...
Mas ele não atendeu.
Tínhamos um tempo assim tão ruim? Ele não conseguia falar comigo, eu não conseguia falar com ele...
- Oh, olá! - olhei para trás assustada, depois de quase saltar alguns metros quando uma voz talvez conhecida ecoou, me tirando dos meus pensamentos. Voltei a ouvir os barulhos dos carros e as conversas das outras pessoas.
Era Jared. Jared? É, acho que era o nome dele. O cara da livraria que implicara comigo e minha escolha de livros para adolescentes com vampiros que brilhavam e lobos que não usavam camisas. Ele sorria e estava mais arrumado do que quando eu o vira antes. Agora usava jeans escuras, uma camiseta vermelha e all star pretos. Seus cabelos pareciam, de certa forma, mais claros, assim como seus olhos. Eu não tinha notado, mas eram de um castanho quase mel. Sorri de volta, sem motivos para não fazê-lo.
- Oi, Jared. - respondi, e ele abriu um sorriso maior, dando a volta no banco e se jogando ao meu lado.
- O quê está fazendo aqui, sozinha, à essa hora? - dei de ombros. Normalmente, eu não diria nada e já teria levantado e ido embora. Por alguma razão, eu fiquei e respondi:
- Não quero ir para casa. - dei de ombros. Ele virou a cabeça para o lado, como que considerando a resposta como válida. Tinha um saco de pipocas na mão, e o estendeu para mim. Peguei um pouco. - E você? Também está sozinho. - ele riu, desviando o olhar de mim. Olhou para a rua, e alguns cinco carros passaram até ele responder:
- Digamos que eu também não quero ir para casa. - eu soltei uma risada pequena. Senti o peso do meu celular nas mãos, e o encarei para ver que Taylor não tinha retornado. Meu sorriso desmanchou, e enfiei o aparelho na bolsa sem pensar em tentar ligar outra vez. - E aqueles livros, hein? Arrependida de comprar? - com seu tom de voz irônico me fazendo sorrir um pouco, ponderei a questão. Ele comeu mais pipocas. - Na verdade, não. Não são a melhor coisa do mundo, mas a gente não precisa ler Nietzsche o tempo todo. - ele riu, girando o pescoço para me olhar outra vez. Colocou uma perna sobre a outra, e seu pé batia no chão no ritmo de uma música que a gente conseguia ouvir muito ao longe, provavelmente de alguma festa.
- Alguém que saiba quem é Nietzsche não devia ler esses livros. Não combina.
- Você é um cara de padrões demais, Jared. - ele deu de ombros, sorrindo.
- Se essa é sua primeira impressão...
- Essa é a impressão que você passa, não me culpe.
- E você não me passa nenhuma impressão. Isso me irrita. - uni as sobrancelhas, confusa. Ele rolou os olhos, meio rindo dele mesmo. Com a mão livre, acenou como "Peraí". - Não sei dizer se você vai com a minha cara, ou se você quer que eu levante e vá embora. Pronto, melhor?
Eu estava intrigada com o repentino bom humor dele. Não que eu pudesse me basear na única vez que eu o vira para dizer como era, mas esperava menos. Sorri.
- Pode ficar. - respondi, arrancando uma risada dele. - Se quisesse que você fosse embora, eu provavelmente teria levantado e iria eu mesma.
- Ah, então você é mais das atitudes.
- Só quando estou irritada.
- Você parecia bastante aquele dia. - deixei meus ombros caírem e assenti devagar. Ele pareceu perceber que talvez não tivesse levantado o melhor assunto. Eu lembrei de Taylor, do aerporto, de vê-lo ir embora...
- Eu estava mais para triste e frustrada do que irritada.
- E você foi ler Twilight? Deus, garota! Qual é o seu problema?
- Ei! - ele riu, e eu já estava rindo junto. Ele era engraçado.
- Certo, desculpe. O cara terminou com você ou o quê? - ergui minhas sobrancelhas, levemente surpresa com o excesso de franqueza dele. Jared não parecia afetado de forma alguma.
- Ele não terminou comigo, ele não mora aqui e tinha que ir embora. - me peguei respondendo, mesmo que isso não interessasse a ele essencialmente. Não interessava mesmo, mas eu queria contar, e ele parecia querer ouvir. Assentiu, como se eu tivesse acabado de esclarer tudo para ele.
- E vocês não estão juntos há muito tempo pra você ter se acostumado com isso. - falou, não em um tom pensativo, mas num afirmativo. Eu cruzei os braços e respirei fundo, unindo minhas sobrancelhas. Jared riu da minha expressão.
- E ela, terminou com você? - ele fez uma careta. Me ofereceu mais pipocas e, quando eu aceitei, deixou comigo e esticou os braços, apoiando-os nos joelhos e inclinando seu corpo para frente. Voltou a observar os carros.
- Terminou. Nenhuma história emocionante com despedidas em aeroportos. Só... Bom, só um chute na minha bunda. Ainda não estou andando direito, aliás. - olhou para mim de novo, e eu ri de sua piada.
- Quer eu eu diga que você não deveria se preocupar...? Que vai achar alguém que te mereça? Ou a gente pode deixar as frases prontas de lado? - ele sorriu.
- Vamos lá, diga: "Jared, você é um merda".
- Jared, você é um merda. - repeti a frase pausadamente, como que tentando lembrar como cada palavra soava, e ele ergueu as mãos, rindo.
- Quer mais pipoca? - apontou para o saco de papel amassado nas minhas mãos.
Estranhamente (ou não), eu tive vontade de aceitar o pedido e passar mais tempo com ele. Eu não tinha motivos para não aceitar: era sábado, eu não tinha mais nada para fazer e ele era um cara legal. Mas não pude deixar de sentir que, talvez, isso fosse algo que não devesse estar fazendo, quando tinha Taylor e toda aquela situação que eu não sabia em qual pé estava, mas que gostaria de ver onde ia dar. Mesmo assim, aceitar seu pedido não significava que ele iria atravessar uma linha que não devia. Ele tinha percebido antes mesmo de eu falar que havia mais alguém. Suspirei.
- Eu vou pra casa. - não disse que precisava ir, porque seria mentir. Tínhamos sido francos demais até ali para mentir agora. Ele assentiu, sem sorrir.
- Tudo bem. - fiquei de pé, ajeitei minha saia e minha blusa, e passei a bolsa pelo ombro. Dei um passo, ficando de frente para ele. Jared ergueu a cabeça quando percebeu que tinha parado, e algumas mechas de seu cabelo cobriram seus olhos. Ele as expulsou com um movimento rápido.
- Mas... Você quer uma carona pra casa? - coloquei uma mecha do meu cabelo para trás da orelha, depois de perguntar. Sabia que tinha concluído que não devia ficar, mas não queria ficar sozinha outra vez. Ele sorriu de novo.
- Claro. - ficou de pé e eu indiquei onde meu carro estava. Ele começou a implicar com minhas habilidades de direção, e eu acabei realmente me divertindo.

Quando cheguei em casa, depois de deixar Jared na dele, larguei minha bolsa sobre a mesa e fui beber um copo d'água, como sempre. Tirei minha jaqueta e meus sapatos. Liguei a tevê e passava uma reprise de Friends. Eu sempre assistia Friends quando tinha a chance, então deixei a tevê ligada e subi as escadas com tudo que eu tinha tirado, jogando no chão do quarto. Eu estava cansada demais para arrumar qualquer coisa. Tomei banho e, alguns minutos depois, estava de volta à sala com minhas roupas de dormir e meus cabelos presos em um rabo de cavalo alto.
Foi só quando estava indo em direção à minha bolsa, para pegar meu celular, que notei a luz vermelha piscando em meu telefone, anunciando novas mensagens. Apertei o botão para ouví-las, e fiquei genuinamente feliz quando a única mensagem ecoou pela sala:

Acho que você vai chegar tarde demais para me ligar. De qualquer forma, minha novidade era a de que estou chegando em três dias. O que é menos de uma semana, se você percebeu. Me ligue de volta amanhã. Beijos.



Capítulo 9 -
Parque de Diversões

Prendi meus cabelos em um rabo de cavalo baixo e os puxei para o lado, deixando-os cair sobre meu ombro direito. Passei minhas duas mãos pelas cordas de ferro do balanço e deixei minhas pernas me impulsionarem um pouco, indo para frente e para trás, sem realmente me importar em como estava sujando meus tênis de terra.
- Você vai falar alguma hora? - a voz de Jared se misturou ao som enferrujado que o balanço fazia, e ao do farfalhar das folhas das árvores ao nosso redor, com o vento fraco, no parque da cidade. Sorri de lado, observando-o enfiar as mãos nos bolsos do grande casaco cinza e também balançar as pernas, fazendo seu balanço movimentar-se um pouco.
- Esse parque não está vazio demais para um domingo? - perguntei, fazendo-o olhar para os lados e perceber que estávamos sozinhos num parquinho, em brinquedos de criança, num domingo, às onze da manhã. Jared riu e deu de ombros quando voltou a me encarar.
- Tem um parque de diversões muito mais divertido a alguns minutos daqui. - respondeu, e rolou os olhos quando eu o encarei com a testa franzida. - Eu sei disso porque tenho uma irmã mas nova, tá? Lilly. Antes que você ache que eu tenho a idade mental dela. Ela tem cinco anos.
- E você leva ela ao parque de diversões?
- E dou em cima das garotas que trabalham lá enquanto ela fica rodando naquela roda gigante idiota com meu outro irmão. - ele abriu um sorriso galanteador e piscou um olho, me fazendo rir.
- Isso parece mais com você.
- Me outro irmão se chama James, se você quer saber. Ele tem doze anos.
- Família grande.
- E você? - suspirei. Sempre tinha essa parte.
Eu tinha acordado às sete da manhã, perdido meu sono completamente e entediada. Ficara algumas horas arrumando a casa, mas não tinha muito o que arrumar, então eu basicamente vaguei por ela por algumas horas. Tentei assistir tevê, mas a programação de domingo de manhã sempre foi e sempre vai ser muito ruim.
A verdade era que a mensagem de Taylor ficava tocando na minha cabeça o tempo todo, como um disco arranhado que nunca mudava e que eu não conseguia fazer parar também. Eu tinha ficado incrivelmente feliz assim que terminar de ouvir a mensagem, ligado para Cherry e Alex e ido dormir com um sorriso idiota no rosto, mas quando acordara o outro lado da história toda, o de finalmente vê-lo outra vez, parecia ter me derrubado.
Sabia que não tinha passado tanto tempo assim, mas eu ainda tinha o direito de estar aterrorizada e sinceramente perdida quanto ao que eu devia fazer, não tinha? Meu coração acelerava só de pensar na hora em que ele estaria bem na minha frente, outra vez. Alguma coisa teria mudado? Alguns dias longe teriam mudado alguma coisa nele?
Então eu ligara para Harry, mas ele não me atendera. Cherry e Alex estavam dormindo e Brian não estava em casa. Josh acordou para atender o celular e falar que me ligava mais tarde. Quando eu estava pronta para passar o resto do dia deitada no sofá, lembrei do telefone de Jared. E lá estávamos nós.
Sinceramente, eu não tinha idéia de porque ligar para ele tinha parecido tão simples. Eu não conhecia ele direito, e minha primeira impressão tinha sido de que ele era um babaca.
- Filha única. Não vejo meus pais com muita freqüência. Eles vivem viajando. Eles são piores do que eu quando se trata de lidar com gente, ou um com o outro também - dei de ombros, para parecer que não me importava. Jared semicerrou os olhos, me encarando duvidoso, mas não disse nada. - É até legal, tenho uma casa praticamente só pra mim.
- Você não gosta disso, você não gosta de ficar sozinha. - deixei minhas mãos soltarem das cordas de ferro e caírem no meu colo. A voz tão cheia de certeza dele me deixou desarmada. Ele riu.
- Eu sou tão óbvia assim?
- Não! - ele se apressou, meio risonho. - É que dá pra ver que você tenta se ocupar com qualquer coisa. Você compra livros quando fica sozinha, você sai de casa, fica andando... Desde que não fique em casa sozinha, você parece bem. - levei alguns segundos processando o que ele dissera.
- Como você percebe essas coisas tão rápido? - Jared deu de ombros, sorrindo.
- Eu passo tempo demais naquela livraria, observando as pessoas e imaginando qual deve ser a delas. Sabe? Não tem muito o que fazer.
- E a faculdade? - ele ergueu as sobrancelhas, surpreso. Sorri.
- Também posso supor, não posso? Nunca te vi na minha escola, e só tem uma escola nessa cidade, então você deve estar na faculdade.
- Fresno State. Ciências Sociais. - ele explicou de uma vez, e riu quando eu falei "Ahá!".
Não entendia como Jared podia, agora, parecer tão obviamente simpático. Claro, ele tinha se provado um cara muito mais interessante do que aquele que eu conhecera na livraria - ele era irônico, debochado e um tanto quanto pessimista, mas parecia levar a vida muito bem dentro de todas essas especificações que assumia. Ele fazia com que isso tudo parecesse muito mais simples do que era.
Impulsionei o balanço um pouco mais, dessa vez sentindo o vento bater mais forte contra o meu corpo, e sentindo meus pés saírem do chão. Ouvi a risada de Jared, e sorri junto.
- Você vai me falar porque me trouxe pra cá? - ele falou, mais alto, para eu pudesse ouvir. Sua voz era divertida, mas eu sabia que ele já estava falando sério. Meus pés no chão pararam o balanço, e eu o encarei. Ele jogou algumas mechas para longe dos olhos com a mão.
- Ele me deixou um recado ontem. - disse, finalmente contando isso para alguém sem ser aos berros. Jared franziu a testa e deixou claro que estava esperando a parte que explicava meu não tão excelente humor. Eu bufei e rolei os olhos. Vá lá, eu sabia que nem fazia tanto sentido assim. - Ele vai voltar em três dias. Não uma semana. E pediu para eu ligar pra ele hoje... Ainda não liguei.
- Só vejo isso sendo algo ruim caso você não queira que ele volte. - Jared disse, chutando um bolo de terra para longe. Eu assenti, observando seus tênis sujos e azuis.
- Eu quero que ele volte. Deus, como quero. Eu... - me interrompi e balancei a cabeça, soltando uma risada abafada quando Jared moveu seus olhos em minha direção outra vez. - E se as coisas mudaram, sabe? Eu sei, só estamos longe um do outro há alguns dias, mas e se...
- ...A realidade bateu e ele, ou você, percebeu que não é tão simples assim? - apenas assenti. Era exatamente isso. Jared fez uma careta. - Você tá viajando, . O cara te liga quase todos os dias, ele faz de tudo pra distância não ser tanta, do mesmo jeito que você. Isso com certeza é um sinal de que ele não vai voltar diferente. Quer dizer, provavelmente vai. Provavelmente vai voltar gostando mais de você. - ele riu quando eu abri um sorriso grande e surpreso. - A distância faz essas coisas. Liga pro cara de uma vez.
- Você fala como se soubesse do que está falando. - comentei, me impulsando para fora do balanço com um pulo. Um pouco de terra pulou quando meus tênis encontraram o chão outra vez, e Jared ergueu uma das sobrancelhas, tentando parecer misterioso.
- Eu posso saber, você não sabe.
- Vou saber se você me contar. - abri um sorriso culpado, e ele sorriu de volta. Isso era estranho e bom, como era fácil conversar com ele e contar coisas que eu normalmente ficaria remoendo comigo mesma até alguém me obrigar a contar. Era um fácil diferente, porque Jared não era um amigo antigo que me conhecia bem demais, nem um cara que eu gostava muito e conhecia pouco, era um quase estranho que não pedia muitos detalhes, mas que tinha as frases certas pra me fazer sentir bem. Era estranhamente bom contar as coisas para ele, porque sempre me parecia faltar algum detalhe, como se ele nunca fosse compreender como eu queria que compreendesse. Mas ele compreendia do jeito dele, e esse jeito costumava estar certo.
- Está pronta pra uma história cabulosa? - ele perguntou, se juntando a mim. Enfiei as mãos nos bolsos do meu casaco e assenti, sorrindo.
- Cabulosa é uma palavra tosca. Mas estou pronta, pode começar. - ele rolou os olhos, mas não retrucou. Empurrou seu balanço vazio, deixando o brinquedo parecer fantasma, e então começamos a andar.
Pegamos uma das ruas por onde as pessoas costumavam caminhar, e algumas delas começaram a aparecer, em suas roupas de ginástica e iPods tocando alguma coisa pelos seus fones brancos. Jared fez careta quando as viu.
- Sabe quando eu vou conseguir acordar cedo pra correr? Nunca.
- Não é cedo, Jared. … quase meio-dia! - ele deu de ombros, demorando seu olhar em uma mulher que usava só uma calça e um top. Eu ri e rolei os olhos.
- Sua história cabulosa começa com você babando? - perguntei, rindo mais ainda quando ele instintivamente colocou a mão na boca, para ver se estava babando mesmo.
- Você é muito abusada. - ele resmungou, meio rindo, meio irritado. A mulher que ele observava nos lançou um olhar rápido e confuso.
- Comece a contar logo. Antes que eu volte a falar do...
- Tá bem, tá bem! - ele falou alto, me cortando. - Não vamos deixar você tão confusa hoje. Escuta aí. Eu tinha dezesseis anos, então isso aconteceu há três anos. Eu ainda estava na escola, mas trabalhava meio período numa lanchonete que tinha perto do cinema. Acho que ela nem existe mais. Então eu estava lá, numa quinta-feira... - ele parou de falar quando um celular começou a tocar. Ele puxou o aparelho do bolso e rolou os olhos quando viu quem era no visor. Atendeu. - Oi. Não, não tô...! Hã? Hoje? Mas eu já... Ah, ok, que seja. Já chego aí.
Ele riu quando me encarou, eu tentava imitar a expressão misteriosa dele.
- Você não sabe usá-la. - ele disse, apontando para meu rosto. Desisti e dei de ombros, arrancando risadas dele. - Escuta, preciso passar a tarde com meus irmãos. Minha mãe me ligou agora. Isso ou ter que ir com eles até a casa dos meus tios e avós. Maldição de ainda morar em casa.
- Oh, tudo bem. - eu disse, o mais rápido que pude. - Conversar com você já...
- Quer passar a tarde comigo e os pirralhos? Eles provavelmente vão gostar de você. - ponderei a possibilidade. Eu não tinha muita convivência com crianças - para não dizer nenhuma -, mas Jared parecia saber o que fazia. Uma tarde com ele não parecia má idéia. Sorri e assenti, eu podia ajudar a cuidar de duas crianças.

Jared estacionou seu carro em frente a minha casa, quinze minutos depois de dizer que chegaria em, bom, quinze minutos. Peguei minha bolsa quando ouvi sua buzina, e vi que o relógio marcava duas da tarde. Enquanto eu colocava jeans, uma camiseta simples, tênis e vestia um casaco por cima, fiquei imaginando se atrapalharia Taylor, caso ligasse para ele. A conversa com Jared me deixara com mais saudades ainda, eu queria ouvir sua voz pelo menos. Mas eu sempre tinha a sensação de que ia atrapalhar, então eu esperava ele me ligar. Aí pensei em mandar uma mensagem, mas não tinha exatamente o que dizer, além de "Sinto sua falta" e parecer grudenta.
Resisti a tentação de puxar o celular da bolsa, e saí de casa, trancando-a para depois me deparar com um carro daqueles grandes demais. Ergui as sobrancelhas, porque eu estava esperando dar de cara com um carro antigo ou algo do tipo. Jared era mais o tipo de cara que comprava carros velhos e os ajeitava até que fossem bonitos, não do tipo que compra carros grandes e cheios de parafernálias. Quando me aproximei do carro, Jared o destrancou e empurrou a porta do carona. Eu a puxei e ele sorriu, esperando que eu entrasse.
- E aí? - perguntou, rindo. Ele parecia quase a mesma coisa que de manhã, só que não usava mais um casaco, só uma camiseta azul que dizia You read my T-shirt.
- Olá! - me virei para trás ao ouvir uma segunda voz, e sorri para as duas crianças que me observavam, atentas. James, que fora quem falara comigo, era uma versão mais nova de Jared: tinha os mesmos olhos e o corte de cabelo muito parecido, à exceção de que eram de um castanho mais escuro que os cabelos de Jared; ele tinha um grande sorriso estampado no rosto, exibindo dentes branquinhos e certinhos, e seus olhos ficavam muito pequenos, mas ainda conseguia ver o verde deles. James usava uma bermuda xadrez, tênis verdes e uma camiseta branca.
- Oi, James! Tudo bom? - ele assentiu, então apoiou-se às costas do banco, colocando o cinto e pegando o videogame de mão que estava ao seu lado. Olhou para Jared.
- Posso? - Jared assentiu, rindo, e James ligou o aparelho, me lançando um último sorriso antes de começar a jogar. Então olhei para a garotinha sentada ao lado dele, num banco mais alto, com um vestidinho vermelho e verde, cheio de morangos desenhados; os cabelos dela eram tão escuros quando os de James, e estavam soltos, cobrindo seus ombros; ela usava uma franja bem acima dos olhos e balançava seus sapatos brancos, parecendo animada. Ela abriu um sorriso para mim.
- Oi, Lilly! - ela acenou, tímida, mas manteve o sorriso. Jared riu.
- Lilly é meio tímida. - disse, e eu assenti, concordando. Jared girou a chave na ignição e eu me virei para frente, passando o cinto enquanto o carro começava a andar.

- Deus, ela é tão fofa! - Jared gargalhou quando minha voz saiu esganiçada, enquanto meus olhos acompanhavam um sorridente Lilly ao lado de James. Os dois estavam na roda gigante, que tinha feito sua usual parada no alto. Lilly tinha um sorriso grande no rosto, e James observava a vista ao redor, distraído.
- Lilly tem esse efeito nas pessoas. - ele falou, também observando os dois. Olhei para ele.
- Como é que seus dois irmãos são tão fofos e você é tão arrogante? - ele soltou uma risada debochada, enfiou as mão nos bolsos das jeans e me chamou com um movimento da cabeça, dando alguns passos até as grades de ferro coloridas de azul, servindo de divisão para a área de outro brinquedo. Nos encostamos lá, com ainda a mesma visão da roda gigante.
- Te convenci a passar um dia comigo, não foi? Eu não sou tão arrogante assim.
- Claro que é! - retruquei, rindo. Ele jogou os cabelos para trás, sem tirar o sorriso do rosto, e me encarou. Jared era consideravelmente mais alto que eu, e acho que era mais alto que Taylor também, então não tinha como ele não saber quando eu estava observando seu rosto - eu precisava erguer demais o meu.
- Por que fez aquela cara quando me viu em frente a sua casa? - perguntou, e eu uni minha sobrancelhas. Desviei meu olhar para Lilly e James, Lilly agora cutucava Jared e falava alguma a ele que o fazia apontar para algum lugar e começar a falar. Olhei para Jared de novo, e dei de ombros.
- Nada demais. Achei que fosse dar de cara com um Jared usando jaqueta de couro, botas e dirigindo uma chopper. - ele riu mas, antes de responder, um cara vendendo pipocas apareceu. Jared disse que já voltava e comprou um saquinho para mim e outro para ele.
- Você, infelizmente, conheceu o Jared responsável antes de conhecer o Jared divertido. - ergui uma sobrancelha, jogando uma pipoca no ar e tentando pegar com a boca. Ela caiu no saquinho outra vez, e Jared riu da cena.
- Eu gosto do Jared responsável. - disse, e ele sorriu.
- Tenho que confessar, eu gosto mais da irritada. - foi minha vez de rir, e dei um soco no braço dele, que só o fez rir ainda mais.
- É bom que você saiba irritar os outros pelo que você fala. Fisicamente...
- Cala boca, Jared. - ele comeu algumas pipocas. - Na verdade, não cale a boca. Termine a história que me trouxe aqui. - ele soltou "Oh, verdade!" lembrando de porque eu tinha aceitado vir, para início de conversa.
- Tinha esquecido disso. Não é uma história bonita, de qualquer forma.
- Quer contar logo? - ele respirou fundo, e fez uma cara dramática, me arrancando uma risada.
- Então, quinta-feira, foi onde eu parei, certo? - ele continuou, depois que eu assenti: - Tá. Então eu estava lá na lanchonete, fazendo nada demais, porque você sabe como uma lanchonete pode ficar fazia quando todos os adolescentes da cidade estão em casa estudando para passar de ano. Como você deve imaginar, eu nunca fui muito de estudar, então não pedi pra me liberarem. Fiquei por lá jogando conversa fora e fazendo milk shakes pro pessoal, até ela aparecer. Nossa ela era...
- Linda?
- Gostosa.
- Jared! - ele riu, jogando a cabeça para trás, quando acertei um tapa em seu braço.
- Tudo bem, ela era linda também. Claro. O nome dela era Jenn. Ela era uma loira gostosa e pediu sorvete quando chegou no balcão. Claro que eu a fiz me dar seu telefone, e começamos a sair. Ela não era tão inteligente assim. - apontou para mim. Eu fiz minha melhor expressão compreensiva.
- Não dá pra ter tudo. Gostosa e inteligente não existe. - ele ficou quieto.
- De qualquer forma, claro que tinha que ter alguma coisa errada. Dois meses depois, eu descobri que ela tinha um noivo. - arregalei os olhos e amassei o saquinho vazio de pipocas.
- Tá brincando! - ele negou com a cabeça.
- Ela simplesmente apareceu num sábado, na lanchonete, com o cara. Ele era... Grande. Tipo, muito grande. Mas o problema mesmo é que eu tinha gostado dela, sabe? Ela fazia faculdade em alguma outra cidade perto de Los Angeles, tinha vinte anos... Depois eu descobri que o noivo dele era algum empresário cheio da grana.
- E depois daquele dia vocês nunca mais se viram? - ele balançou a cabeça, olhando para frente, um sorriso pequeno rosto.
- Não fiz questão também. Mas vê-la lá, com outro cara. Estranho demais. - encostei meu ombro em seu braço, fazendo-o olhar para mim.
Acho que foi então que tive minha primeira impressão do Jared que eu estava conhecendo: ele não era tão irritante quanto tentava ser, era só dar uma chance para ele falar. Ali, lembrando do que não dera certo, ele me parecia frágil e tão vunerável quanto qualquer outra pessoa, mesmo que ele parecesse tão mais forte.
- Se quer minha opinião, a garota era uma vaca. - falei, fazendo-o sorrir mais.
- Você é uma garota legal, .
- Você não é tão legal, Jared. - ele rolou os olhos, rindo. Tirou o papel amassado da minha mão, e me chamou com a outra. Olhei para a roda gigante para perceber que todos já estavam descendo dela, James e Lilly procuravam Jared com os olhos, e Lilly abriu um grande sorriso quando o viu esperando-os na saída. Ele dobrou as pernas, ficando mais baixo e mais próximo de Lilly, e ela estendeu as duas mãos, esperando que Jared a cumprimentasse. Quando ele o fez, ela soltou uma risada divertida.
- Cara, ela é tão grudenta. - James comentou, rolando os olhos, e eu ri. Jared deu um tapa em sua cabeça, mas não pareceu doer, porque ele não reclamou, só devolveu o tapa.
- Estão com fome?
- McDonalds!
Eu e Jared rimos com a resposta imediata de James, e começamos a caminhar para o McDonalds mais próximo.

Jared estacionou seu carro em frente a minha casa pela segunda vez naquele dia, mas agora já era noite, e estávamos sozinhos no carro. Ele tinha deixado Lilly e James em casa primeiro, porque os dois não paravam de falar nos presentes que sua avó mandara, e queriam vê-los. Eu não me importei, porque tinha me divertido e não queria correr para casa, agora que eu sabia que ligaria para Taylor quando chegasse.
Observei a luz da cozinha acesa, porque eu tinha deixado, e tirei o cinto quando ele desligou o carro. Olhei para ele.
- Hoje foi legal, . Valeu pelo tempo. - sorri.
- Desculpe ter atrapalhado suas cantadas com as garotas de lá. - disse, e ele riu alto.
- Foi mais divertido desse jeito, por incrível que pareça. - pensei em sua frase, e ele riu quando ergui uma sobrancelha.
- Lilly e James são ótimos, tão fofos. - mudei de assunto. - Você realmente é mais responsável do que eu imaginava.
- Te falei que não dá pra julgar assim, só porque eu posso ser meio arrogante. - rolei os olhos, rindo. Abri minha porta, coloquei minha bolsa no ombro, e depois de lançar um olhar divertido a ele, saí do carro. - Tchau, Jared! - disse, mais alto. Só tive tempo de dar alguns passos pelo jardim, em direção à porta de casa, antes de ouvir o som de outra porta abrindo. Quando olhei para trás, Jared estava do lado de fora do carro, com as chaves nas mãos, que estavam apoiadas no teto do carro. Ele era alto o suficiente para que desse para ver seus ombros para cima, mesmo atrás do carro. Cruzei meus braços, rindo. - Que foi, agora?
Ele abriu um sorriso grande, jogou os cabelos para trás com um movimento da cabeça, e disse:
- Nada demais. Só me certificando de que você vai chegar direitinho em casa. - ele riu com a minha careta. - Boa noite, .
- Boa noite, Jared. - disse e, quando abri a porta de casa, foi quando o ouvi entrar no carro outra vez.

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23 comentários:

  1. Que saudade que eu tava dessa fic!! Sou leitora antiga dela em outro site, amei vê-la por aqui e com certeza vou acompanhar pra matar as saudades e finalmente ler a história completinha! *.*

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  2. powin a segunda a comentar muito boa a fic viuh continua linda!!

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  3. Omg!! Adorandoooo a história.
    Com certeza vou estar acompanhando, bjsssss!!!

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  4. Olá!
    Do pouco que eu li já pude ver que eu gosto e ainda vou gostar muito dessa fic.
    Vou tentar acompanhar sempre ok?
    Mal posso esperar pelo próximo capitulo e bem-vinda.

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  5. Fic fodona na área gente!!!!!!!!!!!!
    Ameiiiii, eu e Taylor super combinamos, tipo 'love forever' entende? Haha, amei. Tá de parabéns!

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  6. aaaaaaaaaaaaaaaah nem creio que essa fic ta aqui e a air and sun tb *----* amo essa fic acompanhava tb em outro site e fiquei mt p* qnd ele saiu do ar e eu perdi a fic. TO MUUUUUUUUUUUUUUUUUITO FELIZ \0/

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  7. Perfeita! Simplesmente perfeita! Tô muito curiosa para saber o que vai dar! Por favor, não faz isso com a gente, posta logo, por favor! Beijos!

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  8. Ahh...adoro essa fic, tbm acompanhava em outro site.. mas tem quase 1 ano q não atualiza... vou começar a acompanhar por aqui e espero q consiga ler até o final..

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  9. Essa fic é demais!!
    Estou adorandoooo o modo como eles estão se conhecendo, é maravilhoso vê-los juntos. Eles agem naturalmente e isso me faz querer me divertir junto. Realmente a fic está perfeitaaaaaa!!!
    Harry é um doce de garoto, mas ainda bem que ela cortou logo as intenções dele. Ele é muito fofo e eu não quero que ele acabe machucado, né?!
    As amigas da PP são hilárias, me divirto muito com elas e suas estripulias. rsrsrsrs
    A PP e o Taylor tiveram um dia e tanto no boliche e já rolou um clima daqueles, além de um super beijo. Foi incrível!!!
    Estou amandooooooo a fic, ela está demais, bjsssss!!!!

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  10. Nossa que tudo!!!! Isso foi bem diferente do que ja li! perfeito...amei tudo! só espero que essa historia termine em final feliz, não seria justo com ela ...ser ótima garota e se apaixonar pela pessoa errada! bjs

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  11. Qe saudade da fic.. Ainda bem qe arrumei um tempo para ler d novo .. Posta mais vaai . To adorando . kkkk

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  12. To adorando a fic!!! posta mais!! Ta perfeita não demora viu!!!!! Você ta de parabéns!!

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  13. Omg, dose dupla?! Isso foi bom para mais de metro... Uhuuuu!!!
    Nossa, voce escreve com tantos detalhes que parece mesmo que estou vivendo uma estória com Taylor... os capítulos foram incríveis!!
    Ain, e ele foi embora... snif, snif :(
    Estou com meu core apertadinho , apertadinho, assim como a PP. Tomara que ele volte logo.
    A estória está magnífica, adorandoooooo, bjsssss!!!!

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  14. Caramba que ficção boa por demais!!! Estou amando ela, fiquei mais feliz ainda por saber que não perdi minhas horas de sono lendo ela, pois ela está agradavel e tentadora para saber o que vai rolar nos proximos capitulos. Queria ver os paparazzis atras deles, ou dela neh, quero realmente saber se ele está gostando dela de verdade!!!!! Não demora pra postar ta. bjs

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  15. Ain que lindo!!! por que o Tay tinha que ir agora:( To Triste!!!! Cara quando as coisas estavam boas alguma coisa tem que atrapalhar!!! bah! num vale:( Mas vou parar de reclamar e escrever o que interresa POSTA LOGO ok!!! Ta muito boa e fic to louca na espera de novas att´s
    BJOS!!

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  16. Eu sou tipo super apaixonada por essa fic, acompanhava ela no outro site e como antes to super curiosa para mais!! Não demora a postar ok (:

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  17. É o seguinte, não gosto do Jared! Falo mesmo u.u E estou com raiva de mim mesma por não ter ligado pra Taylor. E daí se as coisas estiverem um pouco diferentes? Ele continua sendo o Taylor.. Enfim, quero mais! Essa fic é viciante, você não sabe o quanto! hahaha Beijos e até a próxima! xx

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  18. Falo e disse Nina!!
    Bom é o seguinte!!! To adorando!! Só acho que eu sou burra pra cara*** nessa fic serio!!! Devia ter ligado pro Taylor na mesma hora que acordei!!! Vei que triste!!! Bom espero que de tudo certo entre a gente e que o Jared não ferre com tudo! ou eu ferre com tudo envolvendo o Jared!! Bom what ever kkk.
    Posta mais logo!! Bjos

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  19. ameeeeeeeeeeeeeeeeeeeeei '-----'

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  20. Nossa adorei aessa fic..

    gatah não deixe de escrever e postar os capítulos pq eu simplesmente adorei a sua fic e ela merece o seu devido valor!!!

    não desista pq sempre que poder eu venho comentar a sua fic e não te deixo na mão..


    bijones*cabelosaovento* FUII

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  21. Ain espero que essa historia com Jared não estrague tudo. *aflita
    .
    Por favor não para de escrever a fic tá ótima. CONTINUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA. ^^

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  22. POR FAVOR NÃO PARA DE ESCREVER TO AMANDO. BEIJOS

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  23. Continua!! Ta muito boa

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