Silenciosa Vingança
O ar fétido
daquela cabana me causava dor de cabeça, as teias de aranha espalhadas por
todos os cantos me davam medo, assim como a escuridão que me cercava.
Eu ainda não
compreendia como havia parado ali, não compreendia como havia permitido que
aquele crápula me capturasse e me levasse para este lugar no meio do nada.
Lembro-me de estar
andando, ansiosa para me encontrar com aquele com que havia marcado. As ruas já
estavam escuras e desertas, pois mesmo com inúmeras possibilidades de festas e
outros tumultos na grande cidade em que morava, o frio do inverno afugentava as
pessoas das ruas, a não ser os corajosos como eu, que saiam do calor e conforto
de suas casas apenas para cumprir seu dever como trabalhador, o que no meu caso
era concluir uma investigação.
Forcei minha
mente, tentando lembrar o que havia acontecido depois disso, mas a única
resposta que tive foi uma grande dor na parte posterior de minha cabeça, onde
um galo se erguia em meu couro cabeludo.
Instintivamente,
coloquei minha mão ali tentando atenuar a dor. Eu lembrava de ter sido atingida
por algo naquele local, eu só não conseguia saber o que era ou de onde viera.
Ouvi um
barulho na porta que até agora esta devidamente trancada, me encolhi com o
vento frio que entrou pela porta e me causou arrepios e fingi dormir, com medo
do que viria a seguir.
Passos soaram
no piso de madeira, enquanto o desconhecido se aproximava, eu podia sentir sua
presença pairando em cima de mim. Uma mão gelada pousou em meu rosto e começou
a acaricia-lo. Dei um arrepio que foi impossível conter, um arrepio que
claramente delatou que eu estava acordada.
-Já acordada,
querida?
Aquela voz,
aquelas palavras... Não, não, não! Não queria acreditar que aquilo estava
acontecendo, não queria acreditar que era aquela pessoa. Queria que tudo fosse
um pesadelo, e queria que acabasse o mais rápido possível.
Ergui meu
olhar para aquela pessoa, encontrando aqueles profundos olhos azul esverdeados
me encarando, como se pudesse perfurar meu corpo e penetrar minha alma.
-É um
pesadelo? –quando percebi as palavras já haviam saído de minha boca,
amargurando a expressão do homem a minha frente.
Desejava com
todas as forças que fosse, pois ter Diogo ali, na minha frente, era como voltar
a um passado sombrio e obscuro. Um passado que de feliz, não tinha nada.
Os olhos eram
o que mais me amedrontavam. Lembrava perfeitamente deles em júbilo, enquanto
derramava-se de prazer, enquanto via meu frágil corpo de grávida se
autodestruir de fome no cativeiro em que ele havia me colocado.
Abaixou-se
até deixar seus amedrontadores olhos na altura dos meus, passando uma de suas
grandes mãos por meu rosto marcado pelo cansaço, sujeira e lembranças de um
passado traumático.
Senti um
misto de repulsa e ódio daquele homem naturalmente estranho. Um fogo que eu não
imaginava existir em mim, se acendeu, enquanto eu cuspia em sua face,
demonstrando meu nojo para com ele.
Ele piscou atônito.
Se afastou e se juntou a parede, bateu nela diversas vezes.
-Você. –disse
Diogo, com o dedo indicador apontado para minha face, avançou vários passos,
até ficar bem próximo a mim novamente. –Não pense que isso vai ficar barato,
pois vou fazer o que eu deveria ter feito com você da última vez! Mas isso não
quer dizer que eu não possa aproveitar antes...
Meu coração
se acelerou ante tais palavras. Ele faria novamente, ele me imporia um novo
trauma... Eu levara anos para superar o trauma de ser maltratada por esse
crápula, não sabia se superaria novamente.
Diogo
avançou, tentou jogar seu corpo em cima do meu, naquela minúscula cama de
solteiro. Instintivamente, rolei na cama e caí de joelhos no chão, ao mesmo
tempo em que seu corpo se chocava contra o fino colchão da cama podre, que por
sua vez, desmoronou. Corri para o canto mais escuro do casebre, mas logo fui
seguida e prensada em uma parede pelo corpo de Diogo. Ele fedia a bebida barata
e suor.
-Foi como fiz
com sua mãe, logo após ela me trair com o idiota de seu pai. –ele sussurrou em
meu ouvido. O hálito quente batendo em meu rosto e me causando enjoo. –E sua
morte será igual a de seu pai.
O choque
tomou conta de meu corpo. Eu sabia que ele já havia estuprado minha mãe, pouco
antes de meu irmão nascer.
-Meu pai?
Você matou meu pai? –consegui falar, em meio às lágrimas que involuntariamente
começaram a escorrer de meus olhos. Meus joelhos queriam ceder, mas a madeira
porosa da parede me sustentou, mantendo-me a altura do estuprador.
Um riso seco
saiu dos lábios de Diogo em encontro a minha face. O cheiro de bebida me
desorientou, mas me obriguei a me mantar sã, apenas para ouvir o que ele tinha
a dizer.
-Sim, eu
matei seu pai. –sorriu debilmente. –Lembro-me como se fosse ontem, o modo como
danifiquei os cabos de freio de seu carro e causei o vazamento de gasolina. O
carro capotou em uma curva na estrada, não?
Não respondi,
apenas o olhei, demonstrando em meu olhar todo meu ódio por sua pessoa. Não
conseguindo sustentar seu olhar por muito tempo, comecei a esquadrinhar o
casebre em busca de algo que me ajudasse a fugir dele.
“Então era ele que eu procurei o tempo
todo”, pensei,
lembrando-me de todas as noites que passei em claro, em busca do paradeiro de
Diogo e do assassino de meu pai, sem saber que procurava a mesma pessoa.
-Mas agora,
temos outras coisas a resolver. –ele disse, avançando sobre meu pescoço e o
beijando. Tive nojo de ter sua saliva e seus lábios sobre minha pele, mas me
aproveitei do momento para pegar o isqueiro que estava quase caindo de seu
bolso.
Com o
isqueiro em mãos, tomei a força que não tinha e chutei o meio de suas pernas e
em seguida, dei um soco forte em seu nariz e outro no estômago, levando-o ao
chão. E então eu corri. Corri visando alcançar o galão de gasolina que eu havia
localizado com os olhos, enquanto ele falava sobre meu pai.
Peguei o
galão e comecei a despejar pelo casebre, ansiando para que Diogo demorasse a
levantar. Quando terminei com a gasolina, acendi o isqueiro e o joguei perto do
homem caído, antes de sair correndo em direção a seu carro, onde se encontravam
todas as minhas coisas.
Lentamente,
vi o casebre ser consumido pelas chamas.
Abri minha
bolsa e encontrei meu celular. Mecanicamente, digitei o número da delegacia.
-?
Onde você está?
A voz de
Anthony – meu marido e policial da delegacia onde eu trabalhava –, demonstrava
medo e preocupação. Me senti mal por sua preocupação, me senti mal pelo segredo
que lhe esconderia.
-Estou bem.
–respondi vagamente, enquanto meus olhos esquadrinhavam o local onde estava até
fixar o olhar no casebre que era consumido pelas chamas de minha silenciosa
vingança. –Estou perto de uma casa abandonada, no início da floresta.
Um silencio
mortal tomou conta de nós, enquanto meu marido absorvia o que eu havia dito.
-E o que
houve? –ele perguntou cautelosamente.
Suspirei
fazendo suspense, pensando milimetricamente em cada palavra que diria sobre a
morte de Diogo.
-Após nos
encontramos, ele me trouxe até o casebre e me acertou na cabeça. Desmaiei e
dormi por muito tempo e, assim que acordei, ele confessou ter matado meu pai e
depois colocou fogo na casa. Consegui fugir, mas ele ficou lá dentro... –olhei
mais uma vez o casebre, antes de girar a chave que estava na ignição e sair o
mais rápido que podia daquele lugar. –Estou me afastando com o carro dele.
Acabou, está tudo bem agora. –disse eu, pondo fim às lembranças de um passado
traumático.
FIM
Que história DIVA.. Ameei
ResponderExcluirAdoreiiiiiiii
ResponderExcluirCamy, que estória...
ResponderExcluirNossa, esse conto foi divino, me prendeu desde o início e foi uma pena ter acabado tão rápido, fiquei com gostinho de quero mais... :(
Ameeeeeeeeei demais, bjsssss!!!
Nossa, uau!!! Fiquei super curiosa e nervosa só no primeiro paragrafo O.O ler o resto então foi tudo de bom, ate porque manteve esse ar de suspense e medo no ar (pelo menos pra minha pessoa), porque a cada linha descobríamos coisas novas e assim a historia foi se desenrolando deixando tudo muito claro, na minha opinião não deixou nenhum detalhe de lado, deu pra entender direitinho XD
ResponderExcluirAMEI AMEI AMEI adoro essas fics que me deixam "vidrada" na historia com vontade nem de parar pra respirar kkkkk
Adorei bjo
AHHHHHHHHH VC POSTOU ESTA HISTÓRIA E EU NEM TINHA SACADO?? Garotas MORRAM de inveja, meu eu li primeiro q vc! HAHAHAHA... A Camy me enviu este conto enigmático e todo intelectual pra eu ler antes!!!
ResponderExcluirYeah, I have the power! kkkkkk....
Amei!!! Meio sombrio e misterioso... eu adorooo!