Avengers by Alycia paixão

Passava das 4 da madrugada, o cenário era no mínimo, repelente. Ninguém em sã consciência queria passar por perto daquela enorme confusão.

Todos que estavam envolvidos no grupo que se autodenominava Avengers, sabiam que naquela madrugada ocorreria mais um grande protesto. Já era o terceiro naquela mesma semana. No ponto de vista dos Avengers, o governo pedia por aquilo, tomando decisões chulas e que não agradavam o povo, ou não acomodava parte do povo.

Mas, dessa vez, o motivo do protesto ia um pouco. além disso.

O governo já estava possesso: praças públicas pegando fogo, o ataque em uma assembleia deliberativa que só deixou as suas cinzas para contar história. Fora os outros vários pequenos ataques que os Avengers davam. Eles não colocavam fogo em ônibus ou lugares que públicos, muito pelo contrário, eles tentavam apenas atingir o governo corrupto. Governo esse que estava sofrendo ataques neste momento pelo mandato de prisão de uma pessoa: Leah Clearwater, a fundadora e líder dos Avengers.

Naquela noite o cenário era o caos. Os militares jogavam bombas lacrimogêneas sem pudor, assim como usavam balas de borracha e cassetetes com toda violência acumulada dentro de si. Leah não pensou duas vezes antes de bater fortemente com uma barra de ferro na cabeça de um militar que chutava covardemente uma de suas parceiras do Avengers que já sangrava no chão. Deu apoio a parceira para que ela pudesse chegar aonde os Avengers feridos estavam, longe da linha de fogo. Mas não demorou muito e logo voltou para a avenida principal, onde o embate acontecia.

Seus olhos lacrimejaram, não pelas várias bombas lacrimogêneas que os malditos militares atiravam sem parar, mas por ver aquela cena. Tudo parecia estar em câmera lenta para ela naquele momento: carros pegando fogo, barulhos de sirenes que ela não sabia dizer se eram de carros policiais ou ambulâncias - mas ela acreditava que era dos dois - militares atacando sua família Avengers como se estivessem em uma verdadeira guerra.

Lembrava-se que estava arrumando um advogado quando recebeu, por engano, uma mensagem codificada de um Avengers. Ele estava avisando a todos os outros da rebelião que seria feito dali a algumas horas, em que todos iriam protestar contra seu mandato de prisão. Eles decidiram fazer aquilo apesar de todos seus avisos antecedentes para não agirem de forma imprudente.

Naquele momento, ela sabia que estavam todos enrascados. Pois por mais nobre que fosse seus protestos, aquilo que via diante de si era errado, mas não ligava, sua família estava ali precisando dela naquele momento.

Precisava apenas da sua dose de adrenalina, precisava olhar naqueles orbes negros intensos, mas não podia, sabia que não podia! Por mais que quisesse mergulhar no mar negro que eram os olhos de Jacob, por mais que quisesse ele ao seu lado nesse momento sabia que não seria possível. Jacob sempre estava presente, mas naquele momento em que ela precisava, ele não estava, e mesmo se estivesse sem que ela soubesse seria do outro lado, o lado negro da força.

Jacob era um militar, um tenente militar, então o melhor era realmente ele não estar ali.

Respirou fundo saindo dos seus devaneios e arrumando o pano que cobria seu nariz. Seus olhos ardiam deixando-os marejados e sua visão estava embaçada, os braços estavam arranhados em algumas partes assim como os joelhos nus que tinham alguns cortes mais profundos, mas ela ignorou a dor e se preparou para acertar mais um militar, e teria o feito se não tivesse sido surpreendida por uma pancada na cabeça.

- LEAH! - Ouviu ao longe alguém gritar enquanto sentia seu corpo caindo no chão. Com a visão turva por conta da pancada, se levantou rapidamente sentindo tudo girar em 360° graus, posicionou as mãos em punhos na frente do corpo ao perceber que sua barra de ferro estava muito longe para ser alcançada..

- Você realmente se acha muito incansável, não é?  - Escutou a voz a sua frente falar de um modo grotesco enquanto o homem desconhecido alisava seu cassetete pronto para lhe acertar novamente. - Mas chegou sua hora, e você dará sorte se chegar inteira na prisão depois disso. - Ele exclamou soltando um suspiro falso de pena e acertando um murro no queixo de Leah que instantaneamente sentiu o gosto enferrujado do seu sangue.

- Covarde. - Ela balbuciou antes de lhe devolver o soco o fazendo cambalear para trás. Estava esgotada e sentia suas forças se esvaindo, talvez por este motivo, caiu tão rapidamente quando o militar lhe acertou outro soco.

Ele subiu em cima dela deixando suas pernas presas e suas coxas ralando no asfalto de uma forma incomoda, sorriu sem dentes antes de se preparar para dar uma coronhada em sua cabeça.

- Bons sonhos. - Ele murmurou e Leah fechou os olhos esperando a dor, dor essa que não chegou.

- Tenente Black? - Perguntou a voz que agora parecia distante, Leah abriu os olhos e olhou para o lado a tempo de ver Jake acertar uma coronhada na cabeça do seu subordinado fazendo o mesmo desmaiar. Ele ainda iria dar mais um soco na cara daquele covarde desgraçado, estava tomado pela fúria, mas a voz de Leah o chamando por cima daquele alvoroço o fez parar.

Ele olhou para o lado lembrando-se do motivo de estar ali, Leah, sua Lee. Levantou-se rapidamente sem fazer esforço visível e se colocou deitado no chão ao lado de Leah, ficando um pouco em cima da mesma.

- Lee, você está bem? Aquele canalha te machucou mais? Alguém te machucou mais? Você devia ter me avisado, eu... - Jake começou a falar desesperado acariciando seu rosto e retirando algumas mechas que caiam sobre seu rosto enquanto observa seu corpo procurando algum ferimento e fazendo leves caretas ao ver sua pele arranhada e cortada, mas Leah o interrompeu sorrindo debilmente.

- Jake. - Soprou o puxando pela nuca a fim de ter todo o contato possível naquele momento, ele estava fardado e isso não daria em algo bom. - Eu estou bem. - Assegurou acariciando seu rosto e ele fechou os olhos por um momento aproveitando aquela carícia.

Eles estavam em sua bolha de amor, tudo, todo o resto, nada importava naquele momento. Nem os carros pegando fogos, os protestantes fugindo ou enfrentando os militares, as consequências de ambas as ações. Nada importava, somente aquele amor e aquelas duas pessoas tão visivelmente apaixonadas.

O militar e a protestante, diferentes e tão iguais ao mesmo momento, deviam estar se enfrentando naquele momento, ou ajudando cada qual a sua ‘equipe’, o seu lado.

- Não sei o que faria se algo grave tivesse acontecido com você. - Jake falou quase num sussurro e apesar de todo barulho exterior, que parecia não perfurar a bolha deles, Leah escutou, tamanha era a proximidade deles.

Seus corpos estavam colados, Leah conseguia sentir o calor que Jake emanava por cima do seu uniforme, podia sentir o coração de Jacob, que batia ritmado com o seu, como se soubesse que o coração da pessoa à frente lhe pertencia.

- Jake. - Ela suspirou fazendo uma pausa, queria gravar aquele momento para sempre em sua memória. Já haviam passado por tanta coisa juntos, mas aquele momento era especial. Fitou o mar negro dos seus olhos por cima dos cílios, a boca carnuda e rosada, a pele avermelhada, suspirou novamente e esticou a mão que não se encontrava na sua nuca para dedilhar seus traços másculos.

- Você não deveria ter feito isso, vai ter problemas no trabalho, problemas com o governo. - Ela continuou fechando os olhos, não queria ver Jacob enrascado por sua culpa.

Na verdade ele não tinha culpa, nunca soubera que Leah era a líder dos Avengers, ele nem suspeitara nada, só ficou sabendo quando um dos seus subordinados falou casualmente o nome da sua garota. E quando soube de mais um ataque dos Avengers saiu praticamente voando da sua base militar e se dirigiu ao lugar.

- Leah, abra os olhos. - Jacob pediu seriamente e Leah forçou ainda mais os olhos um ao outro não conseguindo impedir duas lagrimas teimosas escorrerem pelo seu rosto.

Era aquilo, o fim. Leah não queria olhar nos olhos de Jacob e ver seus julgamentos. Ela mentira para ele esse tempo todo, na verdade ela omitira e ainda por cima o faria ter problemas no trabalho. Não estava pronta para ver nos olhos negros e profundos de Jacob a mágoa, a raiva e quem sabe até o desprezo.

Jake pousou os lábios delicadamente sobre a lágrima que escorreu dos olhos fechados de Leah fazendo o mesmo com a outra lágrima fugitiva, não entendia o receio, o medo de Leah.

- Leah olhe pra mim. - Pediu com os lábios roçando nos seus e ao mesmo tempo a dando um beijo de esquimó. Ela abriu os olhos e franziu o cenho ao não enxergar nada além de amor espelhado nos olhos de Jake. Seu semblante era de uma pessoa apaixonada no meio de toda aquela confusão e ela duvidava que seu rosto expressasse algo diferente.

- Eu quero que eles se explodam, eu te amo, entendeu? - Ele perguntou carinhoso.  - Eu te amo, minha pequena cabeça dura. - Ele exclamou a fazendo soltar um riso leve.

- Eu amo você mais. - Ela respondeu afagando seu rosto e abraçando seus ombros com a mão livre. _Amo você muito mais, Jake. - Ela disse aproximando seu rosto do dele.

- Impossível. - Ele sussurrou antes de encontrar seus lábios aos seus.

Seria clichê demais dizer que seus lábios se encaixavam como um quebra-cabeça? Que o mundo, para os dois, poderia acabar ali, que eles morreriam felizes?

O que importa? O amor é clichê!

E deitados no chão no meio de um protesto violento, onde cada um pertencia a um lado, eles se beijaram intensamente e apaixonadamente, ignorando tudo e todos.

Somente o amor deles importava.