11 de dezembro de 2010

Crescendo Interativo Prólogo

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Crescendo








Prólogo



Coldwater, Maine - Quatorze meses atrás




Os galhos arranharam a vidraça atrás de Harrison Grey, e ele dobrou o canto de sua página, não mais capaz de ler com essa algazarra. Um vento furioso da primavera se atirava contra a casa da fazenda a noite toda, uivando e assobiando, fazendo com que as persianas batessem contra as tábuas com um bang! bang! bang! repetitivo. O calendário podia ter mudado para março, mas Harrison sabia melhor e não pensava que a primavera estava a caminho. Com uma tempestade se aproximando, ele não ficaria surpreso em descobrir o campo congelado em brancura glacial de manhã. Para afogar o grito perfurante do vento, Harrison apertou o controle remoto, ligando “Ombra mai fu” de Bononcini. Então ele colocou outra lenha na fogueira, perguntando a si mesmo, não pela primeira vez, se ele teria comprado a casa da fazenda se soubesse quanto combustível precisava para aquecer um comodozinho, quanto mais todos os nove.



O telefone guinchou.



Harrison do fim do prazo da lição de casa.


Uma respiração superficial e rápida soou em seu ouvido antes de uma voz quebrar a estática. “Precisamos nos encontrar. Quando pode estar aqui?”


A voz flutuou por Harrison, um fantasma de seu passado, deixando-o gelado nos ossos. Fazia muito tempo desde que ele ouvira a voz, e ouvindo-a agora só podia significar que algo tinha dado errado. Terrivelmente errado. Ele percebeu que o telefone em sua mão estava escorregadio com suor, sua postura rígida.


“Uma hora,” ele respondeu planamente.


Ele foi devagar em devolver o telefone de mão. Ele fechou seus olhos, sua mente hesitantemente viajando para trás. Houvera uma época, há quinze anos, quando ele congelava ao som do telefone tocando, os segundos martelando como baterias enquanto ele esperava pela voz no outro lado falar. Com o passar do tempo, enquanto um ano pacífico substituía o outro, ele eventualmente se convenceu que era um homem que tinha deixado para trás os segredos de seu passado. Ele era um homem vivendo uma vida normal, um homem com uma linda família. Um homem sem nada a temer.


Na cozinha, parado sobre a pia, Harrison se serviu de um copo d’água e a engoliu. Estava totalmente negro do lado de fora, e seu reflexo de cera encarou de volta da janela diretamente à frente. Harrison assentiu, como se para dizer a si mesmo que tudo ficaria bem. Mas seus olhos estavam pesados com mentiras.


Ele afrouxou sua gravata para aliviar a tensão dentro dele que parecia esticar sua pele, e serviu um segundo copo. A água nadou desconfortavelmente dentro dele, ameaçando voltar. Colocando o copo na bacia da pia, ele esticou sua mão para as chaves do carro na bancada, hesitando uma vez como se para mudar de ideia.


Harrison parou o carro na curva e desligou os faróis. Sentando na escuridão, soltando fumaça com a boca, ele absorveu as filas de casas de tijolo desmanteladas numa seção miserável de Portland. Fazia anos – quinze para ser exato – desde que ele colocara os pés na vizinhança, e dependendo de sua memória enferrujada, ele não tinha certeza se estava no lugar certo. Ela abriu o porta-luvas e retirou um pedaço de papel amarelado pelo tempo. 1565 Monroe. Ele estava prestes a sair do carro, mas o silêncio nas ruas o incomodou. Esticando sua mão para debaixo de seu assento, ele puxou uma Smith & Wesson* carregada e a enfiou no elástico de sua calça na parte inferior de suas costas. Ele não tinha mirado uma arma desde a faculdade, e nunca fora de uma estande de tiro. O único pensamento claro em sua cabeça palpitante era de que ele esperava que ainda pudesse dizer isso daqui a uma hora.


* marca de revólver

(
O barulho dos sapatos de Harrison soavam altos na calçada deserta, mas ele ignorou o ritmo, escolhendo, ao invés, focar sua atenção nas sombras lançadas pela lua prateada. Acocorando-se mais profundamente em seu casaco, ele passou por jardins de terra confinada enclausurados por cercas de elo de corrente, as casas além de deles escuras e silenciosamente misteriosas. Por duas vezes ele sentiu como se estivesse sendo seguido, mas quando ele olhou para trás, não havia ninguém.


Na Monroe número 1565, ele se deixou passar pelo portão e deu uma volta pela parte de trás da casa. Ele bateu uma vez e viu uma sombra se mover atrás das cortinas de renda.


A porta rangeu.


“Sou eu,” Harrison disse, mantendo sua voz baixa.


A porta abriu simplesmente o bastante para admiti-lo.


“Você foi seguido?” foi perguntado a ele.


“Não.”


“Ela está encrencada.”


O coração de Harrison se acelerou. “Que tipo de encrenca?”


“Quando ela fizer dezesseis, ele irá atrás dela. Você precisa levá-la para bem longe. Para algum lugar onde ele nunca a achará.”


Harrison balançou sua cabeça. “Não entendo–”


Ele foi cortado por um olhar ameaçador. “Quando fizemos esse acordo, eu lhe disse que haveria coisas que você não entenderia. Dezesseis é uma idade amaldiçoada no – no meu mundo. Isso é tudo que precisa saber,” ele terminou bruscamente.


Os dois homens observaram um ao outro, até que por fim Harrison assentiu cauteloso.


“Você tem que cobrir seus rastros,” lhe foi dito. “Onde quer que vá, você tem que recomeçar. Ninguém pode saber que você veio do Maine. Ninguém. Ele nunca parará de procurar por ela. Entendeu?”


“Entendi.” Mas sua mulher entenderia? entenderia?


A visão de Harrison estava se adaptando à escuridão, e ele notou com uma curiosidade descrente que o homem parado perante ele não parecia ter envelhecido um dia desde seu último encontro. Em fato, ele não tinha envelhecido um dia desde a faculdade, quando eles tinham se conhecido como colegas de quarto e rapidamente se tornaram amigos. Um truque das sombras? Harrison se perguntou. Não havia mais nada a que atribuir isso. Uma coisa tinha mudado, contudo. Havia uma pequena cicatriz na base da garganta de seu amigo. Harrison deu uma olhada mais próxima na deformação e recuou. Uma marca de queimadura, levantada e brilhante, não maior do que uma moeda de vinte e cinco centavos. Tinha a forma de um punho fechado. Para seu choque e horror, Harrison percebeu que seu amigo fora marcado. Como gado.


Seu amigo sentiu a direção do olhar de Harrison, e seus olhos ficaram duros, defensivos. “Há pessoas que querem me destruir. Que querem me desmoralizar e me desumanizar. Junto com um amigo de confiança, formei uma sociedade. Mais membros estão sendo iniciados o tempo todo.” Ele parou no meio da sentença, como se incerto de quanto mais ele deveria dizer, então terminou bruscamente, “Nós organizamos a sociedade para nos dar proteção, e eu jurei fidelidade. Se me conhece tão bem quanto já me conhecera, você sabe que farei o que precisar para proteger meus interesses.” Ele fez uma pausa e acrescentou quase distraidamente, “E meu futuro.”


“Eles te marcaram,” Harrison disse, esperando que seu amigo não detectasse a repulsão que estremecia por ele.


Seu amigo meramente olhou para ele.


Após um momento Harrison assentiu, sinalizando que ele entendia, mesmo se não aceitasse. Quanto menos ele soubesse, melhor. Seu amigo tinha deixado isso claro vezes demais para se contar. “Há algo mais que posso fazer?”


“Simplesmente mantenha-a a salvo.”


Harrison empurrou seu óculos pela ponte de seu nariz. Ele começou embaraçadamente, “Achei que você gostaria de saber que ela cresceu saudável e forte. Nós a nomeamos –“


“Não quero ser lembrado do nome dela,” seu amigo interrompeu duramente. “Fiz tudo em meu poder para reprimi-lo da minha mente. Não quero saber nada sobre ela. Eu quero minha mente lavada de qualquer traço dela, então não tenho nada para dar para aquele bastardo." Ele virou suas costas, e Harrison tomou o gesto como dizendo que a conversa tinha acabado. Harrison ficou parado por um momento, tantas perguntas na ponta de sua língua, mas ao mesmo tempo, sabendo que nada de bom viria de ficar pressionando.


Sufocando sua vontade de entender esse mundo obscuro que sua filha não fizera nada para merecer, ele se deixou sair.


Ele só andara meia quadra quando um tiro rasgou a noite.


Instintivamente Harrison se abaixou e girou. Seu amigo. Um segundo tiro foi disparado, e sem pensar, ele correu a toda velocidade de volta na direção da casa. Ele passou pelo portão e cortou pelo jardim lateral. Ele tinha quase contornado a esquina final quando vozes discutindo fizeram com que ele parasse. Apesar do frio, ele suava. O quintal estava envolto em escuridão, e ele se aproximou da parede do jardim, cuidadoso em evitar chutar pedras soltas que indicariam seu paradeiro, até que a porta de trás entrou em vista.


“Última chance,” disse uma voz suave e calma que Harrison não reconhecia.


“Vá para o inferno,” seu amigo cuspiu.


Um terceiro tiro. Seu amigo gritei em dor, e o atirador chamou mais alto, "Onde está ela?"


Com o coração martelando, Harrison sabia que tinha que agir. Outros cinco segundo e podia ser tarde demais. Ele deslizou sua mão para a parte debaixo de suas costas e retirou a arma. Segurando-a com as duas mãos para firmar o aperto, ele se deslocou na direção da entrada, aproximando-se do atirador moreno por trás. Harrison viu seu amigo além do atirador, mas quando ele fez contato visual, a expressão de seu amigo cheia de alarme.


Vá!


Harrison ouviu a ordem de seu amigo alta como um sino, e por um momento acreditou que tivesse sido gritada em voz alta. Mas quando o atirador não se virou em surpresa, Harrison percebeu com uma fria confusão de que a voz de seu amigo tinha soado dentro de sua cabeça.


Não, Harrison pensou de volta com um silencioso balançar de cabeça, seu senso de lealdade excedendo o que ele não conseguia compreender. Esse era o homem com quem ele passara quatro dos melhores anos de sua vida. O homem que o apresentara à sua esposa. Ele não iria deixá-lo aqui nas mãos de um assassino.


Harrison puxou o gatilho. Ele ouviu o tiro ensurdecedor e esperou que o atirador se dobrar. Harrison atirou outra vez. E outra.


O jovem moreno se virou lentamente. Pela primeira vez em sua vida, Harrison se encontrou realmente com medo. Com medo do jovem parado perante ele, arma na mão.


Com medo da morte. Com medo do que aconteceria com sua família.


Ele sentiu os tiros o perfurarem com um fogo abrasador que parecia estilhaçá-lo em mil pedaços. Ele caiu de joelhos. Ele viu o rosto de sua esposa borrar em sua visão, seguido pelo de sua filha. Ele abriu sua boca, seus nomes em seus lábios, e tentou encontrar uma maneira de dizer o quanto as amava antes que fosse tarde demais.


O jovem estava com suas mãos em Harrison agora, arrastando-o para o beco na parte de trás da casa. Harrison conseguia sentir a consciência o deixando enquanto ele lutava sem sucesso colocar seus pés no chão. Ele não podia falhar com sua filha. Não haveria ninguém para protegê-la. Esse atirador moreno a acharia e, se seu amigo estivesse certo, a mataria.


“Quem é você?” Harrison perguntou, as palavras fazendo com que fogo espalhasse pelo seu peito.


Ele se agarrou à esperança de ainda haver tempo. Talvez ele pudesse alertar do outro mundo – um mundo que estivesse fechando sobre ele como mil penas pintadas de preto caindo.


O jovem observou Harrison por um momento antes do mais fraco dos sorrisos quebrar sua expressão dura como gelo. “Você pensou errado. É definitivamente tarde demais.”


Harrison olhou para cima severamente, assustado pelo assassino ter adivinhado seus pensamentos, e não conseguiu evitar se perguntar quantas vezes o jovem tinha estado nessa mesma posição antes para adivinhar os pensamentos finais de um homem morrendo. Não poucas.


Como se para provar como ele tinha prática, o jovem mirou a arma sem uma segunda batida de hesitação, e Harrison se encontrou encarando o cano da arma. A luz do tiro disparado chamejou, e foi a última imagem que ele viu.

5 comentários:

  1. OMG! Plixx, não me diz que quem matou meu pai foi o Patch! Se foi eu vou ali me matar e já volto! Please, please, please. O Patch NÃO! eu tenho um treco e caio já aqui durinha!
    PatchKisses

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  2. OW...tenso..
    pqp!!
    com quem sera que ele estava conversaando?
    e quem sera que o matou..
    vixe..
    bj

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  3. Aaah,
    espero que tenha sido o Jules.

    Não quero que o Patch tenha matado meu daddy. =/

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  4. Por Favor, digam que não era o Patch matando meu paizinho!!!!!!

    Ainnn to amando estar no lugar da Nora! Eu vou dar uns pegas no Patch não vou? Afinal Sussurro acabou assim!

    To amando Crescendo Interativa!!!!!

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