1 de maio de 2011

Only Hope

| |


Only Hope










Capítulo 1


"Há duas formas de viver a vida: Uma é acreditar que não existem milagres, a outra é acreditar que todas as coisas são um milagre"- Albert Einstein


PRINCIPIO
As ruas da cidade eram calmas naquela época chuvosa. Talvez fosse esse o motivo de ninguém reparar na mulher de cabelos ruivos deitada no beco entre a farmácia e a relojoaria. O céu era de um negro profundo, mas ainda era dia, ventava furiosamente e a mulher que dormia foi acordada pelo vento gelado do dia nublado.
No principio ela se assustou. Não fazia idéia de onde estava e de como fora parar lá. Fitou suas mãos por um longo período, eram mãos pequenas, finas e com as unhas curtas. Depois apalpou os cabelos vermelhos feito púrpura e por fim tocou o rosto e notou que tinha um pequeno corte na testa. Suas pernas e braços estavam descobertos. Tudo que ela vestia era um short jeans curto, uma blusa de alças finas preta e os pés estavam descalços.
Ela se levantara e cambaleou apoiando-se nas paredes escorregadias. Havia lama por todos os lados. A mulher não era velha e nem tão jovem. Ao julgar por sua aparência não deveria passar dos vinte e três anos de idade. Ela se arrastou com dificuldade para a rua principal escorregando e caindo nos sacos de lixo pretos entulhados nas paredes. Era difícil definir o lugar, definitivamente estava longe de casa, mesmo não lembrando onde morava estava convicta disso.
Caminhar não era tão ruim o que lhe incomodava era a dor que sentia no estomago. Primeiro começou como uma queimação e em seguida doía sem parar. Ao passar por uma loja sentiu um cheiro bom e seu estomago já inquieto se remexeu ainda mais. Ela esfregou o vidro que estava úmido por causa do frio e espiou dentro do lugar. Havia mesas e cadeiras brancas e vários homens vestidos iguais servindo as pessoas que estavam sentadas. Ela teria observado mais se um homem alto e corpulento não a tivesse expulsado de lá.
-Suma daqui, olha como está mal vestida vai espantar os clientes, vamos suma daqui sua maltrapilha.
Ela não quis discutir, mas se espantou com o jeito rude do homem. Ela tinha uma boa aparência apesar da sujeira. Os olhos eram azuis celestes e tinha algumas sardas no rosto, não eram feias eram charmosas e quando sorria tinha belas covinhas fundas nas bochechas. As roupas também não a ajudavam.
Caminhou o dia todo para lugar nenhum. Não fazia idéia de onde estava, não lembrava de absolutamente nada. Sua mente era apenas um grande vazio, um buraco negro e oco. Já estava escuro quando sua caminhada cessou. Parou por um instante para descansar e notou uma musica alta vinda do outro lado da rua. Caminhou até lá. Havia várias pessoas em fila reta entrando em um imenso salão. Vestiam preto dos pés a cabeça, alguns tinham piercings outros apenas brincos discretos, muitos tinham cabelos coloridos e muito mal encarados. A musica que vinha lá de dentro era alta, algum tipo de rock.
Um grupo de jovens estava parado à sua frente. Uma menina de cabelo rosa, baixinha e muito magra. Atrás dela um jovem alto de cabelos negros arrepiados e um piercings nos lábios que segurava sua cintura. E mais um outro garoto ainda mais alto e bem mais esquisito. Seu corpo era meio curvado e ele tinha cabelos cacheados e bem grandes. O garoto agarrado na menina de cabelo rosa olhou para ela um segundo. Seus olhos eram sérios, sem qualquer expressão, mesmo assim foi o suficiente para marcar a pobre moça desmemoriada. Não era um sentimento bom, nem ruim. Aquele olhar apenas fez agitar algo dentro dela que não sabia bem o que era.
-Ei, perdeu alguma coisa aqui? – A garota de cabelo rosa gritou para ela.
-Deixe a garota em paz - O esquisito lhe disse em resposta.
-Olha só para ela. É tão estranha.
-Pelo menos o cabelo dela não é rosa – O esquisito brincou e o menino de piercings nos lábios sorriu. Uma risada leve.
-Ei vão entrar ou não? Não tenho a noite toda – Um cara gritou da porta do casarão.
-Estamos indo Phill.
Eles saíram. A menina do cabelo rosa lançou um olhar de deboche e o cara atrás que andava abraçado à sua cintura não olhou para trás.
-Tome cuidado mocinha essas ruas são perigosas. Vá para um lugar seguro, ok? – O esquisito foi gentil. Ela assentiu.
Ninguém mais reparou nela, era como se nem existisse no meio deles. Continuou andando pela rua movimentada. Não caminhou muito, estava cansada. Parou em frente a um tipo de loja e se sentou encostando-se na parede. Algumas pessoas que passavam pelo local olhavam para ela. Um homem jogou uma moeda, ela não se mexeu para pegar. Não estava longe do casarão ainda podia ouvir o som alto e depois um homem gritou algo como: E agora a pedidos, Iron Maiden. E a musica começou a tocar. Ela ouviu por algum tempo. Run to the hills, Run for your lives… Depois o sono a tomou de forma que não podia nem mesmo manter os olhos abertos. Apoiou a cabeça em seus joelhos e deixou sua mente vagar e se distanciar da terra. Aprofundou-se num sono intenso, cansada e exausta.


SANATÓRIO

O lugar estava extremamente cheio como sempre. Estava entupido de gente, quase expulsando as pessoas pela janela. O Sanatório por muitos anos era a mais famosa boate existente na cidade. Na verdade era uma casa de rock, mas ultimamente tinha adotado o nome boate por ter agregado vários estilos de música. No inicio fora uma confusão terrível entre as diversas tribos que freqüentavam o local, os roqueiros simplesmente não aceitavam a presença de Skatistas e seu Hip Hop, nem os Rappers e muito menos os pagodeiros. No final, ou até mesmo no inicio do evento sempre havia brigas e pessoas machucadas. O gerente do local, Phill, era um homem de pouco mais de 1,65m de altura, tinha sempre a barba por fazer e o cabelo despenteado. Alegou que queria transformar sua casa de shows em um local para todos, mesmo ainda sendo um roqueiro nato. Mas, como seus clientes mais antigos e fiéis eram os roqueiros optou por escolher um dia da semana só para eles. Nada de Hip Hop, nada de rap e muito menos pagode. As quintas-feiras eram exclusivas do rock e suas diversas tribos.
Daniel nunca gostou muito daquele lugar para falar a verdade. A primeira vez em que esteve lá fora há quatro anos com seu trio antigo de amigos. Tinha acabado de sair da reabilitação, ele não era um viciado em bebidas alcoólicas, só bebeu uma única vez na formatura do ensino médio e acabou sendo pego pela policia dirigindo embriagado. Seu pai era um militar, muito exigente e correto. Quando soube da atitude do filho não pensou duas vezes em mandá-lo para uma clínica alegando que era preciso “cortar o mal pela raiz”. Quando fora para a clínica tinha apenas dezesseis anos e foi obrigado a permanecer lá até os dezoito. Uma das primeiras coisas que fizera ao sair da clínica foi ir embora de casa e morar com um amigo. E também fora no Sanatório que conhecera seus novos amigos Lucas e Rebeca. Agora aos vinte e dois anos estes eram seus únicos amigos.
-Vocês repararam naquela garota na entrada? – Rebeca quase gritou quando sentaram-se à mesa.
-O que tem ela? – Daniel perguntou sem interesse.
-Algo nela é tão... Tão estranho.
-Todos aqui são estranhos Rebeca.
-Cala a boca Lucas, você simpatizou com a mendiga foi?
-Até que ela é bonitinha. Parecia assustada.
-Não temos algo melhor para falar não? – Daniel revirou os olhos.
-Tem razão. Vamos esquecer a mendiga. O que vamos beber? Hoje eu to a fim de beber vodka.
-Eu prefiro cerveja – Lucas disse se levantando – E você Daniel vai querer o que?
-Peça um uísque.
-Ok. Volto já.
-O que foi Daniel? – Rebeca o encarou.
-Nada. Por que a pergunta?
-Está tenso. Quase não falou hoje.
-Não é nada. Estou no meu humor normal e pra falar verdade estou de saco cheio do Sanatório. Esse lugar já foi bom, hoje em dia qualquer almofadinha sem graça freqüenta. As musicas estão horríveis e é cheio de adolescentes ricos revoltados. Não tem mais o mesmo clima.
-Aqui estão as bebidas.
-Uísque sem gelo?
-Não tenho culpa- Ele deu de ombros- O bar man disse que o gelo acabou.
-Eu disse que este lugar está uma droga.
-E por acaso você também não é um riquinho revoltado? – Rebeca sorriu.
-Não sou rico – Ele bebeu um gole – Meu pai que é.
-É a mesma coisa.
-Não é não.
-Você dirige um porsche caro.
-Não foi um presente do meu pai. Foi uma divida que tínhamos.
-Que seja então... -Ela bebeu mais um gole.
-Já ouviram dizer que nada é tão ruim que não possa piorar?- Daniel disse entre dentes.
-O que quer dizer com isso?
-Olhe para trás – Daniel gesticulou e Rebeca olhou.
-Que droga. Vamos embora?
-Claro que não. Chegamos primeiro se ele quiser ir que vá.
O homem que entrara no sanatório era alto, cabelo castanho claro e vestia camisa pólo verde e sapatos escuros por baixo da calça jeans preta. Ele e Daniel se encaram por um longo momento e então dirigiu-se ao bar pedindo um Martini. Pegou a bebida e caminhou para onde os três estavam sentados.
-Boa noite – Disse mais por obrigação do que por vontade.
-Estava ótima até você chegar – Rebeca resmungou.
-Acho bom controlar os modos da sua namorada Daniel. Ela é bem hostil.
-E eu acho melhor você controlar sua boca antes que eu a parta no meio.
-Está me ameaçando Howe?
-Sabe bem que não ameaço Trajano.
-Daniel e Jared, acho melhor se acalmarem não vão querer que o Phill nos expulse de novo, não é?
-Não se meta Lucas senão sobra para você – Jared virou-se para Rebeca – Posso roubar seu namoradinho por um segundo?
-Fale com ele. Não estou segurando nenhuma coleira, não percebeu? – Ele gargalhou.
-É tão peçonhenta que exala veneno pela respiração.
-Diga logo o que quer Trajano e suma daqui.
-Quero falar com você – Ele olhou para fora- A sós.
-Tudo bem vamos até lá.
-Daniel – Rebeca segurou sua mão.
-Relaxa. Só vamos conversar e também – Ele tirou um isqueiro do bolso – Eu preciso fumar.
-Não demore. Ainda temos duas rodadas grátis. Phill nos deu por aquele favor.
-Prometo que o devolvo inteiro – Jared sorriu.
-Não garanto que eu faça o mesmo – Daniel o encarou diabolicamente.


ENCURRALADA

Desde que deitou e adormeceu a moça não pareceu incomodada. Apenas se assustou quando ouviu um barulho nos sacos de lixos ao seu lado. Respirou fundo quando viu que eram apenas dois ratos. Tentou levantar-se apoiando na parede e cambaleou. Estava fraca demais. Andou devagar até a rua e percebeu que era inútil já que não tinha para onde ir. Ficou parada por alguns minutos e deixou seu corpo se movimentar para frente. A rua não estava mais como antes. Estava calma. A porta do casarão estava fechada e não havia mais ninguém do lado de fora, apenas papeis e bilhetes voando pela calçada. Estava ainda mais escuro e extremamente frio. Sentiu a gélida brisa tocar em suas pernas e braços descobertos e se arrepiou. Estava congelando minutos depois. Sentou-se na calçada olhando para o céu. Não era uma noite bonita, não tinha estrelas e a lua estava coberta por camadas densas de nuvens cinzas e relampejava. Ela teria ficado observando por mais tempo se não fosse seu sexto sentido acusando uma outra presença se aproximando dela.
-Boa noite – Um homem sorriu para ela – Eu não queria assustá-la, desculpe.
-Como se chama menina? – Era uma pergunta que ela não sabia responder. Ficou calada.
-Está bastante assustada. Vem aqui – Ele estendeu a mão e ela se retraiu. Não confiava naquele homem. Algo em seu interior dizia para correr, mas suas pernas não obedeciam.
-Vamos, não vou machucá-la – Ele levantou as mãos até a altura dos ombros – Viu só? Nenhuma arma, nada que possa machucá-la. Venha me dê sua mão, vou ajudá-la a encontrar um lugar para dormir e comer.
Ela realmente precisava daquilo. Mas, não confiava nele definitivamente. Levantou-se rápido e sua cabeça girou. Começou a caminhar, mas o homem a seguiu. Aproximando-se mais rápido a cada momento. Ela precisava correr para longe dele, mas não conseguia. Ele a segurou pelo pulso, apertando com força e a puxou para perto dele. Ela sentiu seu perfume, era algo como lavanda misturado com suor. O homem não parecia um mendigo como ela. Estava bem vestido, com uma calça caqui preta e blusas de manga comprida azul cobrindo os braços e também um cordão de ouro no pescoço. Estava nervoso, ela podia sentir. Ele suava e respirava ofegante.
Eu precisava de uma garota de programa para mostrar a eles, mas acho que esta serve. Droga, droga por que diabos eu fui aceitar a aposta? Se eu não tirar fotos nossas fazendo eles não vão acreditar. Não tem nenhuma a essa hora, e até que essa menina é bonita, pode ser divertido. Preciso pensar em um lugar... Rápido.
Aquela era a voz dele. Ela tinha certeza, mas ele não mexeu os lábios quando ela ouviu. A voz simplesmente soou em seus pensamentos, muito clara e nítida. Ela podia jurar que ele falou se não tivesse visto seus lábios selados totalmente imóveis. Ela estava ouvindo os pensamentos dele, tinha certeza disso.
Sua cabeça doeu depois que ouviu. Um barulho chiou em seu ouvido e a deixou ainda mais tonta. O homem se aproveitou disso e a puxou pelo pulso caminhando com ela. Não conseguia se mexer, nem correr para longe dele. Estava simplesmente sendo arrastada e sem conseguir fazer nada para impedir.
-Isso boa menina. Agora vamos andando – Ele disse.
Ele a levou até a frente do lugar que tinha um letreiro escrito: SANATÓRIO. Ela reconhecera o casarão que vira mais cedo. O homem a levou para um beco do lado esquerdo da boate. Era meio escuro e tinha vários sacos de lixo espalhados por lá. Ele a levara até o final do corredor e a deixara lá. Correu novamente até o lugar de onde vieram e olhou para os dois lados da rua verificando algo. Depois voltou até ela.
-Pelo visto não vai aparecer mais ninguém. Está uma noite fria para usar esse short tão curto. Deve estar congelando acho que podemos encontrar um lugar mais quente para você. Bem aqui – Ele disse desabotoando o cinto – Vai ser bem divertido eu garanto.
Ela queria correr. Queria gritar, mas sua voz não saia. Simplesmente espremeu-se na parede e esperou pelo pior. Ela sentia que corria perigo que aquele homem ia fazer mal. Sentiu no fundo de seu coração que aquilo era terrível, mas não conseguiu mover um palmo sequer.
Surpreendido

Jared e Daniel saíram pela porta da frente. O homem que estava na porta carimbou o pulso dos dois e depois foram para fora.
-Pronto Trajano diga o que você quer – Ele disse acendendo o cigarro.
-Tem algum problema em falar meu nome Daniel?
-Chega de rodeios e não me faça perder o meu tempo.
-Eu quero te pedir uma coisa
-Me pedir?– Daniel arqueou a sobrancelha – Está ficando doido? Ou as drogas já estragaram sua massa cinzenta?
-Muito engraçado, mas eu não uso drogas Howe, e realmente preciso de um favor seu.
-E o que quer?
-Estou em dívida com a polícia – Daniel deu uma risada irônica.
-Não me diga. O que fez? Roubou a sacola de alguma velhinha?
-É sério Daniel.
-Também falo sério. Você é frouxo o suficiente para não cometer um crime que preste.
-E qual seu tipo perfeito de crime Howe? Assassinato? – Daniel se enrijeceu.
-Cala a merda da sua boca ou eu a parto no meio.
-Tudo bem, tudo bem. Como eu dizia, estou em dívida com a polícia, roubei um carro. Estava bêbado e acabei invadindo propriedade publica destruindo alguns patrimônios – Daniel gargalhou.
-Seu crime é tão idiota quanto você. Quantos anos você tem? Quinze?
-A questão é que preciso arrumar um serviço comunitário para aliviar minha pena.
-E que diabos eu tenho a ver com isso?
-Sua mãe é psiquiatra e dona de uma clínica. Talvez conseguisse me arrumar um trabalho lá, ajudar os pacientes.
-Não é bem uma psiquiatria. Ela apenas estuda alguns casos especiais.
-Tanto faz. A questão é que eu pesquisei e ajudar doentes em hospitais como voluntário conta como serviço social.
-E o que levou você a pensar que eu poderia te ajudar?
-Pelos velhos tempos?
-Ambos sabemos que os velhos tempos é a pior coisa que pode usar para me convencer.
-Tudo bem. Se conseguir que eu trabalhe para sua mãe deixarei que você fique com a Alice duas vezes por semana – Daniel tragou o cigarro.
-E quanto a policia?
-Direi ao juiz que libero você. Se eu der a permissão eles não vão te impedir.
-Esse serviço é tão importante que tem que apelar para isso?
-Estou pensando em me mudar para Madrid. Tenho tido boas propostas, mas preciso me livrar desse processo antes. Se me conseguir isto, poderá ver a garota por dois dias semanais sem minha intromissão.
-O que você falou sobre Madrid? – Daniel o fuzilou com os olhos.
-Que vou me mudar e... - Num instante Daniel encurralou Jared na parede e apertava seu pescoço.
-Como se atreve a querer levar Alice para longe de mim?
-Cal... Calma ai... Não consigo respirar – Daniel soltou enquanto socava a parede.
-Você não pode levá-la para longe...Não pode!
-Eu sei que ama a garota, mas não posso fazer nada. Eu sou o pai dela Daniel, e foi assim que Sarah desejou. Então deixa de ser estúpido e aceite meu acordo. Só irei para Madrid depois do meu processo. Isso levará algum tempo. Poderá passar um ou até dois anos com ela. Não é algo ruim.
-Ainda não sei como ela pôde ficar com um cara que nem ao menos consegue se controlar quando bebe.
-Não questione a decisão da Sarah nem da justiça. Apenas aceite.
-Quanto a sua pena, não é o juiz quem lhe dará algo para prestar serviço?
-Posso encontrar algo por conta própria. Seria bem melhor trabalhar com alguém que eu conheça. Não quero ter que ir para alguma ONG no meio do nada, se é que me entende.
-E como acha que vou conseguir esse serviço?
-Não sei. Talvez tenha algum paciente precisando de enfermeiro.
-Todos já tem acompanhantes.
-Se vire. É você quem quer a menina – Ele já caminhava de volta para a boate.
-Tudo bem – Daniel cerrou os punhos – Farei o que for possível.
-Ótimo – Jared sorriu – Que bom que chegamos a um acordo.
-Eu juro que um dia eu acabo com você Trajano. Cedo ou tarde todos descobrirão quem você realmente é.
-Sorte sua ter tanta certeza Howe – Jared sorriu entrando novamente na boate.



ATACADA

O homem era de mais ou menos vinte e quatro anos de idade. Não era feio, nem tão bonito, mas era extremamente pavoroso. Sua presença causava arrepios na garota. Ela estava desesperada sem saber o que fazer. Tentou se movimentar, mas ele a cercou.
-Calma... Calma. Eu disse que vai ser divertido. Você não quer se divertir? – Ela se apertou ainda mais na parede balançando a cabeça negativamente.
-Por que não linda? É uma coisa boa. Você vai gostar, e pelo seu rosto já deve estar acostumada com essas coisas. Uma mulher tão linda assim ganharia rios de dinheiro – Ele riu – Quantos anos você tem? Dezenove? Vinte? Eu chutaria uns vinte. Tem um rosto de menina, mas um corpão de mulher. Você não precisa fazer muita coisa é só ficar quietinha que eu faço o serviço...Ah e também sorrir para minha câmera, pelo menos finja que está feliz. No final eu lhe dou algum dinheiro, ok?
O homem aproximou-se dela e tirou seus cabelos dos olhos. O toque dele lhe dava nojo.
- Vamos querida, fale... Sua voz é tão linda quanto você? Mesmo sujinha assim está com um cheiro bom. – Ele afundou o rosto em seu pescoço, ela aproveitou a oportunidade e o mordeu com toda a força que tinha, sentindo a carne afundar em sua mandíbula. Ele gritou de dor.
-Vagabunda! Vai me pagar por isso! – Ele a segurou com força quando ela correu.
Caiu de joelhos no cascalho e ardeu quando ralaram no chão. Ele se sentou por cima dela segurando seus pulsos com força. Estava machucando. Ela se debatia, mas era inútil. Ele falava coisas nojentas em seus ouvidos enquanto tentava beijá-la. Ela não poderia fazer muita coisa. Ainda estava fraca de fome e não tinha forças para resistir.
Naquela situação fez a única coisa que ainda não tinha usado, mas que seria a única que poderia ajudá-la. No beco escuro debaixo do homem asqueroso que a violentava exalou um grito tão alto que fez sua garganta arder.


SALVADOR

-Desgraçado! – Daniel chutou uma lata que estava no chão – Eu juro que um dia ele vai pagar. Não vai tirar Alice de mim.
O céu trovejou mais violentamente e alguns pingos de chuva já começaram a cair. Ele acendeu o ultimo cigarro e deu uma grande tragada exalando a fumaça devagar. Respirou fundo e caminhou de volta para o Sanatório quando um grito fez sua mão congelar na maçaneta. A chuva aquela altura já estava forte e abafou o grito que provavelmente só ele ouvira. Um grito desesperado e pavoroso que vinha de algum lugar perto dali. Tinha certeza que era um grito de mulher, esperou alguns segundos e ela gritou de novo. Poderia simplesmente ignorar e entrar novamente na boate, não tinha nada a ver com isso. Pensou em chamar a polícia era o máximo que podia fazer para ajudar, não queria se envolver com nada. Mas ser covarde era uma coisa que não fazia parte dele e seu instinto o levou até o beco ao lado do Sanatório de onde ouviu um último grito, dessa vez mais baixo.
Chutou alguns sacos de lixo do caminho e irrompeu até o corredor pequeno. A primeira cena que viu o chocou. Um homem por cima de uma jovem que se debatia violentamente enquanto ele a beijava. Daniel nunca gostou de se meter nessas coisas. Já vira assaltos várias vezes e poderia ter ajudado, mas nunca se importou, não por covardia, mas sim porque nada que acontecesse com as outras pessoas o importava. Era um egoísta egocêntrico e admitia isso. Porém aquela jovem ali fragilizada o comoveu, ela olhou para ele desesperada e a única coisa que pôde sentir naquele momento foi um ódio incontrolável. Em sua mente vieram diversas imagens, várias lembranças de um tempo distante em uma casa de campo. Uma jovem de quinze anos sendo violentada por um capataz. Ele lutando para salvá-la do homem enquanto a pobrezinha chorava ensangüentada no chão. As lembranças foram tão fortes que o deixaram tonto. Avançou para cima do homem tirando-o de cima da moça. Socou lhe o estomago e depois o rosto fazendo-o cair no chão.
-Seu desgraçado! Monstro! - Mais alguns socos e sua mão estava coberta de sangue da boca do rapaz que estava estourada.
-Seu imbecil – O homem disse cuspindo sangue- Foi ela quem quis essa vadiazinha ai – Apontou para a menina encolhida abraçando os joelhos chorando desesperadamente.
-Cala a boca seu infeliz ou eu mato você! – E novamente se atacaram. Dessa vez o homem foi mais esperto, se desviou do ataque e investiu no estomago de Daniel que caiu no chão. O homem aproveitou a oportunidade e lhe socou o rosto.
A garota assistia aterrorizada. Dois homens lutando na chuva, rolando pelas poças de lama que se misturava com sangue. Aquele homem a salvara, ela precisava ajudá-lo. Estava caído enquanto o outro acertava seu rosto. Ela olhou para o lado e viu uma pedra, pegou-a com dificuldade, era um pouco pesada. Aproximou-se rapidamente e acertou a cabeça do homem que caiu no chão inconsciente.
Daniel olhou surpreso para ela que lhe estendeu a mão. Ele a segurou e levantou-se. A menina tinha parado de chorar, mas tremia tanto que era impossível segurar sua mão sem sentir a vibração. Sua respiração também era incontrolável e ofegante. Ele a abraçou foi involuntário. Queria acalmá-la.
-Está tudo bem agora. Vamos sair daqui – Ela assentiu.
Quando chegaram até o outro lado da rua Daniel notou que as roupas dela estavam estragadas. A blusa com a alça arrancada e o short também com alguns rasgões. Ele respirou fundo e a encarou. Aquela era a mesma menina que vira na entrada da boate horas atrás. Tinha certeza disso.
-Como se chama? Quer que eu ligue para seus pais? Você tem algum parente que eu possa avisar? – Ela balançou a cabeça negativamente.
-Ele chegou a fazer alguma coisa com você? Te machucou? – Ela apenas mostrou os joelhos arranhados.
-Tudo bem. Não vamos envolver a polícia nisso ok? Acho que já passou por muita coisa essa noite.
Daniel não sabia bem o que fazer. Na verdade ele sabia sim, só não tinha certeza se deveria fazer... Se poderia lidar com aquilo novamente.
-Que se dane – Pensou enquanto segurava a mão da menina e a levava até seu carro.
Apertou um botão na chave, o carro fez dois barulhinhos e destrancou. Colocou a menina no banco do carona e apertou o cinto. Ligou o motor e colocou o carro em movimento. Passou pelas ruas desertas como um raio desrespeitando até mesmo os sinais vermelhos. Como Rebeca dissera a menina era mesmo estranha, droga Rebeca, ele pensou pegando o celular digitando um número.
-Alô? Daniel? Onde diabos você se meteu? – Rebeca estava atônita.
-Passe para o Lucas.
-Mas...
-Agora Rebeca!
-Alô? O que foi irmão? Você desapareceu com o Jared, ficamos preocupados.
-Esqueça aquele imbecil. Tenho um problema maior agora – Ele olhou para a garota.
-Qual problema?
-Garota. Entrada. Homem. Ataque... Problema – Não foi preciso explicar duas vezes, Lucas e Daniel falavam sempre em códigos que entendiam perfeitamente. Um método que desenvolveram para evitar longas explicações em problemas.
-Faça o que tiver de fazer. Cuidarei de tudo. Seu pai precisou que você fosse até lá. Pode deixar levo Rebeca para casa. Até amanha.
E desligou o telefone. A menina estava mais calma, já não tremia tanto e olhava a chuva através da janela. Realmente era bonita, Daniel pensou. E ainda não entendia por que ela confiou nele depois de ter sido atacada por alguém do mesmo sexo. A maioria das mulheres não confiariam em homem nenhum, mesmo que este tenha salvo sua vida.
-Confiei em você por que você é bom – Ela disse e Daniel se espantou. Estava distraído e não esperava que a menina falasse, pensou até que ela era muda. Mas, o que mais lhe surpreendeu foi o fato de ela saber exatamente o que ele estava pensando.
-Como assim bom?
-Não vi em você o que vi naquele homem- Ela respirou fundo – Aquele homem era mal. Queria me machucar... No inicio pensei que ele fosse bom, que queria me ajudar, só depois que olhei nos olhos dele que pude notar a verdade, mas era tarde demais.
Sem duvida alguma ela era estranha. Totalmente estranha. Depois da última fala ficou calada. Daniel entrou na garagem do prédio, estacionou e abriu a porta do carona estendendo a mão para ela. Os dois subiram até o terceiro andar onde ele morava. Talvez o surto de adrenalina fosse o responsável pela idiotice de levar uma garota de rua quase violentada para seu apartamento, mais loucura ainda era pensar em como sentia ódio por aquele homem. Não entendia por que sentiu tanta obrigação em cuidar da garota. Algo nela o fez sentir obrigado a interceder. Não deveria se meter com isso tinha problemas demais com Jared e ainda se preocupava com Alice, mas naquele momento só a garota importava e isso o deixava confuso. Talvez fosse apenas por gentileza, ou talvez fosse o motivo que ignorou: Aquela menina, aliás, a situação pela qual passou lembrou lhe de sua querida Sarah.

SEGURA

O apartamento de Daniel era típico para solteiro, mas muito bem organizado. Tinha uma pequena cozinha, uma sala com um sofá vermelho com almofadas e uma tela plana na parede, na mesinha debaixo da TV um XBOX. A sala era ao mesmo tempo um quarto, dividido apenas por uma bancada onde tinha um aquário com um peixe azul nadando distraído, um telefone e algumas revistas. Na outra parte dividida tinha uma cama de casal, a cama bem feita e um guarda roupa de parede; As roupas eram cuidadosamente organizadas assim como os sapatos. A moça entrou meio sem jeito. Ficou parada na porta enquanto Daniel entrou em uma porta ao lado da pequena cozinha. Ele voltou minutos depois com uma caixinha e a colocou na mesinha.
-É um kit de primeiros socorros. Minha mãe me deu porque eu vivia me metendo em confusão, acho que é a primeira vez que vou precisar usar.
Ele riu presunçoso. Realmente não precisava de curativos, apesar dos socos que levara não tinha nenhum arranhão no rosto. Assim a garota percebeu que os curativos eram para ela.
-Vai arder um pouquinho ta? – Ele disse molhando um algodão num liquido transparente, depois passou pela ferida e ela apertou os lábios.
-Viu só eu disse que ia arder, mas já fica bom você vai ver – E então não ardia tanto assim, ele assoprou o ferimento e o ar gelado aliviou um pouco a dor. Depois colocou alguns curativos.
-Pronto. Está melhor assim.
Ele foi até o guarda roupa e pegou alguma coisa e dirigiu-se para o banheiro. Saiu minutos depois com roupas secas.
-Você precisa de um banho. Venha o chuveiro está ligado e tem toalhas na bancada da pia. Use o que for necessário, não se preocupe em molhar os curativos não vão estragar. Vou sair de novo para comprar alguma coisa para você comer.
-Obrigada – Ela sussurrou e então Daniel saiu novamente.
Ela não fazia idéia do que estava acontecendo. Fora tudo tão rápido, mal teve tempo de perguntar o nome do homem gentil que a salvou. Sentiu-se envergonhada por ser tão mal educada. Espiou o banheiro duas vezes antes de entrar. Exalava uma fumaça que deixava o espelho embaçado. Abriu cuidadosamente o Box colocou o pé para dentro e depois o outro. Tirou o short e a camiseta molhada o que foi um alívio. Entrou na ducha quente e seu corpo relaxou. Deixou a água escorrer e levar toda a sujeira, toda a tensão por qual passara. Usou o xampu e o condicionador e depois um sabonete de erva doce. Saiu do banho e enxugou-se com a toalha branca. Enrolou-se e saiu.
O quarto e a cama dele tinham um cheiro gostoso de alguma coisa cítrica. Passava-lhe confiança e segurança. Ela sentou-se era confortável. Sentiu vontade de deitar e fechar os olhos deixando o corpo relaxar, mas precisava esperar ele voltar. Com certeza ele lhe daria a comida e pediria que ela fosse embora. Já tinha feito muito por ela, até mais do que deveria, então se ele pedisse para ela sair iria com gosto e gratidão.
Quando ele entrou deixou dois pacotes do McDonald’s em cima da mesa e foi até onde ela estava sentada. Agora que ela estava limpa podia ver o quanto era bonita. Os cabelos eram tão vermelhos que reluziam na luz; Os olhos eram tão azuis que iluminavam seu rosto. Se ele fosse religioso e acreditasse em anjos poderia jurar que ela era um deles.
Ela parecia perdida em pensamentos olhando a rua movimentada pela janela. Vestiu uma camiseta preta dele e uma calça de moletom que usava para caminhadas matinais. Estava bonita. Ele sorriu quando ela olhou para trás e se assustou com ele.
-Ficou muito bem em você – Ele gesticulou com o queixo para a roupa.
-Desculpe por pegar sem permissão – Ela abaixou a cabeça – Eu estava com frio.
-Hei tudo bem, eu ia mesmo te dar algo seco para vestir – Ele sorriu – Não se preocupe com isso linda – Ele arregalou os olhos, Linda? De onde aquilo havia saído? Ele balançou a cabeça para espantar o pensamento.
-Desculpe chamá-la assim.
-Tudo bem – Ela sorriu, tinha belas covinhas – Não se preocupe com isso lindo – Ele gargalhou.
-Trouxe comida para você. Venha antes que esfrie.
Os dois comeram em silencio. A fome que ela sentira o dia inteiro havia sumido e sentia suas energias novamente. Daniel lavou a louça suja enquanto ela vasculhava a TV.
-Não tem nada de bom as quintas – Ele disse enxugando as mãos com o pano de prato.
-E quando tem? – Ele sorriu.
-Quase nunca. Exceto em algumas madrugadas nos canais privados – Ela o olhou com o “Quê?” bem nítido. Apenas mudou de assunto, ela era mesmo tão inocente assim?
-Você ainda não me disse como se chama.
-Eu... Eu não sei... – Ela suspirou.
-Não sabe?
-Não me lembro de nada e... – Ela tocou a cabeça – Quando tento me lembrar a cabeça dói, dói muito.
-Hmmm – Ele se sentou ao lado dela – E qual a ultima coisa que se lembra?
-De ter acordado em um lugar cheio de lixo. Caminhei o dia inteiro até aquele lugar onde você me achou.
-Esteve na rua todo esse tempo? Sem memória? – Ela assentiu.
-Ainda bem que você me salvou, eu não sei o que aquele homem teria feito comigo...
-Pois é. Alguns homens são doentes.
-Ele disse que o obrigaram a fazer aquilo. Que era uma aposta.
-Hmmm – Daniel pensou um pouco – Entendo. A maioria desses calouros de universidades ricas tem alguns trotes imbecis e doentes. Não é a primeira vez que isso acontece.
-Ele tinha uma câmera – Ela abaixou a cabeça – Disse para eu sorrir e fingir que estava gostando – Daniel cerrou os punhos.
-Onde está um Death Note quando precisamos dele?
-O que? – Ele riu.
-Nada. Eu também ainda não me apresentei não é? Você jantou na minha casa, tomou banho no meu banheiro que alias deixou todo molhado, vestiu minhas roupas e ainda nem sabe meu nome. Bom, sou Daniel Howe – Ele estendeu a mão.
-Muito bom conhecê-lo Daniel... Sou... Alguém – Ela sorriu – E desculpe pelo seu banheiro – Ele piscou.
-Está tudo bem. Quer jogar?
-Que?
-Videogame. Nunca jogou?
-Não, acho que nem sei o que é – Ele arqueou a sobrancelha.
-Humm é mesmo? Então vou te ensinar.
Ele levantou e colocou um jogo no XBOX. Esperou a tela carregar, pegou um dos controles brancos e entregou o outro a ela.
-É simples. Vamos jogar guitar hero, vamos tocar uma música – Ele explicou o jogo.
-Até que você é boa. Aprendeu rápido. Essa aqui é minha musica favorita, Cliff of dover do Eric Johnson.
-É bonita - Ele riu.
-Sabia que eu nunca me diverti tanto assim com alguém? Você é a primeira pessoa que não me deixa entediado.
-Isso é bom?
-Acho que sim. A única coisa que me incomoda é não ter como chamá-la.
-É verdade eu não tenho um nome. E se tenho não me lembro.
-Já sei-Ele disse levantando-se até a estante de livros.
-O que?
-Vamos procurar um para você.
-Um nome para mim?
-Uhum. Provisoriamente até descobrirmos quem você é.
-Parece bom.
Leram alguns livros procurando algum nome que combinasse com o rosto dela. Ele poderia chamá-la de várias coisas, mas algo nela merecia uma coisa especial. Ele sentia que ela era especial. Lembrou-se de um livro que comprara juntamente com Sarah quando escolheram o nome de Alice. Ele puxou um livro de capa vermelha meio amassada e sentou se no sofá ao lado dela. Folheou o livro varias vezes.
-Este livro contém informações sobre vários nomes. Significado e outras coisas. Dizem que o nome tem um poder sobre a pessoa e seu significado é importante – Ele deu de ombros – Vamos ver se funciona com você. Encontrei um.
-Qual é?
-. Veja.
Ela pegou o pequeno livro e correu os olhos pela página. O livro tinha escrito:
Origem do Nome
LATIM
Significado de

Nascida para ser amada.
Significado e origem do nome

Está sempre pronto a se aventurar, muito cheia de energia, possui uma personalidade ativa e decidida. Não vê graça numa vida sem desafios. E por ser uma líder por natureza, atrai as outras pessoas com seu entusiasmo. Mas é importante tomar cuidado e não se tornar uma pessoa teimosa.

-Você gostou? É um nome bonito não acha?
-Sim. Eu gostei.
-Se chamará por enquanto.
-Espero poder chamar-me assim para sempre – Ele sorriu.
-Tudo bem então .
-E por que acha que o nome combina comigo?
-De certa forma você me cativou. Isso é uma coisa rara, você é especial. Sinto que realmente nasceu para ser amada.
-Obrigada por tudo Daniel.
-Por nada. .
O abraço que ela lhe dera o pegou de surpresa. Assim como tudo naquela noite. Ele realmente havia batizado a garota? Lhe ensinado a jogar videogame e ter cuidado dela? Aquele não era o novo Daniel, era o antigo que ainda possuía sentimentos humanos, aquele que não deveria mais existir... Que ele apagara para sempre do mundo desde que aconteceu aquilo. Definitivamente alguma coisa estava errada com ele.
levantou-se e caminhou até a porta. Ele estava perplexo ainda pela surpresa, não que fosse ruim, mas sim porque realmente não esperava aquela atitude da menina. Depois que saiu do estado de reflexão que percebeu que ela já havia saído. Correu para alcançá-la. Já estava na escada.
-Espere. Espere ! – Ela parou.
-O que foi?
-Aonde você vai?
-Ainda não sei – Ela deu de ombros.
-Pode passar a noite aqui. Digo se não se importar. Posso dormir no sofá deixo minha cama para você. Ainda está chovendo e está tarde.
-Não é mesmo um problema?
-Nenhum. Venha.
Foram dormir um pouco tarde. Jogaram até o sono chegar. Daniel ajeitou o sofá para dormir e deu a cama a ela. não parecia uma menina comum. Outra já teria se atirado em cima dele. Charme era o que não lhe faltava, mas aquela garota que nem ao menos sabia quem era não parecia em nada com as outras com quem já esteve. E foi a primeira visita em sua cama que dormiu lá sozinha.
Não devia passar das quatro da manhã quando o chamou. Ele não estava dormindo, ficou pensando naquela noite maluca. Calçou os chinelos e sentara-se na beirada da cama. estava sentada abraçando os joelhos. O lugar estava parcialmente iluminado pelos clarões dos relâmpagos.
-O que foi? Perdeu o sono?
-Estou preocupada.
-Com o que linda?- Linda de novo? Aquilo era errado. Ele sabia.
-Aquele homem. Será que ele morreu? – Daniel sorriu.
-Foi uma pancada forte, mas creio que não, alias eu poderia ter cuidado dele sozinho. Teria sido um prazer - Ele deu de ombros – De qualquer forma, tanto faz. Tomara que vá para o quinto dos infernos aquele infeliz – Ela sorriu.
-Você fala de um jeito engraçado.
-Rude você quis dizer – Ela bocejou e tirou os cabelos dos olhos. Daniel notou uma fina cicatriz nos pulsos. Discretamente pediu para olhar. Era uma marca de corte, parecia profundo. Será que ela tentara se matar? Realmente aquela garota o intrigava.
-Não queria que visse isto – Ela puxou o braço.
-Se lembra o que aconteceu?
-Não faço idéia. Também fiquei reparando nelas, não sei como apareceram. O que você acha que foi?
-Também não faço idéia. Mas, está tudo bem. Não se preocupe.
-Você fala isso o tempo inteiro. Estou sem memória e sem rumo, não é tão fácil ficar despreocupada – Sua voz era quase um sussurro.
-Digo isso – Ele chegou mais perto e segurou suas mãos – Por que não quero que tenha medo. Prometo que vou te ajudar a se encontrar.
-Eu sei que sim.
-Sabe? E como? – Ela não disse nada, apenas sorriu e deitou em seu colo.
Eles não perceberam o resto da noite passar. Daniel acordou bocejando e ela estava deitada no colo dele. Tirou a cabeleira rubra do rosto dela e deitou a cabeça no travesseiro tentando não acordá-la. Levantou cuidadosamente. O relógio de cabeceira marcava 6:00. Foi até o telefone e saiu do apartamento. Discou os números tão conhecidos e uma voz cansada atendeu.
-Que droga Howe não podia esperar amanhecer?
-Cala a boca idiota. Só liguei para avisar uma coisa.
-Desembucha.
-Você queria seu serviço social não é mesmo?
-É claro.
-Pois então. Acabei de te arrumar um. Esteja no consultório da minha mãe hoje à tarde.
-Até que você não é tão inútil Daniel - Um bocejo - Estarei lá.
-Que seja.
-Se estiver me zoando eu acabo com você Howe.
-Vá se ferrar.
Daniel desligou o telefone e o apertou com força. Entregar a ele seria a solução de todos os problemas, simplesmente pediria a sua mãe para interná-la na clínica e tentar descobrir quem ela era, Jared pagaria as despesas é claro e também poderia ajudar na limpeza do hospital. Assim ele Poderia ver Alice, teria alguém para ajudá-la e Jared... Bom Jared que fosse para o inferno, não fazia diferença.
Quando entrou em casa estava convicto de que tinha se livrado de todos os problemas, mas também tomou consciência de que tinha arrumado um novo; Quando entrou e viu o rosto angelical de dormindo ternamente abraçada ao seu travesseiro seu único pensamento foi que era nele em que ela confiava e que de certo modo eles tinham uma conexão. Pela primeira vez na vida alguém fez com que todos os seus planos fossem por água abaixo.



Capítulo 2 - Conectados


Despedida

Quando abriu os olhos pela manhã a primeira coisa que vira foi o céu ainda cinza escuro. Certamente choveria muito naquela época, não havia previsão de sol. Ela levantou e foi até o banheiro, jogou um pouco de água fria no rosto e prendeu o cabelo em um coque. Seu estomago roncou umas duas vezes e ela fora até a cozinha procurar por algo. Daniel não estava em casa, certamente havia saído cedo. O relógio marcava 12:45. abriu a geladeira, não era certo ficar tão a vontade na casa de outra pessoa, mas estava morrendo de fome, ele não daria falta de nada. Ela pegaria algo para comer, sairia e deixaria um bilhete de despedia agradecendo por tudo. Daniel prometeu ajudá-la, mas era melhor se virar sozinha, ele tinha a própria vida para cuidar. Definitivamente não queria ser um peso pra ninguém.
Não havia muita coisa na geladeira, apenas duas cervejas alguns ovos, bacon e refrigerantes dos quais ela pegou um. No armário tinha uns biscoitos de chocolate. Ela sentou-se à mesa engoliu os biscoitos e bebeu a coca. Pegou um guardanapo e procurou uma caneta do quarto. Encontrou um lápis da branca de neve, ela riu consigo mesma e começou a escrever. Não havia muita coisa a ser dita. Agradeceu por tudo umas cinqüenta vezes e despediu-se da maneira mais terna que pôde. Suas roupas que deixara no banheiro não estavam mais lá. Daniel não se importaria que ela ficasse com aquelas, estavam velhas e depois ela voltaria e entregaria a ele um dia.
Quando passou pela sala viu na mesinha o livro em que Daniel escolheu seu nome. Precisou tocá-lo mais uma vez. Sentou-se e ficou olhando durante alguns momentos o nome circulado. Lembrou-se do sorriso de Daniel e de como ele a ajudara naquela noite. Milhões de agradecimentos não seriam suficientes para compensá-lo por aquilo. Cada pedacinho daquele lugar estava gravado no seu mais profundo interior, era como se de certa forma já pertencesse aquele a ele. Preparou-se para sair novamente e viu uma blusa de Daniel jogada ao seu lado. Ela a pegou instintivamente e caminhou até a porta. Respirou fundo e não pôde evitar o desejo de sentir aquele perfume cítrico pela ultima vez. Levou a camisa ao rosto e respirou fundo, deixando aquele cheiro gostoso invadir suas narinas inundando o seu ser. O cheiro da única pessoa que fora gentil com ela quando mais precisou. O cheiro daquele a quem devia mais que a vida. afastou a camisa e a jogou novamente no sofá. Olhou rapidamente o apartamento pela última vez e então saiu com lágrimas teimosas correndo de seus olhos.

Bilhete

O transito estava o mesmo inferno de sempre. Daniel corria e costurava os carros que buzinavam e o xingavam, mas precisava correr antes que acordasse. Precisava falar com ela, explicar que tinha ido à delegacia e procurado algum b.o, mas não havia nada sobre uma garota desaparecida. Nenhuma queixa nem nada, era como se ela não existisse para ninguém. Ele não dormira muito bem, mas não estava cansado. De uma noite para outra aquela garota o mudou totalmente. Pela primeira vez na vida tinha algo para fazer além de pensar em Sarah, se preocupar com Alice e odiar Jared. tinha lhe dado a chance de se importar de verdade com alguém além dele mesmo.
Não estacionou muito bem, sairia em breve. Levaria para ver a Dra. Júlia e ver o que ela podia fazer pela garota. Subiu rapidamente as escadas. Girou a maçaneta e entrou no apartamento. Estava tudo normal, exceto a cama vazia. tinha saído? Para onde? . Verificou o banheiro e também estava vazio. Viu a lata de coca em cima da pia. Estava pela metade e também alguns farelos de biscoito no chão. Ela tinha definitivamente ido embora enquanto ele saíra.
Daniel não era de lamentar muita coisa, mas a ausência da garota o deixou transtornado. Pensou em ligar para Lucas e pedir ajuda, mas Rebeca provavelmente entraria na história e ele não estava com a menor paciência para lidar com ela. Ao lado do telefone havia um guardanapo, parecia ter algo escrito. Ele pegou o pequeno papel e viu claramente a letra bonita que lhe dizia algo.

Daniel, desculpe sair assim sem me despedir, mas acho que é melhor assim. Serei eternamente grata a tudo que me fez, nada no mundo seria capaz de lhe recompensar por ter salvo minha vida. Ontem eu não sabia quem era, de onde eu vim. Mas, hoje sei que sou e que você salvou minha vida e isso resume tudo que preciso saber. Tive de levar suas roupas e também peguei alguns biscoitos e uma coca. Espero que não se importe. Obrigada por tudo, muito obrigada você não tem idéia do quanto sou agradecida. Espero que a vida seja boa para você, porque merece. Muito obrigada por tudo Daniel, foi um prazer te conhecer. Um beijo.

Daniel não entendia por que aquilo o afetou tanto. era uma desconhecida não deveria abalá-lo. Ele devia simplesmente esquecer aquela história e deixar a menina seguir a vida dela. Ligou a TV sem animo e afundou no sofá deixando a mente vagar para o nada.
Caminho traçado

andou muito tempo. Quase a tarde inteira. Novamente não sabia para onde ir. Ainda não chovia, mas não demoraria muito até o céu desabar em água. O que aconteceu naquele momento foi rápido, alias não demorou nem um segundo quando um garotinho de mais ou menos seis anos se soltou da mão da mãe e saiu correndo atrás da sua bola que atravessou o asfalto. teve uma reação rápida. Estava um pouco atrás dos dois, a mãe falava ao celular dando gargalhadas e o menino se soltou bem rápido e saiu correndo. Um caminhão alto vinha se aproximando e a mãe não pareceu ter notado a criança se soltando. não pensou, apenas agiu. Correu atrás do menino e o puxou. O caminhão na tentativa de desviar do garoto acabou entrando na pista contraria e atravessou uma loja. Um barulho atormentador de carros freando invadiu a avenida. Alguns bateram na traseira dos outros antes que pudessem parar ou desviar. O garoto chorou e ela o abraçou. A mãe assistiu chocada o filho abraçado por uma garota despenteada com calça moletom e blusa masculina ainda com o telefone pendurado na orelha e a boca em formato de O.
Felizmente ninguém se machucou seriamente, apenas alguns ferimentos leves. Não demorou muito até que uma ambulância chegara apitando no local acompanhada por dois carros de policia. O menino já estava novamente com a mãe que o abraçava enquanto soluçava. Os policiais fizeram algumas perguntas ao dono do caminhão e a . Ela não disse muita coisa, apenas que o caminhão ia matar o garotinho e que ela o puxou para longe do asfalto. Pediu desculpa pela bagunça que fez e o policial sorriu.
-Desculpa? Você salvou uma criança não tem nada para se desculpar.
Ele se afastou indo em direção a viatura. O céu trovejou bravamente e um vento gelado começou a invadir a rua. As arvores balançavam furiosamente, quase sendo arrancadas pela raiz. não entendia porque, mas não gostava de tempestades. Voltou a caminhar e passou do lado da viatura. O policial acenou e sorriu amigavelmente para ela fazendo um sinal com o polegar. Ela também sorriu para ele e continuou a caminhar. Não conseguiu dar muitos passos antes que um grupo de homens e mulheres com microfones nas mãos e várias câmeras a cercassem e fizessem um monte de perguntas ao mesmo tempo, tocando e puxando o braço da menina. Era tanta gente ao redor que ela nem podia contar. Como formigas em um pedaço de doce. Eles a tocavam o tempo inteiro e agarravam seus braços. ouvia o mesmo chiado nos ouvidos de quando fora atacada por aquele homem, como uma TV fora de freqüência e várias vozes ecoando em sua cabeça. Pensou que ia desmaiar. Tapou os ouvidos desesperada pedindo que eles calassem a boca e a deixassem em paz. Mas, ninguém parecia ouvi-la.

Achada

Daniel vasculhou a TV com o controle remoto, mas não havia nada de interessante pra variar. Ia desligar o aparelho quando pulou o canal e um noticiário apareceu na tela. Era pra ser só mais uma daquelas noticias sensacionalistas de programa de noticias, um garoto de classe média alta quase fora atropelado por um caminhão quando atravessava a rua atrás de sua bola. A mãe uma bancária estava falando no celular quando o filho se soltou de sua mão sem que ela percebesse. Apenas disse que foi rápido demais, uma garota salvou o garotinho puxando-o no momento em que ia ser atropelado. Nada disso era novidade para ele, mães desatentas são os casos mais comuns de seqüestros, atropelamentos e tragédias com crianças, mas algo lhe chamou a atenção. A garota que os repórteres tentavam entrevistar era .
A surpresa o atingiu com uma profundidade tão grande que ele custou voltar a si. Era ela quem salvou o menino e agora estava lá, sozinha sendo quase esmagada pelos repórteres e curiosos que a cercavam.
-O que você tem a dizer sobre o que acabou de fazer? – Disse uma loira.
-Você sabia que aquele menino é filho de um dos maiores empresários da cidade? – Gritou um homem alto.
-Como se sente salvando a vida de uma criança? – Dessa vez uma ruiva.
-Algumas testemunhas dizem que você empurrou o garoto para o asfalto é verdade? – Um japonês perguntou.
E mais uma série de perguntas inúteis. estava assustada, ele podia ver isso, tapava os ouvidos pedindo que calassem a boca, mas ninguém se importava. Daniel ainda boquiaberto teve de esperar o celular tocar três vezes antes de atender.
-Alô? Daniel, onde você está? Quero saber o que houve ontem.
-Lucas, não dá pra falar agora. Preciso sair.
-Aonde vai?
-Buscar a .
-Quem é essa?

Ele não respondeu. Desligou o celular correndo imediatamente para a garagem.
Confortada

“Só quero que eles se calem. Por que não se calam? Minha cabeça dói! Dói, eu preciso que parem...Parem...” Ninguém a ouvia. A multidão a acompanhava a medida que tentava se esquivar dela. nunca se sentira tão mal na vida, mesmo não lembrando de seu passado nunca tinha sentido tanto desespero sabia disso, nem mesmo quando o homem a atacou. Precisava fazê-los parar de tocá-la. Precisava que os chiados cessassem, estavam deixando-a louca.
Ela já tinha andando uns dois quilômetros e alguns já tinham a deixado em paz, mas algumas pessoas ainda a cercava. As vozes em sua mente quando a tocavam. Eles estavam mais perto dela. A cabeça girou, suas pernas ficaram bambas e ela sentiu que ia cair. Uma dor aguda atingiu a nuca fazendo seu corpo inteiro estremecer. O chão ficou mais próximo e sentiu que ia dar de cara no asfalto, quando alguém lhe segurou. Eram braços firmes, ela não olhou para cima, mas recostou a cabeça no peito dele. Inalou o perfume cítrico e sentiu-se confortável. Não precisava olhar para ter certeza de que era Daniel. As vozes ainda eram constantes em sua mente. Ele a levou para fora da multidão. As vozes ficando fracas até sumirem. Seu rosto ainda estava no peito dele, mas o cheiro era diferente. Ela pensara ser o mesmo, mas não era. O cheiro era mais amadeirado, mesmo assim era bom. Daniel tinha vários cheiros deliciosos que a faziam sentir bem. Esforçou-se para olhar para ele. Mas, seus olhos embaçados lhe mostraram outra coisa, não eram cabelos negros, nem olhos escuros, a pele não era tão branca e não havia nada nos lábios, nenhum metal. O que seus olhos lhe mostravam era um homem de cabelo claro, olhos claros e a pele pouco bronzeada. Tinha quase o mesmo perfume de Daniel, mas não era ele. Uma pontada de decepção a invadiu.
-Você está bem? – A voz também não era igual.
-Acho que sim – Ele riu.
-Povo chato não é?
-Sem dúvida.
-Por que ficou tão mal? Você tem algum tipo de fobia?
-Eu não sei.
-Venha – Ele estendeu a mão – Vamos para um lugar onde possa se sentar.
-Aqui está bom – Ela não iria a lugar algum sozinha com alguém que não fosse Daniel.
-Tudo bem então – Ele riu de novo – Vamos nos sentar aqui – Ele disse sentando-se na calçada.
-Ta – Ela sentou-se também.
Ele não falou muito, estava olhando para a multidão que pareceu não querer enfrentá-lo. Os repórteres estavam com a atenção na mãe e no garotinho, já não ligavam mais para . O lugar onde estavam parecia com uma praça, mas não tinha bancos. O rapaz olhou novamente para ela.
-E então como se chama? – Ela pensou um pouco.
- - Respondeu insegura.
-Nome bonito – Ela assentiu.
-Aonde estava indo?
-Não sei – Ela deu de ombros – Pra qualquer lugar.
-Quer dar uma volta? – Ele disse levantando-se – Sei que prefere ficar aqui, mas posso te levar para tomar um café ou comer alguma coisa.
-Por que você não vai dar uma volta? – se espantou olhando para trás quando reconheceu a voz inconfundível.
Daniel estava de jeans escuros, camisa de alguma banda e um all star preto. O jeito como falou com o homem parecia sério, como se já se conhecessem. Ele estava encostado no carro de braços cruzados olhando para o rapaz. Um olhar tão frio quanto odioso. O homem gargalhou quando Daniel se aproximou, os dois tinham quase a mesma altura, algo em torno dos 1,80m, mas Daniel era mais alto.
-O que está fazendo aqui Howe?
-Não é da sua conta.
-Venha – Ele estendeu a mão ela aceitou.
-Com ele você vai? Estou ofendido – Ela riu.
-É que já nos conhecemos e...
-Não precisa explicar nada a ele.
-Como sou mal educado. Nem me apresentei, Sou Jared Trajano, ao seu dispor – Eles apertaram as mãos.
-Prazer em conhecê-lo Jared – Ele riu.
-Pelo menos ela é mais educada que a baixinha rabugenta. Falando nisso, Rebeca sabe sobre – Ele hesitou – Ela?
-Não é da sua conta.
-Qual é Daniel, me diz como encontrou seu novo bichinho de estimação?
Jared não falou mais nada. Daniel socou-lhe o rosto. Ele abaixou com as mãos apoiadas nos joelhos e cuspiu um pouco de sangue.
-Eu avisei que ia partir a merda da sua boca no meio- Jared riu.
-Chama isso de soco? Não senti nada.
-Que seja. Vamos – Ela olhou para Jared e ele acenou.
- Hasta la vista baby – Ele disse
-Melhor correr pra casa e colocar um gelinho na boca Trajano – Daniel disse abrindo a porta do carona para .
Jared caminhou novamente para a multidão que já estava mais branda. Daniel entrou no carro um pouco ofegante e respirou fundo.
-Aonde vamos? – perguntou.
-Ver uma pessoa.
-Quem?
-É uma médica. Vamos ver se consegue descobrir alguma coisa sobre você – Ele girou a chave.
-Espere – Ela segurou sua mão.
-O que foi?
-Quem é ele? – Ela apontou para Jared que já fora engolido pela multidão.
-Apenas um imbecil.
-O ódio entre vocês é impressionante.
-E como você sabe disso? – Ele bufou.
-Eu senti.
-Como?
-Aqui – ela tocou o peito de Daniel – No coração.
-Acho que você errou de lugar...
-Por quê?
-Porque eu não tenho um.
-Isso não é verdade.
-E como sabe? Também sentiu? – Zombou.
-Não.
-Então como?
-Por que – Ela respirou fundo – Você ama a Alice. E pra isso é necessário um coração não acha?
-Como você sabe sobre ela?
Não ouve resposta. Um trovão soou alto, um estrondo tão grande que Daniel estremeceu. Olhou por sua janela e viu uma arvore caída, quando voltou a atenção para ela estava desmaiada e um sangue vermelho e ralo escorria de seu nariz.



Capítulo 3 – Destinados parte I



Daniel odiava hospitais tanto quanto odiava qualquer coisa, mas de certa forma aquele lugar era o que odiava mais. A resposta para o porquê era clara, como tudo em sua vida aquilo lhe lembrava de Sarah. Mas, naquele momento não lembrou-se dela, nem por um instante. Quando entrou com inconsciente nos braços era nela que seus pensamentos estavam focados. Ele não era médico, mas tinha certeza de que ela estava mal. Não foi apenas o sangue em seu nariz o corpo inteiro tremia e ela estava gelada. Ele dirigiu o mais rápido que pôde e estacionou de qualquer jeito. Correu pela escadaria do prédio com ela nos braços. A camisa apesar de escura mostrava os sinais de sangramento. Ele a apertou no colo sentindo seu corpo gelado junto ao dele. Entrou disparado pela recepção e se dirigiu a uma enfermeira que passava por ele segurando uma prancheta.
-Preciso que a examinem agora, ela está muito mal! – Ele disse ofegante.
-O que ela tem?
-Acha mesmo que se eu soubesse estaria aqui procurando um médico?
-Preciso que preencha um formulário.
-Escuta – Ele respirou fundo – Que parte do “Ela está muito mal” você não entendeu? – A enfermeira arregalou os olhos.
-Vou chamar o doutor. Venha coloque-a na maca – Ela o guiou até um corredor.
Daniel colocou o corpo trêmulo de na maca e segurou sua mão beijando-a.
-Vai ficar tudo bem... Vai ficar tudo bem.
-Este é o Dr. Braga – Disse a enfermeira que trouxe um dos médicos.
-O que aconteceu? - Ele disse checando o pulso de .
-Estávamos no carro e ela desmaiou e começou a sangrar pelo nariz. Quando a peguei ela estava tremendo e o corpo gelado.
-Preciso examiná-la melhor. Ester? – Ele chamou.
-Sim? Leve-a para sala de emergência.
-Sim senhor.
-Doutor – Ele segurou o braço do médico.
-O que?
-Acha que é muito ruim?
-Não tenho certeza, mas vamos torcer para que não. Você pode esperar naquela sala ali – Ele apontou uma porta ao lado esquerdo da recepcionista – Quando eu terminar de examiná-la trago noticias.
-Obrigado doutor.
A sala de espera era um lugar pequeno. Tinha dois sofás brancos um de frente para o outro, um bebedouro perto de uma lixeira e um mini coqueiro ao lado da porta. Não havia televisão e quando Daniel entrou havia mais duas pessoas na sala. Uma mulher de cabelos grisalhos e uma mulher mais nova com um vestido provocante, ela lançou um olhar insinuante para ele. Daniel não lhe devolveu o olhar, deitou de qualquer jeito no sofá vazio com os pés para cima e fitou o teto. A mulher de cabelo grisalho saiu depois de um tempo e não voltou mais e ele ficou sozinho com a outra que continuava a encará-lo.
-Vai ser uma noite longa – Ela disse.
-É- Ele respondeu sem tirar os olhos do teto.
-Está acompanhando algum paciente?
-Não. Na verdade eu gosto de me deitar na sala de espera nos hospitais.
-Parece que não está de bom humor. É bem sarcástico eu gosto de caras assim.
-É? – ele olhou para ela – Eu também.
-Desculpe, mas – Ela olhou para ele de baixo para cima – Você não parece do tipo que curte outros... Homens.
-E por que não? Posso dizer que sou apenas o ativo da relação – Ela sorriu.
-Se queria me dar um fora não precisava fingir que não gosta de mulher, coisa que está na cara que não é verdade.
-Tudo bem – Ele riu, não queria nada com ela, mas não precisava ser cruel – Não sou gay.
-Eu sei – Ela piscou.
-Quem você está esperando? – Ele resolveu lhe dar atenção.
-Minha irmã. Ela é enfermeira está acabando o turno dela e vou acompanhá-la até em casa.
-Ah.
-E você?
-Uma amiga – O celular da garota apitou duas vezes.
-Droga – Ela disse lendo alguma coisa nele – Ela já terminou tenho que ir.
-Que pena.
-Poderia não ser tão falso? – Ela riu.
-Faz parte do meu charme.
-Nisso eu concordo. Me chamo Morgan.
-É um nome estranho.
-Não vai me dizer o seu?
-Só digo meu nome para pessoas que conheço.
-Tudo bem – Ela levantou pegando a bolsa – Devo confessar que você é um gato, mas extremamente arrogante.
-E você tem belas pernas.
-Adeus garotão – Ele revirou os olhos.
-Isso foi péssimo. Me chamo Daniel.
-Hmm – Ela passou a mãos no cabelo segurando a maçaneta – De certa forma combina com você. Adeus Daniel.
-Adeus – ele piscou – Morgan.
A espera foi longa. Horas e horas e nenhuma noticia. Daniel caminhava de um lado para o outro na sala de espera. Não devia se preocupar, não devia se sentir obrigado a fazer qualquer coisa por aquela moça. Mas não podia ir embora, não conseguia se afastar um centímetro sequer. Sentia que cada pedaço de seu corpo estava ligado a de uma forma que não conseguia explicar nem para si mesmo. Já era tarde da noite, quase dez horas e ninguém aparecia para dar nenhuma noticia. Decidiu ligar para Lucas e contar o que estava acontecendo, mas achou melhor não. Tomou um café na cantina e depois voltou à sala. Já estava cochilando quando o médico entrou e pigarreou.
-E então doutor? – Ele disse sonolento se colocando de pé – O que ela tem?
-Bom – O médico fez uma expressão dura. Ele já vira aquilo uma vez.
-Não me faça esperar mais do que já esperei doutor, diga logo o que ela tem?
-Primeiro preciso saber qual o seu grau de parentesco com a paciente.
Daniel sabia que estava mal, certamente a noticia seria ruim demais. Tanto que só pessoas da família deveriam tomar conhecimento, mas ele não poderia ser parente de . Se fosse dizer que era irmão logo notariam a mentira eles não possuíam nenhuma semelhança física. era ruiva e ele tinha os cabelos negros, os olhos dela eram azuis intensos e os dele escuros. Talvez um primo, mas ainda sim seria pouco. Então pensou rápido. Nem irmão, nem amigo, nem primo, mas algo muito maior.
-Eu sou... Namorado dela.
-A noticia não é muito boa – O médico respirou fundo – Bom, sinto dizer isso, mas, sua namorada tem um tumor no cérebro.
- O que? – Foi como se tivessem lhe dado um soco no estomago – Não pode ser... Ela é tão jovem e...
-Por sorte – O médico interrompeu – O tumor não está em uma área critica. Podemos retirá-lo com cirurgia sem risco.
-Doutor, ela teve uma perda de memória, acha que pode ser por causa disso?
-Provavelmente. Mas, não posso afirmar com certeza.
-Ela tem que ficar internada?
-Não. Pode levá-la para casa e voltem daqui uma semana para um outro exame e assim iniciaremos os tratamentos para a cirurgia. Traga os documentos dela da próxima vez. Geralmente não podemos dar entrada de pacientes sem identificação abrimos exceção para a moça porque estava muito mal.
-Cuidarei disso.
- Uma ultima coisa, com quem ela mora?
-Comigo - Ele disse sem pensar.
-Ótimo. Vai precisar cuidar dela, ficar de olho se não há mais sangramentos ou desmaios.
-Tudo bem. Posso vê-la agora?
-Pode. A enfermeira o levará até lá.
-Obrigado doutor.
estava sentada na cama. Os cabelos rubros espalhados em cachos longos pelos ombros e um fino tubo ligado ao soro no braço. Daniel entrou e puxou uma cadeira sentando-se ao seu lado.
-Você me deu um belo susto – Ele riu.
-Desculpe por isso.
-Não se preocupe. Como está se sentindo?
-Um pouco tonta.
-O médico disse que você precisa fazer uns exames.
-Eu sei.
-Ele te contou? – Ela assentiu.
-Ele também contou sobre...
-A bolinha?
-O que?
-Ele disse que tenho uma bolinha – Ela tocou a cabeça – Aqui.
-Sim, basicamente isso.
-Como se chama mesmo? Ah, um tumor.
-Sua cabeça deve estar bem bagunçada agora não é?
-Exatamente do mesmo jeito. Sem lembranças só um buraco negro e profundo.
-Ele disse que já podemos ir embora.
-Será que eu poderia dormir aqui? Só esta noite, vai ser difícil arrumar um lugar a essa hora.
- que história é essa? – Ele riu – É claro que você vai para minha casa.




Capítulo 3 – Destinados parte II


“Na batalha do ódio com o amor:
Vítima e cúmplice do criminoso,
Dou-me ao ladrão amado e amoroso” (William Shakespeare soneto 35



Mais vale um dia como leão do que anos como ovelha. Esta era a frase que definia os sentimentos de Daniel. Nunca se preocupar, nunca se importar com nada além de si mesmo e da droga de vida que tinha. Ver desamparada mudara tudo aquilo. Ele precisava cuidar dela. Era tarde demais para simplesmente fechar os olhos e fingir que nada aconteceu.
Ele estacionou seu porsche na vaga de sempre e subiu com ela para o apartamento. Como sempre tudo estava perfeitamente organizado. Trancou a porta e jogou a chave em cima da bancada deu dois toques no aquário acordando o peixinho e foi até o guarda roupa.
-Acho que precisamos comprar alguma coisa para você. Mas, por enquanto acho que isso serve – Pegou uma blusa vermelha e outra calça moletom.
-Vou acabar com as suas roupas – Ela riu.
-Que nada elas ficam bem sexy em você – Ele hesitou – Desculpe... É que...
-Relaxe você não disse nada demais.
-Na verdade eu disse sim... Bom acho que preciso de um banho. Pode ficar a vontade.
-Ta bem.
ainda se sentia tímida e não ficava totalmente a vontade no apartamento dele, talvez não quisesse se apegar demais e depois ter de ir embora. Sentou no sofá e recostou a cabeça ligando a TV. Estava passando um filme de guerra. Tinha começado a chover novamente e estava muito frio.
Daniel saiu do banho alguns minutos depois com uma toalha branca enrolada nos quadris ela não conseguiu desviar o olhar. O corpo dele era bonito, não muito forte nem muito magro, tinha músculos bem definidos e uma barriga bonita também. Os cabelos estavam molhados dando a impressão de que eram ainda mais negros. Quando o olhar dos dois se cruzaram ela virou a cabeça novamente para a TV e sentiu o rosto enrubescer.
-Pode olhar agora – Ele disse sorrindo depois de uns minutos.
-Des... Desculpe.
-Tem que parar de se desculpar o tempo inteiro. Pode vir aqui? – Ela desligou a TV e foi até ele.
-Tome um banho enquanto faço o jantar está bem? – Ele disse lhe dando um beijo na testa e indo para a cozinha.
-Daniel? – Ela o puxou de volta.
-O que?
-Muito obrigada por tudo que está fazendo por mim.
-Quando é que vai se cansar de me agradecer? – Ele riu – Vou te mostrar um talento nato, sou ótimo cozinheiro.
-E o que vai preparar?
-Cappellacci. É comida italiana, acho que você vai gostar. Pode ir tomar banho agora.
entrou no banheiro. Ainda estava muito introvertida e Daniel não tinha ideia do que estava fazendo, mas de certo modo era divertido. Foi até o aquário e colocou comida para Peter e depois pegou o telefone discando uns números. Jared atendeu.
-O que você quer? Me fez esperar o dia inteiro no consultório.
-Tive um problema. Podemos remarcar outro dia?
-Não tenho todo tempo do mundo Daniel...Você não entende que...
-Eu sei! Mas, preciso de um tempo. Tenho que resolver uma coisa.
-Tudo bem. Se apresse se quiser manter o acordo de pé.
-Posso falar com Alice?
-Não. Ela já foi dormir.
-Só um pouco Trajano... Eu preciso falar com ela.
-Já disse que ela foi dormir Daniel. Que horas pensa que é?
-Quando ela acordar diga que estou com saudade.
-Vou tentar não esquecer. Vai visitar Sarah amanhã?
-Não sei.
-Já faz três anos Howe está na hora de superar.
-Não tenho nada para superar.
-Você me dá pena.
-Dane-se.
-Vou voltar para meu trabalho. Tente não estragar nosso acordo.
-Não vou. Por favor, não se esqueça de dizer a Alice.
Ele desligou o telefone. já havia saído do banho estava sentada na cama. Daniel não olhou muito para ela, foi para a cozinha e começou a preparar o jantar. Serviu a mesa para dois e comeram em silencio. Era incrível como até a voz de Jared azedava qualquer hora do seu dia. lavou os pratos e se sentou perto dele no sofá. Ele remexia o celular inquieto.
-Algum problema? – Ela perguntou.
-Não.
-Você está diferente.
-Não é nada . Está com sono?
-Ainda não.
-Quer fazer alguma coisa?
-Não sei... Você quer? – Alguém tocou a campainha.
-Quem será a essa hora?- Ele foi até a porta.
Jared estava parado na porta com um casaco preto e touca. Os braços cruzados e o rosto rígido.
-O que você quer?
-Preciso falar com você. Posso entrar? – Ele não esperou resposta entrou empurrando o braço de Daniel que cruzava a porta.
-O que está fazendo aqui essa hora?
-Já disse que preciso falar com você. Olha quem está aqui, a mocinha da multidão.
-Oi – disse tímida.
-Estou atrapalhando alguma coisa? – Arqueou a sobrancelha – Pelo que conheço do Howe acho que não.
-Diga logo o que quer e suma daqui.
-Não é o que eu quero Howe pode ter certeza que por mim eu nunca colocaria os pés aqui – Ele sentou no sofá ao lado de – O problema é Alice.
-O que ela tem? – Daniel se espantou.
-Nada que os médicos possam curar. Ela tem uma doença chamada idiotice, acho que herdou da mãe.
-Diga logo o que houve seu desgraçado!
-Acalme-se Daniel, não seja tão indelicado na frente da moça.
-Juro por tudo que é mais sagrado que se você não me contar logo o que houve eu acabo com você – Daniel estava com punhos cerrados ao lado do corpo.
-Tudo bem. O problema é que Alice não quis dormir, nem comer nem ao menos falar comigo se não a trouxesse para vê-lo.
-Você disse que ela estava dormindo.
-Acho que menti... Sou um menino malvado não é ? – Ela deu um risinho baixo.
-Alice pediu para me ver?
-Me atormentou até que eu a trouxesse, ela está no carro se quiser desça para vê-la e não demore. Tenho muito trabalho ainda.
-Então vamos.
-Pode ir. Vou ficar e fazer companhia a essa bela moça.
-Nem se atreva a encostar nela seu infeliz.
-O tempo está passando se eu fosse você iria ver logo a menina antes que eu desista e simplesmente a coloque de castigo. Vá ver minha garota que eu cuido da sua – Piscou para .
- eu já volto – Ela assentiu.
Daniel se esgueirou pela porta sem fechá-la. colocou as pequenas mãos no colo e fitou o chão. Não precisava olhar para Jared para saber que ele a estava encarando.
-Não precisa ter medo de mim – Ele sorriu – Pode parecer que sou um monstro, mas acho que só sou assim para o Howe. Vamos olhe para mim.
-Não tenho medo de você – Ela sussurrou.
-Então olhe para mim vai ver o quanto sou inofensivo – Ela olhou para ele, realmente não parecia perigoso, pelo contrario tinha belas e amigáveis feições, ele sorriu para ela mostrando uma fileira de dentes pequenos e brancos.
-Viu só. Até que sou bonitinho não acha? – Ela sorriu.
-Quem é Alice? - Ela perguntou.
-Daniel não te contou? - Ela balançou a cabeça.
-Ele não fala muito sobre ele.
-Alice é minha filha.
-E o que ela tem a ver com ele?
-É uma história complicada anjo. E eu posso saber como vocês dois se conheceram?
-O conheci no Sanatório.
–Ah! - Jared não fez mais perguntas como se aquilo não o interessasse.
-A história com Daniel e sua filha é tão complicada assim que não possa resumir?
-Nem tanto. Bom, Alice é minha filha e Daniel é... Tio dela.
-Tio?
-Sim.
-E por que ele te odeia tanto?
-Por que me casei com a irmã dele. Sarah.
-Ele protege muito a irmã?
-Não – Ele riu – Não é isso anjo.
-Então o que foi?
-Daniel e eu éramos amigos na verdade, melhores amigos – Ele deu de ombros- E ai me apaixonei pela irmã dele e ele passou a me odiar.
-Mas, por quê? Ele não queria que ela namorasse? – Jared riu.
-Não também não é isso. Quero dizer é, mas o motivo principal não é esse.
-Então o que foi? – Ele riu, parecia se divertir com a curiosidade dela.
-Daniel não queria que Sarah amasse nem fosse amada porque... Ele estava apaixonado por ela.
-Jared, não conheço Daniel muito bem, mas... Se apaixonar pela própria irmã não parece ser do tipo dele.
-E por que não? Acha que seu anjinho da guarda é tão puro assim? Se eu fosse você procuraria saber mais sobre o passado obscuro do Howe. Tenho certeza que vai descobrir muitas outras coisas.
-Isso não é verdade! Só está falando isso porque não gosta dele.
-Se tem duvidas pergunte você mesma. Daniel não só foi como ainda é apaixonado pela irmã. Sei que é monstruoso, mas é a verdade.
-Não pode ser...
-Incrível não é? Sinto muito que tenha descoberto assim. Não sou má pessoa acredite. Daniel e eu temos nossas diferenças, mas não sou um monstro espero que não pense mal de mim.
Aquilo foi como uma bomba para ela. Estar apaixonado pela própria irmã não deveria ser uma coisa certa, ela não podia julgar, mas sem dúvida aquilo era errado. Daniel vivia à sombra de um passado triste e vergonhoso agora ela sabia por que seu semblante era tão triste. Ele amava a irmã e ela se casou com seu melhor amigo e ainda tiveram uma filha.
-Hei – Jared assobiou e ela pareceu despertar de um longo pensamento.
-Isso foi tão...
-Chocante eu sei.
Ela ficou em silencio novamente. Não recriminava o que Daniel havia feito, mas estava triste por ele. Porque sabia o quanto ele devia sofrer por aquilo. Jared também não falou mais. O peso da revelação havia impregnado o ambiente e aquilo a estava sufocando. Daniel voltara um pouco molhado e olhou confuso para ela e depois olhou para Jared e então enrijeceu como se soubesse que ele havia contado tudo. A vergonha da verdade esmagando-lhe por dentro.
-O que ele falou? – Daniel perguntou entre dentes.
-A verdade – Jared disse levantando.
-Seu...
-Espero – Jared o interrompeu – Que você seja mais sincero com as pessoas da próxima vez, me agradeça te fiz um favor.
Daniel tinha uma aparência cansada, como se não tivesse força para responder a provocação.
-Pode ir embora agora – Ele disse por fim segurando a porta Jared saiu e parou junto dele.
-Até logo anjo – E acenou para que continuava imóvel.


Daniel fechou a porta atrás de si e caminhou até a geladeira pegando uma cerveja. Foi até a pia abriu a tampa e bebeu um gole. Repousou a garrafa e tamborilou a bancada com os dedos respirando fundo. Voltou até ela com ar cansado. não sabia o que dizer... Não havia o que dizer.
- O que ele disse exatamente?
-Que você... Que você é apaixonado pela sua irmã.
-Que filho da mãe – Ele riu com raiva – Mas, o que eu poderia esperar dele?
-Daniel sei que não é problema meu, mas... Jared não tem culpa.
-Como pode ter certeza? – Ele olhou para ela, estremeceu com aquele olhar.
-Desculpe...
-Pare de pedir desculpa por tudo! Com esse seu olhar de “anjo” como ele mesmo te chamou... Você não é ninguém para julgar quem é o bom ou ruim dessa história.
-Eu sei que não, mas se Sarah é sua irmã não dava pra esperar outro final não é?
-Claro. Eu devia ser condenado por incesto não é? Não dá pra mandar no coração eu me apaixonei por ela foi inevitável e aquele desgraçado a tirou de mim!
-Daniel se você a ama devia tentar seguir em frente.
-Se ela estivesse aqui diria a mesma coisa. Mas, quer saber? Não é tão fácil assim.
-Você deveria deixá-la seguir em frente também...
- Acha mesmo?- Ele disse indo para a porta.
-Daniel...
-Sarah não pode mais seguir em frente.
-Por que não?
-Porque ela morreu – Ele disse saindo e fechando a porta atrás de si.
só conseguiu parar de chorar quando a cabeça doeu. E não foi apenas uma dorzinha, aquilo a estava matando. Doía tanto que ela pensara que a cabeça ia explodir. Daniel não voltara fazia horas. Ela ainda estava no mesmo lugar, não movera um só palmo desde que ele saíra. Podia sentir o como aquilo ainda o machucava. Queria fazer alguma coisa, mas era uma inútil. Se não podia ajudar nem a si mesma quem diria a ele e chegar a essa conclusão fez com que sua cabeça doesse ainda mais.
A camisa que Daniel lhe emprestara estava banhada de lágrimas o pescoço e a bochecha grudando. Sentiu o nariz escorrer, pensou que fosse apenas a coriza de antes, mas era algo mais grosso e quente. Tocou o nariz com as pontas dos dedos e viu que era sangue. Correu para o banheiro e abriu a torneira. Levou a água gelada ao rosto, mas o sangramento estava cada vez mais forte. Sentiu uma tontura nauseante e tudo parecia girar. A dor aguda na cabeça como se tivesse milhões de cacos de vidro dentro dela, rasgando-a por dentro. Não ia desmaiar dessa vez precisava ser forte. Tentou se concentrar em ficar de pé e se apoiou na pia. As pernas cedendo, tremendo... E então ele a segurou quando ia cair. Aconchegando seu corpo ao dela. Os dois escorregaram para o chão, Daniel aninhou a cabeça dela no seu peito. Levantou o braço com dificuldade para puxar os lenços de papel da pia. Pegou alguns da caixinha e estancou o sangue.
Daniel estava ofegante, ela sentia seu peito de mármore respirando forte. O hálito doce e gelado de sua respiração enquanto ele afastava algumas mexas de cabelo que caiam no seu rosto.
-Desculpe por deixá-la sozinha... Desculpe – Ele a apertava junto dele.
-Estou bem – Ela sussurrou.
-Não está. eu sou mesmo um estúpido, desculpe por ter demorado eu só precisava pensar...
-Está tudo bem – Ela acariciou o rosto gelado dele.
-Vou ligar para o hospital...
-Não precisa, vou ficar bem.
-Consegue levantar? – Ela assentiu.
Ele a ajudou levantar com cuidado e lavou o resto do sangue que ficara grudado no rosto dela.
A dor de cabeça tinha passado misteriosamente assim como o sangramento cessara. Ele lhe deu um casaco azul que ficou folgado no corpo magro e um gorro.
-Sente-se, vou fazer um chá.
-Daniel... Não precisa está tudo bem.
-Venha – Ele estendeu a mão.
Daniel se sentia um lixo. Todas as lembranças e fantasmas que espantava da mente haviam aberto uma brecha e saíram de uma só vez. Aquilo o fazia quase ficar louco. Pensou em expulsar e beber a noite inteira. Era exatamente o que ia fazer quando saiu naquela hora e fora até o bar. O lugar estava praticamente vazio quando chegou. Tinha apenas dois homens no fundo vendo um jogo de futebol na TV. Sentou-se no balcão e pediu um uísque. Acendeu um cigarro e fumou. Ele não bebeu, quando o garçom trouxe a bebida apenas olhou o suor do copo por um momento, talvez horas não tinha certeza e então decidiu voltar para casa e se livrar de uma vez de . Ela não era problema dele portanto se livraria de qualquer compromisso que tivesse feito. Deixou o dinheiro no balcão e correu para casa determinado. Entrou no apartamento com muita raiva , ela não estava na sala. Então ouviu um barulho vindo do banheiro e correu até lá. estava quase caindo no chão por muito pouco não teria batido a cabeça com força no piso, a pia coberta de sangue. Conseguiu alcançá-la antes que acontecesse. E então estava sentado no chão com ela aninhada em seu colo. A boca havia perdido a cor e o nariz sangrava muito mais do que na ultima vez. Como pôde pensar em expulsá-la de sua vida? Aquilo era impossível, sabia que jamais conseguiria fazer isso.
Agora depois do susto refletia sentado no sofá ao lado dela vendo alguma coisa na TV que não prestava atenção, por que apareceu na vida dele? Como se fosse uma missão?... Mas será que conseguiria cuidar dela? Ou daria tudo errado como aconteceu com Sarah?
-Está tudo bem? – A voz de o acordou do pensamento.
-Sim... E como está se sentido? A dor de cabeça passou? – Ela assentiu.
- Tem certeza?- Ele respirou fundo – Digo, se sentir qualquer coisa pode me contar.
-Eu estou bem Daniel, juro.
-Ai ai ... Temos que começar logo esse tratamento.
-Você sabe o que como será esse tratamento?
-Quimioterapia eu acho, antes da cirurgia. Não tenho certeza.
-Será que vai... Doer?
-Acho que sim – Ele revirou os olhos, como era idiota – Quero dizer...Não...Não sei – Respirou fundo- Olha não precisa ter medo.
-É difícil não sentir medo...
-Escuta – Ele segurou o rosto dela com as mãos – Vai ficar tudo bem, eles vão curar você.
-E se eu... Morrer?O médico disse que não é um tumor grave, mas pode haver complicações... Eu não quero morrer Daniel – Uma lágrima corria de seus olhos.
-Não diga isso! Olha pra mim ... Nada vai acontecer, nunca mais diga isso ok? Promete pra mim que nunca mais vai pensar uma coisa dessas.
Daniel encostou o rosto no dela e estava de olhos fechados, se surpreendera com o gesto. As mãos dele estavam tremendo.
-Daniel... - Sussurrou
-Você não vai morrer Sarah... Não pode morrer... Não pode me deixar – Ele estava chorando.

Just gonna stand there and watch me burn
That’s alright because I like the way it hurts
Just gonna stand there and hear me cry
That’s alright because I love the way you lie… I love the way you lie…


entendeu. Ele ainda sofria pela irmã, sentia a dor de tê-la perdido duas vezes, era demais pra qualquer pessoa suportar. Não se sentiu ofendida por ele ter errado o nome ou se era por Sarah que chorava, não importava. Ela sentia sua dor como se fosse dela também e então o abraçou deixou que ele chorasse em seu ombro. O corpo forte estremecendo com os soluços. A noite havia sido difícil e era tão agradecia a ele que se sentiu feliz por poder servir pelo menos de consolo. Seu ombro era tudo que podia dar em troca por sua bondade... Seu tumor não importava sua falta de memória não importava... Nada além de Daniel importava ele era tudo pra ela. Seu porto seguro, sua calma...
Tê-lo em seus braços frágeis era uma sensação estranha, mas incrível. A conexão que possuíam era tão grande que os sentimentos dele faziam parte dela também. Ele precisava de seu consolo, mas suas emoções também estavam abaladas, então o abraçou com força e chorou junto com ele.

Just gonna stand there and watch me burn
That’s alright because I like the way it hurts
Just gonna stand there and hear me cry
That’s alright because I love the way you lie… I love the way you lie…





Capítulo 4 – Diário de Daniel



“Se olho para estas lajes vejo gravadas nelas as suas feições! Em cada nuvem, em cada árvore, na escuridão da noite, refletida de dia em cada objeto. Por toda parte vejo a tua imagem! Nos rostos mais vulgares de homens e mulheres, até as minhas feições me enganam com a semelhança. O mundo inteiro é uma terrível coleção de testemunhos de que um dia ela realmente existiu e a perdi para sempre!”
(Heathcliff- O Morro dos Ventos Uivantes)

Não sei direito por que estou escrevendo isso. Talvez seja para abafar a dor que estou sentindo nesse momento. Sarah sempre disse que escrever faz bem, mas até agora isso não me adiantou de merda nenhuma. De qualquer forma irei escrever sobre nossa história, talvez eu encha a cara mais tarde e coloque fogo nesse papel ou talvez simplesmente guarde pra mostrar a alguém um dia quem sabe... Bom, meu nome é Daniel Howe e eu sou completamente apaixonado pela minha irmã Sarah. Comecei com uma citação de um dos meus livros favoritos por que é exatamente isso que eu sinto; O mundo é a maior testemunha do quanto perdê-la acabou comigo.
Quase todos me olham torto e me acusam de incesto, mas estou pouco me lixando para o que pensam. Digo com todas as letras que a amo. Amo até mais que minha própria vida e sei que ela também me amou. Digo amou no passado porque ela está morta agora. Acabei de chegar de seu enterro, tive que ir depois que quase todo mundo já havia ido embora porque ninguém se conformava com nossa paixão, meus pais principalmente. Se alguém ler isso vai achar até engraçado o preconceito idiota, mas é a verdade. Sarah era adotada, portanto não era minha irmã “de verdade”, mesmo assim ninguém aceitou nosso romance.
Quando eu tinha dez anos minha mãe trouxe para casa uma garotinha de nove anos. Ela morava em um orfanato desde que nasceu. Minha mãe sempre foi muito caridosa e queria muito ter uma filha, mas por problemas de saúde nunca pôde engravidar novamente. Por acaso estava fazendo uma visita a uma freira amiga dela e se encantou com a menina. Confesso que era impossível não se encantar, Sarah era linda. Não precisou de muito esforço para convencer meu pai a adotá-la. Quando a vi pela primeira vez senti uma coisa diferente, um misto de curiosidade e carinho. Acho que isso é o mais próximo do amor que um garoto de dez anos pode chegar. Nós crescemos juntos, aprendemos juntos e com o tempo nos apaixonamos, só éramos covardes o suficiente para não revelar a todo mundo. Nas férias de verão fomos para nossa casa de campo. Eu estava com dezesseis anos e Sarah com quinze. Todas as tardes íamos ao rio afastados de todo mundo para nos amarmos. Tivemos nossa primeira experiência sexual juntos em uma daquelas tardes. Sarah era tudo para mim... Eu a amava tanto que era quase uma obsessão e ela me amava com a mesma intensidade... Mas, em uma tarde naquela casa de campo nossa vida mudou para sempre. Eu estava ajudando meu pai com umas coisas e Sarah foi até o celeiro fazer num sei o que. Eu terminei o mais rápido que pude para poder encontrá-la e então fui atrás dela. O celeiro fica bem afastado da casa, muito mesmo. Sarah adorava aquele lugar, disse que podia deitar na palha e ouvir o rio próximo e o canto dos pássaros sem ser interrompida por ninguém. Quando cheguei perto do celeiro ouvi um grito, corri para lá e encontrei Sarah no chão. Ela estava nua e sangrando muito. Quando me lembro daquilo e do quanto nossa vida se estragou por causa daquela cena me sinto enjoado. O capataz da fazenda tinha acabado de estuprá-la. Ele ainda estava lá ajeitando as calças. Ele não se assustou quando me viu e até me ameaçou dizendo que se eu contasse para alguém ele nos mataria. Sarah estava chorando tanto que nem conseguia falar. Aquele porco imundo havia machucado tanto a pobrezinha que eu nem gosto de lembrar. Não foi uma nem duas vezes que ele a violentou na mesma tarde, foram cinco vezes. Quase quatro horas sendo machucada. Apesar de já ser bem grande e forte eu era um covarde naquela época. Não fiz nada com o cara e ele continuou trabalhando lá. Voltamos para a cidade e não contamos nada a ninguém, mas Sarah nunca mais foi a mesma. Naquele mesmo ano conhecemos o Jared. Ele era meu melhor amigo e junto com Sarah nós três éramos inseparáveis. Também revelei meus sentimentos ao mundo naquele ano. Todos reprovaram é claro, meus pais se escandalizaram e nos proibiram de trocar até mesmo um olhar. Meu pai disse que ia me mandar para o exterior assim que eu terminasse os estudos. Tentamos fazer com que nos aceitassem, mas ninguém jamais entendeu nossos sentimentos, mesmo assim continuamos juntos. No dia de nossa formatura Jared e eu bebemos demais e fomos pegos pela policia, o resultado foi que meu pai me mandou para uma clínica de reabilitação, conseguindo exatamente o que queria me afastar dela, mesmo sabendo o quanto aquilo me faria mal.
Sarah ficou sozinha com Jared durante esse tempo. Quando sai de lá, aos dezoito anos senti que tinha perdido metade da minha vida. Sarah já não me amava como antes e estava muito próxima de Jared, o que aconteceu depois disso só piorou a situação. Íamos sempre ao Sanatório uma casa de rock famosa da cidade e em uma das nossas noitadas Jared me confessou que estava apaixonado por ela. Nós dois brigamos e Sarah me pediu para ir embora. Ficar quase dois anos longe de mim esfriou seus sentimentos, ela sempre dizia que eu não era o mesmo, que havia me tornado amargurado principalmente quando fui embora de casa. Mas, para ela era fácil continuar a vida, eu fiquei internado sem necessidade enquanto ela se divertia com meu melhor amigo. Naquela noite no Sanatório fui a um bar, bebi um pouco demais e para minha surpresa, ou desgraça talvez encontrei-me com o homem que a violentou. Eu o segui até o bairro miserável que morava e o resto não me lembro. Tudo que me recordo daquela noite foi de acordar em um beco escuro e ver o corpo do homem mergulhado numa poça de sangue. Eu realmente tinha bebido muito então não lembrava do que havia feito, mas eu o matei a sangue frio. Os dois braços foram quebrados o rosto desfigurado e ele não tinha nenhum dente na boca. Eu estava muito assustado naquela hora, vomitei tudo que tinha no estomago e liguei para o meu pai. Ele correu para o lugar. Pensei que ele me mataria quando descobrisse o que fiz, mas quando contei o motivo ele disse que teria colocado-o na cadeia e que eu era um assassino, que não deveria ter feito aquilo. Mas, como era meu pai não queria me ver na cadeia então mandou que eu fugisse. A morte de José Martins, foi relatada como assalto seguido de morte. Nem me pergunte como meu pai conseguiu isso. Desde aquele incidente nós dois nunca mais nos falamos. Sarah ficou horrorizada quando soube. Disse que não me reconhecia mais e que eu não era mais o Daniel que ela amou. Ela não me visitava mais no quartinho em que eu morava, nem meu pai, nem Jared. Minha mãe até que tentou, mas meu pai a proibiu e ela sucumbiu a ele. Alguns meses depois daquilo Sarah veio me ver e disse que ia se casar com Jared e estava grávida dele. E eles casaram mesmo. Aquilo me matou... Matou minha alma, minha humanidade... Minha vida. Sarah destruiu tudo que um dia eu sonhei.
Algum tempo depois de seu casamento ela trouxe a menininha para eu ver. Ela ainda não tinha um nome e Sarah pediu minha ajuda, fiquei surpreso com a visita, pensei em mandá-la embora, mas eu não a odiava, pelo contrário. Eu a amava demais para odiá-la. Quando vi a neném linda que carregava em seus braços esqueci toda a raiva que sentia. Ela ainda não tinha um nome e Sarah me pediu para ajudá-la a dar um. Ela me entregou um livrinho com vários nomes e significados pedindo para eu escolher o que mais combinasse com a menina. Acabamos escolhendo Alice, e a partir daquele momento a menininha tornou-se a coisa mais importante do mundo para mim. Hoje Alice tem dois anos, Sarah morreu de pneumonia muito jovem. Não consigo me conformar com sua morte. Não posso ver Alice devido a um processo judicial que Jared moveu. De acordo com a lei devo ficar longe dela a menos que ele dê permissão. Não há mais nada para contar e escrever tudo isso não aliviou em nada a minha dor, pelo contrário só aumentou.
Sarah foi tudo na minha vida... E mesmo que ela jamais volte para mim eu ainda a amo.

não conseguiu conter o choro quando terminou de ler as páginas que Daniel havia lhe entregado. Naquela mesma noite em que ele chorou em seus braços havia dito que queria que ela conhecesse toda a verdade sobre ele e quem realmente era. Então foi até uma gaveta no guarda-roupa e pegou as folhas desgastadas pelo tempo. Ele não ficou na sala junto com ela, foi para a cama e deitou fitando o teto. Nas primeiras linhas ela já ficara emocionada. Como alguém poderia rejeitar o amor dele? Como alguém poderia ter lhe causado tanto mal? Sentia muita raiva de Sarah e de Jared também por terem feito Daniel sofrer tanto, mas sabia que no fundo ninguém era culpado. As coisas simplesmente aconteceram. Agora entendia por que ele amava Alice, ela era uma lembrança nítida e viva de Sarah, ele ainda a amava.
Ela enxugou as lágrimas teimosas e esperou alguns momentos para se certificar que os olhos não estivessem muito vermelhos. Respirou fundo e foi até Daniel. Sentou perto dele na cama, ele ainda estava imóvel olhando o teto.
-Terminei de ler – Ela disse a voz ainda engasgada com o choro.
-Jogue no lixo – Respondeu sem tirar os olhos do teto.
-Mas...
-Amasse e jogue fora. Não quero mais olhar pra isso.
-Se é o que você quer - Ela amassou as folhas e jogou no chão -Aquele homem... Você se arrepende?
-Por um lado sim. Aquilo arruinou minha vida, mas por outro fico feliz em saber que ele pagou pelo seu crime. Quando meu pai descobriu o que ele fez levantou uma investigação e descobriram que na verdade ele era um maníaco. Sarah não foi a única vitima.
-Isso é horrível.
-Espero que ele esteja apodrecendo no inferno.
-Foi por esse motivo que me salvou naquele dia? -Daniel franziu a testa.
-Isso importa?
-Tem razão.
-Mas, se quer saber a verdade eu acho que sim. Eu não poderia deixar aquilo acontecer com você, não sou mais o covarde eu que era anos atrás.
Eles ficaram em silencio por um momento.
-Sinto muito por Sarah – disse insegura.
-Não sinta. Ela odiaria você.
-Por quê? – arregalou os olhos.
-Porque você é o mais próximo de uma namorada que já tive depois dela.
-Somos só amigos.
-Eu sei, mas eu jamais trouxe alguém para ficar comigo. Nunca cuidei nem me importei com ninguém – Ele deu de ombros- Além de tudo, Sarah era muito ciumenta.
-Devo sentir-me honrada?
-Quem sabe – Ele olhou para ela – Diria que você ganhou na loteria.
-Que pretensão sua.
-Diga que não é verdade – Ele riu, pelo menos não estava mais triste.
-Em certo ponto sim.
-Pois é.
-Está se sentindo melhor?
-Muito melhor, me desculpe por aquela hora, não sei o que me deu.
-Tudo bem. Os homens também choram.
-Não os homens como eu.
-Homens como você? – Ela arqueou a sobrancelha.
-Sim. Homens malvados.
-Você não é malvado.
-Sou sim... Muito malvado.
-Não é nada.
-Sou sim e vou provar.
Ele ficou de joelhos e puxou para cima da cama e subiu por cima dela fazendo cócegas, ela se debatia no colchão em meio as gargalhadas pedindo que ele parasse. Ela se virou de lado e ele acabou tocando suas costas. Ele já havia tocado-a varias vezes, mas naquele momento algo estranho aconteceu. Como se fosse sugado para uma realidade totalmente diferente.
Estava muito frio naquele lugar. Daniel não estava mais no quarto, ele havia sumido e em seu lugar havia uma rua vazia. Não havia como saber se era dia ou noite pois tudo estava em preto e branco. Ele caminhou pela rua deserta como se soubesse exatamente aonde ir. Encontrou-se em um beco sujo com sacos escorados na parede. estava lá de costas para ele, os cabelos compridos escorridos pelos ombros. Havia dois homens com ela e estavam discutindo.
-Tadeu – Um dos homens falou – Vamos acabar logo com isso.
-Não tenho certeza se isso irá funcionar você está pronta? – Ele dirigiu-se a , ela assentiu.
-Que a sorte esteja ao seu lado.
O homem empunhou um punhal e cravou nas costas dela e então caiu no chão inconsciente. Daniel correu até ela e os homens desapareceram. De repente a imagem foi se distorcendo e ele novamente estava no quarto e o encarava surpresa.
-O que foi? Você ficou sério de repente, aconteceu alguma coisa?
-Que diabos foi isso? – Ele disse levantando.
-Daniel está me assustando o que aconteceu?
-Nada – Ele balançou a cabeça e olhou para ela – Não foi nada.
-Você tá esquisito.
-Desculpe é que estou um pouco cansado. Foi uma noite longa.
-Tem razão, pensando bem – Ela bocejou – Também estou morrendo de sono.
-Vou indo dormir. Boa noite.
-Espere...
-O que?
-Pode dormir aqui.
-Não. Eu disse que pode ficar com a cama por enquanto. Durmo no sofá.
-Mas Daniel...
-Está tudo bem – Ele lhe deu um beijo na testa – Boa noite.

Daniel preferiu não contar o que havia acontecido, nem ele mesmo acreditava naquela visão, estaria ficando louco? Talvez fosse alguma coisa de sua imaginação, era melhor não assustar . Mas havia algo muito errado e estranho acontecendo. Quem realmente era aquela garota? Ele não fazia idéia de seu passado ou de onde ela viera. Talvez estivesse apenas compensado nela tudo de ruim havia feito à Sarah. Não tinha idéia do porque se deixou levar dessa maneira, poderia estar entrando em uma longa estrada sem volta. De qualquer forma não havia nenhuma maneira de voltar atrás, havia se comprometido com ela e não ia deixá-la na mão. Precisava descobrir quem ela era, mas não tinha idéia por onde começar. Deitou a cabeça no travesseiro e deixou a mente vagar para o nada. Ele ia descobrir quem era de qualquer maneira, mas precisava fazer isso em segredo. Ela não poderia desconfiar de nada.
Depois daquela noite Daniel nunca mais tocou no assunto sobre Sarah. até que tentou conversar um pouco, mas ele jamais falava. Havia duas semanas desde que se conheceram e ela estava morando com ele. As coisas ficaram mais complicadas com o passar dos dias. Ele era extremamente organizado e muito chato com a limpeza, além do seu vicio em jogos e animes. Daniel sempre saia pela manhã e voltava a noite sempre muito cansado. Os dois criaram uma amizade especial, ele era um bom amigo tinha que admitir. Mas não era certo Daniel dormir todas as noites no sofá e deixar a cama para ela. Já estava na hora de procurar algum lugar para si e deixar que ele continuasse sua vida normalmente. Mas ele sempre insistia que estava bem e que ela podia ficar lá sem problemas, sendo assim tentava ajudar no máximo que podia. Limpava a casa, as vezes organizava seus inúmeros DVDs, mas nunca dava certo já que eles sempre brigavam quando ela tirava algum do lugar.
Aquela era uma manhã quente. acordou com o sol forte ofuscando os olhos. Enfim a primavera havia chegado levando embora todo o frio e as tempestades que ela tanto odiava. Daniel já havia saído e como de costume o café já estava pronto, algumas torradas, bacon e ovos. Daniel era realmente um anjo tinha que admitir, apesar de ser tão chato as vezes. Ela comeu e depois limpou tudo. O apartamento já estava perfeitamente organizado e não havia mais nada para fazer. Eram mais ou menos duas horas da tarde e só lembrou de comer alguma coisa quando o estomago perturbou. Decidiu que cozinharia e pouparia Daniel do trabalho quando chegasse. Foi até a cozinha lavou as mãos e pegou alguns ingredientes, não deveria ser tão difícil assim fazer macarrão. Colocou a massa para cozinhar enquanto tentava fazer o molho. Aquilo era mais difícil do que parecia, não fazia idéia por onde começar então colocou tudo que encontrou dentro da panela e levou ao fogão. Voltou até a pia para lavar a louça que sujou e acabou derramando óleo na roupa, correu para o banheiro e limpou antes que manchasse a blusa de Daniel, ela realmente precisava de roupas. Um cheiro estranho invadiu a casa, fungou o nariz umas duas vezes e então lembrou do molho que estava no fogo. Correu novamente para a cozinha e apagou a chama, mas era tarde demais. O molho estava grudado no fundo da panela totalmente carbonizado. Pegou a panela e levou até a pia colocando água. Fumaça quente evaporou no rosto tentou desgrudar a sujeira antes que Daniel chegasse e visse aquela bagunça e acabou derramando novamente o litro de óleo, mas dessa vez no chão. A cozinha estava um caos e então o cheiro de queimado invadiu novamente o lugar. A massa estava queimando.
Daniel havia chegado naquele momento correu para cozinha e caiu de costas quando viu a bagunça, literalmente. Acabou escorregando no óleo derramado.
-Ai meu Deus... Ai meu Deus... – gritava.
-Apague o fogo! Apague o fogo – Ele gritou.
-Ai meu Deus! Me desculpe... Desculpe!
-Acho que quebrei a coluna – Ele gemeu.
-Pronto... Já apaguei... Quer ajuda pra levantar?
-Isso se eu puder levantar! – Ela caminhou até ele e estendeu a mão.
-Venha, com cuidado – acabou escorregando caindo ao lado dele.
-Aiiiii – Gritou.
-Está tentando nos matar? – Daniel gargalhou.
-Eu só queria cozinhar pra te poupar do trabalho.
-Um conselho: Nunca mais faça isso na vida.
-Desculpe – Ela riu.
-Precisamos levantar, acha que consegue?
-Acho que sim.
-Agora me dê uma ajudinha aqui.
-Você está machucado? Me desculpe...
-Estou bem – Ele riu – Era só fingimento.
-Não teve graça.
-Desculpe... Mas – ele olhou a cozinha – Como conseguiu fazer tudo isso sozinha?
-Sei la – ela deu de ombros – Pensei que era fácil.
-É sério , não tente fazer novamente. Deixe que eu ensino depois.
-Estraguei nosso almoço.
-Esse é um bom motivo para irmos almoçar fora não é?
-Como? – Ela fitou a roupa suja.
-Ah, não se preocupe com isso. Comprei algumas coisas para você, eu deveria ter feito antes, mas estava meio ocupado resolvendo algumas coisas para o Jared.
-Jared? Desde quando faz coisas para ele?
-Foi um acordo para eu poder ver Alice. Não é nada demais.
-E então o que comprou?
-Venha vou mostrar. Espero que goste.
As roupas eram realmente lindas. Três calças jeans escuras e algumas blusas variadas, dois tênis e uma sapatilha. E uma sacola pequena com roupas intimas.
-É tudo muito lindo, obrigada.
-Por nada. Bom vou tomar banho e você limpa a bagunça. Depois se troque pra podermos ir comer.
-Tudo bem.
Até que foi engraçado tudo que aconteceu. Quem diria que um simples macarrão poderia quase causar a morte dos dois. Não seria uma hipérbole dizer que poderiam ter morrido, acidentes domésticos acontecem com frequência. Depois de limpar o chão com bastante detergente passou para as panelas. Precisou de quase três esponjas para limpar tudo. Quando a sujeira carbonizada já estava limpa, guardou tudo e limpou a pia com Ajax. Daniel já havia saído do banho os cabelos negros ainda com bastante água, ele ficava extremamente lindo daquele jeito.
-Bom trabalho – Ele disse.
-Me lembre de nunca mais fazer isso de novo.
-Sem dúvidas vou lembrar – Ele riu – Vá tomar banho pra podermos ir ok?
-Ta bem.

Até seu cabelo tinha óleo de soja, precisou de muito xampu para tirar tudo. A parte mais complicada era trocar de roupa, precisava levar tudo para o banheiro. Daniel fazia isso com muita habilidade, mas para ela era mais difícil. Colocou a roupa e se sentiu feliz por ter algo que realmente cabia no corpo, exceto a roupa intima que era até pequena demais, será que ele mesmo escolheu? Sentiu o rosto enrubescer ao imaginar Daniel escolhendo as calcinhas vermelhas finíssimas com lacinhos. Vestiu a calça jeans, a sapatilha e uma blusa regata amarela. Prendeu o cabelo em um rabo de cavalo e voltou para a sala. Daniel estava vasculhando a TV.
-E então? – Ela perguntou.
-Ótimo – Respondeu sorrindo.
-Hum... Só ótimo?
-Desde quando ficou tão carente por elogios? – Ele riu – Você está linda ...Muito linda.
-Obrigada.
-Todas couberam direitinho? – Ele deu um sorriso torto.
-Podemos ir agora? – sentia o rosto queimar.
-Na verdade...Eu pensei em fazermos algo diferente.
-Tipo o que?
-Pedir comida e passar a tarde aqui vendo um filme. Tenho um monte pode escolher o que quiser.
-Fazemos isso todo dia.
-É que estou cansado. Prometo que a noite te levo pra sair.
-E eu posso escolher o lugar?
-Claro. Onde quiser.
-Tudo bem. Peça a comida enquanto escolho o filme.
-Ok.
foi até a pilha de DVDs e começou a vasculhar. A maioria era animes ou filmes com mulheres nuas na capa. Daniel sempre os tomava de sua mão quando pegava.
-E então encontrou o filme?
-Achei – Ela respondeu sorridente mostrando o DVD Titanic, Daniel franziu a testa.
-Titanic?- Ele franziu a testa - Tem certeza?
-Parece ser bom... Conta a história de...
-Eu sei – Ele interrompeu sorrindo – Sarah me fez assistir esse filme milhões de vezes, era o favorito dela. Eu nem sabia que ele estava aqui, ela deve ter deixado nas minhas coisas.
-Ah era dela... – Não se importou em ser hostil ao falar a ultima palavra.
-Nunca viu esse filme? De que planeta você veio? – Ele sorriu.
-Se você não quiser podemos pegar outro.
-Não, se você quer ver Titanic então vamos ver – Ele disse sentando no sofá.
pegou o DVD e colocou no aparelho. Quando ia colocar a capa em cima da mesinha viu que havia algo escrito. A letra pequena e bem desenhada dizia:
“Pertence a Sarah Howe... O único filme cujo amor pode ser comparado ao que sinto por Daniel. Te amarei para sempre meu amor.”
-? Não vai vir assistir?
-Vou... - Ela ainda analisava o pequeno texto. Por que sentiu tanta inveja daquelas palavras? O que será que Daniel sentia quando lia aquilo? Preferiu não saber a resposta.
-? O que foi? – Ele pegou a capa de sua mão.
-Não foi nada.
-Ah, é isso – Ele jogou a capa em cima da mesa – Isso é só besteira de adolescente apaixonada.
-Acha mesmo que não era real? - Ele deu de ombros.
-Agora não tem mais importância. Vou fazer pipoca.
-Vai perder o inicio do filme.
-Já vi esse filme várias vezes, conheço bem esse inicio.
-Com ela você assistia desde o começo? – Daniel a olhou com uma cara de “Qual seu problema?”
-Está com ciúmes de Sarah? – corou.
-Não...Não é isso é que...-Daniel gargalhou.
-Tem razão, por que sentiria ciúmes dela? Somos apenas amigos então não tem nada a ver.
-É – Ela riu sem graça – Somos apenas amigos.
-Vou fazer a pipoca.

O filme não foi tão longo como nas outras vezes. Daniel se surpreendeu com o fascínio nos olhos de . Era muito mais interessante que o filme, as expressões que fazia cada cena importante. O divertia ver o quanto ela se emocionava. A expressão mais divertida foi na cena dos “finalmente” Jack e Rose naquela cena de sexo disfarçada. Daniel não via graça naquela cena, era a relação mais falsa que já havia visto, mas a cara que fez era impagável. Como ela podia se envergonhar com aquilo, a ponto de ficar vermelha? E o mais curioso, era como se ela jamais tivesse visto uma cena daquelas. As pequenas mãos dela estavam inquietas Daniel sentiu um desejo voraz de tocá-las, mas manteve-se comportado. A parte do acidente finalmente chegou. chorava tanto que as lágrimas molhavam o rosto. Como ela podia ser tão linda daquele jeito? Ele pensou, era como a materialização de um sonho. Ele olhou novamente para o filme, já estava no final, quanto tempo ficou olhando com cara de bobo para ela? Jack já tinha morrido e Rose estava na estatua da liberdade, depois era só uma senhora no navio jogando o colar caríssimo no mar. E finalmente ela morrendo velhinha e quentinha numa cama exatamente como Jack pediu. enxugava as lágrimas quando Rose e Jack se encontraram no relógio. Daniel gostava dessa parte também, pelo menos eles tiveram um final feliz. O filme acabou, os créditos na tela e ainda chorava.
-Foi só um filme – Ele sussurrou.
-Por que as pessoas nunca vêem o sentido real das coisas?
-Como assim?
-A mensagem desse filme.
-Ele tem uma mensagem? – Daniel riu.
-Claro que tem.
-Hmm. E qual seria?
-Que as pessoas dão mais valor a vida quando estão perto de perdê-la.
-Tem muita gente que não duvida disso.
-Mas, tem outras que sim. Aposto que a maioria das pessoas que assistem isso acham que é só coisa de filme.
-Na verdade o Titanic existiu. Só a história de Rose e Jack que não.
-Você estava no navio?
-Claro que não.
-Então como sabe? Pode ter existido uma história ainda mais forte. Eu não chorei de emoção por causa do romance. Mas, pelas pessoas que morreram. Fiquei imaginando o quanto isso acontece com as pessoas no mundo. Tem a vida tirada de forma cruel se nenhuma oportunidade de sobreviver. E agora que você me disse que foi real me sinto ainda mais triste.
- isso é bobagem. Esse lance de se sentir mal pelas desgraças do mundo.
-Não deve pensar assim Daniel. Há coisas mais importantes do que nós próprios.
-Esse papo está muito nostálgico. O que acha de sairmos agora? São só oito horas e com o horário de verão teremos um bom tempo para sair.
-Aonde quer ir?
-Não sei. Você não ia escolher o lugar?
-Hmmm – Ela mostrou as palmas das mãos abertas – Não faço idéia de onde poderíamos ir.
-Acho que sei aonde te levar.
-Aonde?
-É uma surpresa. Vou pegar uns casacos, apesar do inverno ter ido embora ainda está um pouco frio.
-Pois é, pensei que poderíamos ter dias mais quentes.
-O tempo nunca é confiável.
Daniel foi até o guarda-roupa e vestiu uma camiseta preta de manga comprida que combinava perfeitamente com os olhos. O piercing prata reluzia na luz forte do quarto e ficava lindo quando ele sorria. Vasculhou o armário e encontrou um casaco azul mais curto, provavelmente caberia em .
-Aqui – ele disse entregando o casaco- Vai ficar um pouco folgado, mas é melhor do que passar frio.
-Obrigada.
Os dois estavam muito próximos podia sentir o perfume suave que ele usava e um cheiro gostoso de loção pós barba. Daniel deu lhe o sorriso torto que ela tanto adorava e tirou uma mecha de cabelo que caiu em seu olho, colocando-o atrás da orelha. A campainha tocou duas vezes até perceberem o barulho.
-Quem será? – Ela disse se afastando dele.
-Não sei. Não estou esperando ninguém. – Daniel disse indo para a porta.
Lucas estava parado frente à porta, os óculos tortos no rosto.
-Posso entrar?– Daniel estendeu a mão para o apartamento sem dizer nada.
-Obrigado. Agora você pode me dizer o que está acontecendo? Por que sumiu esses dias e não deu noticias? Rebeca está louca sabia?
-Tem certeza que é Rebeca? Quem está dando uma de histérica aqui é você.
-É sério Daniel eu fiquei acobertando você, mas poderia ter dado alguma noticia não é? – Ele ajeitou os óculos.
-Rebeca nunca ouviu falar em celular?
-Bem que tentamos te ligar, mas você nunca atende!
-Olá – disse tímida, ele olhou para ela.
-Ai... Meu... Deus! Não me diga que é a garota daquele dia no Sanatório!
- Não seja estúpido Lucas, claro que é ela.
-E o que ela está fazendo aqui?
-O que foi ta com ciúme? – Daniel riu indo para a cozinha.
-Claro que não é que você nunca trás ninguém aqui ainda mais uma estranha.
-Pois é – Daniel trouxe duas cervejas e entregou uma a Lucas – Pra tudo se tem uma primeira vez.
-Quando Rebeca souber vai enlouquecer.
-Eu tinha me esquecido dela – Daniel coçou a cabeça.
-Irmão acredite – Ele bebeu um gole – A mulher está cuspindo fogo.
-Rebeca é muito possessiva sempre deixei claro que não éramos namorados.
-Boa sorte em explicar isso a ela.
-Estão com algum problema?
-Não é que o Lucas esqueceu a educação em casa.
-Desculpe meus maus modos, Sou Lucas – Ele estendeu a mão.
O que Daniel está fazendo com essa garota? Ela está bem diferente daquele dia, é muito bonita. Será que Daniel está de caso com ela?Isso não é normal, alguma coisa está acontecendo. Ele jamais faria isso sem motivo. Rebeca está muito chateada mesmo que não demonstre, por que ele não percebe o quanto ela é especial? Realmente é um estúpido, mesmo sendo meu amigo é um estúpido tenho que admitir...
levou um susto quando a voz de Lucas soou dentro de sua cabeça quando suas mãos se tocaram. Aquilo não acontecia desde o episódio dos repórteres. Era muito estranho, muito estranho. Dessa vez não ouve ruído, a cabeça não doeu. A voz dele foi clara e nítida sem nenhuma interferência
-Você está bem? – Os olhos de Lucas estavam franzidos por trás dos óculos.
-Sim... Estou bem, sou prazer em conhecê-lo.
-E então – Ele olhou para Daniel - Vocês iam sair?
-Vou levar pra andar um pouco pela cidade.
-Ah é? – Ele sorriu – Desde quando gosta da cidade?
-Você está muito ciumento Lucas, vou mandar entregar flores na sua casa amanhã.
-Não esqueça os chocolates – Eles riram.
-Tem alguma dica de onde podemos ir Lucas?
-Hmm – Ele coçou a barba por fazer – Que tal o parque?
-Odeio parques.
-Parece ser divertido – disse.
-Tudo bem, mas só um pouco.
- Será que você pode me dar uma carona até em casa Daniel?
-O que houve com seu carro?
-Revisão.
-Ah. Te dou uma carona então.
-Tente não sumir novamente.
-Desculpe cara. Eu estava mesmo muito ocupado, depois explico tudo.
-Porque não passa lá no Sanatório mais tarde?
-Talvez eu passe.
-Precisa falar com a Rebeca. Ela está mesmo muito brava.
-Tudo bem vou encarar a fera.
-Vamos indo então.
-O elevador sempre demora, vou na frente pela escada e pegar o carro espero vocês na entrada do prédio – Ele disse trancando o apartamento.
-Tudo bem.
-E então, vocês são amigos agora? – Lucas disse quando Daniel já havia descido.
-Acho que sim é uma história complicada. Mas, Daniel está me ajudando muito.
-Ele é uma boa pessoa.
-Vocês são amigos a muito tempo?
-Bastante – Ele apertou o botão do elevador – Me surpreende muito a atenção dele com você. Daniel não é do tipo mocinho.
-Eu sei. Não está sendo tão fácil assim, ele é meio chato às vezes.
-Às vezes? - Lucas riu – Eu diria sempre.
-Quem é Rebeca?
-A namorada dele.
-Pensei que ele não tivesse namorada.
-Eles dizem que é um relacionamento aberto – Ele deu de ombros – Vai entender, vamos o elevador chegou.
-Lucas... – Ela disse antes de entrarem -Vou pedir para Daniel dar explicações a sua amiga – Ele assentiu.
-Obrigado. Ela ficará feliz.
A casa de Lucas ficava em um dos bairros ricos da cidade. Ele ainda morava com a mãe, o pai havia morrido em um acidente quando ele tinha seis anos. Daniel conhecia bem aquele bairro, foi onde cresceu. A casa de sua mãe ficava duas ruas depois da casa de Lucas, seus pais haviam se separado e Júlia ficara com a mansão. Douglas, o pai de Daniel morava em um apartamento no centro da cidade. As ruas eram calmas e as casas eram quase todas parecidas com belos jardins na entrada e caixas de correio decoradas. Era um bom lugar para dirigir já que quase não havia movimento.
-Esse lugar é tão lindo – disse analisando os detalhes decorativos das casas.
-É bairro de gente metida – Daniel disse.
-Você também já morou aqui.
- Só até os dezesseis anos.
-Eu não me orgulho de morar com a minha mãe, mas também não quero deixá-la sozinha.
-Sei, sei – Daniel gargalhou – Você não quer é deixar a vida mansa.
-Minha vida não é tão fácil assim.
-Jura? Alguém que a mãe ainda chama de “meu tesouro” parece ter uma vida fácil.
-Se fosse assim ela já teria me dado a grana para o carro novo.
-Está mesmo precisando trocar aquela lata velha.
-Pois é infelizmente não tenho um pai rico pra me dar um porsche Cayenne.
-Turbo – Daniel acrescentou -Porsche Cayenne turbo.
-Por isso tenho que me conformar com o Ford Ranger.
-Não é um carro ruim.
-Comparado ao seu? – Lucas riu – O meu é um fusca.
-Não seja invejoso.
-Quando é que vai me deixar dirigir essa belezinha hein?
-Nunca. Ninguém toca no meu filhote.
-Eu tomo cuidado e também... Seu pai pagou o seguro não foi?
-E eu já disse que não foi meu pai que me deu. Nós tínhamos uma dívida e ele pagou com o carro só isso.
-Isso é o que você diz – Lucas riu – Queria saber quando essa briga boba entre você e seus pais vai acabar. Júlia te ama muito Daniel, deveria reconsiderar.
-Que tal mudarmos de assunto?
-Como sempre está fugindo. Já ouviu falar em perdão?
-E você já ouviu falar em cuidar da própria vida?
-Ei, acho melhor falarmos de outra coisa não é? – sorriu.
-Está tudo bem, não estamos brigando – Daniel a olhou pelo retrovisor – Acho melhor ir se acostumando.
-Pois é , sempre fazemos isso.
-Lucas? – Daniel chamou.
-O que?
-Você não disse que seu carro estava na revisão?
-E está.
-Então o que aquele cara está fazendo estacionando ele?
-Ah droga! Minha mãe deve ter pedido ao Matildo para pegá-lo.
-Quem diabos é Matildo?
-É o namorado dela – Sussurrou.
-Diga mais alto Lucas eu não ouvi.
-Ta pode rir! É o namorado dela.
-Sua mãe tem um namorado chamado Matildo?
-Não tem graça.
-Espere ai – Daniel estacionou o carro perto da casa de Lucas – Eu conheço aquele cara... E pensando bem você também conhece! O nome dele também não me é estranho. Matildo... Tido – Daniel gargalhou – É eu sei quem ele é, nosso ex professor de kung fu. Sua mãe está namorando nosso professor!
-Ex professor.
-Desde quando?
-Começaram no verão passado.
-Cara por que nunca me contou?
-Suas gargalhadas minutos atrás não revelam a razão?
-Não fique chateado – Daniel deu dois tapinhas nas costas dele- Você tem um padrasto que tem quase a sua idade. Vocês podem fazer muitas coisas juntos.
-Pode rir a vontade. É muito bom tirar sarro da desgraça alheia.
-Aquela é sua mãe Lucas? – perguntou apontando uma mulher magra de cabelos loiros cortados na altura do queixo usando shorts curtos e uma mini blusa. A mulher ficou na ponta dos pés e beijou o homem sarado que saiu do carro.
-É- Lucas suspirou – Infelizmente é a minha mãe.
-Poxa cara – Daniel assobiou – Sua mãe está com uma ótima saúde.
-Daniel! Mais respeito ela é minha mãe!
-E daí? Ela está em ótimo estado e não consigo entender como uma mulher tão linda pôde trazer alguém como você ao mundo.
-Do mesmo jeito que a sua te trouxe.
-Vocês dois parecem duas crianças - riu.
-Nossa! Ela está dando uns amassos no Tido.
-Que droga minha mãe me mata de vergonha!
-Ela está vindo para cá.
Arlete caminhou até o carro e deu dois tapinhas no vidro de Lucas.
-Oi mãe.
-Olá meu tesouro. Desculpe não ter te avisado, mas eu quis poupar seu trabalho e pedi para o Matildo buscar seu carro.
-Sem problemas.
-Olá Daniel – Ela sorriu para ele – Como vai?
-Muito bem. E a senhora?
-Ah estou ótima.
-Oh está mesmo – Lucas deu-lhe uma cotovelada.
-Ai...! Não disse nada demais.
-E essa mocinha ai? É sua namorada Daniel? Terminou com Rebeca?
-Não. Ela é só uma amiga.
-Sou .
-Ah, muito prazer sou Arlete mãe do Lucas. Você é solteira? Sabe como é... Meu filho precisa sair e eu adoraria ter uma nora tão linda quanto você.
-Mãe! Já chega!
-Não fique bravo docinho eu só quero que tenha uma vida ativa com as garotas.
-Mas ele tem Arlete – Daniel disse gargalhando – Pergunte a coelhinha de julho. Ouvi dizer que ela acompanha Lucas no banho todos os dias.
-Acho melhor eu entrar – Lucas disse saindo do carro – Até logo .
-Até – Ela acenou.
-Lucas – Daniel chamou – Dê um oi ao Tido – Lucas mostrou o dedo médio.
-Não quer entrar e tomar um chá ou um suco Daniel?
-Não senhora Bratz, obrigada pelo convite.
-Tudo bem. Bom, vou indo. Tchauzinho.
-Tchau Arlete.
-Ah espere! Eu já ia me esquecendo. Sua mãe disse que chegou uns documentos seus lá na casa dela. Parece que a empresa que enviou não tem seu novo endereço. Se puder dar uma passadinha lá.
-Sabe se ela está em casa hoje?
-Quando me ligou mais cedo ela disse que estaria.
-Vou passar lá. Não deve ser nada urgente, mas é melhor conferir.
-Sim. Dá uma passadinha aqui em casa depois.
-Ta pode deixar.
-Boa noite querido. E pra você também lindinha.
-Boa noite senhora.
Ela deu mais um aceno antes de entrar em casa.
-Vamos na casa da sua mãe?
-É vamos sim. Isso não me agrada, mas fazer o que né.
-Parece que a mãe de Lucas gosta muito de você.
-E de todos os outros amigos dele. Arlete sempre foi muito... Enérgica.
-Ela parece ser divertida.
-E como é...
-O que quer dizer com isso? – franziu os olhos – Não acredito! Você já...
-Só uma vez – Daniel deu um sorriso torto – Foi um acidente.
-Lucas sabe disso?
-É claro que não. Arlete e eu prometemos nunca contar e não foi nada além de um beijo. Talvez dois ou vários beijos, mas só isso.
-Isso é nojento!
-E você? – Ele arqueou a sobrancelha – Será que já aprontou muito?
-Sei lá – Ela deu de ombros – Provavelmente não.
-Não vale. Você não se lembra de nada.
-Isso me torna uma santa.
-Por hora.
-Você é muito galanteador?
-Talvez... Digamos que é difícil resistir ao meu charme – Ele deu seu sorriso torto novamente, ela adorava quando ele fazia aquilo.
-Isso não me surpreende. Nem a mãe do seu melhor amigo escapou.
-Devo tomar isso como um elogio? Acho que sim. Bom – Ele respirou fundo – Chegamos.
-É uma linda casa.
-Minha mãe sempre teve bom gosto. E ai vamos?
-Claro – Ela segurou a mão dele – Vai ficar tudo bem.
-Espero que sim.

A casa era linda, talvez a mais bonita do bairro. Era branca com muitas janelas e um jardim com várias roseiras na entrada. O interior da casa era ainda mais bonito. Na entrada principal havia dois lances de escada, um quadro com assinatura Da Vinci na parede principal e vários tapetes e lustres. Daniel a conduziu uma sala a direita perto da escada, parecia uma sala de estar. Dois sofás vermelhos enfeitavam a sala. Uma lareira estava acesa e por cima dela alguns porta-retratos. Nas fotos haviam sempre duas crianças. Uma menina loira com olhos claros ao seu lado um garoto de cabelos negros cortado em cogumelo e no meio dos dois uma mulher alta e com belos cachos escorridos nos ombros.
-Esta é minha mãe, Sarah e eu – Daniel disse pegando o porta retrato.
-É uma linda família.
-Você quis dizer éramos.
-E seu pai? Por que ele não aparece junto com vocês?
-Ele nunca gostou de fotos – Daniel deu de ombros – Uma das milhares de coisas que ele não gosta.
-Senhor Daniel? – Uma mulher de uniforme chamou.
-Oi Lola.
-O que o senhor está fazendo aqui? Eu não ouvi a campainha.
-Eu não toquei... Algum problema?
-Não... Claro que não é que faz tanto tempo desde a ultima vez que esteve aqui e...
-Minha mãe está? – Ele a interrompeu impaciente.
-Sim. Está na cozinha dando ordens para o jantar.
-Pode chamá-la?
-Claro ela vai ficar tão feliz com a visita. Espere só um segundinho que eu já vou chamá-la, o senhor deseja alguma coisa?
-Que você pare de me chamar de senhor – Ele riu – Ainda sou muito jovem.
-Sim senhor... Quero dizer... Desculpe, mas desejam alguma coisa? Uma aguinha um suco ou café? Que tal aquele chá gelado que o senhor adora?
-Estou bem Lola, não precisa. Você quer alguma coisa ?
-Não. Obrigada.
-Só chame minha mãe ok? – Ele piscou.
-Cla... Claro já volto.
-Parece que ela gosta de você – disse quando a empregada saiu.
-Está com ciúme? – Ele a encarou.
-Obvio que não! Só comentei porque ela ficou nervosa.
-Isso acontece com quase todas as empregadas da minha mãe.
-Convencido.
-Realista.
-Essa casa é tão linda. Deve ter sido ótimo ter crescido aqui.
-Quem sabe sua casa também seja.
-Acho que não.
-Pois eu acho que sim. Talvez você seja até mesmo uma princesa e não lembra.
-Princesa Daniel? – Ela riu – Acho que está exagerando.
-Você tem muita classe . Nem de longe parece uma garota de rua. Na minha opinião você é alguma riquinha rebelde que fugiu de casa e acabou se metendo em encrenca.
-Sua mente criativa é muito boa hein.
-Pois vamos apostar. Se você for rica eu ganho se for apenas uma pobretona você ganha.
-Aceito- Ela estendeu a mão.
-Olha que tenho mais chances de estar certo.
-Ou de estar muito errado. Mas, qual será o premio para o vencedor?
-Meu pagamento será... – Ele se aproximou dela impresando-a na parede – Uma surpresa.
-Daniel? Filho? – Uma voz engasgada os interrompeu.
A mãe de Daniel era elegante e muito bonita. Os cabelos negros escuros e olhos pouco mais claros que os dele. A boca era bem desenhada com batom vermelho, mas sua expressão era cansada.
-Oi mãe.
-Ah meu filho – Ela o abraçou – Que saudades, como você está?
-Estou bem – Ele a afastou – Só vim buscar os papéis que me enviaram.
-Ah sim claro. Eles não devem ter seu novo endereço. Vou mandar Lola buscar.
-Vamos esperar.
-Nossa, mas que indelicadeza a minha. Quem é essa jovem linda?
-Esta é uma amiga.
-Olá muito prazer sou Júlia mãe de Daniel.
-Muito prazer em conhecê-la.
-Sinta-se em casa. Vocês desejam alguma coisa?
-Não mãe. Estou com pressa pode apenas pegar os documentos?
-Claro. Volto num instante.
Daniel afundou no sofá com ar cansado. Visitar a mãe não lhe parecia uma coisa fácil. Júlia voltou alguns minutos mais tarde com um envelope e entregou a Daniel.
-Obrigado. Vamos indo agora.
-Não querem ficar para o jantar?
-Fica para a próxima- Daniel respondeu.
-Entendo.
-O cheiro está ótimo. Estamos com tanta pressa assim Daniel? – Ele lançou lhe um olhar de “o que você está fazendo?”
- tem razão filho. Porque não jantam comigo?
-Agradeço, mas não. só aceitou o convite por educação.
-Daniel...
-Já estamos indo – Ele disse indo para a porta.
-Sinto muito – Sussurrou para Júlia.
-Tudo bem querida. Eu já desisti de ter o meu filho de volta.
-Vamos – Ele gritou.
-Vou acompanhá-la até a porta.
-Obrigada.
-Boa noite mãe – Daniel disse friamente.
-Boa noite filho. E sobre o favor que me pediu para Jared verei o que posso fazer.
-Ainda não entendo por que ele não pediu diretamente para você. São tão amigos.
-Filho...
-Na verdade acho que sei o motivo. Sem duvidas é para me encher... Aquele infeliz sabe que eu faria de tudo por Alice.
-Falar comigo é um sacrifício tão grande para você Daniel?
-Me diga você, ou meu pai também não permite isso?
-Já chega Daniel – gritou – Não vê o quanto ela está mal? Não seja rude ela é sua mãe!
-Está tudo bem querida. Ele já não sabe mais o que é ter uma mãe.
-Nisso eu concordo.
-Chega de infantilidade Daniel. Nós vamos indo dona Júlia, desculpe por isso.
-Deus os acompanhe.
-Ah tudo bem – Daniel revirou os olhos – Desculpe mãe eu não queria ser tão grosseiro.
-Meu filho – Ela acariciou seu rosto – Deus sabe o quanto eu te amo. Sei que nunca vai me perdoar pelo que fiz, mas nunca deixe de acreditar no meu amor por você.
-Deixei de acreditar em muitas coisas mãe e uma delas é no amor.
-Um dia você verá que isso não é verdade meu filho.
-Quem sabe.
-Por que você e não vem passar o dia de ação de graças aqui em casa no domingo? Jared virá, sei que não é um incentivo, mas ele trará Alice.
-Estamos fazendo um acordo para eu poder vê-la.
-Vocês dois tem que parar de colocar minha neta nesse fogo cruzado.
-Jurei a Sarah que ia cuidar dela. Não vou falhar com minha promessa.
-Sua irmã ficaria muito triste em ver o que fazem com os sentimentos dessa pobre garotinha.
-Alice é muito nova para entender o que acontece mãe. E ao contrário do que você e meu pai fizeram eu não vou abandoná-la.
-E lá vamos nós de novo. Vamos esquecer esse assunto tudo bem? E então vocês virão no feriado?
-Não sei.
-Tudo bem. De qualquer forma estarei esperando como em todos os outros anos.
-Boa noite mãe – Ele disse indo para o carro.
-Esta é uma situação muito difícil . Bom de qualquer maneira foi um prazer conhecê-la.
-Igualmente – Ela lhe deu um abraço confortador - E não se preocupe nós viremos no domingo.
-Obrigada – Julia disse enxugando as lagrimas que rolavam dos olhos.

entrou no carro e apertou o cinto. Daniel estava com o rosto no volante e se assustou com a indelicadeza com a qual ela fechou a porta. Acelerou o carro e deixou o bairro. Entraram na avenida principal da cidade rumo ao parque de diversões. permaneceu calada durante todo o trajeto.
-O que foi? – Ele a encarou.
-Você é muito infantil!
-Você não entende ...
-Quando você vai parar com essa birra de menino mimado e perdoar sua mãe? Ela está sofrendo.
-E como você pode saber disso? Acabou de conhecê-la.
-Não precisaria nem de uma hora com ela pra saber o quanto está triste.
-Eu não quero falar disso tudo bem?
-Bem que o Lucas disse que você vive fugindo desse assunto.
-E quem é você para me julgar?
-Talvez eu seja uma das milhões de pessoas que podem enxergar o quanto você é teimoso.
-É muito fácil falar você nem sabe quem é sua família. Eles podem ter te expulsado de casa ou terem te abandonado quando criança, você os perdoaria se fosse esse o caso? Aposto que não. É muito fácil me julgar quando nem você mesma sabe de onde veio...
-Você tem razão, mas eu daria qualquer coisa pra saber.
-Ah! – Ele suspirou - Me desculpe eu não queria falar assim...
-Mas, falou.
-Sério , me desculpe eu sei que sou um otário – Ela riu.
-É você é mesmo.
-Quer saber de uma coisa.
-O que?
-Eu não me importo em saber quem você é.
-Sério?
-Pra mim você sempre será . Aquela garota estranha que salvei no Sanatório.
-Eu já me acostumei com esse nome. Seria estranho descobrir qual é o meu verdadeiro.
-Como será seu nome real? Pode ser Carol, Janaina, Luana, Victória...Valéria ou pode ser um nome ridículo tipo Josefina, Sebastiana ou Carola.
-Sebastiana? Eu tenho cara de Sebastiana? – Daniel riu.
-Não! Definitivamente não.
-Como será minha família? Ou minha casa... Eu queria tanto saber de onde eu vim.
-Se eu pudesse trocaria de lugar com você. Seria ótimo esquecer tudo que aconteceu na minha vida.
-Não diga isso. È horrível ter um buraco negro dentro da sua cabeça.
-Por falar em algo dentro da cabeça... Você sabe que vamos ao médico essa semana não é?
-Sim eu sei. Mas, não tenho os documentos.
-Ah isso não é problema. Já resolvi.
-Deixe-me adivinhar. Documentos falsos?
-É claro. Você será oficialmente/Temporariamente Valovizk.
-Valovizk? Onde arrumou isso?
-Sei la- Ele deu de ombros - Você parece russa.
-E como conseguiu os documentos?
-Tenho meus contatos.
-E se nos descobrirem?
-É impossível. Não trabalho com amadores. Pode ficar tranquila.
-Vamos ver o que acontece.
-Pronto senhorita Valovizk chegamos. Vou tentar não morrer sufocado nesse lugar cheio de gente.

O parque estava extremamente lotado. As vésperas do feriado parecia que a cidade inteira tivera a mesma idéia de se divertir naquela noite. Os brinquedos eram barulhentos e crianças corriam e esbarravam em Daniel o tempo inteiro. Definitivamente era um inferno.
O ambiente tinha um cheiro gostoso de pipoca, algodão doce e maçã do amor. Uma musica agitada tocava, mas era quase impossível ouvi-la naquele barulho.
-E ai o que vai querer fazer primeiro?
-Não sei. Essas coisas parecem ser tão perigosas.
-E são. É mais provável você morrer em um parque de diversões do que atravessando a rua sem olhar para os dois lados.
-O que?
-Calma – Ele riu – É só brincadeira. Relaxa, pode parecer perigoso, mas tudo isso aqui é supervisionado. Não há riscos.
-Mesmo assim dá um frio na barriga.
-Vamos fazer o seguinte. Começaremos pelos mais calmos, por exemplo tiro ao alvo. Sou muito bom.
-Quero ver então.
Eles se dirigiram para a barraca do tiro ao alvo. Os prêmios eram algumas pelúcias, balas e chocolates. Daniel comprou duas fichas e pegou um revolver.
-O segredo é não mirar no lugar correto. O cano é distorcido e faz com que seu tiro seja desviado. Vou mirar naquele bombom , mas na verdade estou de olho naquela pelúcia ali – Ele atirou acertando uma miniatura de um urso.
-Ótimo tiro – A balconista falou.
-Parece que não é só mães e empregadas que se animam com você.
-Está com ciúmes Valovizk?
-Não seja pretensioso.
-Ah você está com ciúmes sim. Não se preocupe – Ele falou em seu ouvido – Ela não faz meu tipo. Eu prefiro as ruivas.
-Aqui está seu premio – A balconista entregou o pequeno urso.
-Obrigado.
-Da próxima vez – Ela se apoiou no balcão deixando o decote a mostra – Não precisa acertar o alvo pra ganhar um premio.
-Não sei se terá próxima vez. Aqui está o urso que você queria amor – Ele entregou a pelúcia para – Vamos indo.
-Daniel...?
-o que?
-Aquilo foi cruel.
-Queria que eu fosse recíproco à cantada? Se quiser eu volto lá e reclamo o premio que ela prometeu.
-Se quiser – Ela deu de ombros – Por mim tanto faz.
-Ah é? – Ele a puxou pela cintura – Pois eu acho que está morrendo de ciúmes.
-Por que eu sentiria ciúmes de você? – Ela bufou.
-Porque sou incrivelmente irresistível.
-E muito convencido.
-Olha querida, sinto muito estragar nosso clima, mas eu preciso ir ao banheiro. Muita cerveja. Pode ir comprar alguma coisa para a gente comer?
-Ta. O que você quer?
-Você escolhe – Ele entregou algumas notas.
-Ta bem. Onde encontro você?
-Pode deixar que eu te encontro.
-Não vai sair correndo e me abandonar aqui?
-Nem se eu fosse louco faria isso.
-Bom então vai lá.
-Vejo você daqui a pouco – Ele beijou a testa dela e se esgueirou pela multidão.

observou Daniel se afastar até ser totalmente engolido pela multidão. Uma sensação estranha de deja vu tomou conta dela, respirou fundo e fechou os olhos espantando o sentimento incomodo e se dirigiu a barraca de cachorro quente que ficava do outro lado do parque. Um vento gelado soprou fazendo com que ela esfregasse os pelos eriçados do braço. Apertou o passo dizendo a si mesma que aquela sensação estranha era coisa da sua imaginação, o som escandaloso do carro da montanha russa que passou por ela em alta velocidade fez com que desse um pulo. Se recompôs do susto e continuou caminhando. O cheiro delicioso fez seu estomago se agitar. A fila estava enorme e parecia ter apenas dois atendentes. O homem preparava os pedidos e a mulher cuidava do dinheiro.
-Próximo – A balconista chamou.
Era a vez de , mas ela congelou quando olhou para a barraca ao lado e viu aquele homem. Ela tinha certeza que nunca o tinha visto na vida, mas algo nele a deixou nervosa. O homem era alto devia ter quase uns dois metros de altura. Vestia um sobretudo preto por cima de uma camisa branca e calças escuras. Ele estava com as mãos nos bolsos e falava com o vendedor de bebidas. sentiu um impulso de sair correndo, mas algo a manteve presa ali olhando aquele homem. O olhar dele encontrou o dela... Uma sensação de náusea e desespero fez com que se sentisse tonta.
-Ei garota você não me ouviu chamando o próximo? – A moça gritou novamente.
A inquietação que a invadiu foi atormentadora. Precisava sair dali, precisava achar Daniel. Sentiu um gelo no estomago e seu coração se acelerou. Olhou novamente para o lado, mas o homem não estava mais lá. Analisou a multidão tentando achá-lo, mas ele havia sumido como se tivesse evaporado. Será que ela estava imaginando aquilo? Por que a presença dele a fez sentir tão mal?
As pessoas atrás dela xingavam e mandavam-na se apressar. Mas, estava atordoada demais para se mover. Fechou bem os olhos e inspirou profundamente quando expirou saiu da fila e se enfiou no meio da multidão.
Não fazia idéia de onde estava indo o lugar era grande demais. Como Daniel ia encontrá-la? Era quase impossível. Ela sentia o coração na boca, o olhar que o homem lançou para ela era frio e muito cauteloso. As sensações estranhas invadiram sua mente deixando-a tonta...Andou o mais rápido que pôde, esbarrou em um homem e fez com que seu lanche caísse no chão. A multidão parecia sufocá-la. O homem estava atrás dela... Se aproximando cada vez mais ela podia sentir sua presença.
Não adianta fugir...
A voz dele soou dentro de sua cabeça. Ela olhava de um lado para o outro tentando encontrá-lo e assim saber para que lado deveria correr, mas era inútil. Caminhou tanto tempo que não viu a multidão ficando para trás. Agora estava praticamente sozinha em um canto do parque. Belo lugar para se fugir de uma perseguição. Estava de frente para um trailer vazio. Podia ver o parque de longe, a explosão de cores e luzes que vinha da multidão. Não havia mais para onde ir estava encurralada. Tentou voltar para o centro do parque, mas era tarde demais. O homem se aproximou dela cercando-a quando tentava escapar.
-Boa noite – Ele riu – Que coincidência maravilhosa.
-Quem... Quem é você? – Gaguejou.
-Não importa quem sou eu, mas o que eu quero de você.
-E o que você quer de mim – Ela espiava pelo canto do olho, procurando algo que lhe servisse de arma.
Não tem nada aqui. E mesmo que tivesse você não conseguiria me ferir.
-O que? Como você fez isso? – Ela arregalou os olhos.
-Fiz o que?
-Falou nos meus pensamentos.
-Ah isso? É um segredo meu. Uma coisa irrelevante.
O homem caminhou até ela deixando um espaço de poucos centímetros entre eles. As botas de cano longo fazendo barulho no cascalho.
-Diga o que quer e me deixe em paz...
-Então ele te chama de ? É um nome bonito, mas eu ainda prefiro Liriel.
-Liriel? Você me conhece? Sabe quem eu sou?
-É claro que eu sei. Mas, não posso revelar... Você tem que descobrir sozinha.
-Por favor... Por favor me diga quem eu sou.
-Está fazendo a pergunta errada – Ele cruzou os braços – Tem que fazer a pergunta certa.
-Eu... Eu não estou entendendo.
-Vamos Liriel... Você é mais inteligente que isso. Eu não tenho muito tempo.
-o que? Por que? Me diz o que está acontecendo!
Eu não posso falar... Estão nos observando. Tente fazer a pergunta certa.
-Você quer me enlouquecer? Que tipo de brincadeira sem graça é essa? – escorregou pela parede do trailer e abraçou os joelhos.
-Eu já fiz o bastante revelando seu nome. Não posso ir além, tem que descobrir sozinha. Não posso interferir, você tem que encontrar o caminho.
-Fique longe de mim! – Ela chorava.
-Liriel nosso tempo está acabando. Preciso me afastar, vou tentar me comunicar de novo com você. Preste atenção nos sinais.
Sons de passos romperam no local, mas não prestou atenção ainda estava em transi.
-? É você? – A voz estava tão distante que não dava pra ter certeza se falavam com ela.
Preste atenção nos sinais Liriel. O tempo está correndo... Tente se lembrar.
sentiu mãos segurando-a. Se debateu tentando tirá-las.
-Saia da minha cabeça! Saia da minha cabeça!
-! sou eu! Fique calma.
Então ela olhou para ele. Os olhos quase verdes a encaravam confuso. Procurou pelo homem de casaco preto, mas ele já não estava mais lá. Quanto tempo havia se passado? Sentiu as mãos arderem, então viu que tinha rasgado a pele com as unhas. Fitou o homem que a segurava e o reconheceu.
-Jared? – Sussurrou – É você?
-Sim sou eu... O que houve – Ele a abraçou levantando-a – Você está tremendo.
-O homem... Onde ele está? Onde ele está?
-Que homem ? Não tem ninguém aqui.
-Mas... – Ela ofegava – Ele estava aqui falando comigo... Me disse coisas estranhas.
-Não tem ninguém aqui anjo. Venha vou te levar pra tomar uma alguma coisa.
Jared lhe deu um cachorro quente e uma coca. Ela bebeu o refrigerante, mas não quis comer. Ainda estava enjoada por causa da confusão mental. Tentou trancar a lembrança em um calabouço dentro de seu cérebro e esquecer tudo que havia acontecido, mas a adrenalina ainda corria em suas veias deixando-a em frenesi. Jared a observava, os olhos serenos encarando-a.
-Está se sentindo melhor?
-Sim. Obrigada - Ele deve ter notado a mentira em sua voz falha.
-Daniel está aqui com você? – Ela assentiu bebendo mais um gole.
-Mas, - Limpou a boca com as costas da mão – Eu não sei onde ele está.
-Ele não devia ter te deixado sozinha.
-Não foi culpa dele. Eu que me afastei demais, o que você estava fazendo naquele lugar?
-Bom – Ele coçou a cabeça – Eu estava te seguindo.
-Me seguindo?
-Pois é... Eu trouxe Alice para brincar um pouco e te vi na fila do cachorro quente. Pedi para a babá levá-la em um dos brinquedos pra eu ir falar com contigo, mas quando olhei você tinha sumido.
-Ah... Pois é.
-Então eu comecei a te procurar porque notei que não estava bem. Só conseguir te achar por sorte eu acho.
-Ainda bem que me encontrou.
-Já rodou em algum brinquedo?
-Não. Daniel foi ao tiro ao alvo – Ela tirou a pelúcia pequena do bolso – E ganhou isso pra mim.
-Ele é bom nessas coisas.
-Tiro ao alvo?
-Não. Em conquistas e falando no diabo...
Daniel surgiu da multidão. Parecia cansado, apoiou as mãos nos joelhos respirando ofegante.Ainda procurava quando a viu junto com Jared. Caminhou a passadas longas até eles. Ela sentiu uma onda de conforto quando o viu e se jogou em seus braços. Ele a abraçou envolvendo-a. deixou que o cheiro gostoso de Daniel a acalmasse. Ele tinha esse poder sobre ela, de deixá-la calma e segura.




-Onde você se meteu? Quase enlouqueci sabia?
-Eu estava cuidando dela Howe não se preocupe.
-O que está fazendo aqui?
-Por que todo mundo me pergunta isso?
-Desculpe por ter sumido Daniel é que aconteceu uma coisa.
-O que foi?Passou mal de novo?
-Não.
-Um homem a perseguiu – Jared disse dando de ombros – Pelo menos é o que ela acha.
-Que homem ?
-Eu não sei... Mas, ele me deixou com medo.
-Está tudo bem agora ok? Não vou te deixar sozinha de novo. Precisamos informar a policia.
-É inútil Howe, ela não se lembra de como ele é. E eu procurei, não encontrei ninguém suspeito.
-Você tem certeza que te seguiram ?
-Tenho. Quero dizer... Não sei estou muito confusa.
-Isso é uma coisa grave. Por que a deixou sozinha Howe?
-Não é da sua conta.
-Não precisam brigar eu estou bem. Podemos ir em algum brinquedo agora Daniel?
-Ainda tem animo?
-É claro. Não foi pra isso que viemos?
-Tem razão.
-Papai... Papai a Mel disse que podemos comprar algodão doce.
A menininha correu para o colo de Jared. Tinha cabelos claros e bochechas rosadas vestida com um vestidinho azul florido. A semelhança com Sarah era espantosa, parecia até que a menina na foto da casa de Daniel tinha ganhado vida própria.
-É claro que pode amor. Você pode comer o que quiser.
-Tio Daniel – Ela desceu do colo do pai e correu para Daniel.
-Oi princesa. Como você está? – Daniel se abaixou, ela enlaçou os bracinhos magros em seu pescoço.
-Estou bem. Papai nos trouxe ao parque hoje. A Mel foi comprar algodão doce.
-Vê se não exagera nas guloseimas.
-O que está fazendo aqui titio? Você odeia parques.
-Pois é – Ele riu – Eu vim trazer uma amiga.
-Que amiga?
-Essa aqui – Ele segurou a mão de .
-Oi sou Alice – Estendeu a mão para ela – Prazer em conhecê-la.
-Oi lindinha, eu sou .
-Papai – Ela se virou para Jared – Posso ir nos brinquedos com o titio?
-Alice. Combinamos que aquele era o ultimo. Você precisa dormir.
-Mas papai...
-Seu pai tem razão Alice. Está na hora de você ir dormir.
-Você vai no jantar na casa da vovó domingo titio?
-Não sei querida.
-Vamos. Por favor tio o papai vai fazer torta de maçã e eu vou ajudá-lo. Você vai deixar de provar minha torta de maçã?
-Você é uma bela chantagista. Vem aqui – Ele a pegou no colo -Vou fazer o possível ta?
-Ta bom titio – Ela o beijou – Boa noite divirta-se com sua amiga.
-Boa noite querida. Durma direitinho.
-Daniel – Jared chamou – Sua mãe me ligou. Disse que conseguiu o trabalho. Nosso acordo ainda está de pé. Depois do feriado pode ir buscar Alice.
-Ta bem.
-Vamos indo agora. Até breve.
-Até – respondeu.
-Boa noite anjo. Cuide-se.
Jared se afastou e Daniel segurou a mão de levando-a novamente para o centro do parque.
-Anjo? – Daniel revirou os olhos – Isso é ridículo.
-Está com ciúmes Howe?
-Claro que não. Só não concordo com apelidos feios.
-E se fosse me dar um apelido qual daria?
-Eu não dou apelidos.
-Então não reclame.
-Vamos logo procurar um brinquedo ou o parque vai fechar.
-Espere. Antes eu preciso te contar uma coisa...
-Ta bem. Vamos procurar um lugar mais calmo.
Daniel a guiou até o estacionamento. Sentou no capô do carro e deu dois tapinhas ao seu lado para sentar.
-E então princesa o que tem para me contar?
-Pensei que não desse apelido.
-Mudei de idéia.
-Bom,o que eu tenho pra te falar é uma coisa complicada – Ela respirou fundo- Você vai até achar que sou louca.
-Hmm – Ele coçou o queixo – Você não me achou louco quando te contei sobre Sarah então farei o mesmo. Vamos diga o que perturba essa cabecinha.
-Daniel... O que tenho pra falar é muito mais grave que isso. Não dá pra comparar nem de longe.
- você está me assustando, diga logo o que aconteceu. Tem a ver com o tal homem que te perseguiu? – Ela assentiu.
-Sim. E tem outras coisas mais.
-Então me diga o que foi...
-Eu não sei como explicar isso, mas... Eu acho que leio mentes.
-O que? – Daniel riu – Tá brincando?
-Eu disse que você ia me achar louca – Ela levantou do carro, Daniel a puxou de volta.
-Calma! Desculpe. Vai me explica essa história.
-A primeira vez que percebi isso foi naquela noite em que nos conhecemos. Eu li os pensamentos daquele homem quando ele me tocou.
-Certo e as outras vezes?
-A segunda vez foi quando aqueles repórteres me cercaram. E a ultima vez foi com seu amigo Lucas. Eu não sei como acontece, as pessoas me tocam e eu consigo ouvir o que estão pensando.
-Isso é realmente estranho. Vamos ver se consegue fazer novamente, ok? – Ele estendeu a mão para ela – Tente ler meus pensamentos.
-Não vai funcionar.
-E como sabe? Vamos, tente... É só se concentrar.
revirou os olhos e pegou a mão de Daniel. Ele estava zombando dela, tinha certeza. Mas, quem acreditaria naquilo? Nem ela mesmo acreditava, era uma coisa inumana Daniel tinha todo o direito de não acreditar. Segurou a mão dele com firmeza, precisava funcionar, ele era o único com quem poderia dividir aquilo. Ondas de calor invadiram seu corpo, a mão dele era macia e quente. Afastou o pensamento, precisava se concentrar. Daniel a encarava com cara de deboche. Como ela queria dar um soco naquela cara linda.
-E então? Nada ainda?
-Psiu! Se você falar não posso me concentrar.
Era inútil. Jamais conseguiria por vontade própria, estava se ridicularizando na frente dele. Sentiu ódio de si mesma por contar, agora ele tinha todos os motivos do mundo para mandá-la pastar. Quem gostaria de dividir a casa com uma louca? Daniel deu um sorriso e abaixou a cabeça. Aquilo foi a gota d’água pra soltar a mão dele e levantar caminhando de volta para o parque.
-! ! – Daniel gritava atrás dela, mas não podia encará-lo, sentia-se envergonhada demais para isso.
Já estava quase dentro do parque quando Daniel a segurou. Ele a virou de modo que ficasse de frente para ele.
-O que eu disse sobre ficar sozinha?
-Você não acredita em mim.
-Não é uma coisa fácil.
-Eu disse que você iria me achar louca – Ela se soltou novamente.
-Já disse pra esperar – Daniel segurou o braço dela.
Que garota teimosa! O que ela quer? Que eu simplesmente acredite nesse lance de ler mentes? Isso aqui não é X-man, se bem que seria legal. Olha só olhando desse ângulo reforço o que já sabia. Ela tem belos seios.
-Funcionou! – Ela sussurrou para si mesma.
-O que?
-Funcionou! Funcionou – Ela o abraçou – Consegui ouvir o que você estava pensando!
-Ah é? – Ele arqueou a sobrancelha – Então diz ai Jean Grey, o que eu pensei?
-Você acha que eu... Que eu tenho belos seios.
-Nossa! Isso é verdade mesmo? Caramba! Você é uma telepata... isso é incrível!
-Por que fica olhando os meus seios?
-Porque são bonitos.
-Você inda confirma na minha cara.
-Não culpe a mim culpe seus seios. Meus olhos nao me obedecem as vezes.
-Pois não fique olhando – Ela sentia o rosto arder.
-Vamos esquecer os seios e voltar a telepatia... Então você realmente lê mentes. O que mais sabe fazer?
-Sei la. Ler mente não é o suficiente?
-Claro... Claro.
-Pensando bem – Ela alisou o cabelo – Aquele homem conseguiu falar comigo nos meus pensamentos.
-Ah! Talvez você estivesse lendo os pensamentos dele.
-Mas, era espontâneo como se ele quisesse que eu olhasse dentro de sua cabeça e eu nem o toquei.
-O que ele disse?
-Ele me disse que preciso me lembrar de quem eu sou sozinha. Que preciso encontrar o caminho e também me disse meu verdadeiro nome.
-E qual é? Eu acertei algum?
-Não... Ele me chamou de Liriel.
-Liriel? É um nome estranho.
-Obrigada – Ela bufou – Você é muito gentil.
-Desculpe – Ele riu – Eu não resisti.
-Bom isso é tudo que eu tinha pra falar.
-Tenho que te contar uma coisa também.
-O que foi?
-Lembra naquela noite que eu estava lhe fazendo cócegas?
-Sim. Você ficou estranho do nada.
-É... Eu tive uma visão. Foi como se eu tivesse entrado em uma lembrança sua.
-E o que você viu?
-Você estava em um beco e conversava com dois homens... Um deles se chamava Tadeu, ele enfiou uma adaga nas suas costas. Depois tudo sumiu e voltei ao quarto.
-Por que não me contou antes?
-Você ia achar que sou louco.
-Esse homem, Tadeu, como ele era?
-Não lembro bem... Acho que alto, bem alto. Usava um sobretudo, não sei a cor porque a visão estava em preto e branco.
-Acho que é ele. O homem que me perseguiu, acho que é esse tal de Tadeu.
-Ele te disse mais alguma coisa?
-Não. Só disse pra eu prestar atenção nos sinais.
-Então vamos ficar atentos.
-Eu estou com tanto medo Daniel.
Ele respirou fundo e a puxou para si envolvendo-a em seu abraço terno.
-Do que tem medo princesa?
-De mim. De quem eu sou...
-Nós vamos descobrir... Eu vou te ajudar.
-É horrível não saber minha origem... Não ter ninguém.
-Você tem a mim agora.
-Obrigada por tudo.
-Um dia você paga – Ele riu – Que tal irmos nos divertir agora? Ainda tenho ingressos.
-Em qual você quer ir agora?
-Que tal a roda gigante?
-Parece alto.
-E é, mas também é divertido. Vamos?
-Ta bem.
A fila andou depois de vinte minutos e então entraram no brinquedo. Era uma cabine pequena. Ele ajudou a subir e foi entregar o ingresso.
-Pode segurar para mim? – Ele entregou a carteira e o celular.
sentiu-se aliviada por poder contar com Daniel. Ele era tudo que tinha, contar a verdade fez com que se sentisse mais leve. Ela sentia que não poderia mais ficar longe dele sentia sua presença até em sua ausência. Fechou os olhos e lembrou da sensação das mãos dele, o calor e a maciez e a textura perfeita de sua pele. O sorriso que tanto adorava brotando nos lábios cor de púrpura... E os olhos tão negros quanto a noite encarando-a. Seus pensamentos foram interrompidos quando o celular de Daniel vibrou em sua mão. Abriu os olhos depressa e encarou o aparelho. Na tela tinha escrito:
Nova mensagem de texto: Resposta sobre a garota.
Ler / ignorar
Ela apertou o telefone e mordeu os lábios, a curiosidade esmagando-a por dentro. Será que a mensagem era sobre ela? Pensou por um longo minuto. Daniel ficaria bravo com ela se fizesse... O dilema de ler ou ignorar a mensagem era atormentador. A decisão foi precisa, a mensagem era sobre ela tinha certeza e se não fosse inventaria uma desculpa, acidentes acontecem. Apertou o botão ler e o pequeno texto surgiu na tela.
Ainda não encontramos nada sobre a moça. Sinto muito, tem certeza que quer continuar investigando? Cuidado, quem sabe ela pode ser mesmo uma psicopata. De qualquer forma vou continuar investigando e ver o que descubro, mas não garanto nada. Quer um conselho? Fique longe dela. Jhon.

Daniel estava voltando para seu lugar então fechou a mensagem e apertou o celular. Sentia as mãos tremerem por causa da descoberta. O brinquedo deu um estrondo e começou a subir.
-O que foi? Está séria aconteceu alguma coisa?
-Porque está me investigando?
-O que?
-Leia a mensagem que seu amigo mandou – Ele pegou o celular e leu a mensagem.
- isso aqui...
-Porque não me contou Daniel?
-Eu disse que ia descobrir quem você era...
-Você disse que ia me ajudar e não fazer isso pelas minhas costas!
-Eu ia te contar...
-Desde quando? Desde quando está me investigando?
-Faz alguns dias.
-Certamente não pretendia falar nada sobre isso.
-Qual é seu problema? Não sou benfeitor o suficiente para você?
-Está jogando isso na minha cara? Pois saiba que na sua casa eu não fico mais! Agradeço por tudo que me fez, mas não terá mais nenhuma obrigação comigo.
-Eu não estou jogando na sua cara!
-Você mentiu para mim...
-Não menti.
-Omitiu a verdade?
- Eu estava com medo de descobrir algo ruim e acabar te magoando.
-Não acredito em você.
-Tudo bem – Ele deu de ombros – A escolha é sua.
-Eu podia te jogar daqui de cima. Talvez eu seja mesmo uma psicopata que nem seu amigo disse.
-Tenho certeza que não é.
-Acho melhor seguir o conselho de Jhon e ficar longe de mim.
-Isso é impossível.
-Não quero mais olhar para você.
Os dois ficaram em silencio. O brinquedo parou e as luzes se apagaram. Vários gritos ecoaram pelo parque escuro.
-O que aconteceu?
-Deve ter sido uma queda de luz. Não precisa ficar com medo, estou aqui com você.
-Não fale comigo. Não quero ouvir sua voz. Tomara que essa luz chegue logo, eu quero ir embora!

Did the best…That I could
Said I'd die for you and I would
But I've drowned … All those feelings in the flood

Daniel a encarava, os olhos tão negros quanto a escuridão lá fora. Eles estavam banhados pelo brilho da lua que iluminava parcialmente o lugar. Seu olhar era tão sedutor que sentiu-se estremecer, como se apenas com os olhos pudesse tocar no mais profundo de sua alma. Aquela era uma sensação estranha para ele, não podia se permitir sentir daquele jeito novamente, mas estava embriagado pelo rosto angelical e o jeito doce dela, era como uma droga viciante. Seus corpos estavam tão apertados na minúscula cabine do brinquedo que podiam sentir a respiração um do outro. Ele tirou uma mecha de cabelo que caiu no rosto dela colocando atrás da orelha enquanto seus olhos continuavam firmes encarando-a, mas não tirou as mãos dela, deslizou para sua nuca acariciando-a com a ponta dos dedos e sorria quando notava que seu toque fazia com que ela se arrepiasse. O cheiro doce e cítrico do perfume dele a embriagava. Ele queria beijá-la, tomá-la em seus braços, mas precisava ser cuidadoso, não queria assustá-la. respirava com dificuldade seu coração batia tão forte que até doía. Mesmo com o clima bom do momento Daniel notou que ela ainda estava brava, aproximou-se devagar seu perfume delicioso invadindo-a, enlouquecendo-a.
-Ainda quer ir embora Princesa? – Sussurrou.
Seus lábios estavam a centímetros dos dela e ele podia sentir sua respiração descompassada. As pequenas mãos inquietas no colo, era impossível não desejá-la. Ela também o queria, queria tanto que era quase uma necessidade. Então ele a beijou... Movendo os lábios devagar, enquanto sua língua procurava a dela com delicadeza. não sabia o que estava fazendo, nunca havia beijado alguém antes ou se tinha não lembrava. Mas, Daniel tornava tudo fácil, como se ele tentasse ensiná-la exatamente o que fazer. Então o beijou também, deixando que seus lábios se movessem junto com os dele enquanto suas línguas dançavam enroscando-se uma na outra.
Ele embalou sua cintura com suas mãos quentes apertando-a contra ele. Seus lábios eram impacientes beijando-a com paixão. não era tão experiente com beijos, ele sabia disso, mas mesmo sem nenhuma instrução aquele era o melhor beijo que havia provado na vida, nenhum manual seria capaz de ensinar a magia que ela produzia em sua inexperiência. Ele deixou seus lábios e foi para o pescoço beijando-o subindo para o lóbulo da orelha e mordendo-o enquanto sussurrava coisas indecifráveis em seu ouvido. sentiu como se tivesse tocado um fio desencapado, milhares de volts provocando choques elétricos em seu corpo que respirava ofegante. Os lábios de Daniel voltaram para os dela e o beijou com paixão. Deixando que seu desejo a tomasse de forma que já não pensava em mais nada, como se o mundo lá fora não existisse mais. O corpo dele era atlético, forte e muito sensual podia sentir seus músculos peitorais de encontro aos dela provocando sensações inexplicáveis. Suas mãos deslizavam pelo corpo macio de enquanto respirava ofegante. Talvez por instinto, mas com muito desejo deixou que suas mãos puxassem a blusa dela para cima e sentiu um pedaço de sua barriga nua, a pele lembrava muito a de um bebê. não o repreendeu como era de se esperar e isso o surpreendeu. Mas, não quis continuar, não iria se aproveitar dela. Voltou as mãos para o rosto angelical que estava de olhos fechados e ainda com os lábios colados nos dele e a beijou com mais calma e delicadeza. Não era certo o que estava fazendo, não podia deixar seu desejo falar mais alto que sua racionalidade. era inocente demais, ele não podia se aproveitar disso. Cessou o beijo com um selinho e encostou a testa na dela. lançou-se um olhar confuso quando se afastou, mas então também compreendeu que aquilo foi um erro. As luzes voltaram e com um estrondo o brinquedo voltou a funcionar levando-os novamente para o chão.

Everytime I fall asleep my dreams are haunted
And everytime I close my eyes I'm not alone
And everytime I cry I'm right back where you wanted
I try to drown you out so

17 comentários:

  1. LilyX sua estória é linda obrigada por permitir que ela seja postada no blog...bjus!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. MissLany, você ainda tem contato com a LilyX? Queria perguntar a ela se ela parou mesmo com a fic e tals.

      Excluir
  2. Linda a história!!!! Posta mais, estou louca pra saber quem sou eu... hahahahaha

    ResponderExcluir
  3. achei legal, bonita, mas ainda preciso fazer muitas descobertas sobre mim ...BJS
    GINA

    ResponderExcluir
  4. O.O Que mistério!!
    O que aconteceu comigo? eu sou diferente, já percebi isso....

    Ahhh eu t amando essa história, adoro mistérios e suspense!

    Louca pra ler o próximo capitulo!

    Bjux!

    ResponderExcluir
  5. Eu acho essa fic muito fofa...E bem, eu sei o que sou, mas não vou soltar spoirls...bjus!

    ResponderExcluir
  6. q capitulo foi esse d++++++++
    mel deus eu tenho um tumor!
    amei agora so "namorada" do Daniel aiaiaiai

    ResponderExcluir
  7. Ahhh essa história é linda!!! Já me apaixonei por ela lendo a sem ser interativa, agora, que faço parte da história estou amando!

    Quem viu e não se animou muito em ler, eu recomendaria que reconsiderar e se entregar de cabeça, porque acreditem em mim, essa história ainda vai trazer MUITAS surpresas!

    Agora eu sei o que sou, mas não conto nem sob tortura! ¬¬ kkkkkkkk

    ResponderExcluir
  8. FINALMENTE eu consegui ler a fic. Você pode imaginar quantas vezes minha leitura foi interrompida e adiada? Quase duas semanas inteiras! Aff!
    Li esses 3/4 caps e me apaixonei por completo por essa fic. Está maravilhosa e fantástica! Já estou apaixonada pelos personagens e por todo esse mistério que ronda a fic. Quero muito entender tudo isso. O passado dos dois e o futuro deles tb! Amooo
    Kisses da Baby

    ResponderExcluir
  9. It was so fucking perfect!
    A fic está esplêndida e eu estou amando cada pedacinho dela! Dava um belo livro!
    Parabéns!
    Kisses da Baby

    ResponderExcluir
  10. OMGGG que isso sua estoria ta de mais menina!!!!
    se vc não postar mais eu morro!!!
    que daniel e esse????
    *morrendo*
    adoroooo
    continua logo
    bjux

    ResponderExcluir
  11. Estou adorandooo a fic. Ela é simplesmente maravilhosa!!!
    Bjsssss!!!!!

    ResponderExcluir
  12. MUITO PERFEITA ! PRECISO DA CONTINUAÇÃO O.O

    ResponderExcluir
  13. CADE O REEEEEEEEEEESTO ??? COMO ASSIM PRODUCAO ?!
    NECESSITO DA CONTINUACÃO !!!
    florzinha, pq vc parou de escrever heein ??! é tão perfeita, muito emocionante !

    beeeeijinhos e não demora mais !!!

    ResponderExcluir
  14. Uma das fics mais originais que já li! Muito boa mesmo!
    Não a abandone, flor!
    Preciso muito saber o que acontecerá comigo e com o fofo do Daniel, principalmente depois desse beijo!

    ResponderExcluir
  15. OMG cadê a continuação?Como assim produção?Nada?Okay eu aguento /:
    MENTIRA!!! Now cadê a att lindinha?To tão desesperada por mais acho que vou ali me matar porque vai ter fic perfeita assim viu U_U ~Revolts modo On~ hahahaha sou uma leitora meio/Totalmente louca e vou te cobrar muiiiiiito para saber o que vai rolar nessa fic maravilhosa ! So please Angel não deixa a fic parada não /:

    beeeeeeeeeeeeeijão Daaanie

    ResponderExcluir
  16. Olá! Não sei se vocês ainda olham os comentários, porém eu gostaria de saber se Only Hope está sendo postada em outro lugar ou se ela entrou em Hiatus para sempre? Por favor me responde, beijos.

    ResponderExcluir