23 de setembro de 2011

Aurora Boreal by Lilly Angel88

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Aurora Boreal
Disclamer: Como não sou a Stephenie Meyer Crepúsculo não me pertence. A Saga Crepúsculo é da talentosa Stephenie Meyer, assim como algumas citações da fic, que pertencem a própria Saga, mas essa estória aqui sim é minha. A citação logo acima entre aspas é um trecho adaptado do texto de William Shakespeare.
Aviso: Essa fic pretende manter a linha original de Crepúsculo com algumas alterações, como mudanças de tempo e adaptações. Ela começa no final de Lua Nova e se desenvolve em Eclipse havendo naturalmente possíveis modificações na trama original. Se a fic for continuar até Amanhecer, será Seth quem terá o imprinting com a Nessie e não Jacob já que nessa fic ele possui o próprio imprinting.
Aviso²: Como estou escrevendo minha monografia as vezes os capítulos poderão demorar um pouco, mas se vocês gostarem mesmo dela, prometo que continuarei postando aqui sempre que puder.
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Trailer
Quando amar parece não ser o suficiente.
- Por favor, Bella. Estou pedindo.
Sua voz saiu estrangulada por conter as lágrimas. Não podia perdê-la, não para a morte certa.
- Jake, eu tenho que...
A interrompeu antes que ela completasse a sentença, sabia que a estava pressionando, mas ele tinha que tentar convencê-la.
- Não tem, não. Não tem mesmo. Pode ficar aqui comigo. Pode ficar viva. Por Charlie. Por mim.
O que eles tinham era muito forte, ele a amava demais, talvez se ela ficasse eles teriam uma chance, uma vida. O amor dele devia ser o suficiente para os dois e sabia que ele era importante para ela, por um momento ousou ter esperanças, mas o momento passou.
Ela meneou a cabeça com lágrimas caindo dos olhos com a ação. Soltou-se do seu aperto, ele não fez nada para detê-la, não havia nada a ser feito, ela tinha feito a sua escolha.
Quando a morte bate a sua porta...
- Então é isso estou morta – disse olhando seu corpo estendido na maca, sendo cercado pelos médicos e o som agudo da máquina, confirmando sua sentença.
- Esse é apenas um jeito de ver as coisas – disse o estranho com um sorriso enigmático.
Quando você perde as esperanças...
- Você prometeu – seu tom era de desespero. – Ainda somos amigos, não é?
Meneou lentamente a cabeça sua garganta apertada.
- Sabe o quanto tentei manter a promessa, mas... Não vejo como continuar tentando. Não agora... – Tentou manter uma fachada severa, manter a dignidade, mas do que ela valia se estava perdendo para sempre a mulher que amava, não tinha sentido, deixou suas emoções transparecerem no seu semblante, se essa era a ultima vez que se veriam gostaria que ela o visse sem disfarces ou máscaras. – Sinto sua falta! – murmurou.
Sem se conter levantou suas mãos na direção dela como se pudesse alcançá-la, desejando apenas tocá-la, senti-la uma ultima vez, acabar com a distância que agora existia entre eles.
E desiste de tudo!
Pessoalmente ela tampouco lamentava a sua morte, não haviam pessoas com quem estivesse ligada o suficiente para não querer abandoná-las ou se separar delas. Na verdade não havia ninguém em sua vida, por quem valesse à pena lutar para se manter viva. Ninguém que precisasse dela, ninguém de quem ela precisasse em vida.
É que a vida te surpreende e você encontra um motivo pra viver!
Então naquele momento aconteceu algo estranho, a sua dor a muito guardada pareceu se misturar a dele, como dois solos de uma mesma música, elas se uniram e se tornaram um dueto melancólico, mas ainda sim um dueto, nenhum dos dois se sentiu só, um tênue laço tinha se estabelecido, então ouve um momento de paz nos dois lados desse laço e depois a dor amainou.
[...]
Não estavam mais sozinhos.
No meio da névoa e das estrelas encontraram um ao outro.
Andou cautelosamente pela floresta, estava muito escuro, uma noite cerrada e aquela nevoa era tão espessa que teve a impressão de que poderia cortá-la com uma faca. Sabia que o mais seguro em uma nevoa tão densa era ficar onde estava, mas estava inquieta demais para ficar parada. Não estava sozinha, a certeza vinha do seu íntimo.
- Tem alguém aí? – perguntou, se sentindo num filme de terror de quinta, bancando a mocinha burra, mas a necessidade de saber quem estava lá foi mais forte que ela ou a sua prudência.
- Quem está aí? – respondeu a voz de um garoto, alguns metros de onde estava.
Primeiro em sonhos...
Aquilo só podia ser um sonho, afinal a ultima coisa que se lembrava era de ter se deitado na cama, mas quem poderia garantir. Nos últimos tempos nada mais era normal na sua vida e aquele sonho, ou o que fosse, era muito real, alias real demais para o gosto dele.
- Qual seu nome? – já que aquilo era um sonho, resolveu deixar a tensão de lado, ela era só uma garota tão perdida quanto ele naquela floresta.
Não queria dizer seu nome, naquele momento ela só queria ser outra pessoa.
- Me chame de Fênix – decidiu no último momento, deu um sorriso mínimo, parecia apropriado.
- Isso é um nome? – a voz dele saiu mais suave, quase pode ver o sorriso nos lábios dele, isso a deixou feliz de um modo inusitado.
- É o único que vai ter de mim – a ouviu responder, desejando ver o seu rosto.
- Se é assim me chame de Lobo! – a voz dele saiu com um tom humorado como se estivesse rindo de uma piada interna.
Depois na vida real.
Quando seus olhares se cruzaram, todo o mundo parou de existir. Todas as intenções, todos os desejos, todos os sonhos, cada parte deles, se desfez e se recriou em algo novo, em algo que agora abrangia apenas a pessoa a sua frente. Todo o universo orbitava agora em torno dessa pessoa e isso que ambos sentiram era a coisa mais certa de suas vidas. Finalmente tinham se encontrado.
No entanto as coisas não seriam tão simples ou fácies...
- Então agora você vai me dizer que está perdidamente apaixonado por mim? – ela disse com incredulidade.
- É claro que estou! – disse num tom claramente frustrado. Porque aquela cabeça dura não podia entender que não havia mais ninguém, não havia mais nada além dela?
- Me desculpe, por não acredita nas suas palavras senhor Black, mas sinceramente não acredito em amor a primeira vista e muito menos que de um momento para o outro você esqueceu a Bella. – disse com irritação escondendo o quanto aquela verdade doía.
Mas ele realmente não fazia o tipo que desistia.
Ao invés de ficar irritado mais uma vez, deu um sorriso.
- Sim e eu vou te provar!
- Você não vai me segurar em seus braços e me dar um beijo, né?! Isso é tão clichê! – disse revirando os olhos parecendo entediada, mas desejando que ele a beijasse mesmo assim.
- Você sabe mesmo como acabar com um clima, né?! – falou fingindo estar chateado. Ela não existia.
- É por isso que você me ama! – falou sem pensar.
- É por isso e muito mais... – respondeu a segurando em seus braços e a beijando profundamente sendo rapidamente correspondido.
E ela não poderia permitir que seus segredos e passado o colocassem em perigo...
- O que está fazendo aqui? – disse irritada.
- Nada, só olhando sua interação com o seu novo amigo. Ele é interessante! – terminou com um sorriso malicioso.
- Não se atreva a chegar perto dele! – disse num tom baixo, perigoso, que nem mesmo ela reconheceu como seu.
- Nossa parece que a minha ratinha se tornou uma tigresa! – ele riu segurando o queixo dela.
Ela se afastou do toque dele como se sentisse repulsa.
- Você ouviu bem. – avisou.
- E o que você pretende fazer contra mim, pirralha? A única coisa que tem o poder de fazer é ver áureas e pressentir o perigo, não tente brincar com gente grande, você pode se machucar!
Ela inconscientemente segurou o sortilégio em forma de fênix no seu pescoço.
- Isso pode te proteger de homens, vampiros e outras criaturas, mas não pode te proteger de gente como eu!
Mesmo que tivesse que sacrificar a sua vida para manter ele e aqueles que ele amava a salvo.
Sentiu o sangue esfriar nas suas veias, algo estava se aproximando e ela não poderia fazer nada, nem mesmo lutar. Mais uma vez amaldiçoou os poderes de merda que tinha. Sem escolha, tomou a única decisão sensata que podia tomar, tirou o seu sortilégio do pescoço. Bella precisava colocá-lo, era o único jeito de se salvar. Esticou-o em direção da amiga.
- Porque está me dando isso? Você nunca se separa desse colar... – perguntou Bella intrigada com a atitude da amiga.
O tempo estava acabando.
- É empréstimo. Eu só quero ver como ele fica com essa blusa, porque eu vou querer ela emprestada... – disse no tom mais descontraído que pode, já colocando o sortilégio em Bella antes que ela tivesse chance de contestar suas palavras.
Pelo menos ela estaria segura! Se alguém tinha que morrer que fosse ela. Os céus sabiam que tinha vivido além da conta, mais do que deveria de fato. Todos amavam tanto Bella e Jacob ficaria arrasado se ela morresse. Quanto a ela, só era uma estranha que tinha cruzado o caminho de todos eles por acaso. O pensamento doeu, mas sabia que era o certo. Bella era mais necessária para todos do que ela, além do mais, era sua amiga e queria protegê-la.
Olhou para trás, para o fim da rua vazia e escura. O tempo tinha se esgotado. O vampiro de olhos vermelhos se aproximou delas sem que Bella percebesse, com um movimento rápido empurrou a amiga para longe de si. Sendo pega pelo vampiro no momento de uma respiração, seu coração bateu de medo, um segundo antes dele fincar seus dentes nela.
O que ela não sabia é que dentre todas as pessoas era ela quem ele precisava que estivesse mais a salvo...
– A mudança é a única chance dela... – ouviu a voz do Dr. Carlisle como se estivesse muito longe dele.
– Ela perdeu muito sangue, você acha que ela... – a voz de Edward era quase pesarosa.
Se tivesse chegado um minuto mais cedo... Não, ele não ia perdê-la, não depois de tê-la encontrado!
- Jacob! – sua voz foi um sussurro, mas todos puderam escutar.
- Estou aqui! – disse segurando sua mão pequena demais na dele.
- Eu te amo! – disse pela primeira vez olhando em seus olhos, o rosto vincado pela dor. – Eu vou te amar pra sempre, nessa vida e além... – as palavras saíram com dificuldade, seu corpo queimava e queria gritar, mas ele precisava saber.
- Não fale agora... – disse sentindo os espasmos do corpo dela. A mão apertando forte a sua, tentando conter a dor.
- Eu só tenho esse momento... – a voz foi fraca, tão fraca que se não fosse pela sua audição não teria escutado – Eu te amei desde a primeira vez que te vi! – uma lágrima correu pelo rosto dela.
- Não fale essas coisas como se fosse a ultima vez! – pediu desesperado, as lágrimas molhando seu rosto.
- Me desculpe! – sussurrou antes de fechar os olhos. O aperto na mão afrouxou até se reduzir a nada. O coração diminui o ritmo vertiginosamente até não restar nenhum som.
- Não! – gritou.
O que ninguém sabia é que talvez os segredos dela pudessem transpor até mesmo a morte.
Aurora Boreal
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N/A: Estou postando novamente essa fic, ajeitando os erros de português e diminuindo alguns capítulos para deixar a fic menos cansativa. Logo, logo mesmo estarei postando um capítulo inédito que, aliás, já está praticamente pronto.
Também gostaria de agradecer a Clessy, por ter aceitado ser a beta dessa fic. Muito obrigada Clessy, sua ajuda e colaboração está sendo muito apreciada ;).
Prólogo
Eu queria encontrar sua alma,
Sentir a promessa da cumplicidade e afinidade que sentimos um pelo outro
sem saber o momento em que nos conheceríamos.
Eu quero olhar nos teus olhos encontrar sua alma,
Matar a saudade que eu guardei no peito, quando só meu coração e meu espírito sabiam quem você era e quem nós dois somos juntos.
Eu queria conhecer sua essência,
Na certeza de que nossos corpos se completam e nossos corações se unem dispensando qualquer palavra.
Um dia vou mergulhar nos teus olhos e juntos, fecharemos a laguna vazia que estava dentro de nós à espera deste encontro:
"O encontro de nossas almas"
Renata Martinelli¹
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Eu não acreditava em amor, alma gêmea ou toda essa baboseira romântica que tentavam empurrar em nossa goela abaixo. Era tolo e ingênuo em minha opinião, mas provavelmente eu estava apenas sendo muito cínica sobre a coisa toda. O fato era que eu sempre tinha sido uma descrente nesse amor romântico que os menestréis cantavam em tempos antigos e que hoje apareciam em uma quantidade irritantemente grande em filmes e seriados de TV. Tampouco acreditava em qualquer coisa que desafiasse as leis da física ou da lógica humana, apesar de gostar de toda coisa sobrenatural que apareciam em todas as partes, nunca acreditei nelas no mundo real, eu era uma cética. Mas então eu morri e todas as minhas convicções caíram por terra, mesmo as sobre o amor... Principalmente aquelas sobre o amor.
Joie Chevalier
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Depois que eu descobri que era um lobisomem e sobre o imprinting, uma parte de mim esperou e desejou que Bella fosse a escolhida. Do meu lado lobo, da magia que causava o imprinting, essa seria a confirmação de nossa conexão e de tudo o que eu sabia sobre nós. Eu tinha acreditado em meu amor por Bella de uma forma tão definitiva que nunca cogitei a hipótese de que o destino poderia ter algo a mais guardado para mim, tinha aceitado a ideia de que não teria um imprinting como os outros. Mas também sabia que independente disso eu não amaria ninguém além de Bella Swan. O que eu sentia por ela ainda era profundo e forte o suficiente, e nenhum imprinting mudaria isso. Mas eu subestimei o poder do imprimting, superestimei meu amor por Bella e fui varrido fora dos meus pés pela força da natureza que era a nova e misteriosa amiga de Bella. Mais uma vez eu teria que lutar pelo amor de uma garota, mas dessa vez eu não iria perdê-la... Com imprinting ou não ela valia demais para deixá-la me escapar por entre os dedos.
Jacob Black
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¹ O poema é de Renata Martinelli, porque eu não sou tão talentosa para escrever uma coisa tão linda assim.

Capítulo 1 - Laço
Sinceramente acho que há muito alarde sobre toda essa questão de morte e sendo alguém que já morreu de modo literal, posso dizer que não tem nada tão apoteótico como Hollywood adora mostrar, nada de mil coisas passando na mente ou de toda a sua vida passando diante dos seus olhos, que apesar de ter todo um charme e glamour, não condiz em nada com a realidade. Há muita dor pra você pensar em qualquer outra coisa, se bem que o meu caso foi particularmente doloroso, azarada como eu sou não podia esperar nada de diferente. Enfim, é isso, a morte não é nada demais. Morrer na verdade é muito fácil, o desafio está realmente em viver, para isso é necessário coragem. Mas eu não estava mais sozinha, havia alguém que precisava de mim, foi ele que me deu toda a coragem para tentar.
Joie Chevalier.
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Olhou desorientada a sua volta, algo a havia despertado, um barulho ensurdecedor que faria até um morto se levantar da sua tumba. Apesar de ser uma noite sem lua ela viu, porque era impossível não ver, o fogo brilhante como uma pira olímpica naquela escuridão profunda. E assim que compreendeu que era um carro que pegava fogo, aos poucos foi tomando consciência do seu corpo. Uma infeliz consciência, porque tudo o que sentia era dor por toda parte, por todo o corpo, era como se todos os seus ossos estivessem esmigalhados como pequenos cacos de vidro.
Talvez lembrasse vagamente da sensação estranha que era ter o corpo jogado numa posição tão insólita, tão antinatural e que isso por si só já dizia muito sobre a extensão das suas fraturas. Era muito pouco provável que se lembrasse daquele escarpado no meio do nada, do farfalhar das árvores, da chuva fina que caia em cima dela ou do quanto aquele lugar era bonito. Um belo lugar para se morrer! Mas naquele momento só havia dor, uma dor excruciante, principalmente em sua cabeça, tinha certeza que ela iria explodir a qualquer momento, a dor era tão forte que fechou os olhos instintivamente na intenção inútil de contê-la, queria gritar, rugir sua agonia a todo pulmões, mas só o simples ato de soltar leves gemidos lhe causava uma dose a mais de dor.
E ainda assim, no meio daquela névoa de dor ela soube o momento em que deixou de estar sozinha no meio do nada. Abriu os olhos em um ato reflexivo e viu o homem agachado tão perto de si que quase era capaz de sentir o calor do corpo dele, ele esticou sua mão para tocar seu rosto e ao invés da dor que ela esperava sentir, o toque dele foi um bálsamo inesperado, a dor tinha como por encanto desaparecido, como se ela jamais a tivesse sentido. E sem a dor sua mente começou a clarear e compreendeu que mesmo com toda a dor do mundo seria impossível não notá-lo. O homem que agora tocava seu rosto possuía uma atmosfera tão intensa de poder e força que era quase esmagadora. Quem seria ele? O que ele estava fazendo ali, com ela no meio do nada?
Concentrou sua atenção no homem e não mais na sua imponente presença, parecia ter por volta dos trinta anos, tinha os olhos quase negros e cabelos escuros que iam até o ombro e pareciam úmidos pela chuva, sua pela tinha um tom dourado, como a de um surfista e seu rosto era em poucas palavras, magnífico. Nunca tinha visto ninguém tão bonito, e olhando diretamente para os seus olhos podia afirmar que também nunca tinha estado perto de alguém tão letal, não sabia de onde vinha essa certeza, mas sabia que aquele homem era muito perigoso e podia matá-la a qualquer momento, se assim quisesse e tendo em conta seu estado, sabia que não ia conseguir oferecer qualquer resistência. Mas curiosamente não sentia medo, apesar dos olhos afiados e da postura séria, sentia... Não, sabia que ele não a machucaria. De onde vinha essa certeza, nem ela mesma sabia. Talvez fosse pela familiaridade do seu rosto... Sim, ela já o tinha visto em algum lugar, só não se lembrava onde.
Ele se debruçou um pouco sobre ela, como se verificasse suas condições, talvez fosse um médico, concluiu. No entanto deixou de contemplar qualquer possibilidade quando um barulho agudo e continuo, rasgou a noite, virou o rosto de lado e viu as luzes piscarem ao longe na estrada. Luzes coloridas, provavelmente de uma ambulância. Ia ser resgatada, suspirou aliviada. Observou como os paramédicos e policias começavam a descer o escarpado, provavelmente em direção ao carro queimando há alguns metros de distancia, eles ainda não a tinham visto, mas logo a achariam.
O homem também viu a movimentação, com isso tirando a mão do seu rosto e, logo que ela foi consciente disso, ele tinha desaparecido. Um segundo depois a dor voltou, como um trator sobre ela, mas forte e intensa que antes. Então ela parou de lutar contra ela e deixou-se afogar na escuridão.
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Estava flutuando, ou pelo menos, era assim que sentia, pois seus pés mal tocavam o chão, sentia seu corpo brilhar, um vento suave dançar ao redor de si e o melhor de tudo, não sentia mais dor, nenhuma dor, só paz. Encontrava-se em um túnel cheio de portas tão brancas como tudo ao redor parecia, mas curiosamente no fim do túnel havia uma porta aberta que tinha algo em seu interior que parecia brilhar mais forte que tudo, possuindo dentro dela uma luz branca leitosa.
Andou em direção ao fim do túnel totalmente atraída, algo curioso acontecia a cada passo que dava a seu objetivo, tinha a sensação de que estava perdendo coisas importantes ao longo do caminho, mas não se lembrava do que. Aliás, não conseguia se lembrar de muita coisa... Mas não importava. Nada importava! Só chegar à luz, sabia que quando chegasse tudo ficaria bem, tudo acabaria.
- Então é isso, vai desistir?
Estacou no lugar e deu um giro de quase 180º graus para seguir o som rico e profundo da voz desconhecida, só para encontrar com um rosto que parecia um tanto familiar. Mas de onde?
Deu um passo a frente curiosa então lembrou.
Era ele!
O homem que estava ao seu lado naquele escarpado e que, de algum modo estranho e surpreendente que nem sequer conseguia começar a compreender, aliviou todas as suas dores com um só toque.
Ele tinha um olhar intenso, que parecia atravessar a sua alma, enquanto esperava pela resposta.
- Do que você está falando? – disse devagar sem entender a intenção nas palavras dele.
- Da sua vida! – respondeu num tom duro.
- Da minha...
Ele se aproximou e foi então que se deu conta de quão alto ele era e do quão intimidante ele conseguia ser em toda a sua altura, quis dar um passo para trás e se afastar dele, mas antes que fosse capaz de cumprir tal tarefa ele segurou seu pulso e a prendeu no lugar.
- Não precisa ficar com medo. Eu nunca te machucaria! – havia quase uma suplica em seu olhar e foi isso que a convenceu.
- Quem é você? – sussurrou em parte curiosa em parte amedrontada com a resposta, de alguma forma sabia que era alguém importante para ela.
- Talvez o mais importante seja saber quem você é... – respondeu calmamente ainda a segurando no lugar.
- Quem eu sou? Eu sei quem sou! – respondeu automaticamente achando a pergunta ridícula por si mesma.
- Sabe mesmo? – ele arqueou a sobrancelha em descrença.
- Claro!
- Então me diga, qual é o seu nome?
- Meu nome?
- Sim. Acho que é uma pergunta simples o suficiente ou não?
- Sim... – havia um tom de insegurança em sua voz que ela odiou.
- Então... – ele sorriu de um jeito malicioso, como se as coisas estivessem seguindo o rumo que desejava.
Ela tomou aquilo como um desafio pessoal.
- Meu nome é... é...
- Não se lembra, não é? – o sorriso dele aumentou.
- É claro que me lembro!
É claro que se lembrava afinal era seu nome, nunca poderia esquecê-lo. Não, é? Não, é?
Forçou sua mente, seu nome estava lá em algum lugar escondido. Ele estava perto, sim... Muito perto, tão perto que quase podia sentir a palavra sair de seus lábios, mas ela não saiu. Não pode se lembrar. Balançou a cabeça, tentado clarear suas ideias. Mas não conseguia! Não conseguia! Não conseguia se lembrar de nada! Mas talvez...
- Você sabe, não sabe? O meu nome, quem eu sou... Não sabe? – disse num sussurro desesperado.
- Sei – disse calmamente.
Tinha chegado exatamente onde queria, agora ela o seguiria, até lhe dar a resposta. Ela podia não lembrar seu nome ou como chegara ali, mas isso não mudava quem ela era e ele a conhecia muito bem. Iria aonde fosse para conseguir o que queria.
- Então me diga! – pediu não aguentando mais esperar.
- Venha comigo! – deu um leve apertão no pulso que ainda estava em sua mão e a puxou levemente, tentando afastá-los da porta aberta no fim do túnel.
Ela o seguiu sem pestanejar, não importava o que ele fosse, ou quem fosse, só que ele desse a resposta que ela precisava ouvir.
Um, dois, três passos.
- Qual é seu nome? ... – pediu ele como se soubesse que agora obteria uma resposta.
- Eu não... – começou a dizer que não se lembrava, mas então agora isso não parecia o certo – Jo... Joie – disse como se a palavra fosse arrancada de sua mente.
Não, isso não era o certo. Aquele era seu apelido, agora se lembrava. Seu nome na verdade era...
- – o nome fluiu dos seus lábios inesperadamente.
Lembrava-se de que se incomodava um pouco com o nome, não parecia dizer quem era diferente do seu apelido que era leve e engraçado, mas o que detestava era seu primeiro nome... Eleanor. Era um nome bonito, decidiu, mas algo sobre ele a incomodava profundamente, a fazia se sentir mal.
Deu inconscientemente outro passo em direção ao homem, enquanto tentava se concentrar nos motivos de sua repulsa, sim era esse o sentimento, sentia repulsa por aquele nome. Ouviu o desprezo na voz enquanto aquele nome, Eleanor, era pronunciado e reconheceu a voz e com aquele reconhecimento, vieram mais lembranças, muitas delas, que a atingiam como laminas a fazendo sangrar por dentro.
Estava tão concentrada no seu inferno particular, que eram as suas lembranças, que não se deu conta de que continuava a andar junto com o homem para longe da porta no fim do corredor. As lembranças a assaltavam por toda parte e doía tanto, mas nada doeu tanto quanto se lembrar de Danielle...
- Não! – parou. Tentando impedir a memória de chegar até ela.
Não queria se lembrar, não queria reviver sua lembrança mais dolorosa e enfim se deu conta do que estava acontecendo. Ela estava recordando seu passado, estava se lembrando de quem era, estava recuperando suas memórias. Era isso que tinha perdido ao longo do caminho, que havia percorrido antes sozinha.
Sentiu ser puxada levemente pelo homem que ainda segurava seu pulso.
- Não... – repetiu olhando para ele – Eu não quero, não posso... – sua voz saiu num sussurro angustiado, enquanto olhava para baixo fitando qualquer lugar em branco que seus olhos pudessem alcançar, desejando que sua mente ficasse tão em branco quanto aquele lugar.
- Você pode. – disse firme, entendendo o que ela queria dizer. Mas não ia permitir que ela retrocedesse agora que estavam tão perto de conseguir o que ele queria. Seus olhos a fitaram tão insistentemente que não teve outra opção a não ser olhar para ele, seu rosto pétreo tinha um olhar que a desafiava – Você vai. Tenho algo importante para te mostrar! – a voz adquiriu um timbre suave, irresistível, instigante.
No estado que se encontrava, tão frágil pelas lembranças que a assaltaram tão inesperadamente, foi impossível resistir, mesmo que em alguma parte de si soubesse que ele tinha tomado o controle de sua vontade em algum nível. As memórias não a abandonaram, mas Joie não conseguiu mais ter força suficiente para parar ou tentar impedir o inevitável.
Joie não resistiu mais às lembranças, boas ou ruins, ela deixou que a invadissem, as aceitou e de algum modo elas se tornaram mais suportáveis ao longo do caminho. Se tinha sido porque ela não resistia mais a elas ou se pela presença daquele homem ao seu lado, que tinha se aproximado mais dela e apertado reconfortantemente seu pulso, quando retomaram o caminho, Joie não sabia. A única coisa da qual teve consciência, foi de que em algum ponto do caminho, as memórias deixaram de doer e invadir, para se tornarem parte dela mesma como sempre foram e não mais a incomodaram. Então Joie fez o que sabia fazer de melhor, trancou todas as suas recordações ruins e não deixou que elas a influenciassem ou machucassem.
Eles caminharam até chegar a uma porta de madeira cor de mogno, que ela só havia notado agora. Ele abriu a porta se colocando atrás dela com as mãos em seus ombros, quase protetoramente e então entraram na sala.
Joie não sabia o que estava por vir, mas certamente não esperava entrar em um hospital, quando deu um olhar de relance para a porta que eles tinham acabado de atravessar só encontrou uma parede branca. Deixou-se guiar com certa curiosidade e um pouco de medo. Andaram por alguns corredores, até começarem a encontrar pessoas no caminho, mas as mesmas seguiam seu caminho ignorando a presença dos dois estranhos, como se eles fosse invisíveis e talvez realmente fosse esse o caso, concluiu Joie.
Quando eles finalmente atravessaram o que pareceu ser a última porta, Joie teve um dos maiores choques da sua vida. Talvez devesse ter cogitado essa possibilidade depois dos últimos acontecimentos, mas não tinha tido tempo de se debruçar muito sobre os motivos que a fizeram estar em um corredor vazio, de como tinha se esquecido de toda a sua vida ou de como agora estava no meio de tantas pessoas sem ser vista. Mas o motivo estava ali, deitado em uma cama de hospital, assistida por diversos médicos e presa a vários tubos, estava ela, ou melhor, seu corpo.
Os médicos estavam frenéticos em sua volta, o som agudo e constante vindo das máquinas ligadas ao seu corpo e que Joie conhecia tão bem, dos vários seriados e filmes que já tinha visto, indicava que seu coração tinha parado de bater e explicava a conduta dos médicos que tentavam ressuscitar seu corpo sem vida.
- Então é isso, estou morta! – disse olhando seu corpo estendido na maca, sendo cercado pelos médicos e o som agudo da máquina, confirmando sua sentença.
- Esse é apenas um jeito de ver as coisas! – disse o estranho com um sorriso enigmático.
O olhou por um segundo intrigada com a sua afirmação, para logo depois jogar sua atenção novamente ao seu corpo.
Era isso, estava morta. Simples assim, normal como qualquer outra fato da vida. Não se sentia desesperada por saber da notícia, como talvez fosse normal para a maioria das pessoas, simplesmente aceitava como algo natural, algo esperado.
Depois do choque inicial, passou a olhar desapaixonadamente os esforços dos médicos em trazê-la de volta. Joie se sentia desconectada de tudo, na verdade por anos tinha se sentido assim, não havia motivo para lamentar sua morte, muito menos quando já não sentia dor alguma, o único fato que sempre a assustara na ideia de morte.
Sabia que não haveria muitas pessoas que sentiriam sua falta, as poucas que sentiriam também superariam logo essa perda e ainda haviam aquelas que ficariam aliviadas e até felizes com a sua morte. Pessoalmente Joie tampouco lamentava a sua morte, não havia pessoas com quem se sentisse ligada o suficiente para não querer abandoná-las ou se separar delas. Na verdade não havia ninguém em sua vida por quem valesse à pena lutar para se manter viva. Ninguém que precisasse dela, ninguém de quem ela precisasse em vida.
- Você está errada! – quase se assustou com a voz do homem logo atrás dela, estava tão perdida nos seus pensamentos e na visão do seu corpo destroçado em cima daquela maca, que tinha esquecido que não estava só.
Antes que pudesse perguntar sobre o que estava errada, ele respondeu.
- Existem pessoas que precisam de você... – o olhou com clara descrença – melhor dizendo que irão precisar muito de você – isso captou sua atenção como ele esperava – Uma em especial. Ele não sabe o quanto precisa de você, mas precisa e você também precisa dele com igual intensidade.
Ficou surpresa com a resposta dele, não podia negar afinal ele de algum modo tinha lido a sua mente e dito algo que ela não esperava que mesmo não admitindo, queria muito ouvir. Desviou seu olhar do dele, na tentativa de ocultar seus pensamentos e observou seu corpo em silêncio. Não, ele muito provavelmente estava mentindo, desde que ele tinha aparecido, parecia querer salvá-la, por motivos que ainda lhe eram desconhecidos, mas duvidava muito que não houvesse várias outras intenções por baixo dessa atitude tão altruísta da parte dele.
- Estou dizendo a verdade! – disse irritado – Existe alguém no mundo real, no mundo que você quer abandonar que precisa de você desesperadamente.
- Me prove se é verdade então! – respondeu ainda olhando o seu corpo em uma clara amostra de que não acreditava que ele poderia fazer algo a respeito. Mas aparentemente estava errada.
Ele se aproximou de Joie sem ela se dar conta e tocou sua fronte com uma das mãos e foi então que sentiu. Uma dor tão forte e inesperada que roubou seu fôlego e quase a pôs de joelhos. Era uma dor que não a pertencia, o sentimento era conhecido, corrosivo, esmagador. Rejeição. Ele, sim era ele, um garoto, um rapaz ou um homem, não soube determinar com certeza. Estava tão perdido, tão desolado. Ele a amava muito, mais do que ele tinha gostado de qualquer garota, mas ela não o amava o suficiente, nunca o suficiente para ficar com ele e não com o outro. Ela tinha escolhido o outro ao invés dele, mesmo tendo praticamente implorado para ela ficar, ela tinha partido, atrás do outro que só a tinha feito sofrer.
E machucava, machucava tanto, mais do que qualquer coisa que já tinha sentido, mais do que tê-la afastado quando achou ser necessário, porque na época sabia que a estava protegendo, mas agora era muito pior, ela estava correndo em direção à morte, ela queria morrer para ficar com o outro para sempre e ele não podia fazer nada, não podia impedi-la ou prendê-la. Era escolha dela, não podia interferir. Estava sozinho agora, sabia que viva ou morta ela não seria sua, ela tinha feito sua escolha.
E Joie sem perceber chorou por ele, pelo seu sofrimento, como ela há anos não se permitia chorar. A miséria e solidão dele eram velhas conhecidas dela, mas saber que isso vinha dele tornava esse pesar estranhamente maior, incrivelmente lancinante. Ela já tinha se acostumado tanto àqueles sentimentos que achou que estivesse anestesiada deles, mas as emoções vindas do garoto pareciam reverberar no seu corpo e produzir um som alto. O sofrimento dele ecoou no seu coração. Queria dizer, queria gritar que ele não estava sozinho.
Então naquele momento aconteceu algo estranho, a sua dor a muito guardada pareceu se misturar a dele, como dois solos de uma mesma música, elas se uniram e se tornaram um dueto melancólico, mas ainda sim um dueto, nenhum dos dois se sentiu só, um tênue laço tinha se estabelecido, então ouve um momento de paz nos dois lados desse laço e depois o sofrimento de ambos amainou.
O homem removeu a mão da fronte de Joie e rompeu o contato bruscamente. Ela olhou assustada, desejando se sentir unida novamente àquele garoto fosse quem fosse, mas ficou mais calma quando ainda pôde sentir o laço que agora os unia, ele estava lá do outro lado e aquilo a confortou. Sabia que também o confortava. Não estavam mais sozinhos.
- E então o que você escolhe? Lutar ou desistir? – o homem perguntou de uma forma quase arrogante como se soubesse a resposta.
Fechou os olhos sentindo o laço, o tocando mentalmente, era bom se sentir ligada, não se sentir mais só, ele precisava tanto dela e Joie era humilde o suficiente para saber que ela precisava dele na mesma medida, nunca ninguém a tinha necessitado e há muito tempo ninguém se importava com os seus desejos ou sonhos, e sabia mesmo sem conhecê-lo ou ver o seu rosto, que ele se importaria, que ele a entenderia como poucos.
No entanto... Olhou em direção à porta que haviam atravessado, do outro lado havia alguém que amava e que queria desesperadamente encontrar e agora finalmente... Mas então esse garoto, essa pessoa da qual nem sabia o nome precisava dela, precisava tanto, sentiu como um presságio que ele estaria perdido sem ela.
Por um momento tinha cogitado que tudo tinha sido uma mentira, um engodo desse homem que parecia empenhado em mantê-la viva, mas não havia mentira nos sentimentos do garoto, era tudo genuinamente verdadeiro e ela não podia ignorar ele. Se escolhesse lutar será que Danielle ficaria muito magoada por ela escolher um estranho a ficar com ela?
- Ela não vai! – o homem disse com voz calma – Ela vai se sentir orgulhosa de você, como sempre se sentiu.
Mordeu os lábios, incerta de confiar nas palavras dele.
- Se não pode acreditar nas minhas palavras acredite no que digo agora, ela vai sempre te esperar, não importa quando você venha.
Isso sabia que era verdade, Danielle a amava, esperaria o quanto fosse para se reencontrarem assim como ela própria faria.
- Você sabe que ela nunca colocaria a felicidade dela acima da de outra pessoa. Se tiver alguém que precisa de você, Danielle abriria mão da sua companhia para que você pudesse ajudar essa pessoa! – ele deu o golpe final convencido de que ela aceitaria suas palavras como a verdade que eram.
Joie não pôde contestar suas palavras, Danielle era exatamente esse tipo de pessoa por isso a amava tanto.
- Eu vou lutar! – disse resoluta.
Ele soube esconder muito bem sua satisfação, deu um passo atrás saindo de seu caminho e estendeu um braço amplamente como se dissesse que ela podia passar.
- Você sabe o que fazer.
E curiosamente ela sabia. Com um conhecimento e uma certeza que ela não sabia possuir até aquele momento, ela andou até a maca de hospital passando através de alguns médicos. Eles pareciam ter desistido de ressuscitá-la, mas não se importou, o que tinha que ser seria, ela estava fazendo a sua parte, caberia ao destino fazer a dele. Tocou seu corpo inerte na maca. 'Alea jacta est'¹ pensou um segundo antes de ser envolvida por uma luz cegante.
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¹'Alea jacta est' (grafia em latim: Alea iacta est) significa, em português, "Os dados estão lançados", mas traduzido comumente como "A sorte está lançada”. [1] Na linguagem popular, é uma expressão utilizada quando os fatores determinantes de um resultado já foram realizados, restando apenas revelá-los ou descobri-los.
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Capítulo 2 - Vínculo (Parte I)
Quem disse que amar é uma coisa boa, era um romântico completamente idiota, que não saberia o que é amor nem se ele desse um soco no seu estômago. Porque é isso que ele gosta de fazer, te dar um murro bem dado no meio do estômago, na verdade um pouco mais em cima à esquerda, mas dói de qualquer jeito. Amor era uma doença que te matava em pequenas doses. Sinceramente era melhor um tiro na cabeça, apesar de não ser tão limpo, era ao menos mais rápido. Mas o amor não é algo que você tem o poder de escolher, porque se desse eu NUNCA teria me apaixonado. No melhor e no pior, não haviam muitas escolhas nas questões do coração e eu tinha parado de lutar contra a maré, era um esforço inútil. Como se não fosse ruim o suficiente gostar de alguém que nem enxerga este sentimento, e ver que o seu coração, aquele órgão inútil, começa a gostar de outro. Cheguei à conclusão que coração é que nem circo, cabe sempre mais um palhaço. Já que eu sou uma coisa peluda, nada mal ser feito de bobo da corte por mais uma pessoa.
Jacob Black
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Amar dói. Para Jacob aquela frase nunca tinha feito tanto sentido. Se sentia péssimo. Péssimo? Esta era uma palavra realmente muita fraca para definir seu estado. Ele definitivamente estava destroçado, não seus ossos, já que estes se regeneram, com uma rapidez surpreendente, o que tinha sido esmiuçado fora a sua alma, e mesmo que esta não pertencesse a um humano, não existia cura e nem lua cheia que desse jeito...
Nada se compara a sensação da primeira vez que se transformara em um lobo. Seu corpo inteiro doía e a febre não passava, Jacob tinha queimado até explodir. E naquela época tinha achado, como disse a Bella, que aquela era a coisa mais apavorante pelo qual já tinha passado, a pior dor que uma pessoa poderia sentir. Nunca esteve tão enganado. Agora sim, sabia os verdadeiros significados das palavras pavor e dor. Sentia tanto medo e seu coração doía tanto que tinha que olhar algumas vezes para o seu peito, para ter certeza de que não estava sangrando.
Como algo tão simples tinha se transformado naquilo? Quer dizer, era o velho roteiro, garoto encontra garota, garoto se apaixona por garota, mas garota já está apaixonada pelo namorado. Era a típica receita de um drama adolescente e Jacob já teria dor de cabeça o suficiente em lidar com esse roteiro, mas pelo menos saberia onde estava pisando e não se sentiria rasgado pela aparente inevitabilidade de seus destinos. Porque o seu simples drama adolescente tinha caído em uma enorme armadilha sobrenatural onde nada era simples e fácil e as pessoas poderiam morrer de verdade. Onde a garota poderia realmente morrer se não ficasse com o cara certo.
Ainda se lembrava com clareza a primeira vez que tinha visto Bella. Bom, pelo menos a primeira vez que a tinha visto como uma garota. Bells era linda e diferente de qualquer garota que tinha conhecido. Foram as primeiras coisas que tinha notado nela. Lembrava muito bem como tinha tentando impressioná-la contado as lendas da tribo, histórias essas das quais ele escarneceu na época, mas que com o tempo se mostraram terrivelmente reais. Segundo Bells tinha sido naquele dia, através dele, que ela tinha descoberto sobre os vampiros. Era tão estranho lembrar desses dias, tinha sido há pouco menos de um ano atrás e parecia que uma vida inteira tinha se passado.
E depois daquele encontro na praia, há uma vida atrás, ele foi a conhecendo mais, e se encantando mais, era só uma paixão platônica, a sua primeira paixão platônica e obviamente tinha que ser por uma garota mais velha. Ele sabia que não tinha chances, ela era mais velha, era linda e tinha um namorado, ele aceitou a realidade.
Mas então tudo mudou. O namoradinho sanguessuga a tinha abandonado. Com o tempo e a proximidade Bells tinha deixado de ser uma garota muito bonita a quem queria impressionar e passou a ser sua melhor amiga. Ela tinha sofrido tanto, ele via isso nos olhos dela, apesar do esforço que ela fazia pra ser “normal”, aliás, era o esforço dela que o tinha feito perceber a profundidade da sua dor. E ele só queria vê-la bem e protegida, faria tudo para que isso acontecesse e de fato fez.
Aqueles últimos meses tinham sido os melhores de sua vida. Foi inevitável se apaixonar mais por ela, se isso ainda era possível. Sabia que ela não gostava de música, que o nome do sanguessuga era palavra proibida, que ela era muito lenta fazendo trilhas, que era um desastre quando o assunto era coordenação, que era responsável ao ponto de criar os dias de estudos e louca o suficiente para pular de um penhasco sozinha. Bells era única de muitas formas diferentes.
Tantas coisas tinham acontecido naqueles últimos meses, seu mundo inteiro tinha perdido o eixo, tudo que ele tinha dado por certo e errado, verdade ou lenda, tinha mudado radical e assustadoramente, mas Bells tinha sido uma constante, em seus pensamentos, em seus dias. Mesmo quando foi obrigado a se afastar para protegê-la e ao bando, mesmo quando ele teve que “terminar” com ela. Bells continuou sendo uma constante, ela não abandonou seus pensamentos nem por um instante, os garotos ficavam loucos com isso, mas era impossível não pensar nela, ela tinha entrado em sua vida, em seu coração de uma forma irrevogável.
Foi um tormento se afastar dela, esconder segredos, o pior eram todas as ligações não atendidas, a forma claramente desesperada que ela procurava sua companhia ou uma informação dele, o único conforto em tudo isso, era saber que longe dele ela estaria segura, os pensamentos angustiantes e culpados de Sam, se encarregaram muito bem de mantê-lo afastado de Bella para a segurança dela. Só a ideia de ferir Bella do jeito que Emily tinha sido ferida, deixavam todos os pelos do seu corpo em pé. Tinha tido vários pesadelos em que ele simplesmente perdia o controle e fazia muito pior do que só feri-la. Isso tudo só fez aumentar sua determinação de se manter afastado dela.
Mas então ela foi procurá-lo e arruinou tudo. No começo tinha conseguido se manter firme, tinha sido grosseiro e até rude. Usou contra ela sua própria raiva por ela ter se mantido leal aos sanguessugas mesmo quando eles a tinham abandonado, guardando seu segredo dele, dentre todas as pessoas. Tinha se sentido, um idiota quando tinha descoberto pelos outros sobre isso, além de muito magoado, mas no fim tinha aceitado, ainda que seu corpo tremesse de raiva toda vez que pensava nisso.
No entanto nada disso teve resultado, depois da conversa que deveria ser a definitiva entre os dois.
Jacob tinha realmente ficado furioso por Bella fingir não entender suas palavras quando chamou os Cullen de sanguessugas. Toda aquela conversa o deixou no limite do seu controle, eram tantas coisas acontecendo, suas emoções estavam tão agitadas, achou que podia ficar perto de Bella sem perigo, mas suas mãos tremiam e então não tinha mais tanta certeza. No entanto ignorou os alertas de seu corpo e continuou a se torturar, porque tinha que acabar com aquilo, porque queria ficar um pouco mais de tempo perto dela, independente da raiva que sentia no momento, independente dos segredos que os separavam. Não importava se o clima entre eles fosse o pior de todos, só queria passar mais um minuto ao lado dela, isso sendo bom ou ruim, porque seria o último, ao menos foi isso o que Jacob se prometeu, o que prometeu a todos os seus irmãos.
Seu coração apertou quando ela perguntou se eles iam terminar. Jacob sabia tão bem quanto ela que não tinham nada, ao menos nada convencional como um namoro, ambos sabiam que era muito mais, era mais forte que isso. Mas o rumo que sua vida tinha tomado o impedia até mesmo de ser seu amigo, muito menos algo a mais. E a forma como ela quase implorou lhe dando a possibilidade de ter tudo o que ele mais queria, de ter uma chance, um futuro... Sua mão tremeu, mas não foi de raiva, se ela tivesse dito aquilo mais cedo, se ele não tivesse se transformado num monstro que podia machucá-la, matá-la sem querer... Mas a vida era como era e Jacob não ia se enganar sobre isso ou se arriscar. Ele já não era bom, não bom o suficiente, não o correto pra ela, ele era perigoso... Despediu-se dela sem olhar pra trás porque sabia que se olhasse, todas as suas boas intenções iriam para o espaço.
No entanto, diferente do que tinha pensando, quando entrou na casa e não teve coragem de sequer olhar para janela, Bella não foi embora. Ele escutou sua respiração constante, o batimento do seu coração no mesmo lugar. Jacob nunca detestou tanto seus novos sentidos aguçados quanto naquele momento, em que podia ouvi-la lá parada em frente a sua casa, esperando... Aquilo era quase tão ruim quanto vê-la. Ela ficou parada ali por quase meia hora ou mais, os garotos alternavam olhares de pena na direção de Jacob, a única coisa que ele conseguia fazer era fingir que não eram para ele e ouvir o som da respiração dela, do seu coração enquanto a chuva aumentava.
Quando já tinha desistido e resolvido jogar tudo para o ar, Billy foi mais rápido e foi em direção à porta, Jacob ouviu nitidamente o som do passo que ela deu em direção a casa e a batida do seu coração se alterar para um ritmo mais rápido, ansioso, esperando... Até que ela compreendeu que Jacob não sairia e seu coração voltou a bater normalmente, quase podia ver a decepção e a dor nos olhos dela. Não quis ouvir o que Billy ia dizer a ela ou o som da voz dela, foi se esconder no seu quarto, enquanto o som do motor da velha picape disse que ela tinha desistido.
O dia inteiro Jacob foi consumido pelo som da respiração dela, pela batida do seu coração, pela imagem mental do seu rosto decepcionado lhe assombrando. Ele a tinha magoado, sabia. Ele tinha quebrado a sua promessa. Ponderou durante o dia inteiro e aceitou a decisão que tinha tomado no momento em que ele ouviu seu passo em direção a casa e seu coração batendo ansioso, só imaginando seu rosto, ele ia contar toda verdade. De algum jeito ele contaria, ela precisava entender porque não podiam ficar juntos, talvez isso a magoasse menos, talvez ela o aceitasse e se Jacob conseguisse tomar cuidado poderiam ficar juntos como antes.
Então no meio da noite a visitou no seu quarto, as restrições de Sam o impediram de revelar seu segredo, mas no fim ele tinha driblado elas e dado pistas a ela. Bella era inteligente descobriria. Mas e quando descobrisse, será que ela ia querer se aproximar dele? Sentiu uma fisgada no peito com a possibilidade, mas não deixou isso dominar sua mente. De qualquer forma deixou claro que quando ela soubesse falasse com ele nem que fosse por telefone, se seria rejeitado ao menos queria escutar isso da voz dela.
No fim as coisas saíram melhores do que o esperado, Bella o tinha aceitado. Um peso tinha saído dos seus ombros, era quase como se tivesse voltado a ser o velho Jacob Black, sabia que isso era impossível, mas agora tinha ela ao seu lado. Sam ficaria muito irritado, mas a revelação de Bells ajudaria a tornar as coisas menos ruins.
As coisas correram bem melhor do que Jacob tinha imaginado e Bella quase se tornou parte da família, passava praticamente todo o seu tempo em La Push, para se manter e aos outros seguros da sanguessuga ruiva. E apesar de não passarem tanto tempo juntos como antes, só o fato de saber que Bella estaria esperando por ele quando a ronda terminasse, deixava Jacob mais leve. Tudo estava bem, até ela ser mais inconsequente do que algum dia ele imaginou que seria e tomar a decisão de pular do penhasco, da parte mais alta, nada menos que isso, enquanto um furacão se formava.
Tinha sido quase um milagre conseguir resgatá-la. Nunca se sentiu tão desesperado quanto naqueles poucos minutos em que não podia ouvir a respiração dela. Felizmente Sam estava do seu lado e aquilo o fez manter o mínimo de controle enquanto tentava ressuscitá-la. Enfim pode ouvir a voz dela e seu coração voltou a bater calmamente.
Jacob acreditou que o mau pressentimento que teve aquele dia teve a ver com seu acidente, mas depois de levá-la para casa naquela noite descobriu que não era só isso. Um dos sanguessugas estava esperando por Bella, tinha sido muito difícil controlar seu primeiro instinto de atacar o vampiro, que estava a espera de Bella na casa, mas se controlou por Bells que tinha dado a ele certeza que era um dos seus ‘amigos’ sanguessugas e claro pelo pacto. Não seria ele que arruinaria tudo, não depois de tanto tempo.
Mas nada foi pior do que ela ter escolhido um vampiro sobre ele, seu amigo, a pessoa que tinha ficado ao seu lado quando ela mais precisava, aquele que quase tinha traído sua nova família por ela. Bella o tinha traído, não tinha uma palavra amena para a clara escolha que ela fez. Como ela podia perdoá-los por deixá-la como a tinham deixado, no estado que a tinham deixado, depois de a magoarem tanto? Mas foi só um deles aparecer que ela esqueceu tudo, tudo o que os sanguessugas fizeram, tudo o que ele, Jacob, tinha arriscado e feito por ela.
Naquela noite apesar da mágoa desejou realmente que fosse um dos malditos Cullen e que ele não a encontrasse morta no chão da casa de Charlie no dia seguinte. Tinha tido uma noite insone como se já não bastassem os dias que mal dormia por estar nas rondas, mas sua cabeça não parava de trabalhar, de pensar nela, se estava bem, se estava viva, várias vezes Jacob cogitou a possibilidade de esquecer tudo e ir atrás dela, mas se controlou. Talvez Bells estivesse certa e era um Cullen, que ele esperava que não ficasse por muito tempo, esse pensamento foi a única coisa que conseguiu tranquiliza-lo, até ele encontrá-la novamente.
Ele tinha ido com Jared e Embry, por ele mesmo teria ido sozinho, mas eram as ordens de Sam, se tivesse uma luta Sam não queria arriscar ninguém da família. Jared e Embry estavam com uma expressão tão pesada quanto a sua, Jacob tinha certeza que culpavam Bella pelo sanguessuga que tinha chegado e por como ele estava agora. Era muito difícil guardar segredos ou esconder seus sentimentos quando tinham mais quatro pessoas ouvindo todos os seus pensamentos.
Quando chegaram a casa e constataram que era um sanguessuga “bonzinho” que estava lá, ele pode relaxar um pouco, até fazer a pergunta que mais temia, mas que precisava fazer não só por si mesmo e mas também pela matilha, num tom que foi nada mais do que deliberadamente frio. “Os outros vão voltar?”. Quando Bella respondeu que não, finalmente relaxou e pode contar aos dois que poderiam ir, já que tinham conseguido a informação que Sam precisava saber.
Jacob deixou cair àquela máscara de frieza e falsa tranquilidade que tinha mantido com os garotos, ele tinha que ser firme enquanto eles estavam lá, já era ruim suficiente eles saberem todos os seus pensamentos, deixar eles perceberem agora o quanto toda essa situação o afetava, parecia tornar tudo ainda pior, gostaria de ter mantido um pouco daquela fachada ao voltar à casa, mas sentir o cheiro das lágrimas de Bella tinha acabado com qualquer resquício daquele desejo, ela parecia estar tão arrasada quanto ele.
- Bella...? – sua voz soou trêmula.
Ela levantou o rosto confirmando suas suspeitas, seu rosto estava vermelho e úmido. A pequena incerteza que tinha dominado Jacob, o impedindo de entrar com medo demais que ela não o quisesse por perto, ruiu assim que viu aquele rosto tão angustiado quanto o seu deveria estar.
Colocou-se de frente a ela, abaixou sua cabeça tentando ficar no mesmo nível que Bella, queria ver seu rosto, sua expressão, queria saber se a tinha magoado tanto quanto parecia.
- Eu fiz de novo, não foi? – Droga, porque nunca conseguia cumprir essa promessa? Será que era tão diferente assim do sanguessuga? Afinal a tinha feito chorar também.
- Fez o quê? – a voz saiu rouca e confusa.
- Quebrei minha promessa. Desculpe.
- Tudo bem... – murmurou. – Desta vez quem começou fui eu.

Torceu o rosto duvidando da afirmação. Era mesmo isso? Jacob sabia como ela se sentia, a conhecia. Deveria ser mais compreensivo, ainda assim isso não diminua a forma como ele se sentia. Não fazia aquela agulhada de traição doer menos, não importava o quanto fosse compreensível, a dor continuava ali.

- Eu sabia como você se sentia com relação a isso. Não devia ter me surpreendido em nada.
Como detestava tudo aquilo! Sua mente traidora sempre se perguntava se ela o descartaria tão facilmente, se fosse o sanguessuga e não a irmã dele que estivesse lá. Se eles ainda fossem humanos Jacob entenderia, ou melhor, aceitaria, mas eles eram monstros, assassinos, como ela podia se importar tanto com eles escapava ao seu entendimento e o deixava inconformado.
- Desculpe – ela repetiu parecendo dividida. Ele sinceramente não sabia se isso o fazia se sentir melhor ou pior ainda. Era claramente uma situação limite.
- Não vamos nos preocupar com isso, está bem? Ela só está de visita, não é? Ela vai embora e tudo voltará ao normal.
Pelo menos era isso o que ele esperava, que desejava secreta e fervorosamente.
- Não posso ser amiga dos dois as mesmo tempo? – indagou, sua voz sem disfarçar nenhum pouco sua mágoa.
Jacob sacudiu sua cabeça lentamente. As coisas nunca seriam fácies entre vampiros e lobos, não havia um modo de levar as coisas suavemente, manter a máxima distância possível era o mais perto que ele podia chegar disso.
- Não, acho que não pode.
Ela abaixou a cabeça enquanto fungava audivelmente, se isso era um efeito da sua audição privilegiada ou simples culpa, ele não soube identificar, tão pouco estava disposto a analisar com mais atenção.
- Mas você vai esperar, não vai? Ainda será meu amigo, mesmo que eu também ame Alice?
Seu rosto se retorceu com a pergunta, raiva e dor se dividindo em sua expressão em igual proporção, como ela podia pedir isso? Porque ele tinha ouvido o significado sob as palavras, soube que quando ela disse Alice, ela estendia esse amor a todos os Cullen e isso incluía o sanguessuga que ele mais desprezava.
Ele demorou um minuto inteiro até encontrar a própria voz mais do que em pensar no que ia dizer. Ao fim e ao cabo, não havia muitas escolhas para ele. Jacob basicamente tinha que escolher entre ter um pouco dela e não ter nada, levando em conta que a segunda opção não era realmente uma opção não havia outra coisa a dizer que não fosse o óbvio. Ele a queria, qualquer parte dela que Bella pudesse oferecer, qualquer acordo que o fizesse ter ao menos um pouco dela. Isso, no entanto não o fazia sentir menos raiva, ou menos frustrado com toda a situação.
- É, sempre serei seu amigo – o tom ríspido saiu filtrando um pouco da raiva. – Independentemente de quem você ame. – Independentemente de que ‘o’ ame, foi o que realmente quis dizer, mas não teve coragem.
- Promete?
Havia realmente uma opção?
Havia?
- Prometo.
Jacob envolveu seus braços, precisando senti-la, precisando tê-la. Fingindo por um segundo que ela era sua por inteiro, sem acordos, sem condições. Bella se aconchegou em seu peito, ainda fungando.
- Que situação chata. – isso era o eufemismo do século, mas provavelmente ela já sabia disso.
- É. – Jacob cheirou seu cabelo em seguida, querendo sentir novamente o cheiro floral, suave e fresco que ela sempre exalava, ao invés sentiu um forte cheiro doce, frio, mas que ao mesmo tempo queimava suas narinas como se respirasse fogo vivo - Ai. – não conseguiu deter a exclamação, com o cheiro invasor e inesperado sobre o cheiro dela.
- O quê? – indagou. Jacob franziu o nariz incomodado, como se a ação fosse capaz de desaparecer com o cheiro ou a sensação abrasadora que ele tinha deixado nas suas narinas. – Por que todo mundo fica fazendo isso comigo? Eu não estou fedendo!
O tom que Bells tinha usado, entre a irritação e o ultraje, o fez sorrir sinceramente.
- Está sim... Está fedendo a eles. Eca. Tão doce... Enjoativo de tão doce. E... Gelado. Queima meu nariz.
- É mesmo? – Ela o olhou estranhamente como se não pudesse acreditar. – Mas, então, por que Alice também acha que estou fedendo?
Aparentemente o mau cheiro, era uma via de mão dupla entre vampiros e lobisomens. Essa era mais uma coisa que provava a rivalidade naturalmente enraizada que eles mantinham. Seu sorriso sumiu.
- Arrã. Talvez eu não tenha um cheiro bom para ela também. Arrã. – ele concedeu de mau gosto.
 - Bom, vocês dois têm um cheiro ótimo para mim. – Bella recostou a cabeça novamente em seu peito.
Jacob sabia que pelo tempo que teriam que se separar seria um tempo horrível para ele. Não sabia como ia conseguir lidar com a saudade, quando ainda a tendo em seus braços já conseguia experimentar esse sentimento que agulhava seu peito. Ia sentir tanta falta dela, da presença, do cheiro, de simplesmente olhar seu lindo rosto.
- Vou sentir sua falta – sussurrou Jacob, sem poder se conter. – A cada minuto. Espero que ela vá embora logo.
- Não precisa ser assim, Jake.
Jacob não pode deixar de suspirar cansado. Será que ela não entendia? O sol e a lua poderiam existir, mas nunca dividir o mesmo espaço. Nunca brilhar ao mesmo tempo, não importa o quanto Bella quisesse que isso acontecesse, o quanto ‘ele’ queria que fosse possível, essa era a forma como a natureza agia e nada poderia modificar uma coisa tão antiga, tão visceral. Era como as coisas eram, era como as coisas sempre seriam.
- Sim, precisa, Bella. Você... a ama. Então é melhor que eu não esteja perto dela. Não sei se sou controlado o suficiente para lidar com isso. Sam ficaria louco se eu quebrasse o pacto e... – sarcasmo fluiu dos seus lábios. – você, provavelmente, não ia gostar muito se eu matasse sua amiga.
Bella tentou se afastar do seu aperto, assim que a compreensão invadiu a sua mente, mas Jacob não a deixou se afastar, não queria que ela se afastasse. Ele queria que ela entendesse a gravidade que era a relação entre vampiros e lobisomens, pensar num conto de fadas em que tudo acabaria bem, era um engano perigoso demais para um coração tão machucado quanto o dela poderia manter. Jacob não queria que ela ficasse no escuro, pelo contrário sabia que a melhor maneira de protegê-la era contar a verdade acima de tudo, por mais dura que ela fosse.
- Não tem sentido evitar a verdade. É assim que as coisas são, Bells.
- Eu não gosto do jeito como as coisas são.
Ele soltou um dos braços para segurar o rosto de Bella. Talvez se ela olhasse no fundo dos seus olhos ela pudesse compreender que ele tampouco gostava dessa situação. O grande problema é que por mais que Jacob quisesse não havia nada que podia fazer, que ‘podiam’ fazer.
- É. Era mais fácil quando nós dois éramos humanos, não era?
Ela suspirou.
Os dois ficaram se encarando por um bom tempo. A mão ainda descansando sobre o rosto de Bella. Um rosto que parecia tão torturado quanto o dele pelos reveses do destino que os tinham colocado ali. Por um momento Jacob questionou seus sentimentos em relação à Bella, se era certo amá-la tanto. Mas talvez o correto não fosse definir o que sentia por ela, como certo ou errado, mas sim como justo ou não, porque ele sabia que nada era tão injusto como amar Bella Swan. Mas então ela estava ali, tão perto, tão linda e ele não tinha mais a capacidade de raciocinar sobre certo, errado, justo ou injusto. Tudo o que importava eram eles, aquele instante com ela tão próxima como poderia estar. No momento, o mundo inteiro podia esperar, assim como suas dúvidas.
Soltou Bella, para poder erguer seu rosto e tocar com a outra mão sua bochecha. Jacob aproveitava o momento para apreciar a temperatura fria da pele de Bella sob as suas mãos que contrastava tanto com a sua pele excessivamente quente. O pequeno desejo de apenas sentir o seu rosto se esfumaçando e se tornando algo maior. As mãos tremeram, ela era tão delicada que tinha medo de quebrá-la.
- Bella... – Jacob sussurrou, sua voz adquirindo um tom rouco.
Bella pareceu congelar com suas ações.
Jacob sabia que estaria cruzando uma linha definitiva no relacionamento deles se seguisse em frente. Sabia que essa era a chance que teria para mostrar a ela que eles dois valiam a pena, que eles dois poderiam ter uma chance. Como também sabia que esse poderia ser o momento do fim de qualquer esperança, de qualquer possibilidade de um futuro juntos, mais do que como apenas amigos.
Conseguia ver com clareza a luta interna de Bella, ela estava confusa, mas ele viu, havia algo ali, um sentimento forte, profundo. Amor? Ele não sabia, não era particularmente bom lendo as pessoas e Bella, apesar de conhecê-la tão bem, muitas vezes conseguia confundi-lo. Ele não tinha certeza se, se arriscaria a ter esperanças.
E ainda que o amasse, ainda assim não queria dizer que ela estava apaixonada. Jacob tinha ciência de que se Bella estivesse apaixonada por ele, eles não continuariam apenas como amigos. Eles seriam mais, muito mais.
Um único beijo talvez pudesse provar que eles eram compatíveis, como Jacob tinha certeza que eles eram, no entanto isso não garantia que ela fosse aceitar. Tudo isso era um monte de dúvidas e certezas vagas, não valia realmente a pena refletir tanto sobre isso. Era só um beijo, era instintivo, natural. Quando isso tinha se tornando uma coisa tão complicada? Provavelmente quando ele tinha se apaixonado por ela, e não tinha sido correspondido.
Não importava, Jacob sabia que todas as dúvidas e incertezas se resumiam a uma única questão: Ele estava realmente disposto a arriscar tudo?
Não houve mais tempo para pensar, a mente de Jacob foi à deriva enquanto encarava os profundos olhos castanhos dela. E ele soube que não havia mais nenhuma decisão ou escolha, isso já estava além dele.
Ainda com os olhos grudados nos castanhos profundos Jacob inclinou a cabeça em direção a dela. A indecisão clara naqueles olhos, ainda assim ele não parou, já não havia como voltar atrás, não para ele pelo menos.
O coração estava disparado, tinha a impressão que sairia do peito a qualquer hora, ele não podia acreditar que finalmente a beijaria, tinha passado noites fantasiando com esse momento e agora ele estava prestes a acontecer.
O som estridente do telefone os assustou, mas ele não se deixou levar pela distração completamente. Jacob tirou sua mão do queixo de Bella e esticou o braço para atender a ligação, poderia ser algo urgente, ainda assim continuou com a outra mão no rosto dela, não ia perder o contato, a conexão que tinha se estabelecido entre eles.
- Residência dos Swan – Jacob respondeu automaticamente, alheio, concentrado demais nela para mudar o tom de voz, que saiu baixo e intenso.
Quando um dos sanguessugas se identificou do outro lado da linha, foi como se ele tivesse estourado a pequena bolha de encantamento, que havia se criado entre ele e Bella, o devolvendo para a realidade, de que um deles estaria a afastando dele em breve. Jacob se endireitou, tirando sua mão do rosto de Bella. Sua expressão mudou, na tentativa de ficar neutra.
Bella provavelmente percebeu a mudança em um minuto e soube com quem ele provavelmente estaria falando. Ela estendeu a mão, mas ele não permitiu que ela falasse com mais um deles, não queria dividi-la com mais nenhum deles. Que o chamassem de egoísta, no momento, ele só não queria abrir mão dela. Ainda mais agora que eles tinham estado tão próximos de provavelmente decidirem todo seu relacionamento. Então ele obviamente também não estava no melhor dos seus humores e ser generoso passava longe de sua mente.
- Aqui é o Dr. Carlisle Cullen, eu gostaria de falar com o xerife Swan. – a voz soou estranha forçada de alguma forma, como se propositalmente estivesse alterando seu tom natural, mas Jacob ainda estava irritado demais com a interrupção para prestar atenção. Depois de ouvir a palavra doutor associado ao sobrenome Cullen ele não notou mais nada. Doutor, repetiu a palavra mentalmente com notável desdém. Um assassino médico, parecia ser uma piada de muito mau gosto.
- Ele não está – sua voz conteve um rosnado a custo, a ameaça e raiva se mesclando em seu tom.
- Onde... onde ele está? – o tom modulou ligeiramente, quase falhando, antes de prosseguir com a questão, se tornando contido, preso, como se contivesse uma grande emoção, preocupação, talvez... medo. Mas Jake ignorou as nuances na voz, apressado e irritado demais para se livrar do Cullen.
- No enterro. – disse de má vontade. Jacob não deu nenhuma informação adicional, simplesmente porque ele sabia que os Cullen não mereciam nenhuma. Afinal não era como se eles se importassem com a morte de um humano. Por Deus, eles eram assassinos! Porque se importariam de qualquer forma? Aliás, porque estavam ligando para a casa de Bella ou indo visitá-la, será que eles não sabiam que já tinham feito estrago suficiente na vida dela, para ficarem agora – que Bella estava começando a se recuperar - brincando de esconde-esconde com ela?
Quando pensou em dizer alguma coisa bem malcriada para o dito doutor, a linha já estava muda e ele mais irritado por desligarem na sua cara.
- Maldito sanguessuga – sussurrou em desgosto. Sua expressão novamente carregada mais pela ideia deles jogando com a dor dela, algo que o deixava doente.
- Você desligou na cara de quem? – Bella se voltou contra ele furiosa. – Na minha casa e no meu telefone?
- Calma! Ele é que desligou na minha cara! – tentou acalmá-la se isentando da culpa mesmo que ele soubesse que teria desligado na cara dele se o outro não tivesse sido mais rápido, mas Bella não precisava saber disso.
- Ele? Quem era?! – ela perguntou agitada.
Jacob quase riu sarcasticamente quando se lembrou do título, afinal isso era uma piada de extremo mau gosto.
- O Dr. Carlisle Cullen.
- Por que não me deixou falar com ele?! – sua voz subiu oito décimos, irritada. E enfim ele notou sua aflição, sob a raiva.
Isso o machucou, ela se importava tanto com pessoas que simplesmente deram as costas para ela e o tratava como o malvado da história quando ele tinha tentado protegê-la deles, proteger o coração dela. Ok, ele também estava tentando afastar ela deles o máximo que ele pudesse, mas a maior parte disso, era a consciência que ele tinha que quanto mais longe os Cullens estivessem dela, melhor e mais feliz ela estaria. O magoava, quando ela parecia pensar que era só o egoísmo dele falando, e não a preocupação por ela que estava acima de tudo.
- Ele não perguntou por você – sua voz saiu fria. Numa tentativa de não demonstrar quão magoado estava com a preocupação dela pelos sanguessugas. Sua expressão de repente se tornou neutra e estudadamente suave. – Ele perguntou onde Charlie estava e eu respondi. Não acho que tenha quebrado alguma regra de etiqueta.
- Agora olhe aqui, Jacob Black... – sua voz saiu com raiva o tom de aviso muito claro.
Apesar disso ele ignorou, outra coisa tinha atraído sua atenção imediatamente. Jacob olhou por sobre o ombro como se pudesse aguçar ainda mais os seus sentidos. Primeiro veio o cheiro, depois o som veloz dos passos que mal tocavam o chão. Ela já tinha voltado, notou com surpresa que seu tempo aparentemente tinha acabado.
- Tchau, Bells – jogou as palavras se afastando o mais rápido possível, não querendo jogar com o azar.
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N/A: Oi, pessoas! Bom primeiro desculpem pela demora, mas eu e minha beta acabamos ficando ocupadas nesse fim de ano. Entre estudos (dela) e as minhas festas e compras de fim de ano não houve realmente muito tempo. Enfim, agradeço pelo carinho de vocês e pela ajuda preciosa da Clessy minha beta tem tornado essa fic bem melhor!
Como vocês devem ter visto o capítulo original foi dividido em duas partes, porque anteriormente fui alertada de que ele poderia ser muito cansativo de se ler e eu tenho que concordar, embora separar esse capítulo exatamente me deu algum trabalho. Enfim, agora só falta a segunda parte desse capítulo e poderei postar um novo capítulo :D

Capítulo 3 - Vínculo (Parte II)

Bella o seguiu.
- O que é? – indagou claramente confusa.
Fosse porque a sanguessuga tinha decidido entrar pelo outro lado da casa, fosse o vento que tenha mudado de direção, uma coisa era certa eles estavam em rota de colisão e ele não pretendia ter um confronto com uma sanguessuga, não quando estava tão irritado. Deu meia volta decidido a sair pelos fundos e evitar mais problemas, quando Bella apareceu no seu caminho, ele xingou em voz baixa, maldizendo a sua sorte. Jacob numa tentativa frustrada de se afastar novamente acabou esbarrando em Bella de novo, a fazendo cair no chão, enquanto suas pernas se enroscavam nas dele.
- Mas que droga! – Bella reclamou enquanto Jacob saia em disparada na direção da porta dos fundos.
No momento seguinte ele estava paralisado se controlando enquanto via a sanguessuga parada ao pé da escada.
- Bella – a voz de Alice saiu engasgada.
Jacob ficou alheio por um momento se concentrando apenas em controlar seus extintos. Até que ouviu a sanguessuga falar o nome dele o fazendo muito consciente de Bella que oscilou perigosamente na escada. Sua reação foi automática correu para lhe dar suporte e impedir ela de cair. A carregou até o sofá falando todos os palavrões e blasfêmias que tinha aprendido a maior parte com Paul, era o melhor jeito de não atacar a sanguessuga a sua frente, estava muito nervoso e irritado para conseguir manter um controle decente. Seu corpo inteiro estava tremendo.
- O que você fez com ela? – seu tom estava permeado com uma raiva contida.
Alice ignorou a pergunta e encarou Bella, precisava que ela recuperasse o foco.
- Bella? Bella pare com isso. Precisamos correr – a voz de Alice saiu desesperada, elas não tinham tempo para isso.
- Fique longe daqui! – ele avisou. A ideia de se transformar e atacá-la, por machucar Bella, tomando cada vez mais forma em sua mente.
- Calma Jacob Black! – a voz saiu firme e tranquila, uma ordem clara. – Não vai querer fazer isso tão perto dela.
- Não acho que terei problemas para manter o foco. – replicou sua voz puro gelo.
- Alice? – a voz saiu frágil. – O que houve?
Enquanto Alice sussurrava perdida. Bella tentou levantar, sendo rapidamente amparada por Jacob. Ele tinha certeza que o único motivo para conseguir o mínimo de controle era porque sabia que Bella precisava dele, da sua presença e não de um lobo descontrolado, mas seu controle estava por um fio, ele mesmo tinha perfeita noção disso. Provavelmente do jeito que seu corpo tremia, mesmo Bella estando tão abalada perceberia sua instabilidade.
A atenção dele estava totalmente focada em Bella e nas reações dela, não ia deixar ela se despedaçar como parecia prestes a fazer enquanto ouvia a sanguessuga no telefone. Ele só focou novamente sua atenção em palavras quando Bella começou a falar.
- Alice – Bella disse assim que Alice encerrou a ligação. Parecia insegura, com medo. – Alice, Carlisle voltou. Ele ligou antes...
Alice pareceu não entender.
- Há quanto tempo? – a voz estava seca.
- Meio minuto antes de você aparecer.
- O que ele disse?
- Eu não falei com ele. – Bella voltou sua atenção a Jacob.
Alice também jogou um olhar afiado na direção de Jacob, que se encolheu com a atenção repentina, mas se manteve firme no lugar, numa posição protetora para Bella.
- Ele perguntou por Charlie e eu disse que Charlie não estava aqui – sua voz saiu baixa e rancorosa.
- Só isso? – indagou Alice friamente.
- Depois ele desligou na minha cara – disse de má vontade. Seu corpo tremeu de raiva com a simples lembrança.
- Você disse que Charlie estava no enterro! – Bella recordou.
A isso Alice virou sua cabeça tão rápido que se não fosse o que era teria deslocado o pescoço.
- Quais foram suas palavras exatas? – indagou, urgência e uma ponta de desespero permeando sua voz.
- Ele disse: “Ele não está”, e quando Carlisle perguntou onde Charlie estava, Jacob respondeu: “No enterro.” – Bella respondeu percebendo que Jake não estava muito disposto a falar mais que o estritamente necessário.
Alice fez um som estrangulado com a garganta e caiu de lhos como se o impacto das palavras de Bella a atingissem fisicamente.
- Me diga, Alice... – pediu Bella com a voz baixa, com medo tanto de assustar Alice, quanto de ouvir sua resposta.
- Não era Carlisle no telefone... – falou desolada.
- Está me chamando de mentiroso? – grunhiu Jacob se sentindo ultrajado com a tácita acusação nas palavras dela.
Ela não fez caso da reação de Jacob, voltando toda a sua atenção em Bella que estava perplexa com as palavras de Alice.
- Era Edward. – sua voz saiu num tom apertado e baixo, estrangulada. – Ele acha que você está morta.
Para a surpresa de Jacob que assistia toda a cena atentamente, ao invés da reação desesperada e angustiante que ele esperava dela, sempre que ouvia aquele nome ou qualquer menção a ele, Bella contraditoriamente parecia aliviada.
- Rosalie disse a ele que eu me matei, não foi? – ela indagou enquanto suspirava o alívio nítido no modo como seus músculos relaxavam.
- Sim – confirmou a expressão séria, a voz ligeiramente dura, contida. – Preciso ressaltar que ela acreditava nisso. Eles confiaram demais na minha visão, numa habilidade que é tão imperfeita. Mas ela o localizou para contar isso a ele! Será que ela não percebeu... nem se importou...? – as palavras jorraram de seus lábios depois, como se pensasse em voz alta, seu tom mudando do desespero alarmado para um horror silencioso.
- E quando Edward ligou para cá, pensou que Jacob estivesse se referindo ao meu enterro – Bella concluiu o pensamento, parecendo muito calma e triste. Jacob percebeu o momento em que ela compreendeu o quão perto ela esteve de falar com ele, quando Bella cravou as unhas em seu braço, não machucando realmente, apenas o fazendo consciente da reação dela.
Alice dirigiu um olhar confuso a Bella.
- Você não está perturbada... – seu tom baixo e ligeiramente confuso.
- Bom, o momento é horrível, mas tudo isso pode ser consertado. Da próxima vez que ele ligar, alguém dirá a ele... o que... na verdade... – a voz dela sumiu. Enquanto Bella observava o lindo rosto de porcelana transfigurado numa mascara de pânico e pena.
Com sua atenção voltada ao silêncio e clara confusão de Bella, Jacob assistiu a cena sem pestanejar preocupado demais com suas reações.
- Bella... – a voz melodiosa saiu fraca. – Edward não vai ligar de novo. Ele acreditou nela.
- Eu. Não. Entendo. – Bella pronunciou lentamente, com medo demais de fazer uma pergunta direta, sentindo que a resposta seria o motivo para todo o horror no rosto de Alice.
- Ele foi para a Itália. – pareceu haver um tom definitivo em suas palavras. Como um juiz que declarava a sentença derradeira de um condenado. Até mesmo Jacob que não sabia o que isso significava realmente, sabia que não podia ser nada de bom.
Bella levou apenas um segundo para compreender.
Jacob viu a mudança em Bella, ele quase conseguia ouvir as engrenagens girando na cabeça dela, de forma quase vertiginosa, se sua reação a seguir dizia algo. O grito de “Não!” estridente cortou o silêncio pesado como uma lâmina afiada e cortante explodiu de seus lábios com uma força surpreendente no meio de todo aquele silêncio. Mesmo a mudança na respiração e batimentos cardíacos de Bella não o tinham preparado para a explosão dela que tinha feito tanto ele como Alice saltarem.
– Não! Não, não, não! Ele não pode! Não pode fazer isso!
- Ele se decidiu assim que seu amigo confirmou que era tarde demais para salvar você.
- Mas ele... Ele foi embora! Ele não me queria mais! Que diferença isso faz agora? Ele sabia que um dia eu ia morrer! – Bella provavelmente não percebia, mas seu tom tinha um desespero tão pungente e uma dor desesperada tão profunda, que Jacob sentia seu coração partir só de ouvir.
- Não acho que ele tenha planejado viver muito tempo após sua morte – sussurrou em resposta.
- Como ele se atreve! – a voz saiu alta, descontrolada de raiva e indignação. Bella levantou de rompante e Jacob seguiu atento e preocupado, enquanto se colocava entre Bella e Alice, temendo que Bella atacasse a sanguessuga e toda a situação fugisse de controle. Seu corpo tremeu mais só com a ideia de Bella se machucar em meio a uma atitude impensada.
- Ah, saia da minha frente, Jacob! – disse parecendo impaciente e irritada enquanto fazia seu caminho em direção a Alice, entre cotoveladas – O que vamos fazer? – pediu a Alice. Pareceu quase implorar por uma solução milagrosa, algo em que pensar ou trabalhar, algo que lhe devolveria a tênue linha de equilíbrio que estava perigosamente ultrapassando. – Não podemos ligar para ele? Carlisle não pode?
Alice negou desolada. Derrotada. Não havia nada que ela pudesse fazer a esse respeito, tinha tentado tudo o que estava a seu alcance. A situação não estava mais em suas mãos e agora só havia uma pessoa que poderia resolver essa situação, mas isso estava totalmente fora de cogitação. Tinha sido estúpido pensar que poderia arriscar a vida dela dessa maneira, mas então estava chocada e desesperada demais quando recebeu a visão.
- Esta foi a primeira coisa que tentei. Ele largou o telefone numa lata de lixo no Rio de Janeiro... Alguém atendeu... – sussurrou.
- Você antes disse que tínhamos que correr. Correr como? Vamos fazer logo, seja lá o que for!
- Bella, eu... eu não acho que possa pedir a você para... – Ela parou de falar, indecisa.
- Peça! – ordenou.
Alice segurou seus ombros e lançou um olhar intenso em direção a ela, desejando que Bella compreendesse a situação e todos os riscos envolvidos, bem como as poucas chances que elas tinham.
- Pode ser tarde demais para nós. Eu o vi indo aos Volturi... e pedindo para morrer. – Jacob observou ambas se retraírem às palavras. Os olhos de Bella rapidamente se tornaram brilhantes de lágrimas não derramadas – Tudo depende do que eles decidirem. Não consigo ver nada até que eles tomem uma decisão. Mas se eles disserem “Não”, e eles podem fazer isso... Aro gosta de Carlisle e não vão querer ofendê-lo... Edward tem um plano B. Eles protegem muito a cidade deles. Se Edward fizer algo para perturbar a paz, ele acha que vão tentar impedi-lo. E tem razão. Eles vão mesmo.
A expressão de Bella estava fechada numa máscara frustrada enquanto encarava a vampira. Ansiedade parecendo sair de todos os seus poros, como se a qualquer momento ela estivesse prestes a correr. Jacob ficou tenso com a ideia, seu corpo tremia, mas ela não notou, concentrada demais em Alice.
- Assim, se eles concordarem em fazer esse favor a Edward, já é tarde demais para nós. Se eles disserem “Não” e ele pensar num plano para irritá-los rapidamente, será tarde demais para nós. Se ele ceder a suas tendências mais teatrais... Talvez tenhamos tempo.
- Vamos! – ela exigiu.
MUSICA 1
- Preste atenção, Bella! Quer tenhamos tempo ou não, estaremos no meio da cidade dos Volturi. Seremos consideradas cúmplices dele se ele for bem-sucedido. Você será uma humana que não só sabe demais, mas que também tem um cheiro bom demais. Há uma boa possibilidade de que eles eliminem todos nós... Bem, no seu caso, não será tanto uma punição, mas o jantar.
- É isso que está nos prendendo aqui? – descrença e quase choque se misturavam em sua voz. – Eu vou sozinha, se você estiver com medo. – ela estava tão impaciente quanto Jacob estava ficando apavorado com a ideia de ela sair por aquela porta e enfrentar o pesadelo fora das paredes seguras daquela casa. Ele podia não entender a história toda mais o pouco que estava ouvindo e conseguia compreender, já dava uma ideia clara demais do cenário que ela provavelmente iria enfrentar. E isso o apavorava.
- Só tenho medo de provocar sua morte. – Alice disse em uma voz sumida.
Bella bufou parecendo desmerecer a ideia como um problema menor. Jacob, no entanto se encolheu só de ouvir as palavras. Sentiu como se uma mão gelada segurasse seu coração só com a ideia. Mas Bella novamente não notou, presa demais no seu próprio inferno pessoal, para notar que Jacob enfrentava o dele bem diante dos seus olhos.
- Eu quase me matei diariamente! Me diga o que precisamos fazer!
- Escreva um bilhete para Charlie. Vou ligar para a companhia aérea.
- Charlie... – arquejou, como se finalmente se desse conta de que alguém poderia sofrer com o impacto da sua corrida insana e desenfreada a procura da morte quase certa.
Mas a expressão intensamente preocupada em seu rosto fez Jake perceber que mais uma vez, ela estava se colocando de lado e pensando no bem estar de alguém que ela amava, mesmo que não pudesse proteger.
- Não vou deixar que nada aconteça a Charlie. – conseguiu dissimular sua dor e medo, com um tom agressivo e irritado. – O pacto que se dane!
Retorceu seu rosto, para a expressão apavorada no rosto dela, tentando ao máximo ocultar seus sentimentos diante dela. Será que ela podia por um segundo pensar na própria segurança, era ela que estava indo em direção à morte e não Charlie. Tudo o que queria naquele momento era segurar ela e nunca mais soltá-la, talvez...
- Rápido, Bella! – a voz da vampira interrompeu seus pensamentos.
Bella não precisou de um segundo aviso, já estava na cozinha, com Jacob nos seus calcanhares. Ela procurou freneticamente por uma caneta, que ele logo encontrou a entregando.
- Obrigada! – agradeceu sua voz baixa, enquanto arrancava com os dentes a tampa da caneta.
Jacob entregou a ela um bloco de papel, enquanto reunia todas as suas forças tentando se controlar para simplesmente não amarrá-la numa cadeira e a impedir de sair dali. Com Bella amarrada sabia que a pequena vampira não seria um grande problema. Mas será que ela o perdoaria se a impedisse de salvar o sanguessuga? Provavelmente não, mas o que importava destruir tudo o que eles tinham, se isso significasse manter ela viva e a salvo? Parecia um preço pequeno a se pagar pela vida dela.
A observou rabiscar uma nota com pressa febril.
Mas será que ela conseguiria viver com a culpa que ela sem dúvida sentiria, se o sanguessuga morresse, sem ela ter tido a oportunidade de fazer nada?
Tinha visto nas memórias de Sam como ela tinha ficado quando ele a abandonou, tinha visto com seus próprios olhos como ela estava quando se encontraram novamente, estava destruída, em cacos. Ela tinha se destruído, Bella tinha razão, ela quase tinha se matado diariamente, desde a separação. Se algo acontecesse ao sanguessuga sabia que ela não ia aguentar. Então novamente não havia escolha, não estava em suas mãos, não podia simplesmente prendê-la. Mas o inferno congelaria se ele não tentaria o que fosse possível para convencê-la a ficar, a não se matar.
- Não vá... – o pedido deixou seus lábios, o rosto desarmado. Sem máscaras.
- Por favor, por favor, por favor, cuide de Charlie! – falou, se demorando só um segundo antes de voltar para a porta da frente.
- Pegue sua carteira... Vai precisar da identidade. Por favor, me diga que tem passaporte. Não tenho tempo para falsificar um. - cerrou os dentes e os punhos enquanto escutava a vampira falar, ainda da cozinha.
Se dirigiu com passos firmes em direção a ela, determinado a tentar manter Bella em segurança. Se aquela parasita se importava tanto com Bella como a morena acreditava então ela não permitiria que Bella cometesse essa loucura. Travar uma conversa com uma sanguessuga não estava na sua lista de coisas preferidas, mas se isso significava manter Bella a salvo faria esse sacrifício.
Se aproximou dela no batente da porta tanto quanto era humanamente possível dadas as circunstancias – de serem inimigos mortais presos num espaço muito pequeno, sem realmente poderem se matar. Tentou racionalizar com ela sem poupar qualquer palavra mostrando claramente o que esperava por Bella, uma humana indefesa no meio de monstros sedentos de sangue.
- Você pode se controlar de vez em quando, mas esses sanguessugas de onde a está levando... – Jacob estava furioso, será que ela não entendia? Será que ela sequer se importava? Afinal Bella só era mais uma humana!
- Sim. Tem razão, cachorro. – ela rosnou quase cuspindo as palavras. – Os Volturi são a essência de nossa espécie... São o motivo para seus pêlos se eriçarem quando você sente meu cheiro. Eles são a substância de seus pesadelos, o pavor por trás de seus instintos. Não estou alheia a isso.
- E vai levá-la para eles como uma garrafa de vinho a uma festa! – vociferou inconformado.
- Acha que ela vai ficar melhor aqui sozinha, com Victoria em seu encalço?
- Podemos cuidar da ruiva. – respondeu com desdém.
- Então por que ela ainda está caçando? – Alice desafiou.
Jacob emitiu um ruído surdo e ameaçador, enquanto um tremor percorreu todo seu corpo.
- Parem com isso! – Bella interrompeu falando numa voz alta e sôfrega. – Discutam quando voltarmos, agora vamos!
Um segundo depois a vampira já estava no carro e Bella correndo atrás dela interrompendo sua corrida para fitar a porta de casa.
Ele aproveitou aquele segundo de indecisão, para segurar seu braço e tentar uma última vez. Suas mãos tremiam, seu corpo todo tremia.
- Por favor, Bella. Estou pedindo.
Sua voz saiu estrangulada por conter as lágrimas. Não podia perdê-la, não para a morte certa.
- Jake, eu tenho que...
A interrompeu antes que ela completasse a sentença, sabia que a estava pressionando, mas ele tinha que tentar convencê-la.
- Não tem, não. Não tem mesmo. Pode ficar aqui comigo. Pode ficar viva. Por Charlie... Por mim.
O que eles tinham era muito forte, ele a amava demais, talvez se ela ficasse eles teriam uma chance, uma vida. O amor dele devia ser o suficiente para os dois e sabia que ele era importante para ela, por um momento ousou ter esperanças, mas o momento passou.
Ela meneou a cabeça com lágrimas caindo dos olhos com a ação. Se soltou do seu aperto, ele não fez nada para detê-la, não havia nada a ser feito, ela tinha feito a sua escolha.
Não estava mais em suas mãos.

- Não morra, Bella – quase sufocou com as palavras, tentando conter um soluço. – Não vá. Não.
Será que era assim que tudo ia acabar? Será que esse seria o último encontro deles?
O rosto de Bella se encheu de lágrimas, como se as mesmas questões rondassem sua mente. Ela se atirou nos seus braços inesperadamente, enterrando o rosto úmido no peito de Jake. Ele segurou sua nuca, como se pudesse prendê-la nos seus braços para sempre, onde ela estaria segura, viva. Naquele segundo eterno, ele se permitiu fingir que isso era verdade.
- Tchau, Jake. – Ela disse afastando sua mão da própria nuca e beijando sua palma como se dissesse adeus. Os olhos dela nunca encontraram os seus, provavelmente porque ela não tinha coragem de partir tendo que encará-los – Desculpe – disse silenciosamente.
Logo se virou correndo novamente em direção ao carro. Entrou pela porta aberta a batendo em seguida. Jacob não ficou para ver o carro partir, para vê-la partir, talvez para sempre. Mas conseguiu ouvir quando ela disse para cuidar de Charlie, antes de a neblina vermelha encobrir sua visão e o calor queimar em sua espinha dorsal o fazendo se fragmentar até explodir e virar o lobo castanho-avermelhado.
MUSICA 2
Logo, não estava mais sozinho. Infelizmente.
Embry e Jared estavam na ronda. Escutou as palavras preocupadas e confusas, pelas lembranças da recente despedida que ele e Bella haviam tido. Só pode mostrar que ela estava indo embora com a parasita para salvar o outro sanguessuga, antes de pedir para deixarem ele em paz.
A única coisa que queria era ficar sozinho e longe, de tudo.
No entanto Embry insistiu em acompanhá-lo.
“Não” rosnou irritado.
Jacob tinha explicado a Bella, como a comunicação entre eles era inconveniente, mas ela provavelmente não conseguia mensurar o quanto inconveniente ela poderia ser de fato. Se fosse só ouvir, mas eles podiam ver, viam através dos olhos uns dos outros. E isso não era só constrangedor, mas como naquele momento, totalmente detestável. Jacob odiou ver a si mesmo através dos olhos deles... toda a pena. Urgh!
A única coisa que ele queria era silêncio. Paz!
Embry seguiu em sua direção apesar do seu protesto. Soltou um rosnado ameaçador, um aviso, se Embry se aproximasse ele não se responsabilizaria.
Foi então que a voz calma de Sam surgiu. Uma ordem para Embry se afastar e voltar à forma humana como Jared, já havia feito. Jake agradeceu, antes de sentir Sam assentir e como os outros dois voltar, depois só houve...
Silêncio.
Correu como se a vida dependesse disso. Sentindo o som da noite, músculos se flexionando, o corpo esticando, enquanto voava, mal tocando a relva fresca pelo orvalho. Uma coruja piou em algum lugar da floresta, um som que logo sumiu, as árvores eram só um borrão no escuro na noite. Era muito mais fácil, ser apenas um lobo.
Havia apenas instinto, as emoções eram mais simples, menos agudas, menos... dolorosas. Era uma dor diferente. Tudo se sentia diferente. Até mesmo, a corrida alucinada que fazia em direção a lugar nenhum, guardava um prazer quase pueril, que no meio de toda aquela dor, era um pequeno conforto. Mas não o suficiente.
Nunca seria o suficiente.
Correu ainda mais rápido, fugindo da dor, daquela maldita despedida, da ideia de que nunca mais a veria com vida.
Depois do que pareceram horas e seis fronteiras estaduais, se deitou. Patas em baixo da cabeça, corpo encolhido, sob a copa de uma grande árvore. Fechou os olhos desejando que estivesse cansado demais para conseguir pensar e fosse absorvido pelo esquecimento do sono.
E por algum tempo, foi isso o que ele conseguiu.
Esquecimento.
Mas então tudo mudou.
De repente Jacob foi inundado por uma dor inteiramente nova, uma dor que não era sua. Ele reconheceu a sensação antes do sentimento, estava vendo a dor pelos olhos de outra pessoa, pelos sentidos de alguém que não conhecia. Não fazia parte do bando, disso tinha certeza. Outro lobo? Não. Era uma garota, pode perceber agora, uma garota humana. Se concentrou nela, não porque era mais fácil de se distanciar da sua própria dor, mas porque de um momento para o outro se sentiu impelido a ajudá-la de alguma forma. A dor dela era tão intensa que simplesmente não podia ser alheio a ela.
Ela estava morrendo!
Percebeu com um sobressalto. Estava morrendo e simplesmente para seu choque e surpresa não se importava, nem sequer parecia querer lutar.
Mas porque?
Porque ela queria desistir?
Tentou ir mais fundo, ver mais longe.
Ela se sentia sozinha. Mas não era qualquer solidão. Ele quase perdeu o ar com a dimensão do sentimento. Era árido e vazio. Sufocante e desesperador. Não havia nada, ninguém, ela estava sozinha há muito tempo. Ela tinha crescido sozinha, desejando ser outra pessoa, desejando ser.., amada. Ela tentou com afinco ser a melhor em tudo, mas nem sempre as coisas davam certo, parecia que no fim, sempre fazia as coisas erradas, as escolhas erradas. Rejeição, atrás de rejeição, deixava um sabor amargo. Lágrimas, à noite embalavam o sono dela, havia um desejo tão forte de ser outra pessoa, de ser querida... era quase esmagador. Ela sempre estava rodeada de pessoas, mas incrivelmente sozinha. Brincando sozinha, aprendendo sozinha, sonhando sozinha. Desejando a cada passo, a cada respiração, simplesmente fazer parte, ser parte de algo. Mas ela não era boa o bastante para isso.
Nunca boa o bastante...
MUSICA 3
Até que surgiu alguém que a olhou e sorriu. Alguém que a fez florescer, que a fez se sentir parte. E então ela não estava mais só. E houveram, risos, livros, doces, gostos, música... O mundo inteiro explodiu numa profusão de cores brilhantes e ricas. Um mundo inteiro se abriu diante de jovens olhos maravilhados. Tudo era novo, tudo era intenso e ela tinha com quem compartilhar cada pequena descoberta. E finalmente ela deixou de desejar ser outra pessoa, deixou de tentar mudar a si mesma, se permitiu apenas ser. Alguém a amava por quem ela era. E isso era maravilhoso! A sensação era embriagadora, intoxicante. Depois disso nunca mais quis ser mais ninguém além de si mesma. Nunca mais invejou nada, nem ninguém. Apesar dos dias chuvosos, o verão se instalou no seu coração.
Mas sem nem mesmo passar pelo outono, o inverno chegou trazendo um frio repentino e inesperado, com uma dor que dilacerou seu coração. Nada doeu tanto. De uma hora para outra tinha perdido a pessoa que mais amava, a única que a tinha amado, da forma mais definitiva de todas. Para a morte.
Mais uma vez estava sozinha, tendo apenas a rejeição como companheira. Ter tido o gosto da felicidade mais completa e brilhante, só tornou a antiga treva que habitava sua vida, mais escura e fria. No entanto, não desejou ser outra pessoa, não mais. Tinha orgulho de quem era, porque mesmo que a pessoa que amava acima de todas as outras não estivesse mais ali, sabia que seria amada além da morte, por quem era ela. Nunca mais foi outra pessoa, ou fingiu ser quem não era. Mas se permitiu ser rebelde, tentando ser notada, sabia que ninguém nunca mais preencheria sua solidão então jurou que não mais viveria nas sombras.
Todavia o destino tinha dado uma grande reviravolta. Agora estava numa cama de hospital, morrendo, sem se importar com nada simplesmente porque não tinha nada a perder. Nem ninguém esperando por ela se decidisse lutar. Sua vida estava vazia. Oca.
Perceber que alguém podia se sentir assim mexeu com ele como nada havia mexido. O vazio dela doeu em Jacob, uma dor surda, mais incrivelmente profunda. E a dor parecia ainda mais terrível, por ser a dor dela, saber que havia uma garota lá fora, que tinha o coração tão despedaçado, uma vida que ela simplesmente achava que não valia a pena ser vivida, era uma tragédia. Se sentiu tão triste por ela, por saber que ela não tinha ninguém. Quis chorar por ela, abraçá-la apertado, prometer que ninguém mais a machucaria, garantir que a protegeria, que ela jamais estaria só novamente. Desejou gritar todas essas promessas e pedir para ela não desistir. Ele estaria lá por ela.
Naquele instante algo curioso aconteceu. A dor que o tinha levado tão longe da sua família e amigos, a dor pelo seu amor perdido se enredou na dor do vazio dela. Se uniram como duas correntes de ar de temperaturas diferentes se misturando ao sabor do destino, para formarem uma grandiosa tempestade, cheia de vida e de som. Um acontecimento, tão espantoso como fascinante. Tão natural, quanto incrível. Longos e delicados fios se entrelaçaram unindo a ambos. Um vínculo tinha sido criado. Então a tempestade amainou e só sobrou a vida, brilhando com mais intensidade e riqueza. Eles estavam unidos, não havia mais solidão.
De um momento para o outro o contato foi quebrado e ele temeu por ela. Sentindo o vazio do rompimento da conexão. Buscou por ela em sua mente, em seu coração e encontrou o laço que os ligava. Apenas isso o aliviou. Os dois ainda estavam juntos.
Pediu silenciosamente para ela lutar, ele estaria esperando por ela quando voltasse. Ela não estava mais só, nenhum dos dois estava. Ela precisava tanto dele! Ela precisava dele de um jeito que Bella nunca precisou. Era muito bom sentir que era necessário, que poderia talvez ser a prioridade da vida de alguém, estar em primeiro lugar ao menos uma vez, na mente e talvez no coração de outra pessoa. Compreendeu também, naquele momento, que também precisava dela. Quando viu a vida dela, quando sentiu o que ela sentiu, percebeu o quanto estava sendo tolo tentando afastar a todos. Ela o fez perceber que apesar de tudo, poderia contar com seus amigos, entendeu que havia pessoas que se importavam com ele e o quanto isso era precioso. Tinha certeza que ela o entenderia, assim como ele a entendia. Só esperava que ela soubesse disso e lutasse.
Esperou ansioso, que ela tomasse a decisão de ficar, desejou secretamente que ela o escolhesse... E foi o que ela fez. Ele descobriu com um conhecimento que estava além do seu entendimento. Ela ainda teria que lutar pela vida dela, mas ele sabia, como uma certeza inesperada que como a lutadora que ela era, venceria a morte.
Um sussurro de certeza soprou em sua mente.
Em breve eles se encontrariam.
Muito em breve.


Capítulo 4 - Contagem regressiva para afundar (Parte I)

Acordar todos os dias em um mundo onde eu não era querida pela minha família, era triste, mas acordar em um mundo onde eu sabia que eles nunca mais estariam lá, em que eu nunca mais poderia conviver com eles, onde não haveria mais portas abertas esperando a minha volta, onde não haveria para o que voltar, isso era doloroso demais. Eu só esperava que meu escudo se mantivesse intacto, porque agora a fachada parecia tudo o que eu tinha, porque se ela fosse destruída, talvez eu fosse junto, provavelmente com a minha sorte os minutos para isso acontecer estivessem contados. Era isso, a contagem regressiva para afundar estaria correndo a qualquer instante e eu sabia que naquele momento da minha vida não teria forças para nadar até a superfície, tinha certeza que me afogaria, porque se eu não poderia me salvar sozinha, eu sabia que ninguém se importaria o suficiente para me salvar. Mas então talvez me afogar não seria tão ruim assim, não é?! Porque quando você não tem ninguém que se importe o suficiente para te puxar, não há realmente uma razão para você querer ficar além da superfície.

Chevalier

despertou com a respiração ofegante, impressões de um pesadelo assustador ainda muito vivo em sua mente. As imagens não eram claras, nem mesmo a situação, no entanto o sentimento de medo e horror foi o suficiente para deixá-la assustada. O som agitado do monitor cardíaco ligado chamou sua atenção, fazendo com que se situasse.
Ela estava deitada em uma cama de hospital, sendo monitorada por aparelhos. Por um momento estranhou, toda a situação na verdade parecia, por falta de palavra melhor, inadequada. se sentia tão bem, ainda que a certeza de que seu estado não deveria ser esse, persistia em sua mente. Algo estava definitivamente fora de lugar. Os motivos que a fizeram estar num quarto de hospital lhe fugiam da mente, a única coisa que se lembrava, era a visão de chamas iluminando a noite escura, se isso pudesse contar como lembrança. Tentou se lembrar de algo mais, no entanto a simples tentativa lhe causava dor de cabeça, então logo desistiu. Desejando afastar os pensamentos sobre o pesadelo perturbador de minutos atrás ou os motivos de estar num quarto de hospital, passou a analisar o lugar.
Não havia nada muito chamativo em seu entorno, apenas uma mesa simples no canto, um criado mudo ao lado da cama e uma cadeira vazia, tirando isso parecia que o quarto não era habitado por ninguém. Não havia flores ou balões desejando melhoras, nem mesmo alguém sentando ao pé da sua cama, velando seu sono, o lugar estava totalmente nu... De vida ou mais precisamente de reconhecimento da existência de que alguém estava lá. Por um momento se sentiu melancólica e sozinha. Mas agitou a cabeça como se livrando desses sentimentos e voltando sua atenção para outros detalhes do quarto, tentando não se deixar levar por qualquer pensamento triste ou inquietante.
O quarto estava escuro, sendo suavemente iluminado por um pequeno abajur e pela lua. Pelo que podia ver as paredes do quarto possuíam um pálido verde, uma cor relaxante e calmante, pelo que se lembrava. Ideal para um quarto de hospital. E mesmo sem a presença das verdes paredes terapêuticas ou dos monitores cardíacos e o soro, o cheiro daria conta de indicar muito corretamente o lugar onde ela se encontrava. O cheiro de éter e medicamentos estava em toda parte embrulhando seu estômago e incomodando seu olfato.
O fato de ter se tornado tão consciente do seu ambiente, invocou em um desejo muito forte de sair dali, de fugir. Queria voltar para casa, ver sua família, estava tão preocupada com todos. Levantou rapidamente guiada por esse sentimento de urgência, tirando a intravenosa e os monitores cardíacos, calçou os chinelos acolchoados ao pé da cama e deu graças aos céus por ter um robe em sua cama. Rapidamente se vestiu com ele e saiu do seu quarto o mais sorrateiramente possível, precisava voltar para casa. Deu um último olhar ao quarto, percebendo pela primeira vez que sua bolsa estava em cima do sofá sem gastar um pensamento para esse fato, pegou a bolsa pequena e saiu.
Mesmo que não tivesse sido tão cuidadosa em sua fuga, não teria feito diferença, parecia que todo o lugar estava vazio e quanto mais andava mais a sensação de que estava sozinha aumentava. Não era apenas a familiar dor da solidão, era o sentimento de estar fisicamente só. Como um daqueles filmes apocalípticos que já tinha visto milhares de vezes, onde todos morriam por causa de um vírus, um asteróide colidindo contra a terra ou um desastre natural. A diferença era que tirando a falta de pessoas tudo parecia normal, exatamente no lugar que deveria estar.
Exceto a neve. Foi um choque sair do hospital, para encarar uma rua nevada em Nova York. Não era para estarem em pleno inverno. Ainda estavam em começo de novembro, tinha certeza! Apertou mais o robe contra o corpo se negando a voltar ao hospital vazio, tentando esclarecer esse mistério. No entanto, olhar a borbulhante Nova York, a cidade que nunca dorme, tão silenciosa, era definitivamente perturbador. Prédios com luzes acesas, mas totalmente silenciosos, carros estacionados, tudo parado, tudo silencioso, ela parecia andar em uma cidade fantasma. Apressou o ritmo, ansiosa para chegar em casa.
O caminho até sua casa parecia eterno, ainda mais com a neve caindo e molhando toda sua roupa. adorava neve, mas preferia estar vestida adequadamente, o que obviamente não era o caso, para sua total falta de sorte. Com uma sensação de profundo alívio finalmente avistou os portões da grande mansão obviamente fechados. Seguiu por um conhecido caminho lateral, chegando a um dos muros onde as trepadeiras eram mais fortes, segurou-as com força, machucando as mãos desprotegidas no processo com as folhas geladas e cobertas por uma fina camada de gelo cortando suas mãos. Ignorando o desconforto, conseguiu subir com certa facilidade, não era a primeira vez que entrava na casa por aquele caminho e certamente não seria a última.
Assim que conseguiu pular o muro, correu de modo quase desenfreado em direção a casa, guiada pela luz bruxuleante que ela sabia vir da sala de estar. Assim que chegou em frente a porta, abriu a pequena bolsa que carregava, agradecendo ao impulso de trazê-la consigo. Demorou mais do que gostaria para encontrar as chaves, mas quando as encontrou hesitou em abrir a porta. O que será que ela encontraria por trás daquela porta? Mais silêncio? Outro prédio vazio? Agitou a cabeça tentando afastar os pensamentos e sem mais questionamentos abriu a porta e entrou.
Foi até a sala de estar, esperando encontrar alguém lá, mas a única coisa que achou foi a lareira acesa e...
- A árvore de natal? – indagou confusa, franzindo o cenho. Eles não estavam em dezembro, aliás, o natal ainda nem tinha começado e anos sendo uma Reynolds havia lhe dado uma noção muito clara de elegância e arrumar uma árvore de natal antes do tempo era definitivamente deselegante. O que afinal estava acontecendo? – Mamãe, papai?! – pediu incerta.
Talvez estivessem em outro cômodo, talvez nem tivessem escutado sua voz, afinal como sempre dizia, aquela casa era exageradamente grande.
- Harriette, Gregory, Kaitleen, Frederick – chamou pelos irmãos esperando encontrar ao menos um deles.
Nada.
Andou pela casa procurando por eles sem encontrar nenhum sinal de ninguém. Como última esperança foi para a casa da piscina, na verdade a sua casa da piscina, onde era o seu quarto. Não estava muito esperançosa de encontrar ninguém, mas qual não foi a sua surpresa quando encontrou todos lá, parecendo arrumar a pequena árvore de natal que ela sempre colocava no seu quarto.
- Mãe! – chamou fazendo todos voltarem sua atenção a ela.
- Eleanor, você não devia estar aqui. – sua mãe se aproximou, claramente a repreendendo, usando como sempre o primeiro nome que ela tanto detestava. torceu os dedos, atrás do corpo, os esfregando continuamente, um gesto nervoso que ela havia cultivado por anos. No entanto antes que ela pudesse dizer qualquer coisa em sua defesa, foi arrebatada por um abraço apertado dado por sua mãe – Meu Deus, querida você ainda não está totalmente recuperada, o acidente que você sofreu foi muito grave!
Ela afastou de si olhando seu rosto como se pudesse avaliar seu estado corretamente só de olhá-la. A garota estava tão estupefata com a ação repentina e a clara preocupação no rosto de sua mãe que só podia levantar a cabeça e olhá-la. Certamente o acidente que ela tinha sofrido foi muito grave. Sua mãe Meredith Reynolds conhecida pela sua frieza e por ser detentora de uma elegância distante, nunca tinha sido do tipo maternal ou calorosa demais, ao menos não com ela, pensou tentando afastar a nota de amargura do seu pensamento tanto quanto podia.
- Eu estou bem – disse sem se afastar do aperto quente e acolhedor, aproveitando o momento raro tanto quanto podia. Não houve nenhuma mudança de movimento, fosse sua ou da sua mãe, mas depois de alguns minutos ela sentiu o abraço tinha se tornado frio e vazio. se afastou dela e da sensação que o toque da sua mãe tinha se transformado.
- Que bom que está bem – Meredith disse num tom frio e distante. Parecendo o oposto da mulher que a tinha recebido em seus braços – Agora está na hora de você ir.
- Ir? – indagou sem compreender.
- Sim, ir. Ir embora dessa casa. Você não pertence a esse lugar ou a essa família, não mais... – sua voz era puro gelo, tão afiada e cortante que atribuiu a pontada funda no peito a ela – Siga com a sua vida, querida. – onde antes estava o gelo agora havia condescendência e uma nuance de deboche que odiou mais que sua anterior frieza.
- Mas... – começou num tom engasgado, engoliu em seco tentando recuperar a voz e o controle – Mas, por quê? – perguntou dolorosamente confusa, olhando agora toda a sua família de pé atrás da matriarca.
Seu pai logo atrás de sua mãe, que apesar da alta estatura para uma mulher não cobria totalmente o rosto severo do marido. Gregory, o primogênito, guardava uma expressão livre de qualquer emoção, Frederick três anos mais novo mostrava uma face tão dura quanto seu pai. Kaitleen, a mais velha das irmãs, assumia um sorriso maldoso no belo rosto como se toda a situação a divertisse e Harriette ao lado da gêmea mostrava pena evidente no rosto igualmente belo. Mas a reprovação no semblante de todos era unânime.
- Você não é capaz de adivinhar? Sempre achei que fosse ao menos inteligente... – respondeu Meredith claramente desgostosa por apontar o óbvio – Bom, já que você parece tão confusa, eu vou esclarecer a situação. Você não pertence a essa família ou a esse lugar porque contrariando absolutamente todas as expectativas, você sobreviveu Eleanor. Foi isso o que aconteceu.
- Mas... mas... – começou incoerentemente, tentando assimilar a afirmação da sua mãe e a opressão nos olhares do resto da família – Por favor... não... – pediu numa voz quebrada, o resto da frase preso na garganta “não me deixe sozinha”, “não me abandone”.
- Adeus, Eleanor! – sua mãe disse num tom definitivo, como uma sentença perpétua deferida por um juiz.
E então eles não estavam mais lá, sumindo como se evaporassem na noite e depois não havia mais nada em toda parte, só o vazio escuro e frio.
- NÃO!!!!!
Gritou assustada, acabando com os últimos resquícios daquele pesadelo horrível. Olhou em volta frenética e ainda um pouco desorientada, se deparando com as mesmas paredes verdes, que tinham adornado o quarto de hospital do seu sonho, enfim se lembrando de onde estava. O quarto do seu sonho era exatamente igual ao quarto que ocupava atualmente, o que tinha dado uma realidade assustadora ao pesadelo.
Mas agora ela estava acordada e tudo tinha acabado. Tudo estava bem. Ou pelo menos deveria estar afinal, ela era a única sobrevivente de um trágico acidente. Os médicos não paravam de repetir que tinha sido um milagre como ela tinha sobrevivido às fraturas múltiplas, ao traumatismo craniano, a hemorragia interna, a uma parada cardiorrespiratória de mais de quarenta minutos, para finalmente acordar de um coma de quase seis meses.
Ainda se lembrava da conversa do médico enquanto ele explicava todos os procedimentos pelo qual ela foi submetida quando foi trazida para emergência do hospital, logo ela que sempre tinha se orgulhado de nunca ter ido ao hospital ou quebrado algum osso. Dr. Lewis havia dito que quando tinha sido enviada ao hospital, passou por uma operação de emergência, depois dessa se seguiram outras, até que quando terminaram estava ainda em um estado muito delicado na UTI, onde passou alguns dias até ficar estabilizada. Ainda em coma foi transferida a um quarto, onde ficou por meses sem que seu estado se alterasse.
Até que há cinco dias atrás sua frequência cerebral começou a cair drasticamente. Dois dias depois foram o coração e os pulmões parando de funcionar, por mais de dez minutos os médicos tinham lutado para mantê-la viva, até que sua morte clínica foi atestada e então surpreendentemente após quase dez minutos clinicamente morta, com todos os equipamentos já retirados do seu corpo e tendo uma das enfermeiras se preparando para cobrir seu corpo, simplesmente engasgou uma respiração profunda e abriu os olhos.
Ainda conseguia ouvir o tom admirado do jovem médico, quando foi constatado algum tempo depois que não só estava viva e bem, como não havia sofrido nenhuma sequela. Pelo menos foi isso que ele achou, aliás, foi o que todos acharam. Porque depois do acidente algo tinha mudado definitivamente em , ela não era mais uma pessoa normal e comum. Bom, talvez ainda fosse comum, mas decididamente não era mais normal.
Algo tinha acontecido entre seu caminho pelo mundo dos mortos e sua volta a Terra. Quando acordou e deu de cara com a enfermeira ainda muito desorientada se surpreendeu enxergando ao redor dela um halo de luz que pairava em torno do seu corpo. Tinha uma cor verde esmeralda que incomodou seus olhos. Quando tolamente havia perguntado por que ela brilhava, a enfermeira disse que chamaria o médico e ele explicaria tudo.
Enquanto ela foi chamar o médico, teve tempo de pensar e lembrar... Do acidente, do homem ao seu lado enquanto sentia uma dor absurda, desse mesmo homem a encontrando em um lugar estranho e dela vendo a si mesma numa mesa de hospital rodeada por médicos e morrendo. Então houve aquela sensação de estar perto de alguém... não, ligada a alguém. Depois dessa pequena parte de memória, a de uma sensação poderosa de união, tudo de repente ficou claro.
Quando o médico chegou ele examinou seus olhos com a pequena lanterna, vendo se suas pupilas se contraiam e dilatavam como deveriam, enquanto perguntava sobre o que tinha dito a enfermeira. Ele tinha um brilho prateado em torno do seu corpo, principalmente em sua cabeça, que incomodou seus olhos tanto quanto o brilho verde da enfermeira, no entanto agora que não estava tão desorientada e atordoada achou mais prudente não dizer nada.
Desconversou quando ele mencionou o que havia dito a enfermeira inconsequentemente, falando sobre seu sonho, excluindo apenas a parte em que sentiu as emoções daquele garoto desconhecido – não queria dividir isso com ninguém, não parecia certo e se fosse honesta consigo mesma queria guardar aquele momento único, apenas para si mesma. Apesar de tudo o que revelou o médico não pareceu tão surpreso, explicando que ela provavelmente havia passado por uma experiência de quase morte, o que no caso dela especialmente era de se esperar.
Ela imaginou que ouviria essa resposta quando perguntou, por isso se atreveu a tanto, ninguém acharia que ela era maluca, mas ela queria confirmar de qualquer forma o que tinha acontecido a ela. No momento em que questionou a presença do homem que nunca tinha visto, o médico disse que pela descrição que ela havia dado era o mesmo homem que a tinha encontrado. O que provavelmente explicava a presença de alguém desconhecido, já que segundo o médico, algumas experiências de quase morte podiam se misturar com sonhos. aceitou a explicação sem mais questionamentos, pois ela era perfeitamente racional apesar de não explicar tudo, mas tinha um pressentimento de que descobriria em breve.
E foi isso que aconteceu dois dias depois quando, incessantemente após tentar obter notícias de sua família, toda a bomba explodiu. Seu mundo inteiro foi devastado numa sucessão de mistérios revelados, aterradores segredos descobertos e verdades extremamente dolorosas. Aparentemente deveria agradecer toda sua atual infelicidade ao terrível acidente onde fora a única sobrevivente. Depois de tudo o que aconteceu talvez a morte não seria tão ruim, pelo menos eu não estaria tão sozinha, pensou sentindo o peito apertado com a dor.
Aparentemente seus pensamentos tinham inadvertidamente ganhado seus lábios. E a única pessoa que havia no quarto e que ela se quer tinha notado adentrá-lo perdida em pensamentos como estava, se manifestou.
- Sabe você não está sozinha, tem a mim. – o homem falou saindo do canto do quarto onde estava carregando uma sacola.
Ele ainda possuía aquela mesma atmosfera intensa de poder e força quase esmagadora, que havia percebido no primeiro encontro deles. Ele ainda era indiscutivelmente magnífico em seus aparentes trinta e poucos anos, com seus olhos negros, os cabelos escuros até o ombro – agora secos – a pele dourada e a postura marcante. Mas a postura, a beleza ou o poder que ele exalava dos poros não mais a intimidavam ou impressionavam tanto. O homem tinha se tornado uma irritante presença constante em seu quarto para que ela agisse de outra forma e sabendo o que ela sabia agora... só conseguia sentir ressentimento e raiva dele. Como se ele fosse o culpado por tudo o que tinha acontecido de ruim na sua vida. E talvez fosse esse o caso.
- Grande companhia. – murmurou com claro desdém.
- Ora, sempre achei que as minhas visitas fossem o ponto alto do seu dia nesse lugarzinho entediante. – o sorriso sardônico dançava nos olhos apesar dos lábios firmemente fechados numa parodia de seriedade.
- O que você quer Aidan? – perguntou, com a voz cansada, querendo se livrar o mais rápido da sua presença insuportável.
Aidan se aproximou de sua cama de maneira lenta e segura com aqueles passos felinos, que estava começando a se acostumar. Ela secretamente invejou sua graciosidade, mas não se assustou com seus modos, a cada dia ela se tornava mais familiar aos modos sorrateiros de Aidan.
- Só fazendo meu papel de bom tutor, zelando pela sua saúde, segurança e conforto. – disse a última palavra estendendo a sacola que trazia para seu colo.
Colocou sua cama numa posição inclinada, para que ela pudesse estar numa posição menos vulnerável diante de Aidan.
- O que é isso? – indagou desconfiada, olhando sem realmente encostar na sacola ou avaliar muito detidamente o que havia nela.
- Abra que você vai saber o que é – vendo a relutância dela completou – Por favor, não vai te morder! – debochou.
Ela bufou ao comentário e abriu a sacola imediatamente, encontrando seu velho laptop roxo, levantou a sobrancelha numa pergunta silenciosa a Aidan.
- É apenas uma pequena distração para você nesse lugar. Também já movi seus outros pertences para um apartamento que eu aluguei em Greenwich Village – a esse último comentário sentiu um aperto no peito, por saber que não teria nem mesmo a oportunidade de se despedir da sua casa, mas então talvez fosse melhor nunca mais colocar os pés naquele lugar, ela não tinha sido feliz lá, o que curiosamente não conseguia afastar sua dor.
- Eu pergunto de novo Aidan. O que você quer? – disse impassível afastando o esgar de dor pela perda da casa em que cresceu. Era uma dor sem sentido. Voltou toda sua atenção ao homem em pé ao lado de sua cama.
- Sempre desconfiada. Você não pode simplesmente aceitar o fato de eu querer te agradar? – deu seu sorriso irresistível que para o aborrecimento de , parecia funcionar com toda a mulher capaz de respirar, exceto ela. sabia quem ele era, por isso nem mesmo todo seu charme a faria esquecer com quem estava lidando.
Continuou fitando seus olhos com aberto ceticismo. Aidan nunca fazia nada sem um motivo oculto, ela estava aprendendo.
- Ok, eu vim aqui também para saber que historia é essa de você se negar a fazer fisioterapia? – sua voz era plana, serena, mas não dava margens para brincadeiras, algo que prontamente ignorou.
- Qual é o grande mistério? Não há realmente uma história e mesmo se houvesse você já saberia de todos os detalhes, então não sei por que você está perdendo o seu e principalmente o meu tempo fazendo uma pergunta idiota como essa. – respondeu irritada.
Aidan se aproximou mais dela, agora com um sorriso perigoso nos lábios, sem mais nenhum resquício de humor nos olhos escuros.
- Você tem razão, mas achei que seria apropriado, talvez a fizesse se sentir mais a vontade, afinal é assim que as pessoas normais falam não é?! Sempre sendo tão óbvias e redundantes – disse a última frase parecendo levemente entediado.
- Mas você não é uma pessoa normal e você não se importa comigo de verdade.
- Você continua dizendo isso e eu continuo negando, mas hoje não estou com humor para tentar te convencer. Você disse que não queria perder tempo, então sem mais adulações, voltas ou normalidade enfadonha. Você vai fazer a fisioterapia, não há mais nada a ser discutido sobre isso.
- Eu não vou – seu tom saiu áspero – Será que você não entendeu? – disse cruzando os braços de forma defensiva.
- Você que parece não estar entendendo, eu sou seu tutor legal agora ) e você vai me obedecer, querendo ou não! – afirmou dando o assunto por encerrado.
- Eu nunca obedeci meus pais ou suas regras, porque acha que agora eu acataria suas ordens? – sorriu em desafio.
- Ah, porque minha doce ... – começou segurando seu rosto em uma das mãos enquanto acariciava seu polegar na bochecha dela, aproximando seus lábios de seu ouvido – eu não sou como seus pais... Eu tenho muito mais poder e recursos do que eles jamais sonharam para conseguir o que quero, quando quero e isso minha querida incluiu você! – ela sentiu o sorriso em sua voz e afastou o rosto dele bruscamente.
Negou o arrepio na espinha que sentiu com a ameaça velada e o encarou com um estranho sentindo de calma determinação.
Aidan se endireitou e teve que conter o sorriso diante do gesto dela e sua postura falsamente relaxada. O queixo erguido orgulhosamente, os olhos brilhando com aquela misteriosa força calma e silenciosa. O seu pequeno fogo azul, como ele chamava, não era uma força furiosa claramente beligerante que as pessoas podiam mostrar quando irritadas ou provocadas, fazendo os olhos brilharem incandescentemente. Era sempre calma força silenciosa, tão gelada que de fato queimava.
E havia também aquela dignidade tranquila que mostrava muito mais da sua determinação do que suas palavras desafiantes ou sua postura rebelde poderiam jamais mostrar, que ela não ia se dobrar aos desejos de qualquer um.
O mais formidável de toda essa atitude era justamente o fato de não ser claramente notável, quem a olhasse superficialmente acharia que ela tinha desistido e aceitado o que ele havia dito ou feito, quando ela estava apenas se assentando e se preparando para tornar as coisas muito mais difíceis. Era essa atitude que pegavam a maioria das pessoas inadvertidamente e quando elas se davam conta, a calma e aparentemente abatida  surpreenderia a todos tomando alguma atitude inesperada.
Aidan estava satisfeito que essa pequena discussão tenha soltado ao menos uma pequena faísca azul naqueles olhos cor de avelã que pareciam sem vida nos últimos dias. O incomodava ver aquela fraqueza nela, não tinha sido feita para agir como uma derrotada, ela tinha nascido da grandeza. Ela era uma lutadora e Aidan não aceitaria nada menos que isso.
Por isso não ficou realmente irritado mesmo que esse espírito guerreiro estivesse se voltando contra ele. Aidan não gostava de lidar com pessoas assustadiças e fracas não havia real diversão ou desafio nisso, todos só baixavam a cabeça e faziam o que queria. Eles reconheciam sua força e percebiam que não eram páreos, então recuavam. Mas ela não, ela tinha uma noção muito clara da sua força e poder, até mais do que a maioria das pessoas fazia e mesmo assim, sabendo do que ele era capaz, ela o desafiava. E ele sabia que ela o temia, mas não deixava isso dominá-la, usava o medo como combustível para alimentar sua própria força interior. Definitivamente não negava suas raízes.
Era nesses momentos que ele se via fascinado por ela, liberava sua presença e quase o esmagava com ela. A menina não tinha a beleza clássica de sua mãe, aliás a maioria das pessoas não notaria a beleza dela em tudo. O tipo de beleza que ela possuía era como a beleza do luar, brilhando suavemente no meio da escuridão, mas envolvendo segura e sutilmente a todos que ela queria.
Se quisesse ela poderia ter todos aos seus pés, ela sempre teve poder para isso, mesmo antes do acidente, mesmo quando ela era uma “pessoa normal” ela era especial e sabia inconscientemente, quase instintivamente desse poder que possuía. Se ela quisesse todos a notariam e cairiam rendidos a sua presença, força e sutil beleza. Entretanto ela nunca usou essa habilidade inata, nunca quis usá-la.
Era curioso que ela tenha passado mais da metade de sua vida desejando ser notada, mas nunca tenha se aproveitado do seu poder, dessa sedução inerente a ela para conquistar o seu desejo. nunca sequer tinha sido tentada por esse poder, que ele sabia, muita gente morreria para ter. Mas não ela, não, ela não desejava seduzir, desejava mais.
E nisso os dois eram muito parecidos, eles sempre desejavam mais. Além do que era permitido ou possível.
Então tinha por fim escolhido ser a garota que sentava sozinha e era tachada de feia, estranha e solitária. Relegada ao canto mais escuro da sala. Porque queria que a enxergassem como a pessoa que ela era. E não pelo poder de sua presença ou o tamanho da sua conta bancaria. Ela queria aquilo que era real e verdadeiro. Não viveria num castelo de ilusões. E Aidan em alguma medida a admirava por isso, apesar de achar sua atitude estúpida e um desperdício de seus próprios talentos.
No entanto agora nada disso era uma questão. A questão nesse momento era tirar dessa apatia e obrigá-la a fazer fisioterapia. Esse tipo de atitude rebelde vazia era tão típico de uma adolescente. E era em momentos como esse que Aidan esquecia a grandeza que ela estava destinada e via apenas a adolescente que ela era nesse momento e que como seus pares tinha uma queda para o melodrama, ela gostasse ou não de admitir e essa atitude tola e totalmente contraproducente para seus planos futuros precisava acabar agora.
Ele sabia, entretanto, que intimidação e ameaças não fariam nada para beneficiar sua causa, ela só se voltaria mais fortemente contra ele, mas ele não podia resistir à ideia de provocá-la só para ver aquele fogo azul brilhar em seus olhos e agora que ele tinha isso, precisava voltar aos negócios.
- Já falei com o seu médico, sua fisioterapia está marcada para a primeira hora do dia. Espero que esteja pronta – disse em tom definitivo.
não disse nada, mas sua impassibilidade e controle disseram tudo. Ele colocou as mãos no bolso e se afastou da cama, em uma postura falsamente relaxada.
- Danielle com certeza ficaria muito desapontada, com essa sua postura. Pensei que você tinha aprendido mais do que isso com ela.
- Não fale dela como se a conhecesse! – voltou sua face irritada para ele, mas do que um pouco afetada pelo comentário, sua calma gelada esquecida. Ele a tinha atingido exatamente no ponto certo, para ela fazer seu controle escorrer.
- É verdade eu não a conhecia, mas sei o suficiente sobre ela, para saber que ela condenaria sua atitude. Na verdade eu mesmo me sinto um tanto desapontado, não que você se importe – se apressou em dizer a última parte antes que ela fosse capaz de abrir a boca – Mas sinceramente esperava mais de você, do que, bem... isso – disse a última palavra com uma pontada de desprezo.
Aidan deu uma risada seca e se dirigiu a porta e sem se virar continuou:
– Sabe, nunca achei que você fosse o tipo de sentir pena de si mesma, mas acho que estava enganado, é claro que nada disso importa pra mim, as coisas ainda vão ser do jeito que eu quero, como eu quero. E sua opinião não faz parte dessa equação, sua colaboração, entretanto tornaria as coisas bem mais fácies pra você – ele se virou ligeiramente com a mão na porta já aberta, para dar a estocada final - Uma pena que você continua a insistir nesse seu papel de garotinha mimada que perdeu seu brinquedo favorito, é realmente patético.
Terminou sua jogada fechando a porta com um sorriso quase perverso nos lábios que não pode ver. O último olhar de dor que ele viu nos olhos já brilhando de lágrimas não derramadas, lhe deu a certeza de que ele iria mais uma vez conseguir o que queria.

N/A: Então esse é o capítulo inédito de AB, espero que tenham gostado e desse capítulo em diante, espero realmente um feedback de vocês! Sei que ele foi um pouco filler, mas já tenho uma boa notícia, o próximo vai ter uma boa participação de Jacob e talvez uma reescrita de Lua Nova. Espero poder atualizar o mais rápido possível e diminuir o tempo de atualização das minhas fictions.
N/B: Eita que essa história promete. Gente, eu já não espero que vocês gostem, porque eu sei que vocês gostaram, quero dizer, AMARAM o capítulo! (risos) Está tudo perfeito e olhe que é só o começo. Recomendo totalmente. Tenho certeza que vocês estão como eu, loucas para ler o próximo capítulo, principalmente tendo Jacob no meio. E gente, desculpa, a demora foi minha, mas sei que vocês perdoam! ;P
Bora esperar, ansiosamente, o próximo capítulo?
Beijo da Clessy.

39 comentários:

  1. MA.RA.VI.LHO.SO
    Simplesmente ameiiiiiiiii.

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  2. PQP!!!!!!!!!! Eu tive um pressentimento: está fic vai bombar, pods crer! ARREPIEI!
    Querida autora: NÃO PARE OK? NÃO ME DEIXE COM ESTA EXPECTATIVA DE ALGO MARAVILHOSO E PARE, PLEASEEEE!!!!!
    NUS, VIXI, TUDIBOM!!! KKKKK...CARMEI!!
    mais uma coisinha....
    GURIA TU TENS O PODER DA ESCRITA, poderás ser mais uma diva deste blog a nos servir de exemplo!! (e não to exagerando não!)

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  3. Estou com um gostinho de quero mais... Simplesmente amei essas partes que vc escreveu e, com a minha experiência de leitora assídua deste Blog, tenho certeza que essa fic vai bombar.

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  4. Essa fic tem tudo para ser esplêndida e com certeza vai BOMBAR!!!!
    Amandooooo, bjsssss!!!!

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  5. CARALHO! QUE FIC PICA!
    sorry o linguajar
    Gente... eu amei!Essa fic vai ser demais...
    preciso de mais imediatamente...
    por favor, nao demore mto para att

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  6. PQP! IN-CRI-VEL, AMEI! Nossa, estou completamente apaixonada! Que previa maravilhosa, eu não tenho nem palavras pra dizer, fiquei completamente muda!
    Muito perfeita, posta logo por favor, to muito ansiosa pra ler ! :)

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. OMFG! O que é isso?
    Dude você conseguiu me fazer quase chorar só com isso.
    Pelo amor, continua.
    Nem tenho palavras para dizer como essa fic vai ser incrivel.
    Bjudds.

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  10. Que sinistro, maiis eu gosteei !
    Muitoo boom....
    Postaa Maiis Amoree

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  11. aiiiii to todinha arrepiada,enquanto eu lia deu ate aquele friozinho na barriga.Calma tempo pra respirar......
    Pronto acho q agora nao vo surtar total.
    Mais o q foi isso eu so li o trailer e ja quase morri.....gente amei de paixao
    Ja estou colada com superbonder nessa fic bjinhos....

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  12. serio essa fic e uma droga.....vicia des do primeiro momento posta rapidinho eu preciso muitooo

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  13. aaaaaa. QUERO MAIS ! QUERO MAIS!

    Essa fic vai ser maraaaaaaaa. posta logoo. quase tive um infarto aqui!
    POOOOOOOOOOOOOOOOOOSTAAAAAA!

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  14. WTF!

    Uau! Lily, vc so me mostrou o inicio do trailer. Mas esse final dele, que multiplos climax são esses menina

    Agora eu sei que tu vai virar Team Jacob.

    Eu sou garota do lobo a seculos.

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  15. Lindo começo, já me apaixonou pela fic, já até consegui me emocionar. Parabéns.

    Bjos

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  16. - UOUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU!
    - Gente do céu que capítulo foi esse? quando comecei a ler o trailer não consegui parar (e olha que era pra mim ter saído ah 30 hora)
    - A fic simplesmente me encantou, autoora PARABÉNS você consegue descrever os sentimentos de uma maneira que tipo assim não dá para descrever de tão perfeito que ficouu! Adoreei cada detalhee, espero que você realmente não pare de escrever a fic porque eu já estouu viciadaa!
    - Esse homem que me impediu de chegar a luz no fim do túnel (rs..) era um anjo ou algo parecido? no começo cheguei a pensar que era o Jake, mas agora não tenho tanta certeza! ;D
    - A fic é P E R F E I T A ! =D
    Kiss kiss bye bye! sz

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  17. Amandoooo!!!
    E tenho que concordar com a Grasi, você escreve muito bem, foi como estar na cena, foi muito real. Meus parabéns!!!
    Bjssss!!!

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  18. Gente, eu tava numa correria danada, mas passei por aki e começei a ler este cap., eu ia ler só um pedaço, pq tenho q estudar e Lilly, eu tbm tô fazendo monografia então te entendo... enfim, daí eu começei a ler e fui lendo, era só uma parte daí eu ia continuar depois... daí eu fui lendo a parte e tals, meus livros esperando do lado... mas logo eu ia para né? só mais um tantinho e... e puf! Acabo o cap. ! kkkkkkk.... E eu amei, nem senti o tempo... é uma fic misteriosa, com coisas ocultas, sentimentos a flor da pele, com drama, mas sem ser melodramática (odeio isto), e linda! Oh continue, garanto q agente sempre tira um tempinho nas madrugadas qndo estamos empolgadas com a fic!! Um parágrafo dpois da meia-noite, outro antes daS seis kkkkk... tudio bem, eu só queria dizer POSTA MAIS!!!
    P.S: não era pra eu escreve tanto! kkkkk...

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  19. Uau, nossa adorei o primeiro capitulo, completamente bem escrita, perfeição em todos os detalhes, eu estou completamente impressionada, poucas são as fic's que me deixam vidrada assim no primeiro capitulo, melhor a sua me deixou vidadra desde o trailer, incrivel,m muito boa, amei! :)

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  20. Não sei se eu já disse, mas você escreve maravilhosamente bem.
    Capítulo perfeito, cheio de detalhes, apaixonante.
    não vejo a hora de ler o próximo capítulo.
    Estou amanda sua fic.
    Bjusss.

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  21. Capítulo perfeito..não vejo a hora de ler o próximo capítulo!!

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  22. AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAMEI

    POSTA MAIS *---------------------*
    RAPIIIIDO!

    Proximo capitulo, proximo capitulo \o/

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  23. Achei lindo a descrição de como foi criado o laço deles, de como você colocou que por mais que estejamos arrasados com nossas dores, existe pessoas que tem dores piores que a nossa, e Jake percebendo isso foi tudo.
    E sim, sua fic é super detalhista, mesmo você achando que não.
    Esperando ansiosamente pelo próximo.
    BJudds.

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  24. Caramba, estou sem palavras. O capítulo estava DIVINOOOO!!!!
    Os sentimentos do Jake estavam tão bem descritos, que eu pude sentir todo seu sofrimento. E o laço que o uniu a PP, sério foi uma descrição e tanto, me arrepiei aqui. Foi EMOCIONANTEEE!!!
    Já estou louca pelo próximo, bjssss!!!
    Amandooooooo!!!!!

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  25. A cada capítulo você me surpreende! Nossa os sentimentos do Jake, tão detalhados, mostrados de uma maneira incrível que eu me senti no lugar dele, sentindo tudo aquilo como se a dor dele fosse minha, sim sua história pode não ser perfeita pra você, mas para mim ela é, muito bem escrita nossa sua fic me prende a cada linha, e não são todas que eu me sinto assim! Essa ligação deles pelo ponto de vista do Jake foi tão incrível que eu não tenho nem palavras pra dizer o quanto me emocionei com esse capitulo! Mtmtmtmt bom! Próximo capitulo por favor! Bjos!

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  26. Mesmo o capítulo sendo grande, não foi cansativo; muito pelo contrário me prendeu do início ao fim!!!
    No final com o Jake sentindo a ligação entre eles foi muito fofo.
    As músicas que você postou separando os momentos da narração foram simplesmente maravilhosas.
    Adoreiiii!!!!!!!!

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  27. Amor, seu sobrenome é Intensidade?
    Pq por este cap só podia ser!
    Desculpe por não ter comentado antes, mas a correria me impediu fazer isto antes. Mas eu li duas vezes este cap e já que vc disse que não se importa de comentários grandes (rsrs) então falo pra pessoa certa: ADORO ESCREVER! kkkkkk
    Lindo, verdadeiro e inédito a maneira como vc nos mostrou a parte tão preciosa que a Tia Steph escondeu dos sentimentos de Jake! Fui conduzida em uma nova narrativa de algo já lido por mim tantas vezes e amei! E dpois, a parte tão linda e comovente do encontro entre sentimentos e vida de Jake e da PP.
    Ah! Sua fic é coisa fina, daqueles vinhos raros que pra vc sentir todo o sabor q ele tem vc tem que degustar aos poucos e guardar ele na boca por um momento antes de engolir só pra sorver o sabor de algo intenso!
    "E eles foram unidos pela dor... a dor: sentimento tão grandioso quanto incompreensível. Ela é fruto do amor, pois não senti dor quem não deveras ama. E ela é pura, purifica com lamina afiada os corações e, assim, os enobrece. Então é verdadeiro e inquebrável o amor que nasce dos obscuros laços que a dor estabelece..." Isto me veio a cabeça ao ler o cap entonces escrevi! (rsrsrs)
    Bjsss e NÃO DEMORE! PRECISO DE MAIS!

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  28. Amei sua fic
    bem vinda Mia vcs duas vão deixar a fic mais incrivel do q esta parabens

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  29. Desde que li esta fic me apaixonei por ela,uma nova chance para o jake,curar as feridas de seu coraçao, adorei o Prólogo ainda nao consigo entender como alguem pode escrever algo tao maravilhoso espondo os sentimentos dos personagens de uma forma avassaladora so sei de uma coisa estou louca para ler o próximo capítulo esta fic é incrivel Parabens... é realmente maravilhoso.
    Beijos e abraços de uma Leitora fanascinada pela saga crepúsculo e é claro pelo jake...ele é demais.

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  30. oi Eu quis dizer de uma leitora fascinada pela saga crepúsculo foi mal pelo erro de digitaçao adoro a sua fic e agora de mais uma integrante que fara parte da fic né." Louca para ler o próximo capítulo"

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  31. Caramba, amei essa fic, apesar dela tá só começando dá pra perceber que ela guarda muitas emoções. É bem emocionante o jeito que você narrou, dá pra sentir a angustia dos dois e tudo.
    Espero muito pelo próximo capítulo!

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  32. Muito bom. Aguardo ansiosa pela continuação.

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  33. Adorei!! Posta mais!!! estou esperando ansiosa!!!

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  34. Nossa arrepiou agora a narrativa foi impressionante to morrendo de curiosidade pra v^esse encontro.não demora muito com os proximos capitulos ok!

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  35. Nossa, que saudade estava dessa fic!!
    Mas, enfim, ela está de volta e com tudo!! Ameeei demais!!! *o*
    A PP teve um sonho e tanto, né?! Meu deus, até eu fiquei com os nervos em frangalhos...
    Esse Aidam me deixou com a pulga atrás da orelha... o que ele pretende eu não sei, mas pelo menos, quem sabe ele dê um novo up, para que a PP volte a seguir em frente. Mesmo que seja para enfrentar seus medos.
    Adorandooooo demais, demais!!!
    Bjinhosss!!!

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  36. Adorei a fic, esta realmente maravilhosa. Espero que a pp n demore muito para encontrar o Jake *-* (sonhadora aqui) Esperando pela continuação ansiosamente

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  37. Por que você parou? Tão perfeita, não para não :(

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