Something by Bárbara Marianno

Capítulo I

Quinta-feira. Eu, minha TV e brigadeiro. Combinação perfeita. Era assim que eu pretendia passar o meu dia de folga, mas convenhamos, alguma coisa sempre acontece para atrapalhar os momentos bons da vida. Como por exemplo, o meu maldito celular que tocou bem no clímax do filme. Atendi sem nem checar quem era.
- Fala.
- , eu preciso da sua ajuda. – uma voz feminina tentando controlar o desespero soou pelo aparelho.
- ? O que aconteceu? – perguntei um pouco preocupada.
- Aconteceu uma tragédia e eu preciso que você me ajude, não sei o que fazer, você é a única pessoa para quem eu posso ligar e...
- Para de enrolar e fala logo o que é porque você está me deixando assustada. – eu disse interrompendo o monólogo interminável dela.
- Ok, lembra que hoje eu estou organizando um evento, certo?! – eu murmurei algum som em concordância.
- Então, o problema é que um idiota derrubou café na minha roupa e eu preciso que você traga outra pra mim, porque os convidados irão começar a chegar. Isso é urgente. – Bufei. E eu achando que ela tinha matado alguém ou algo do tipo.
- Sem chance, amiga. Eu não levanto desse sofá nem por decreto. – Respondi enquanto enchia uma colher com brigadeiro.
- Por favor, você tem que me ajudar, . Você sabe que eu te amo e que você é minha melhor amiga. – eu não sou do tipo de pessoa que cai nessas chantagens emocionais baratas, mas tente agüentar a choramingando por cinco minutos no telefone, é bem irritante. Além do mais, ela não iria desistir até eu aceitar fazer o que ela pedia.
Por isso, dez minutos depois de desligar o celular, lá estava eu no meu carro indo em direção ao apartamento dela. Eu tinha uma cópia da chave, em caso de emergência e bom, isso era uma emergência. Estacionei o carro e logo eu me encontrava na frente do enorme closet da minha querida amiga sem ter idéia do que fazer. Peguei o celular e liguei para ela.
- Alô? – A voz dela mal dava pra ser ouvida tamanho era o barulho no fundo.
- , qual vestido você quer?
- O quê?
- Qual vestido você quer? – repeti já sem paciência.
- Não tô te ouvindo, espera um pouco – esperei durante alguns segundos.
- Pronto, pode falar agora. – a voz dela saiu perfeitamente pelo celular, mas eu ainda conseguia ouvir alguns gritos de adolescentes (ou não) histéricas ao fundo. Devia estar uma loucura lá.
- O vestido. Qual você quer?
- Ah, certo. Na última porta a direita, tem um vestido branco já separado. Traga ele, é meu vestido para emergências. – ela respondeu.
Abri a porta do closet e peguei o vestido.
- Se é seu vestido para emergências, porque ele está aqui e não aí? – perguntei debochadamente.
- Vai se ferrar, . Eu me esqueci de trazê-lo, ok?! Agora vem logo. – e desligou antes que eu tivesse a chance de responder. Que ingrata. Sai do apartamento praticamente correndo, quanto mais cedo eu entregasse a roupa para a , mais cedo eu voltaria para o meu sofá. Foi com esse pensamento que atravessei as ruas de Los Angeles até chegar ao que podia ser facilmente chamado de inferno.

Capítulo II

O inferno devia parecer com aquilo. Um monte de gente gritando sem motivo aparente, se espremendo para conseguir um mísero espaço e flashes cegando quem se atrevesse a abrir os olhos. Eu sempre imaginei como seriam esses eventos importantes, aquelas premiers mundiais e na minha mente, tudo se resumia a elegância. Mas agora eu entendia porque tantos atores e atrizes se drogavam. Meu Deus, aquilo era um caos. Desci do carro com o vestido da nas mãos e fui em direção ao segurança.
- Hã, por favor. Eu preciso entrar, minha amiga me pediu para trazer esse vestido para ela. – Tentei explicar, mas o barulho não me deixava nem pensar direito.
- Qual o seu nome? – Ele perguntou ignorando totalmente o que eu disse.
- . Marianno.
Ele percorreu os olhos pela lista que segurava até encontrar o que eu deduzi ser o meu nome.
- Pode entrar, Srta. Marianno.
- Obrigada. – Murmurei e entrei apressadamente. Agora era só achar a , conclui feliz já me imaginando deitada no meu aconchegante sofá.

xx

Que droga! Como é que alguém consegue encontrar outro ser humano nessa confusão? Esse foi meu pensamento depois de dez minutos andando pra lá e pra cá sem obter resultado algum. E o melhor de tudo, era que a minha adorada amiga não atendia a merda do celular, pra que ela tinha um então? Meus xingamentos mentais foram interrompidos quando alguém trombou em mim.
- Me desculpe. – uma garota que devia ter no máximo uns vinte e dois anos disse.
- Tudo bem, não foi nada. – respondi com um sorriso fraco.
- Ei, eu te conheço. – ela disse me fitando. Lancei um olhar confuso a ela. – Você é a , não é?! Prima e amiga da . – certo, ela me conhecia, mas eu ainda continuava sem saber quem diabos era ela.
- Sou sim e você é?
- Laurie. Eu trabalho com a . – ok, Laurie. Eu preciso de um pouco mais que isso. – Nós nos conhecemos no aniversário da , lembra?! Eu derrubei cerveja em você sem querer. – ela insistiu.
- Ah, claro. Laurie! – exclamei finalmente me lembrando. – A garota da cerveja, eu me lembrei agora.
- Mas o que está fazendo aqui? – Ela perguntou sorrindo.
- Eu estou procurando a , ela me pediu que trouxesse isso para ela. – mostrei o vestido. – Você sabe onde ela está?
- Claro, eu te levo até ela.
- Nossa, muito obrigada, você acabou de salvar a minha vida. – Eu disse suspirando de alívio. Ela soltou uma risada alta e eu a segui quando ela começou a caminhar até o salão onde, provavelmente, seria a afterparty ou sei lá como se chamava.